Claire ainda estava em choque, digerindo tudo aquilo que ouviu e sabia que ainda tinham mais coisas. Por mais que a raiva por ter sido enganada esses anos todos acreditando que a amiga estivesse desaparecida, já que nunca duvidou um só segundo que ela não estivesse viva. Sempre teve aquela esperança de que um dia a encontraria, mas, não imaginava que os amigos e até mesmo o cara que começava a se relacionar, de certo modo um total desconhecido, sabia que Clara estava bem e viva, menos ela.
Pelo menos na medida do possível, sua amiga a quem tem como uma irmã caçula, não estava 100%, mas o importante é que ela estava ali entre eles e ainda especialmente com o pequeno Lucca presente na vida deles, enchendo os corações de todos de alegria.
Enquanto seguiam até o quarto em que Clara estava, agora Claire entendia porque tanta aparelhagem médica naquele cômodo. Era para dar a loira um pouco mais de conforto.
Já havia achado estranho, toda aquela decoração infantil no quarto ao lado, que acreditava que Chloe estava louca e depois alguns equipamentos para o quarto em que Clara agora está, que chegou a cogitar que a amiga daria uma de médica e castraria Pedro no ápice da sua loucura, o que por um lado não ser todo um m*l.
Agora entendia que era para acomodar o sobrinho e a irmã.
Cada passo que dava de encontro ao quarto que estava uma das pessoas mais importantes da sua vida, sentia como se estivesse com os tornozelos presos em grilhões e correntes que a faziam pesar os pés, demorando para chegar. Suas mãos estavam frias e durante aquele silêncio que se fazia entre ela e Chloe, escutava as badaladas frenéticas do seu coração.
Assim que pararam na porta, a loira a olhou buscando uma confirmação que após um longo suspiro e um engolir em seco acenou a cabeça consentindo.
Chloe mexeu a maçaneta abrindo a porta em que havia uma luz natural da manhã iluminando o ambiente e abriu espaço lhe dando passagem para adentrar.
“Por enquanto, irei deixa-las a sós e se reencontrarem como devem matando as saudades.” – Pensou Chloe enquanto encarava Claire que parecia ter se fincado ao chão.
Quando ouviu o ranger da porta se abrindo, o coração parecia que iria sair pela boca. Claire estava apreensiva e ao mesmo tempo ansiosa.
- Quem está aí? – Uma voz doce e muito conhecida, reverbera de dentro do cômodo.
Piscando algumas vezes, Claire parecia voltar do seu torpor. Respirou fundo e seus passos ecoavam pelo assoalho de madeira branca anunciando a sua entrada.
Mesmo que pisasse tentando não fazer barulho, Claire estava nervosa e assim que seus olhos bateram sobre uma certa silhueta, se inundaram em lágrimas. Apertou seus lábios para não deixar que caíssem, mas acabou sendo sem sucesso, já que uma lágrima solitária escapou de seus olhos e logo foi enxugado.
A voz embargada e o nó formado em sua garganta, estavam ali presentes anestesiando qualquer palavra que pudesse sair dos seus lábios. Abrindo um sorriso ao sentir o perfume inconfundível da sua amiga, Clara murmurou com seus olhos marejados e mesmo com óculos escuros, era perceptível em sua voz a emoção.
- Claire?!
Chloe fechou a porta para dar mais privacidade as duas, indo para a cozinha pedir a Lana que preparasse algo bem nutritivo para sua irmã e seu sobrinho seguindo uma dieta prescrita pelos médicos em Paris.
Sim, Clara, Steven e Lucca, estavam hospedados na cobertura que Chloe comprou com a primeira venda de uma coleção que ela mesmo assinou quando acabava de se formar em moda e concluir seu estágio numa das empresas da família Flin, uma família de gregos que investiam nessa área por causa das filhas de Esmeralda Fênix e Robert.
Enquanto Chloe morava em outro apartamento, já que a mãe delas Penélope, ainda não sabe que a filha e o neto estão vivos, somente o pai. E quando iam visitar a filha, ficavam com ela nesse apartamento e o pai, disfarçadamente, saía para encontrar a outra filha e o neto junto ao genro na cobertura.
Agora, precisava falar com seu pai, para contar a Penélope o que esconderam por três anos. Ao deixar tudo acertado com Lana, Chloe foi ao seu escritório, encontrando com Steven que parecia espera-la.
