CAPÍTULO 01

1221 Words
— Me solta Gustavo, você está me machucando! — Isso é para você aprender a nunca mais tentar me deixar. — Gustavo me jogou no chão com brutalidade. Hoje resolvi dar um basta em um relacionamento de três anos que acabou no momento em que Gustavo se mostrou um grande covarde. Esta não é a primeira vez que ele me agride, e só agora consegui tomar coragem para enfrentá-lo. Por culpa dele, meu irmão pode ir para a cadeia. — Por que você faz isso comigo? — Me levantei com dificuldade do chão. — Você é minha, Aurora, somente minha e não posso suportar a ideia de outro homem ao seu lado que não seja eu. Prefiro ver você morta! — Encolhi-me no canto da parede do beco escuro, com medo de ser agredida ainda mais. — Meu irmão não tem nada a ver conosco. Nosso namoro acabou no momento em que você levantou a mão para mim pela primeira vez. Eu não te amo mais! — No mesmo instante em que acabei de falar senti o impacto da sua mão se chocando contra o meu rosto. — Jamais diga isso! Você me ama e deve amar somente a mim! — Gritou. — Como posso amar um homem que me bate? Como posso amar alguém que eu temo? Como posso amar um homem que incriminou o meu irmão por algo que ele não fez? — Ele riu friamente. Gustavo Ávila, filho do prefeito de Dallas, plantou dois quilos de cocaína no quarto do meu irmão para colocá-lo na cadeia sob acusação de tráfico de drogas. — Rubens não fez o que mandei. Sabe que odeio quando não fazem o que eu quero, não sabe? — Olhei para ele com nojo. — Você queria que ele matasse uma pessoa! — O cara me devia um dinheiro e seu irmão me devia um favor. Fui eu quem quitou aquela maldita dívida de jogo. Eu praticamente salvei a vida dele! Se não fosse por mim, seu irmão estaria morto. — Sim, meu irmão era um viciado em jogo e no começo do meu namoro com Gustavo, foi ele quem ajudou a pagar as dívidas de jogo do meu irmão. Rubens tinha sido ameaçado de morte caso não pagasse. — Sim, mas isso não te dá o direito de fazer o que fez. Meu irmão não é um traficante. — Assustei-me quando ele me puxou pelo braço para chegar bem perto dele. — Chega! Você não vai me deixar, Aurora. — Gustavo, por favor, me deixa em paz. — Um arrepio de medo passou pelo meu corpo quando ele olhou fixamente em meus olhos e pude ver a frieza em seus olhos negros, uma frieza tão grande que me apavorou. Sem que eu esperasse, ele me beijou; tentei empurrá-lo, mas sua força era maior que a minha, então, por impulso, mordi os seus lábios e, na mesma hora, ele se afastou. — Maldita! — Praguejou. Olhei para os lados e não vi ninguém. No momento em que tentei correr ele me puxou pelo cabelo, fazendo-me cair no chão novamente. — Escuta. — Disse bem próximo do meu ouvido. — Se você me deixar, eu mato todos da sua família e, antes de matar sua irmãzinha, eu a estupro bem na sua frente. — Arregalei os meus olhos. Ele não seria capaz, seria? — Gustavo, você… Não teria... — Coragem? Oh, minha querida, se consegui incriminar seu irmão tão facilmente, imagine o que poderia fazer com a sua família? Sabe perfeitamente que sua família é malvista na cidade por culpa da sua mamãe, e agora a situação só vai piorar com a acusação de tráfico de drogas contra o seu irmão. Eu poderia matá-los e me safar facilmente disso. — O pior de tudo é que ele tinha razão; minha mãe é uma ex-stripper que se apaixonou pelo meu pai, um contador. Ela largou tudo para se casar com ele, mas todos acharam um absurdo uma “mulher da vida” se casar e se tornar uma dona de casa como qualquer outra. Todos na cidade olham para mim e minha família com desprezo, o único que não fez isso foi Gustavo, mas, agora sou eu que o olha com aversão. — Por favor, minha família não. — Senti um ódio muito grande quando ele riu. — Claro, meu amor, mas lembre-se: você é minha e jamais na sua vida vai me deixar. — Me empurrou e, em seguida, saiu andando, me deixando jogada no chão frio daquele beco escuro, bem próximo da minha casa. Juntei o resto de forças que ainda tinha, peguei a minha mochila do chão e me arrastei até a minha casa, me segurando para não chorar. Abri a porta de casa bem lentamente. Antes de entrar, certifiquei-me de que não havia ninguém na sala. Andei rapidamente em direção às escadas, mas parei bruscamente quando escutei minha mãe chorar. Olhei na direção do corredor próximo às escadas. O choro dela vinha da cozinha. Andei a passos lentos e, ao chegar na porta, vi que estava entreaberta; aproveitei para espiar e a vi chorar enquanto meu pai tentava consolá-la. — Fique calma, Carmen. Vamos dar um jeito de quitar nossas dívidas. — Álvaro, estamos devendo até o pescoço e ainda tem a possibilidade do nosso filho ir para a cadeia injustamente. — Gustavo vai pagar pelo que fez, meu amor. — Não, ele não vai pagar e sabe por quê? Por que ele é filho do prefeito! É a nossa palavra contra a dele. Espero que Aurora tenha dado um basta naquele relacionamento. — Mordi os lábios para reprimir o choro. — Sei que pode ser difícil provar a inocência de Rubens, mas vamos dar um jeito. — E as dívidas, Álvaro? Podemos não só perder a casa como também perder tudo que há dentro dela e, mesmo assim, não quitaríamos tudo. Temos pouco tempo para pagar cinquenta mil dólares. Nem de aluguel conseguiríamos morar, já que ninguém nesta cidade vai com a nossa cara, e não temos dinheiro para ir para outro lugar. — Vou conversar com o meu chefe, ele pode me fazer um empréstimo. — Minha mãe riu. — Não sonhe alto, querido, é muito dinheiro; óbvio que ele não vai emprestar essa quantia. — Não custa tentar. — Como vamos pagá-lo depois? — Desconta do meu salário, faço horas extras, eu não sei, mas nós não podemos ficar parados olhando o tempo passar. — Estamos falando do Del Frari! Sabe o quanto esse homem é temido aqui na cidade? — Sim, mas ele é o único a quem posso recorrer agora, mesmo o detestando. — Como chegamos a esse ponto? Podemos perder a guarda da Ana. — Minha irmãzinha, Ana, é filha de uma amiga da minha mãe que morreu no parto, e como o pai de Ana sumiu pelo mundo, meu pai e minha mãe ficaram responsáveis por ela. Eu a vejo como uma irmã caçula. Se perdermos tudo, a guarda de Ana também será perdida, pois não teríamos condições de sustentar uma criança de onze anos, e íamos deixá-la morando embaixo da ponte, porque vai ser isso que vai acontecer se não pagarmos nossas dívidas. Não posso permitir que Gustavo faça m*l a ela e a minha família. — Pensei. — Fique calma, meu amor. Amanhã mesmo vou falar com o meu chefe. — Resolvi sair dali para que não soubessem que estava escutando. Podemos parar na rua caso o meu pai não consiga o dinheiro. Parece que tudo está dando errado para a minha família, e a tendência é só piorar.
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