Capítulo 1
Ela acelerava a moto na estrada, focada apenas em não perder de vista o seu alvo, que estava a uns quinze metros de distância.
_ Alcançou ele? - alguém pergunta através do ponto eletrónico em um dos seus ouvidos.
_ Sim, vou interceptar agora. - a sua voz não tem emoção, para ela era apenas mais um dia de trabalho, nada que merecesse uma reação diferente.
O carro a sua frente acelera e, ela faz o mesmo com a sua Ducati modificada, já imaginava a bronca que iria receber pelo que planejava fazer com a moto, mas o alvo era importante, não poderia deixar que ele escapasse.
A sua frente o carro reduz a velocidade tentando fazer uma curva, ela acelera e lança a moto sobre o carro fazendo o mesmo parar com um forte barulho de colisão, ela é lançada no ar, mas com algumas cambalhotas para amortecer a queda sai ilesa.
Se levanta e alcança a sua nove milímetros do coldre, pega um silenciador e coloca na ponta, ela anda em direção ao veículo de forma confiante, sem exitar, o seu rosto não tem expressão, nenhuma emoção a domina.
_ Você acha que vai conseguir algo de mim, sua p**a - o motorista guincha, o seu rosto está cortado e sangue escorre por ele.
_ Não tenho a intenção de interrogá-lo.
Ela chega até o motorista que geme de dor, a moto colidiu do seu lado lhe causando várias fraturas pelo corpo.
_ Não importa se você me matar hoje, sempre haverá outro.
Ela levanta a pistola apontando para sua testa, olhando nos seus olhos ela faz um único disparo matando o seu alvo.
_ Eu estou preparada para os outros.
Retirando um aparelho do seu bolso ela faz a leitura biométrica da retina do alvo, em seguida colhe as suas digitais e se afasta.
_ Está feito, mandem a equipe de limpeza.
_ Ok! Eles já estão a caminho, estou te esperando na rua de trás.
Ela caminha em direção a uma van estacionada, não muito longe, abre a porta e entra entregando o leitor biométrico e as digitais do alvo.
_ Teve alguma complicação?
_ Não, estava tudo tranquilo, Charles.
_ Ok. Vamos para casa então, o chefe quer nos ver ainda hoje.
Se dirigem para um bairro de classe alta na cidade, que ficava mais afastado do centro, para os negócios da organização era melhor, pois, chamavam menos atenção. Após alguns minutos, a grande mansão fica a vista, com três andares e, dois subterrâneos, era uma construção imponente e bela. Charles observava os arredores enquanto se aproximava da mansão, vendo que não tinha nada irregular ele entra e estaciona a van.
Caminham silenciosamente até a sala, onde os outros os aguardavam.
_ Boa noite - cumprimenta Ricardo ou como todos o chamavam ali "chefe"
_ Boa noite chefe.
_ Fiquei sabendo que a nossa garota tocou o terror hoje - diz Nico sorrindo, mas sua brincadeira não rendeu o sorriso que ele esperava.
_ Está tudo bem Síria?
Ela olha para todos na sala e se lembra que eles não tem culpa dos demônios que atormenta a sua alma, eram sua família e mereciam respeito.
Ela se joga no sofá com um suspiro fechando os seus olhos, até respirar para ela era difícil naquele dia.
_ Estou bem Xavier, não se preocupe.
_ Bem, queria falar para você Síria, que está de licença para próxima semana, não quero você aqui, vai dar uma volta, viajar, não sei! Só não quero você aqui trabalhando.
Ricardo se preocupava muito com Síria, ele empunha em si mesmo a responsabilidade de cuidar dela e mantê-la segura, ela era como uma irmã para ele, alguém que ele amava ver sorrir, apesar disso não acontecer mais.
Ele não sabia mais o que fazer com ela, não sabia como poderia ajudar alguém que já havia recusado ajuda, para ele era como se ela gostasse de sofrer, como se o sofrimento fosse amenizar a dor que a assombrava todos os dias.
_ Não quero uma licença. - responde ela o encarando fixamente, ela sabia o que ele estava fazendo, ele fazia isso todas as vezes em que achava que ela iria perder o controle.
_ Dessa vez não estou perguntando Síria, estou apenas te informando.
_ Vai ser bom para você descansar um pouco maninha. - diz Nico vindo se sentar ao seu lado a envolvendo num abraço desajeitado.
_ Ouça o chefe ao menos desta vez Síria, vamos ficar preocupados se você acabar fazendo besteira.
Xavier era sempre sério, mas quando se tratada de Síria ele abandonava a sua máscara e tentava o seu melhor para vela bem.
Tinha algo de engraçado em ver quatro homens enormes pisando em ovos perto de uma garota pequena que média um metro e meio. Eles já tiveram essa conversa inúmeras vezes, e ela sabia que ceder era a melhor opção, caso contrário, não a deixariam em paz.
_ Tudo bem, uma semana então.
Era possível ver o alívio no rosto de todos, eles esperavam uma batalha árdua para convencê-la, mas desta vez foi mais tranquilo.
_ Se era só isso, vou pro meu quarto tomar banho.
Ela vira-se e sobe as escadas, o seu peito ardia, a dor familiar que já era sua companhia a alguns anos, tudo de que precisava era de silêncio.
***
_ O que você acha chefe? - pergunta Xavier assim que ela sai.
_ Estou preocupado, mas todo ano nesta data ela fica assim, em comparação com outros anos, ela ainda está bem calma.
_ É essa calma que me assusta. - diz Nico.
_ Você notou algo diferente hoje Charles? - pergunta Xavier.
_ Não, ela estava bem concentrada, e agil rápido, foi um serviço limpo.
_ Bem, espero que ela melhore, ela não pôde carregar essa culpa para sempre. - Charles sabia do seu sofrimento, ele estava lá quando tudo aconteceu, e as memórias daquele dia ainda o assombrava, ele entendia a sua dor, mas ela havia se fechado para o mundo, permitindo apenas que algumas pessoas entrassem na sua concha impenetrável.
Todos naquela sala desejavam poder salvá-la de si mesma, mas não sabiam como, mas continuariam tentando até que a sua irmãzinha, como a chamavam, recupera-se a alegria que foi perdida.