- Steven, aconteceu alguma coisa? – O indaga fechando a porta e caminhando até a sua mesa e sentando em sua cadeira preocupada.
Na cadeira à sua frente, Steven estava sentado e com uma cara nada boa. Suas mãos juntas e os dedos indicadores batendo em seus lábios, demonstrava que não estava bem. A olhou de relance e desviou o olhar fitando uma bela pintura à óleo fixado na parede acima da cabeça de sua cunhada e suspirou.
- Sabe Chloe, eu sei que estamos aqui não só porque vim atrás do médico especialista em cirurgias delicadas na coluna, como minha mulher quer fazer você deixar essa ideia de vingança de lado. – Ao terminar de falar, encarou sua cunhada que o olhava fixamente.
Engoliu em seco e recostou na sua cadeira giratória o fitando. Cerrou os punhos sobre os braços da mesma deixando os dedos quase esbranquiçados. Trincou seu maxilar ao ponto dos dentes rangerem.
Odiava ser feita de fantoche ou marionete. Era mais fácil para ela manipular do que ser manipulada. Havia uma fúria se formando em seus olhos azuis. Suas sobrancelhas franzidas quase se formando uma, mostrava claramente que aquela conversa não estava nada agradável.
- Sabe Steven, quando me proponho a algo eu vou ate o fim, isso não é uma vingança e sim justiça. Quando a minha irmã praticamente morreu naquela noite, aqueles três não se importaram se a maldita aposta a afetaria tanto, ao ponto de tentar contra a sua vida. Se fosse o oposto, com certeza não pensariam duas vezes ao se vingarem dela como você diz.
O belo homem com sua barba rala e bem aparada a encarava incrédulo. Não podia imaginar que Chloe era tão vingativa, mas, estava certa em algo que disse. Ninguém teria dó da sua amada se fosse o oposto.
Porém, havia algo que o tirava do prumo e temia que sua cunhada quisesse usar sua mulher e principalmente o seu filho arrastando-os para essa trama que tinha certeza de que não acabaria bem.
Ajeitando a sua camisa, inclinou seu corpo sobre a mesa sendo apoiada por suas mãos espalmadas sobre a mesma e a encarou.
- Eu até te entendo Chloe, mas não quero minha mulher se magoando mais do que já foi magoada e o pior, ter ficado com sequelas das quais, não fica com esperanças de melhorar ou encontrar a cura.
“O que esse i****a pensa o que eu sou? Não sou nenhum monstro para usar minha irmã nessa sujeira. Ah Steven, você está se achando demais pensando tão m*l de mim.” – Praguejava em pensamentos o encarando.
Forçou um sorriso e respirou fundo para não o xingar da forma como queria.
- Olha Steven, eu não pretendo usar minha irmã em nada disso. Pensei que me conhecia melhor por ser sua cunhada. – Arqueia a sobrancelha irritada.
- Por te conhecer e saber que não é desse tipo de pessoa que tem se tornado por causa dessa vingança ou justiça como prefere dizer, que eu espero mesmo que não use nem mesmo ela e muito menos seu sobrinho.
Batendo as mãos sobre a mesa o fazendo dar um pulo sentando na cadeira com os olhos arregalados, aquilo foi a gota d’água. Bufando com raiva e o encarando com seus olhos vermelhos de ódio, dispara entre os dentes.
- Steven, nem ouse vir me falar algo que sei bem o que fazer. Não quero nem mesmo Clara se metendo nisso. Odeio que venham me dar ordens e ela sabe bem disso. Não irei voltar atrás no que já determinei fazer. Os três merecem o que preparei. Agora saia do meu escritório e esse assunto morreu. Fui clara? – Lança um olhar intimidador.
O pomo de adão subiu e desceu violentamente. Engoliu em seco e balançou a cabeça assentindo.
Não que Steven fosse um medroso, mas de fato, estava com medo daquela baixinha, já que é um homem de 1,90m de altura contra uma mulher de 1,75m. Pelo menos para ele, a loira era baixinha rsrs.
Se pôs de pé e praticamente saiu correndo do escritório deixando Chloe sozinha com seus pensamentos e acabou que nem falou o que de fato pretendia, que era sobre a saúde da sua amada que não tinham boas notícias.
Enquanto isso no quarto de Clara...
Continua...
Pelo visto não será tão fácil assim quanto Chloe pensa em fazer justiça pela irmã.