***Luiza***
Ficamos em silêncio um olhando para o outro.
— Está me expulsando só porque não quero trabalhar com você?
— Estou te dizendo que se o problema é porque você se sente m*l pelas pessoas que falam o que não devem e você se importa com isso, pode mostrar a elas que é capaz de se virar.
Fiquei pensativa, era uma decisão difícil. Claro que eu aceitaria sair de casa e hoje! Era tudo o que eu queria, mas se ele vai colocar o Matheus para trabalhar comigo... Talvez seja uma coisa boa, pois assim posso conseguir cumprir meu desafio.
— Mas se eu aceito, continuou aqui?
— Se quiser.
Concordei com a cabeça.
— Tudo bem, mas vou ser o que?
— Secretária.
— Secretária? De quem?
— Matheus.
Ri com nervosismo.
— Você ficou louco, pai? Vai colocar o filho do seu concorrente em um cargo importante?
— O cargo dele não é tão importante assim.
— Então por que precisa de secretária?
— Porque você precisa de trabalho.
Ficamos em silêncio mais uma vez. Aquilo não encaixava na minha mente de jeito nenhum! Se o Matheus for um espião do pai? Se quiser entrar na empresa para copiar nossas ideias? Será que meu pai está ficando louco?
— Pai, você não acha isso perigoso? Se ele estiver ali, por que o pai mandou espiar a gente?
Ele sorriu quando falei isso.
— Por que acha que quero que seja a secretária dele?
Fiquei em silêncio olhando o rosto dele. Talvez não esteja tão louco assim.
— Entendi.
— O que me diz?
— Tudo bem. Eu aceito, mas se não der certo, caio fora!
— Ótimo! Até que enfim nos entendemos.
— Posso dormir agora?
— Claro, filha.
— Obrigada.
Levantei da cadeira e segui para o meu quarto. Quando cheguei, me joguei na cama. Precisava deitar! Minha cabeça ainda rodava um pouco e doía muito. Agarrei um travesseiro e comecei a pensar em tudo o que está para acontecer. Eu posso até trabalhar para o meu pai dessa maneira, mas será que conviver com o Matheus vai ser bom? Será que vou conseguir cumprir meu desafio? Ou mesmo trabalhar lá mais de 24 horas?
Matheus sempre foi esquisito e nunca o vi com namoradas, se quer peguetes ele tem. Acho que isso vai ser muito difícil. Muito mesmo...
E por isso eu quero mais ainda.
****
Uns dias se passaram depois que aceitei trabalhar com meu pai. Agora estava no carro indo com ele e o Carlos para a empresa para o meu primeiro dia.
Carlos como sempre, o exemplar da família, ia trabalhar ao lado do meu pai. Quase seu braço direito. Acho que ele queria que eu fosse o esquerdo, mas como não aceitei...
Entramos e passamos pela recepção. Enquanto caminhamos seguindo meu pai, todas as cabeças daquele lugar seguiam a gente. Isso me irrita tanto! Odeio que me olhem, odeio ser o centro das atenções e odeio que mandem em mim.
Meu pai parou em frente a uma porta e bateu. Respirei fundo, já estava querendo mudar de ideia e cair fora daquele lugar. Ouvi uma voz rouca pedir para entrar e segui meu pai para dentro da sala. Ele estava lá... Sentado na cadeira em frente a uma mesa com vários papéis em cima. Me encarava com o rosto sério. Ele tem os cabelos escuros e olhos castanhos. Como será o sorriso dele? Só vejo essa cara de morte sempre! Mesmo assim é muito lindo...
— Bom dia, Matheus. Vim trazer a Luíza.
— Bom dia para vocês.
— Eu tenho que dar bom dia para todo mundo?
— Luíza! — meu pai repreendeu e eu cruzei os braços.
Odeio acordar cedo. Meu humor nunca é bom antes das onze.
— Vou deixar vocês a sós. Tenho muita coisa para fazer. Boa sorte — falou com Matheus e saiu da sala.
Fiquei olhando a porta por onde ele passou indignada. Sorte para ele? E a minha sorte? Olhei para o deus grego à minha frente e melhorei minha postura. Ainda não sei como vou fazer com meu desafio, mas vou dar um jeito. Algum ponto fraco ele deve ter...
