Minha mãe sempre me disse para nunca julgar um livro pela capa, mas ao contrário de muitos, eu quem fui
julgada. Fui um livro julgado pela capa por um crime que não cometi.
É fácil falar eu sei. Mas o que mais me amarga, é saber que passarei 20 anos aqui nessa prisão por não
encontrarem nenhuma prova.
Faz somente 1 ano que estou aqui e parece uma eternidade, aqui as horas não passam e nem voam, mas
creio que algo irá acontecer, eu sinto que algo virá para mim, só não sei se
será algo bom.
Tirada dos meus pensamentos, sou chamada na grade da minha cela.
- Helena Mitchel, visita para você. Vamos! – A voz de uma mulher a chama com mau-humor.
Calçando os chinelos e passando as mãos pelos cabelos lisos e pretos, ela retira a borracha para prendê-los novamente. A esperança preenche o seu coração de que ele possa ter vindo vê-la e trazer a sua doce Júlia.
Por um ano que estou aqui nesse presídio por um crime que não cometi. Nesse tempo todo nunca recebi uma visita sequer. Nem mesmo o meu advogado após o meu julgamento, não deu mais as caras após dois meses que estava aqui.
Hoje, a esperança acendeu no meu coração. Quero tanto ver o meu marido e a minha filha que seria um sonho do qual nem preferia acordar.
Ao chegar aquele lugar onde a carcereira acompanha-me, a mesma que durante esse tempo que estou nesse inferno assim posso dizer, tem sido até uma boa pessoa comigo.
Vejo um homem que me aguarda. Um homem bonito até. Com um terno bem alinhado, cabelos bem aparados e uma barba bem-feita. Nem em anos de casada, nunca senti nada parecido do que estou a sentir ao ver esse homem sentado na minha frente na cadeira de metal.
Olho para a carcereira, e a mesma abre-me espaço para seguir até ele. Pensei por alguns instantes que estava no lugar errado, mas pela reação dela, sei agora que não é.
Engulo em seco e caminho até a mesa. A cadeira vaga na sua frente é direcionada a mim.
Desde o momento que adentrei nessa sala, os nossos olhos não desviaram um minuto sequer um do outro. Devo estar louca ou paranoica por sexo, já que estar nesse lugar e não ver por um ano o meu marido, devo estar mesmo a perigo.
A vontade que tenho é de fazer algo bem depravado aqui com esse homem e vejo que não sou só eu quem quero isso. Os seus olhos estão como brasas ansiando pelo mesmo.
- O senhor é? – Decido quebrar o silêncio.
Ele coloca o dedo na sua gola afrouxando um pouco a gravata talvez pelos olhares que estávamos a trocar agora a pouco. É até engraçado ver um homem que aparenta ser mais velho que eu com ar de mais experiente ficar assim tão desconcertado com a quebra de um clima.
- Eu sou Danilo Ritchele. Sou o seu novo advogado.
Ele sorri e estende-me a mão. Olho desconfiada, pois, sei que esse advogado é um dos maiores e melhores do país. Suspiro e aperto a sua mão.
Uau, que mão macia e puxa, senti algo percorrendo pelo meu corpo e sinto um calor, mas é melhor soltar para não dificultar o que já está a começar a parecer entre nós e assim eu faço.
- Como assim o meu novo advogado?
Ele percebe a confusão no meu rosto, porque até um certo tempo, o meu advogado era o senhor Lucas Skrtogue, um bom advogado, mas que só pegara o meu caso por esse advogado não ter aceitado antes, segundo palavras do meu marido.
E por falar nele, será que foi ele quem o contratou? Um sorriso brota nos meus lábios, na certeza de que o meu marido não me esqueceu e estava a fazer de tudo por mim, por nós, pela nossa família lá fora.
O meu agora advogado está me fitando com um olhar estranho. Preciso saber o que o fez mudar de ideia em pegar o meu caso e se foi o meu marido quem solicitou os seus serviços.
Acredito que ele leu a minha mente.
- Sei que a senhora deve estar se perguntando quem me contratou. Não foi o seu esposo isso posso garantir.
Um nó na minha garganta se forma, a vontade de chorar é tamanha, que nem sei mais o que pensar até ele falar um nome.
- Quem me contratou foi o senhor Leonardo Shelperd. A senhora sabe de quem se trata?
Encaro aquele homem que espera a minha resposta. Tento puxar da minha memória se conheço alguém com esse nome, mas não me vem ninguém. Quem será esse homem que não conheço?
A minha cabeça está tão confusa que só me atento ao que está ao meu redor, quando escuto a sua voz rouca e vil indagar-me.
