Eu odeio a minha vida!

1521 Words
Mandy Brown Eu odeio a minha vida. Esse é o meu primeiro pensamento assim que acordo e o meu último antes de dormir. Odeio tudo na minha vida. Mas, nesse minuto, não existe nada que eu odeie mais do que a filha dos meus chefes. Eu sou empregada em tempo integral na casa dos Walkers faz 1 ano, e eles não são pessoas fáceis, mas eu não diria que os odeio. Já a filha única do casal é um verdadeiro demônio encarnado. E agora, enquanto eu limpo a bagunça do último acesso de raiva dela, enquanto ela grita descontroladamente, eu a odeio. Odeio mais do que odiei o pai que eu nunca conheci, durante toda a minha vida, ou o quanto odeio o fato da minha mãe estar a beira da morte nesse segundo, e também o fato de que eu precisei implorar para os patrões dela para me empregarem em seu lugar. - Você é muito incompetente! - A Patricia Walker grita. - Limpe isso logo! - Eu não olho para ela, enquanto junto os cacos de vidro do perfume que ela jogou contra a parede do próprio quarto. O motivo? Ela pode! É completamente justificável que a herdeira de uma das 5 famílias mais ricas de Londres jogue um vidro caríssimo de perfume na parede porque o namorado falou algo que ela não gostou. Respiro fundo, absorvendo o cheiro enjoativo do perfume, enquanto passo o pano pela última vez. - Tudo pronto, senhorita. - Falo baixinho, mas ela não olha para mim, ainda está no telefone gritando com alguém. Depois que saio do quarto e fecho a porta atrás de mim, finalmente xingo baixinho e sinto na pele a raiva de todos os meus planos serem cancelados e eu acabar aqui, de novo. Sou Mandy Brown, Amanda na verdade, mas a minha mãe me chama de Mandy desde que eu me lembro, e agora, com 19 anos, eu quase não lembro que me chamo Amanda. Sou filha de Rose Brown e como qualquer filha de empregada, eu cresci e vivi em uma casa que nunca foi minha. Claro que temos uma casa, um apartamento pequeno e que fede a mofo, no meio de Hendon, mas só volto para casa aos finais de semana agora, exatamente como a minha mãe fez a vida inteira. O meu coração aperta ao pensar na minha mãe. Ela foi diagnosticada há pouco mais de um ano com câncer de ovário e de lá para cá eu troquei os meus sonhos pela sobrevivência dela. E quando ela ficou cansada demais para trabalhar, eu pedi para assumir o lugar dela como empregada na residência Walker. E eu sabia que seria difícil, mas dias como hoje me fazem questionar todas as escolhas da minha vida. Se eu tivesse apenas seguido o meu plano de ingressar na faculdade de Londres e seguir a minha vida, como a minha mãe estaria hoje? Sim, essa é uma história em que eu conto o que eu precisei fazer para sobreviver e que vivo triste e arrependida por isso. - Mandy? - A Sra Ruth Walker, minha patroa, me chama da sala e eu sei que preciso correr, apenas pelo tom dela. Assim que entro na sala ela parece prestes a começar a gritar com o Jonh Walker, o marido e dono de todo o dinheiro de verdade. - Sim senhora? - Pergunto sem olhar diretamente para eles. - Mandy, soubemos agora que um dos maiores investidores da empresa chegou na cidade e preciso dar um jantar para recebê-lo. - Assinto com a cabeça. - Não se preocupe com a parte do buffet, preciso que organize os funcionários e toda a recepção. - Me preparo para responder, mas o marido toma a frente. - Não preciso falar que esse jantar é decisivo, Ruth. O Luca deve pedir a mão da Patrícia essa noite. - A minha patroa parece pronta para desmaiar ao ouvir. - Ele está demorando demais! - Ela rebate. - Ele estava esperando o pai, sem dúvidas. - Ele justifica e eu percebo que eu não deveria estar ouvindo aquela conversa. - Alguma orientação quanto a recepção, senhora? - Ela olha para mim de novo, como se estivesse esquecido que eu estava presente. (Uma coisa que acontece com muita frequência.) - Sim. A louça azul floral é imprescindível, e as flores devem ser colocadas na posição que você sabe que favorecem o ambiente. O Jantar será íntimo, no máximo 10 pessoas, mas confirmo o número de lugares até as 17 horas. Tudo precisa ser perfeito, Mandy … - Consigo ver a pele