Capítulo 3

1521 Words
Lia narrando Estou indo visitar minha amiga onde ela mora, falei pros meus pais que ela morava perto da favela, não deixariam eu ir se soubessem que ela mora na comunidade, eles são super preconceituosos, moramos no lado nobre da cidade, minha amiga foi bolsista na escola e por isso a conheço. E por ser bem aplicada nos estudos, ela conseguiu uma bolsa cem por cento na faculdade e para a minha sorte fazemos o mesmo curso, ela que me fez mudar de ideia do curso, estava quase fazendo o mesmo que o meu pai. Lembrança on _ Amiga, você já sabe o que vai cursar na universidade? - pergunta como quem não quer nada. _ Não, mas acho que vou acabar fazendo administração mesmo. - respondo sem ânimo. _ Mas amiga, você não quer seguir a área do seu pai, porque não faz algo diferente? - Ela fala tão natural que acabo lembrando que isso é verdade. _ Mas vou fazer o que então? Não tenho nada em mente. - Não sei o que vou fazer da minha vida. _ Amiga pensa mais um pouco, eu como quero entender um pouco mais o ser humano, vou fazer psicologia. - diz com tanta segurança que fiquei tentada na mesma hora. _ Tá aí, vou fazer esse também, se não for o que quero mudo o curso. - falei sem me preocupar, meu pai falou que eu poderia tentar outro curso e caso não gostasse teria que fazer o que eles escolhessem. Lembrança off É muito bom estar fazendo a minha faculdade, sempre que consigo agradeço a Ana, ela me ajuda muito, mesmo quando não quer. Cheguei na casa dela e fui muito bem recebida pela tia Marília, a Ana estava tomando banho quando cheguei, a tia me convidou pra entrar e me ofereceu um suco de laranja com bolo de cenoura com cobertura de chocolate, aceitei e antes de terminar minha amiga chegou. _ Muito bem, minha mãe paparica mais os outros que eu? - pergunta com as mãos na cintura. _ Minha filha, você que demorou no banho hoje. - fala imitando a Ana. _ Ih tia, ela tá com ciúmes, deixa pra lá, eu quero mais bolo. - digo terminando o meu pedaço de bolo. _ Mas é folgada, pega o bonde andando e quer ficar na janela. - diz sentando para comer também. _ Filha quer suco também? Fiz de maracujá e está na geladeira. - diz cortando os pedaços de bolo. _ Vou buscar, tô precisando mesmo. - fala levantando. _ Precisa mesmo, ta muito nervosinha. - falo rindo e a tia me acompanha. Tomamos o café da tarde de boa, conversando e fofocando, quando terminamos, eu e a Ana fomos pesquisar para agilizar o nosso trabalho, essa semana temos que tirar as dúvidas com o professor. _ Ana, estou pensando em colocarmos a questão de trabalhar em ouvir as crianças com autismo, mas também os pais, ou quem cuida das crianças, eles também precisam de acompanhamento para saber lidar com a situação. - digo fazendo as pesquisas. _ OK, mas como vamos desenvolver esse atendimento, onde vamos atender essas pessoas se precisar? - pergunta me fazendo parar o que estou fazendo. _ Se for preciso, acho que conseguimos fazer aqui mesmo na comunidade, claro que teremos uma quantidade menor, mas dá pra fazer o nosso trabalho. - falo sem nem saber se poderemos fazer aqui mesmo, mas pelo menos podemos colocar no trabalho por enquanto. _ Certo, depois podemos ver isso com o dono do morro, ele não gosta que seja feito nada sem a autorização dele. - diz e fico pensativa. _ Mas vamos está ajudando e sem cobrar nada, acho que ele vai aceitar sim. - ela apenas me olha estranho. _ Amiga, não é assim que as coisas funcionam aqui, temos que ter aprovação do dono do morro, mesmo que ele não tenha que pagar nada temos que pedir a liberação, não é igual no asfalto que eu alugo um espaço e faço o que quero. - diz e aí que entendo o que ela estava tentando me dizer. _ Vamos deixar para nos preocupar com isso quando chegar a hora, agora vamos descrever o que queremos fazer, então vamos focar que logo chega a aula e precisamos ter tudo para não ter espaço para questionamento. - Digo e volto a fazer as pesquisar. _ Fica calma mulher, vamos nos sair bem como sempre, fica tranquila. - diz rindo, ela sabe que não gosto de fazer os trabalhos