— Sempre acorda de mau humor?
— Sim.
Ele balançou a cabeça concordando.
— Então vamos mudar isso, não é?
— Vamos? — perguntei com uma sobrancelha levantada.
— Sim, se você quer mesmo trabalhar comigo, vai ter que fazer o que eu quero.
Ri nervosamente.
— Eu não tenho que fazer o que você quer!
— Tudo bem, mas o que eu pedir você tem que fazer. — Ia me pronunciar, mas ele continuou. — Afinal, é minha secretária.
Mordi o lábio reprimindo uma resposta malcriada. De certa forma, é... Mas odeio que mandem em mim. Percebi que ele estava me encarando muito e franzi a testa, com isso soltei o lábio que estava mordendo e seus olhos subiram encontrando os meus. Ele estava olhando minha boca?
— E o que você quer primeiro, senhor? — perguntei com ironia.
— Que pare de ironia comigo — disse seco.
— Que mais?
— Busque um café pra mim.
Revirei os olhos.
— Com açúcar e bem forte. E não faz essa cara de novo.
— Na minha cara quem manda sou eu! — Saí da sala batendo a porta e segui para a cafeteria.
Quem ele pensa que é para ficar me dando ordens? Acho que isso não vai dar certo! Não vai! Ele já conseguiu me tirar do sério no primeiro dia! Impressionante!
Busquei o maldito café e entrei na sala dele de novo. Coloquei o copo em cima da mesa e ia sair da sala, mas ele me chamou.
— O que?
— Quero que leve esse documento e tire uma xerox.
— Por que você não faz isso?
— Porque estou mandando você ir.
Peguei o papel da mão dele com raiva.
— Se você não gosta que mandem em você, por que não vai trabalhar ao lado do seu pai?
— Porque ele vai continuar controlando a minha vida!
Ficamos em silêncio depois do que eu disse. Por que falei isso pra ele?
Virei as costas e saí sem dizer mais nada. Fui até a sala de xerox e coloquei a folha no aparelho. Configurei e apertei o botão. Lentamente a máquina trabalhou e eu, impaciente, bati os dedos nela como se aquilo pudesse fazer com que andasse mais rápido.
— Olá.
Virei para trás para ver quem falou. Quando vi quem era, revirei os olhos.
— Oi. — Voltei a olhar a máquina. Não queria papo com aquela criatura.
— Soube que está trabalhando aqui agora.
— Malditas fofocas! — reclamei e batuquei com mais força na máquina.
— Por que não aceitou trabalhar com seu pai?
Finalmente a máquina terminou e eu peguei o documento.
— Não é da sua conta. — Sorri cínica e saí dali.
Segui em passos rápidos de volta para onde o Matheus estava. Entrei em sua sala e entreguei os papéis. Me afastei um pouco, passei as mãos pelo cabelo nervosamente e mordi o lábio com força. Acho que não vou conseguir! Não com aquele babaca estando tão perto assim.
— O que aconteceu?
— Nada. Por que teria acontecido alguma coisa? — perguntei nervosa.
— Então por que está assim?
— Eu não consigo! Não vou trabalhar aqui! Se meu pai quer que eu vá embora, ótimo! É hoje mesmo que vou!
— Ele te expulsou de casa?
— Disse que se eu não quisesse trabalhar com ele para ir embora.
Ficamos em silêncio. Por que estou contando minha vida pra ele?
— Vou deixar você fazer o que tem que fazer. — Segui para a porta.
— Espera...
Parei, mas não olhei na direção dele. Apesar de querer me livrar do meu pai e de suas regras esquisitas, eu tinha medo de ficar sozinha. Depois que a minha mãe morreu, tudo ficou difícil demais. Nunca gostei que mandassem em mim, mas depois que ela se foi, ficou tudo pior. Parece que fiquei mais carrancuda do que nunca.
— O que é? — perguntei quando ele não falou nada.
— Quero que vá a um lugar comigo.
O olhei agora. Já tinha empurrado todas as lágrimas que apareceram de volta para dentro, então podia encará-lo.
— Não ouviu o que eu disse? Não vou trabalhar aqui.
— Eu ouvi.
— Então quer que eu vá com você aonde?