dela começar a ficar vermelha, um sinal claro do nervosismo dela. - Os convidados chegam às 19 horas e o evento deve seguir os passos naturais. - Tudo estará perfeito, senhora. - Tento tranquilizá-la, mas sei que não adianta. Ela me dispensa com a mão e eu saio caminhando com tranquilidade e assim que saio do campo de visão deles, me coloco a correr. O D E I O A M I N H A V I D A ! ! ! Um ponto importante sobre o meu trabalho: Eu não sou apenas empregada. Eu sou o que se chama de governanta. Eu sou responsável por tudo o que acontece aqui, desde os surtos da herdeira de merd¢ até os eventos que acontecem, passando pela gerência dos demais empregados. E sim, é muita responsabilidade para alguém com a minha idade, mas eu sou filha da antiga governanta e ninguém sabe fazer o que a minha mãe fazia, além de mim, o que fez com que Ruth Walker me colocasse no lugar dela. 1 hora é o tempo que eu levo para organizar tudo, apenas para começar a aprontar o jantar. Por sorte, a dona Ruth se deu conta que encomendar as comidas seria muito melhor do que nos obrigar a cozinhar para 10 pessoas em um espaço de 4 horas. Então quando o relógio bate às 16:00 horas eu estou em pânico e já fiz tantas coisas que nem mesmo eu acredito. Depois de revisar os uniformes, garantir que o jardim está impecável e que a disposição dos móveis está da forma padrão do gosto da minha patroa, eu separo a louça. E apenas um prato daqueles pagaria a minha faculdade de letras inteira e ainda sobraria dinheiro, com certeza. Coisas que eu não odeio: Pessoas competentes. Becca e July são as parceiras mais competentes que alguém pode ter em um trabalho como esse. E nós três levamos quase 1 hora inteira para deixar a mesa posta e posicionar as flores, exatamente como fui orientada. Então, às 17 horas, quando a minha patroa, já pronta para receber os seus convidados, vem fazer a vistoria, tudo está pronto, graças a Deus! Ela entra na sala de jantar (que é do tamanho do meu apartamento) e analisa o nosso trabalho, enquanto estamos em silêncio em uma das portas. Depois de avaliar os 10 lugares com uma expressão severa, ela finalmente suspira. - Perfeito. Serão 10 convidados mesmo. - Eu quase respiro fundo de alívio pela aprovação. - O Buffet deve chegar em 1 hora, Mandy eu preciso que você acompanhe pessoalmente o serviço. - Confirmo com a cabeça. - A noite deve ser mais que perfeita, deve ser inesquecível. - Ela nos dispensa alguns segundos depois, e estou correndo de novo. Eu repasso com todos o que teremos que fazer e pelas expressões dos 7 empregados na minha frente eu sei que eles estão odiando tudo isso tanto quanto eu. Tudo pronto e ainda tenho 20 minutos antes do buffet chegar. Tranco a porta do pequeno espaço que chamo de quarto e me jogo na cama, afundando o rosto no travesseiro e solto um um grunhido de raiva, que sai abafado, mas serve para aliviar um pouco da minha tensão. Eu ia visitar a minha mãe essa noite. Afinal é sexta e eu deveria estar de folga de hoje às 19 horas até domingo, e passaria cada segundo com ela. Só que algum almofadinha precisa pedir a mão da mimada em casamento e eu sou obrigada a organizar o evento. Eu realmente odeio a minha vida. Me coloco de pé e encaro o espelho. Eu sou bonita, principalmente para uma empregada. Respiro fundo e começo a me trocar. Eventos como o de hoje exigem que eu não use o uniforme comum, mas um conjunto todo preto, de calça e camisa social, com saltos, para demonstrar o profissionalismo da equipe. Me maquiei de leve, apenas um rímel que ressalta meus olhos verdes e prendo o meu cabelo castanho claro em uma trança embutida, o que vai assegurar a imagem “profissional”. Depois de ficar satisfeita com a minha imagem, reforcei o meu perfume. Não é um Lady Caron, igual ao que a herdeira de merd¢ jogou na parede, mas faz com que eu me sinta mais eu mesma. O cheiro floral é familiar e acabo sorrindo com esse pensamento. Duas batidas na porta e eu sei que preciso me mover. A Becca sorri quando abro a porta, mas eu suspiro antes de segui-la. Será uma longa noite.
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