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Olhei para o espelho, o espartilho estava incomodo, apesar dos anos eu não havia me acostumado ainda, desta vez estava mais apertado do que nunca, o reflexo de minha amiga Eva, que apertava cada vez mais o maldito espartilho, demonstrava que ela usava força, logo depois sua face demonstrou suavidade enquanto ela o amarrava.
Eva se afastou, eu tentei puxar o ar, desta vez ela havia exagerado, tenho certeza que esse exagero era por causa da ocasião, ela se afastou e voltou com um vestido enorme azul, eu suspirei frustrada, enquanto ela foi me ajudar a se vestir.Assim que terminei, olhei novamente para o espelho, coloquei minhas luvas brancas insatisfeita por meus olhos verdes demonstravam a má noite de sono que tive.
—Lady? -Falou Eva, eu me virei e a olhei. -Os convidados já estão no salão.-Bufei frustrada, Eva sempre esteve ao meu lado, tia Mayra me deixou voltar para casa com ela, eu havia me apegado muito á Eva, e depois soube que ela perdeu os pais, eu implorei para que ela viesse comigo.
—Onde está minha mãe? -Eu perguntei indo até a caixa de jóias e colocando um conjunto extremamente pesado com enormes pedras de diamantes.
—O duque e a duquesa estão no salão com os convidados. -Ela falou, eu admirava Eva, ela sempre tinha uma voz serena e parecia não se abalar facilmente.
—Avise-os, que já descerei. -Eu falei me olhando novamente no espelho, meu cabelo estava preso de um jeito elaborado em camadas com alguns cachos soltos pelo penteado, eu m*l podia esperar para terminar logo a festa, queria soltar meu cabelo e tirar aqueles grampos pesados e brilhantes, coloquei minha pulseira, eu sempre a usava nessas ocasiões, foi um presente de meu irmão, meu coração doeu quando pensei nele.
–Com licença my lady.-Eva falou se inclinando em reverência a minha pessoa, tudo isso por causa do titulo de minha família, suavemente antes de sair.
—Eva, não se incline para mim, já disse que você é como uma amiga.-Eu falei, já havia perdido as contas de quantas vezes já pedi isso á ela.
—A senhoria é filha de uma duquesa, não posso faltar-lhe com respeito, minha senhoria sabe que me n**o a não me inclinar.-Ela falou saindo.
Encarei-me mais uma vez no espelho, teria que ter cuidado para não cair, isso sempre acontecia nas festas, respirei fundo e sai de meus aposentos, o tapete enorme estava em todo o chão do corredor, fui andando calmamente até o salão. Meu pai era um Duque, queria fazer uma comemoração pela minha volta, eu passei anos no castelo de minha tia, atarefada de aulas, professores, livros e etiquetas.
—Está linda filha.-Levantei o rosto e encarei minha mãe, ela estava linda demonstrando todo o poder de minha família, me inclinei levemente.
—A senhora também está linda.-Eu falei.
—Querida não precisa reverenciar á mim.-Ela falou, mas os costumes que aprendi desde criança com minha tia Mayra me diziam o contrário.
—Costumes mãe, a senhora não me mandou para casa de minha tia por causa disso? Passei 8 anos aprendendo sobre eles .-Eu falei seca, e vi seu rosto se entristecer.
—Querida já falamos sobre isso, era o melhor.-Ela falou querendo tocar meu rosto e eu me afastei, sabia que ela estava mentindo.
—Papai está à minha espera, com licença.-Eu falei fazendo reverência.
—Não podemos continuar assim Vanessa.-Ela falou já ao meu lado segurando o volumoso vestido nas laterais, assim que avistei o servo, no alto da escada, ele nos reverenciou.
Minha mãe desceu as escadas lentamente ainda levantando o vestido verde, eu fiz o mesmo, todo cuidado era pouco, todos olharam para o alto da escada, os mais nobres do reino estavam na festa. Avistei o rei e a rainha, eu tinha certeza que eram eles, havia passado um bom tempo vendo os quadros dos nobres e aprendendo sobre cada um deles. Meu pai já estava no pé da escada a nossa espera, eu sabia que esse almoço de comemoração tinha algum motivo e com certeza não só era minha volta para casa.
Assim que terminei de descer as longas escadas cobertas pelo tapete vermelho fiz uma reverência ao meu pai e coloquei minha mão em cima da dele, minha mãe já estava ao lado esquerdo de meu pai, os dois de braços entrelaçados como era de costume, meu pai sorriu, ele parecia feliz em mostrar a filha aos nobres.
