Um
Eis aqui a minha vida! Acordar antes das cinco da manhã com o chamado desse despertador horrível que está latejando na minha cabeça. Levanto, tomo um banho frio para acordar e escovo os dentes.
Partiu trabalho!
Apesar de ter acabado de completar dezoito anos, trabalho a morrer em uma lanchonete no asfalto, preciso da grana para me sustentar, minha mãe morreu ano passado, e meu irmão mais velho Luan, em vez de cuidar de mim, só faz o contrário, ultimamente eu quem preciso esconder dinheiro dele, caso contrário sou roubada, ele está perdido para as drogas, e infelizmente eu não posso fazer nada.
— Garota limpa aqui essa mesa! Não vê que derramou suco? - uma patricinha ruiva reclama comigo, vou correndo com um paninho nas mãos, mas percebo que a mesa está limpa.
— Desculpa senhorita! Mas a mesa está… - começo a dizer mas desisto de terminar a frase assim que vejo a nojentinha derramar o copo de propósito na mesa, no mesmo instante ela e as amigas começam a rir.
Respiro fundo e controlo minha vontade de quebrar a cara dela, pois preciso desse emprego para não morrer de fome, então engulo o meu orgulho e começo a limpar a mesa.
Prazer! Eu sou a Gabizinha, e essa é a minha vida!
(…)
Eu recebo por semana, mas sempre tem uma e outra gorjeta que faz com que eu fique com alguma grana pelo menos pra pegar o ônibus, por sorte, hoje eu consegui uns trocos e em breve tô brotando em casa, hoje vai dar certo pra ir na escola.
Ainda tenho que seguir um caminho a pé depois que desço do busão, a Maju diz que eu tenho as pernas grossas de tanto caminhar, e de subir e descer o morro todo dia pra ir trabalhar no asfalto, eu sempre dou risada da minha amiga maluquinha, mas eu gosto muito dela, é a única amiga que eu tenho, aliás, que me dá tempo de ter, já que é minha vizinha e me conhece desde pequena, ela tem presenciando tudo o que acontece de r**m e de bom na minha vida.
— Fiu! Fui! Delícia! - os nóia da favela sempre fazem isso quando eu passo, e como sempre, eu reviro os olhos e continuo o meu caminho. — Qual é santinha! Dá uma moralzinha aqui pra esses vagabundos.
Apenas respiro fundo e sigo meu caminho até minha casa, minha mãe morreu, mas eu vou continuar seguindo os conselhos dela, a única vibe que eu vou seguir, vai ser a da minha escola e do trabalho.
— Aí amiga! Baixou cedo na favela, conseguiu grana pro buzão né bandida? - Maju marca ponto assim que me vê chegando na rua, destranco a porta do meu barraco e dou passagem para ela entrar.
— Amiga vou correr no banho e ir direto pra escola, tenho fé em Deus que eu termino o ensino médio amiga. - vou correndo direto pra o meu quarto, mas assim que eu entro nele paraliso com a visão.
— p**a que pariu amiga! Que furacão é esse no teu quarto heim! - Maju quebra o silêncio e eu volto pra real, tinha ficado fora do ar por causa do desgosto.
— Amiga só pode ter sido o Luan atrás de dinheiro pra comprar droga, ele tá cada dia pior amiga. - as lágrimas correm soltas e minha amiga me abraça.
— O que cê vai fazer amiga? - Maju pergunta e eu apenas balanço minha cabeça.
— Sinceramente, eu não sei mais o que fazer, nossa casa está praticamente vazia porque ele já vendeu tudo, quando eu tenho algum troco, preciso andar sempre comigo, pra que ele não me roube, é o fim da linha amiga, não sei mais o que fazer não.
— Leke tão novo, ele que tinha que tá cuidando de tu amiga, cara tem vinte e dois anos e ainda é sustentando pela irmã que acabou de fazer dezoito, as fita da vida é diferente. - Maju tenta me consolar, e eu novamente respiro fundo, não vou deixar isso me abater, já faz tempo que entreguei o Luan nas mãos de Deus.
— De boa amiga! Agora eu vou tomar banho e descer pra escola. - digo já pegando a minha toalha.
— Miga eu sei que tu não curte, mas a favela hoje vai ferver, acredita que vai ter MC Cativa no baile? Geral vai brotar por lá. - minha amiga diz entusiasmada e eu apenas dou de ombros.
— Curto essas vibe não amiga, eu vou chegar tão cansada da escola que com certeza eu vou passar direto pra cama, e amanhã às quatro cê sabe que eu já tô de pé. - explico minhas condições e minha amiga fica com pena, mas logo se despede e diz que vai se arrumar pro baile.
Ela tá de lance com o Danger, um dos braços direito do Lobão, o chefão do tráfico aqui do morro, não concordo com minha amiga dando moral pra bandido, mas também não vou julgar, minha vida tá a maior zona, quem sou eu pra falar de ninguém.
Cada um com suas tretas! Apenas tomo banho, visto minha roupa e vou direto pra escola do morro, ano passado infelizmente abandonei a escola depois do acontecido com a minha mãe, foi a maior barra, mas esse ano eu tenho fé que consigo concluir, e depois…
Bom, o futuro a Deus pertence.
Cato meus cadernos, tranco o barraco e…
Partiu escola.