Ele pareceu ficar tenso com minha pergunta. Esperei responder à pergunta com os braços cruzados. Ele parecia hesitante e não me olhava nos olhos.
— Perdeu a língua?
— Preciso de um favor seu.
— Qual?
Ele levantou e se aproximou de mim. Logo estava parado à minha frente e me fez olhar para cima para olhar em seus olhos, mas quando vi que me olhava, por algum motivo, desviei o olhar.
— Sei que vai ser meio estranho, mas preciso que faça isso.
— Isso o que?
— Pode sair comigo hoje e fingir que estamos juntos?
Minha boca abriu em surpresa, meus braços caíram e meus olhos encontraram os seus. Ele estava sério e parecia tenso. Que merda é essa? O que será que ele quer com isso? Ou pra que quer isso?
— Oi?
— Você ouviu.
— Por que eu faria isso? — Cruzei os braços.
— Para me ajudar. — Agora fez um olhar pidão e eu tive que rir.
— Por que iria te ajudar?
— Quero desafiar meu pai.
Maldita palavra mágica!
— Desafiar?
— Sim.
— O que eu tenho com isso?
— Quando ele descobrir que estou saindo com você... — Sorriu de lado e foi a primeira vez que vi ele fazer isso. — Vai ficar louco.
— Hum... É uma proposta interessante, mas o que eu ganho com isso?
— Alguma coisa você deve ter para pedir.
Assim que ele falou, me lembrei do que a Elena desafiou.
— Sim, tenho.
— E o que é?
— Te conto depois... O que eu tenho que fazer?
— Tenho que jantar com meu pai e alguns caras que estão para assinar um negócio importante para a empresa. Você vai comigo.
— E?
— Vamos contar que estamos namorando.
— Ele pode perder esse negócio por minha causa.
— A ideia é essa.
— Por que quer fazer isso com seu pai?
— Isso não vem ao caso agora. Você aceita ou não?
— Aceito. Adoro barracos. — Quando respondi ele sorriu e eu engoli em seco. Deus! Sério ele já é lindo, agora sorrindo... Quase desmanchei na frente dele.
— Perfeito!
— O que eu visto?
— Eu te mando uma roupa.
— Acha que eu não tenho roupa?
— Não é isso, é só que eu quero que você vá vestida de um jeito que ele também não gosta.
— Entendi, quer deixá-lo louco mesmo, né?
— É.
— Tudo bem. Eu só não saio pelada!
Matheus sorriu de lado e me olhou de cima para baixo.
— Que pena...
Senti meu rosto queimar quando ele falou e olhei para o chão. Consegui ouvir sua risada baixa.
Por que estou me sentindo assim com a presença dele?
— Te pego às 19 hrs.
— Ok.
Saí da empresa ainda extasiada com o que ia acontecer à noite. Meu Deus! Eu disse que vou fazer tudo o que ele quiser e que tenho algo para pedir, mas... Como pedir? Matheus preciso que me coma agora? Pelo amor de Deus! Onde eu fui me meter?!
Fui direto para casa e me joguei na cama. Tenho que arrumar um jeito de falar o que quero em troca do que vou fazer, mas não sei como. Não quero parecer desesperada e muito menos contar que foi um desafio que me lançaram. O que posso fazer?
A campainha tocou e eu segui até a porta, tinha um homem com uma caixa nas mãos. Ele me entregou a caixa e foi embora. Subi as escadas encarando o embrulho em minhas mãos. Quando cheguei ao quarto, abri. Era um vestido e nada discreto. Eu disse que não sairia pelada e acho que ele não entendeu isso! Era um tomara que caia branco, mas não gostei dele pelo fato de ter pouquíssimo pano! Era praticamente uma blusa!
Tirei a roupa e coloquei para ver como ficava no corpo. Foi um pouco difícil colocar porque ele é colado ao corpo, mas ficou perfeito. Como ele sabia o tamanho?
Fui até o espelho e fiquei reparando, era curto demais! Eu nunca usaria aquilo! Se levantasse um pouco a perna, todos veriam a minha calcinha. Fora que ele era muito colado ao corpo, mostrando cada centímetro dele. Suspirei e tirei aquilo. Seja lá o que o Matheus quer provocar no pai, ele com certeza vai odiar me ver vestida assim, ainda mais se for um jantar formal.
Onde fui me meter!