Eles me guiavam ao rei, eu sabia que tinha algo por trás disso, só precisava ficar atenta e descobrir, meu pai parou diante do rei e fez reverência junto de minha mãe.
—Vosso Rei e Rainha quero lhes apresentar minha filha, Vanessa.-Eu os reverenciei com o máximo de graça possível.
—É um prazer conhecer vosso Rei e Rainha.-Eu falei já com a postura reta, eles eram tão pálidos, me admirei com a beleza da rainha.
—És muito bela.-Falou a Rainha, e eu sorri.
—Obrigada vossa majestade.-Eu respondi o mais doce possível.
—Onde está o príncipe Orion? –Perguntou minha mãe sem delongas, eu estranhei isso.
—Deve estar conversando com lorde Yuri.-Respondeu a rainha, não havia muita gente, a maioria eram lordes, barões, condes, duques e pelo que parece havia um príncipe.
—Com licença.-Eu falei me inclinando novamente para eles.
—Espere querida vou lhe apresentar todos.-Falou meu pai me indicando sua mão novamente, ele se inclinou deixando minha mãe com o rei e a rainha.
—Qual é a verdadeira razão de tudo isso?-Eu perguntei para papai o baixinho.
—Sua mãe quer que você conheça o príncipe, não consegui pará-la. Conhece sua mãe meu anjo.-Ele falou.
Cumprimentamos tantos nobres, todos me elogiavam, os nobres eram chamados a maioria das vezes de Lordes independentemente de serem duque, marques, conde, barão ou visconde.Eu sabia o nome de todos, fiz reverencia incontáveis vezes, até que meu pai chegou perto do príncipe, eu nunca havia visto quadros dele.
–Príncipe Orion e Lorde Yuri.-Meu pai se inclinou levemente.-Quero lhe apresentar minha filha Vanessa.-Então ele era o motivo de todo esse circo, o reverenciei com toda graça existente nesse mundo, sentindo o olhar dos dois em minha pessoa, Yuri era loiro e tinha penetrantes olhos azuis, já Orion era tão banco quanto seus pais, os cabelos e os olhos negros.
Voltei a minha postura altiva e lorde Yuri me indicou sua mão, eu coloquei na dele, enquando beijava minha mão e eu me inclinei levemente.
—Encantado my Lady.-Ele falou e eu retirei minha mão, o príncipe fez o mesmo, coloquei minha mão sobre a dele, e pela primeira vez me senti curiosa á seu respeito, havia muitas historias sobre Orion, e a forma misteriosa em que seu irmão morreu era uma delas.
— Encantado.-Ele falou me olhando firmemente nos olhos.
—Onde esteve My lady? Soube que sua família decidiu fazer essa comemoração pela sua volta.-Perguntou lorde Yuri, meu pai em olhou meio aflito pela minha resposta.
—Lorde Yuri, eu passei alguns anos com minha Tia, Baronesa Mayra Varius, sou muito apegada á minha tia, e como ela pediu permissão para que eu ficasse um tempo com ela, meus pais aceitaram.-Eu falei.
—Desculpe duquesa, mas seus pais me falaram que passou 8 anos lá.-Falou o príncipe, como ele é petulante! Eu arqueei uma sobrancelha para ele.
—Como disse antes, eu amo muito minha Tia, o tempo foi passando tão depressa.-Eu falei dando o melhor sorriso, lembrei de tia Mayra me falando de como era importante parecer delicada e graciosa.-Eu só cheguei á dois dias e já estou com saudades.-Eu falei e isso era verdade, eu fui obrigada a voltar para casa.
—Príncipe Orion, Lorde Yuri e Duque Caius.-Ouvi uma voz do meu lado, me virei lentamente encontrando a filha de um barão? O nome dela era... Karen.
Ela se inclinou e me analisou, não havia gostado de mim, como eu sei disso, pelo simples fato dela ter me olhado como se fosse um lixo, ótimo tudo que preciso é de uma cobra, como dizia tia Mayra.
—Essa é a my lady Vanessa minha filha.-Anunciou meu pai como sempre muito orgulhoso, me inclinei para ela.
—É prazer conhecer-te miss Karen.-Eu falei.
