Perdão

653 Words
Padre Davi estava no altar com um coroinha e logo iniciou a missa, todos prestavam atenção, mas ele ainda não havia notado a presença de Rosa. O tempo ia decorrendo e Rosa sentia-se cada vez mais estranha. Observou cada detalhe do homem santo. A fisionomia séria, a cor dos olhos, cabelos, o formato do rosto, as mãos, o jeito de falar, os pequenos gestos, e por algum momento tentou decifrar seu corpo rabiscado pela batina que caia sobre ele. Ela estava se sentindo tão viva, fêmea, mulher, todo o desejo que estava reprimido em seu corpo, agora explodia, causava vários abalos sísmicos em sua alma. No meio da missa, o padre Davi começou um sermão sobre o casamento, a família, respeito ao próximo, e aos pecados da carne. Todos prestavam atenção. Ele ao olhar para a ponta da segunda fileira dos acentos, olhou para Rosa. Seus olhos foram acometidos de uma hipnose de tal maneira que parecia existir apenas aquela moça dentro da igreja. Por alguns segundos ficou sem dizer nenhuma palavra, e continuou falando sobre o pecado da carne. Porém algo contraditório estava acontecendo ali. Tudo o que ele falava, estava sem coesão com que o seu corpo e sua mente estavam sentindo naquele momento. Dizia que devíamos resistir as tentações, que devíamos nos voltar para o equilíbrio do espírito, e não ficar alimentando os desejos da carne com pensamentos impuros, pois Deus nos fez para o amor, para amar ao próximo, nossa família, respeitarmos um ao outro. Pela primeira vez o olhar de Rosa cruza-se com o de padre Davi, e ele mais uma vez, por questão de segundos, parou de falar, mas logo em seguida continuou o seu sermão. Ele desviou rapidamente seu olhar, ele olhou para a entrada da igreja, dessa forma olhando para todos que estavam ali dentro. Os olhos azuis de Rosa penetravam os dele todas as vezes que os encontravam e o corpo do padre Davi estremecia diante dos olhos do Senhor. Quem seria ela? O demônio a lhe tentar? Se era o demônio, então se tratava do m*l disfarçado de anjo. Impossível não admirar aquela moça, mais ou menos 18 anos, cabelos louros e lisos como o mais lindo dos arcanjos, a pele alva e sem marcas revelando a mais límpida das esculturas. Enquanto dava prosseguimento às orações daquela noite, tentando imaginar quem era a moça. Seja como for o padre Davi percebia seu olhar penetrante a invadir cada centímetro de seu ser. Não demorou muito a hora de comungar, então Rosa se levantou, e foi para a fila receber o corpo de Cristo. Seu coração palpitava, era uma sensação espontânea, não podia controlar seus sentidos, e à medida que a fila ia andando, mais apreensiva ela ficava. A mesma sensação o padre estava sentindo. A imensa fila de fiéis ávidos pelo corpo de Cristo. A cada hóstia entregue aos fiéis o padre Davi olhava para o fundo da fila a imaginar quando chegaria a vez dela. Seus pensamentos eram de repulsa em relação aos demais, justo, oferecendo o corpo de Jesus e amaldiçoando cada um deles que o impedia de ver o anjo caído. Mas quando ela estava a cinco ou seis fiéis dele, o medo de seu olhar te assaltava. E ao se posicionar diante dele, seus olhos revelavam um misto de volúpia, sacrilégio, desejo, arrependimento e inocência. Ambos sem entender o que estava acontecendo com eles, ficaram frente a frente. O olhar frontal dos dois foi quebrado pela presença do corpo de cristo, diante dele, Rosa olhou diretamente nos seus olhos e deslizou a língua pelo lábio superior, convidando-o para um tipo de deleite que lhe era proibido e posicionando-a, em seguida, para receber o corpo de Cristo. De repente, padre Davi despertou daquele seu terrível devaneio e encontrava seu olhar curioso esperando pelo ato da comunhão. Ouvindo as palavras do padre, Rosa abaixou a cabeça, e voltou para o seu lugar.
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