- E então, a senhora conhece alguém com esse nome?
Eu n**o.
- Sinceramente, não. Quem é esse homem é porque ele está me ajudando?
- Na hora certa a senhora vai saber então. – Ele olha-me de lado com um sorriso de canto enquanto retira o papel da sua pasta.
Fico a observar como ele mexe nos seus objetos e observando os seus dedos longos, sinto-me atraída. Principalmente por ver que o mesmo não é casado. Pelo menos não oficialmente, já que não tem aliança.
- A senhora poderia contar-me como veio parar aqui, para que eu me inteire ao caso? Não quero prender-me aos fatos que há no processo e sim na sua verdade.
Pela primeira vez depois de um ano, eu sinto uma felicidade sem tamanho. A esperança que estava praticamente escassa, agora voltou com força total. Respiro fundo e começo a contar todos os fatos daquela noite e da pessoa que foi supostamente assassinada por mim.
Ele não fala nada e nem esboça nenhuma reação. Só me encara com aquelas esferas verdes atentos a tudo e anotando no seu bloco de papel.
- Então é isso doutor. – Respiro aliviada terminando o meu relato.
Levo as minhas mãos sobre a mesa e entrelaça os meus dedos brincando com os polegares pelo nervosismo que está dentro de mim. Ele para de escrever repousando a sua caneta sobre o bloco de anotações e olha-me. O meu coração acelera e parece que vai explodir pelo descompassar. Temo não estar viva até o dia da minha liberdade.
- Pelo que a senhora contou-me, naquela noite a senhora não estava na cidade. Teria como provar onde estava já que não há registro algum, no processo sobre isso?
Meneio a cabeça.
- Não. Não sei quem fez isso, mas não havia registro algum no meu nome no hotel que me hospedei e nem as passagens que comprei para ir a Toronto naquela noite. Como disse, ia fazer uma surpresa ao meu marido pelo nosso aniversário de casamento.
Ele estala a língua como se quisesse falar algo, mas desiste. Não sei porque, esse seu gesto deixa-me desconfortável. Sinto haver algo por trás disso que nem ele quer me falar.
- Preferia não ser o portador de más notícias, mais a senhora está com um sério problema e creio que deve saber haver alguém importante por trás disso tudo.
- Nisso eu concordo, mas o senhor suspeita de alguém?
- Sim, eu suspeito. Acredito que a senhora não irá gostar de saber quem.
Ele é bem incisivo nisso. Ele tem certeza de quem pode estar por trás disso, mas sinto que não estou preparada e sei que não vou gostar de saber quem é, mas como sempre dizem, quem está na chuva é para se molhar, então...
- Quem o senhor desconfia?
-O seu marido.
Bum, esse é o barulho de uma bomba que ecoa na minha cabeça após ouvir o que ele disse. Mas como isso seria possível! E, porque ele faria isso comigo, conosco, com a nossa filha. Não, não, não. Esse advogado deve estar errado.
- O senhor tem certeza disso?
- Certeza ainda não. Mas é uma hipótese.
- Hipótese que pode nem ser verdade.
-Senhora Mitchel sejamos honestos. O seu marido quantas vezes veio visitar-lhe nesse ano em que está aqui? Onde está o advogado que estava a tratar do seu caso? Quando tudo aconteceu, foi justamente quando fora encontrar com o seu marido e onde ele estava?
A minha cabeça começa a rodar, sinto-me tonta e nauseada. Tudo está muito confuso, mas não acredito que o meu Ravi o homem por quem dediquei a minha vida, aquele que durante 10 anos estávamos a viver o nosso casamento com a mesma união e amor de sempre?!
levanto-me abruptamente daquela cadeira e encaro uma última vez para o meu advogado antes de sair. Preciso respirar, aqui está sufocante demais.
Antes de conseguir sair dali, ainda ouço a sua voz.
* Quando estiver melhor, peça ao diretor do presídio ou a assistente social para entrar em contato comigo. Sei que irá ligar e sabe as respostas do que lhe perguntei. Até breve!
Nem espero a carcereira acompanhar-me e sigo em passos rápidos quase correndo até a cela.
Assim que a grade se abre, adentro parecendo um furacão e jogo-me na minha cama de cimento com um fino colchão. Aqui permito-me chorar. Será que fui tão burra assim? E se fui, porquê?!
NOTAS DA AUTORA:
Olá meus amores, voltei! Essa é mais uma nova história em que estarei a escrever aqui para vocês, espero que gostem. Como ela está em andamento, hoje estou a postar o capítulo de estreia e na quinta, postando mais um e assim sucessivamente como nas outras obras, dia sim, dia não a postagem.
Beijos