Como ela era filha de um barão, não chamávamos de my lady ou baronesa, porque só a mãe dela e o pai possuíam tal título. Na verdade, chamá-la de miss foi para irritá-la. Ela me olhou com uma careta, eu ri internamente, eu já estava acostumada às pessoas assim que sempre tentam se passar por melhores, eu já havia me cansado disso.
Karen se curvou levemente, tão levemente que m*l era uma reverencia, que atrevida! Era isso que tia Mayra diria se conhecesse Karen.
— É um prazer conhecer-te.-Falou Karen a contragosto e eu sorri docemente para irritá-la mais.
—Pretende ficar com seus pais agora my lady?-Perguntou o Orion. Por que ele está curioso?
—Não sei, eu sinto muito falta de minha Tia Mayra.-Eu falei.
—Vou manter-te aqui filha.-Falou meu pai e meu sorri para ele.
—É pelo que parece vou ficar aqui.-Eu falei.
—E quantos tem my lady?-Perguntou o príncipe novamente.
—Tenho 17 anos.-Eu falei, eu queria sair dali, sentia o olhar de todos sobre mim, isso era estranho e constrangedor.
—Vamos dar uma volta vossa alteza?-Perguntou Karen, eu levantei uma sobrancelha. Ela tinha um decote enorme, eu abri a boca e fechei, como uma mulher usa um decote como aquele?
—Não, obrigada miss Karen, estou curioso com a aparição da My lady Vanessa.-Ele falou me olhando.
—Curioso? Desculpe vossa alteza, mais o que tem de curioso com a minha volta ao meu lar?-Eu perguntei.
—Não se lembra my lady, mais eu a via quando éramos crianças, nossos pais são muito unidos.-Eu não me lembrava dele.
—Oh, desculpe-me novamente, mais não me lembro.-Eu falei, sempre tive uma péssima memória.
—Entendo, faz muito tempo, eu lembro-me vagamente.-Ele falou.
Um dos servos venho em nossa direção e si curvou, percebi a figura tímida de Eva atrás dele fazendo também uma reverencia graciosa.
—O almoço será servido vossa alteza.-Falou o empregado.
Eva me chamou discretamente quando se levantou com toda graça, ela sim conseguia ser delicada, eu fazia tudo com muito esforço me inclinei suavemente.
—Com licença.-Eu falei.
—Vai aonde querida? -Perguntou meu Pai.
—Eva me espera, ela deve estar com algum problema.-Falei para pai e todos olharam ao redor procurando por Eva, eles não perceberam que ela era a figura que estava ao lado do empregado.
—Eva pode esperar, certo? -Ele falou olhando para Eva e todos perceberam quem ela era, olhei para ela preocupada, ela estava triste e com os olhos levemente vermelhos.
—Perdão meu pai, mas preciso ir. Eva não me parece bem, com licença.-Eu me inclinei de novo, sai pegando a mão de Eva não ligando para os olhares e subindo as escadas, senti o olhar de todos em minhas costas.
Apressei o passo no corredor, entrei nos meus aposentos e fechei a porta, eu tinha certeza que logo minha mãe iria aparecer e fazer o seu drama por eu ter saído para festa.
—O que houve querida?-Eu falei á levando até a cadeira e a deixei sentar lá.
—Um dos guardas...-Ela deixou a frase no ar e soluçou, eu olhei confusa.
—Acalme-se Eva, eu estou aqui, o que aconteceu? –Ela começou a chorar, parecia uma cachoeira, eu sempre a achei tão forte.
—Um... dos gua-guardas... tentou me-me... –Eu abri os olhos em choque.
—Eva, está me dizendo que tentaram... –Eu fiquei vermelha de vergonha e de raiva.-Que... Como um homem pode fazer isso, que coisa mais suja e nojenta.-Eu falei tremendo de nojo e medo só de pensar, só então percebi que Eva se encolheu na cadeira, tia Mayra me mataria se soube que ela passou por isso.
Eu me ajoelhei em frente á Eva, que ainda chorava em meio á soluços, eu a abracei com força. Eva não queria vir comigo como uma amiga que ficaria hospedada, ela dizia que nunca iria aceitar ficar de favor na minha casa, então eu acabei propondo que ela me ajudasse á me arrumar, ela só faria isso para mim, só eu podia pedir algo para ela, prometi que cuidaria para que nada acontecesse com ela para tia Mayra, como eu sou péssima em cuidar das pessoas.