de qualquer jeito, por isso que nossas notas são as melhores da sala. Ficamos fazendo as pesquisas e organizando tudo do trabalho, e a parte principal será as entrevistas com as pessoas que podem ter autistas na família, isso já deixamos claro que vamos verificar no posto de saúde do morro, como decidimos que vamos fazer aqui caso seja necessário. Quando vi a hora, falei com minha amiga se poderíamos deixar para terminar no dia seguinte, pois já era tarde. _ Amiga, vamos parar por hoje e continuaremos amanhã. Tenho que ir pra casa agora. - falo fechando as páginas de pesquisa no celular. _ Vamos sim amiga, sei que você tem horário para voltar pra casa. _ ela me entende muito bem. _ Amiga nos vemos amanhã na faculdade. - digo me despedindo dela. _ Até amanhã, mas vou te levar na entrada do morro. - diz levantando para me acompanhar. _ Não precisa, vou descer só, acho que o pessoal já me conhece. - digo imaginando que aqui estou mais segura que no asfalto. _ Tá bom, qualquer coisa me liga. - diz me abraçando, sentir uma coisa diferente. Saí da casa da minha amiga e parecia que estava sendo seguida, confirmei isso quando ia passar por uma viela e senti quando alguém colocou a mão na minha boca por trás. _ Fica quieta menina, não vai doer muito o que quero fazer com você. - ele fala e me sobe um calafrio, mesmo que quisesse gritar não conseguiria. _ Me solta, por favor. - peço quase implorando e já sentindo as lágrimas escorrer pelo meu rosto. _ Depois você pode ir embora bonequinha. - diz me puxando para uma casa, quando entramos, pude ver que tinha mais caras ali. As piores coisas passavam pela minha cabeça, imaginei que não sairia viva para contar a história e que seria ali que perderia o que tenho guardado para o momento certo, que eu esteja preparada para isso, e não ser retirado a força de mim. Um deles veio pra cima de mim e começou a tentar tirar a minha blusa, comecei a gritar e ele me deu um tapa, foi tão forte que caí com tudo no chão. Logo os outros estão tirando a minha roupa e eu só gritava, estava nua, a única coisa que sabia fazer era chorar, nem tinha mais forças para lutar e já estava me dando por vencida. Mas como Deus é justo, antes que eles me estuprarem, mas não antes de me fazer chupar alguns deles e eles chuparem meus s***s, ouvi uma voz estridente, os caras saíram correndo e eu pensei que agora ele iria terminar o que os outros começaram, mas ele apenas me deu sua camisa e perguntou o que eu estava fazendo ali. _ Vesti essa camisa, não pode sair daqui nua. - diz me entregando a camisa. _ Obrigada. - falei ainda chorando. _ Me diz onde você mora, vou te levar em casa, na realidade acho que você não mora aqui, você é a amiga da Ana, é você né? Você mora no asfalto. O que estava fazendo aqui nesse horário? - diz me olhando e estendendo a mão para que pudesse me levantar do chão. _ Pode me levar pra casa da minha amiga, depois vejo como vou embora. - digo de cabeça baixa, estou com muita vergonha. Ele me leva até a casa da minha amiga e quando ela atende a porta, começa a me questionar. _ Lia, o que aconteceu com você? - perguntou me analisando e vendo que estou com a camisa do rapaz. _ Ela quase foi estuprada, por isso que ela está com a minha camisa, não se preocupe que vou descobrir quem fez isso. - diz e logo sai na moto dele. _ Não me pergunta nada, preciso de um banho, tenho que me limpar, estou me sentindo suja. - digo chorando. Minha amiga me leva pro quarto dela e fui tomar banho, fiquei quase uma hora embaixo do chuveiro, só sair quando ela me tirou de lá, estava me sentindo muito suja e me culpando por tudo, mesmo sabendo que não tenho culpa de nada, sair do banheiro e vesti uma roupa da Ana, mandei uma mensagem para meus pais falando que já estava tarde e que ia dormir na casa da Ana, a única resposta que tive foi um "tudo bem", nem me perguntaram se estava tudo bem, demorei um pouco para dormir de tanto chorar. Agora o que vou fazer da minha vida? Vou ter coragem de contar para a minha família?
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