—Ele chegou á... ?-Eu perguntei tão baixo que m*l ouvi minha voz.
—Não, eu corri, estava... com ta-tanto medo Vanessa.-Sorriu um pouquinho, eu adorava quando ela esquecia que eu era da nobreza, eu sempre gostava quando ela me via como uma amiga.
—Eu estou aqui, falarei com meu pai, seja lá quem for esse guarda vai estar preso em uma cela logo, logo.-Eu falei e beijei os cabelos pretos e lisos de Eva.-Nada vai te acontecer, eu prometo. Fique no meu quarto vou resolver isso agora com meu pai.-Eu falei.
Quando me levantei Eva segurou meu pulso, e me abraçou novamente, ela era muito forte, havia perdido os pais, se mudado para um lugar distante de seu lar e agora isso aconteceu á ela.
—Obrigada, mais é melhor esperar o fim do almoço.-Falou Eva e só então eu me lembrei.
—Não vou esperar nada, quero esse homem que tentou te agarrar longe daqui, não saia de meu quarto! -Eu falei me retirando, a sala estava vazia, entrei na sala de refeições com a enorme mesa que cabia mais de 30 pessoas.
Todos olharam para mim, eu tenho certeza que corei, levantei meu rosto e fui até meu pai, eu nunca senti tanta vergonha e raiva na minha vida.
—Papai preciso falar com o senhor. -Eu falei baixinho, todos ainda olhavam para mim.
—Sente-se e almoce primeiro, depois conversaremos.-Meu pai falou firme.Respirei fundo e tentei novamente como Mayra me ensinou, ela me ensinou muito mais do que boas maneiras.
—Papai, se o senhor não se levantar agora eu vou começar a gritar que minha amiga foi praticamente violentada por um de seus guardas.-Meu falei baixinho no ouvido dele, e ele tossiu em choque.
—Com licença, aconteceu um pequeno problema, preciso dar prioridade á minha filha.-Meu falou se levantando, ouvi os cochichos na mesa.
—Precisa de ajuda Duque? -Perguntou o príncipe Orion, eu o olhei, como ele é atrevido. Papai olhou para mim, eu sobrei um não bem baixinho.
—Muito obrigado vossa alteza, mas não precisaremos de sua ajuda.-Falou meu pai cordial como sempre.-Com licença, sirvam o almoço.-Eu enlacei o braço de meu pai o levando até meu quarto.
Eva ainda estava sentada e chorando, acho que estava muito assustada, eu a abracei novamente e meu pai tossiu para chamar nossa atenção.
—Eva, precisamos descer, quero que me mostre quem tentou violentá-la.-Eu falei e ela se encolheu.-Precisamos saber quem foi, ou não poderemos prendê-lo.-Eu falei carinhosa e tranquila.
—Estou assustada, não quero vê-lo.-Ela falou se apertando contra mim.
—Eu estarei com você.-Eu falei.
Ela confirmou com a cabeça e segurou minha mão, descemos para fora do enorme castelo, meu pai e outros dois guardas seguiam a gente. Eva deu a volta e apontou para um homem no celeiro.
—Vou deixar o resto o senhor papai.-Eu falei.-É o que está no celeiro.
Puxei Eva pelo braço com delicadeza, entramos na sala lorde Yuri e o príncipe Orion estavam na sala bebendo licor.
—Está tudo bem lady? -Perguntou o Lorde.
—Está tudo bem Lorde Yuri .-Eu falei enquanto Eva fazia uma reverencia.
—Vossa alteza e lorde.-Falou baixinho Eva, todos perceberam a delicadeza de minha amiga.
—Com licença, preciso levá-la aos meus aposentos.-Eu falei e me inclinei, e segui para a escada com Eva atrás de mim.
Suspirei quando entramos, Eva aparentava estar mais aliviada, eu ainda me sentia culpada pelo que tinha acontecido, quase acontecido.
—Lady?-Chamou Eva, eu não gostava de ser lady por Eva, ela era muito importante para mim.
—Gostei mais quando me chamasse de Vanessa, sabes melhor do que ninguém que a tenho como uma amiga ou irmã.-Eu falei para ela.
—Eu sei lady, obrigada por ter me protegido e desculpe-me por minha ignorância ao tratá-la pelo primeiro nome .-Eva era muito mais apegada aos costumes e comportamentos que eu.
A olhei com toda doçura, Eva me lembrava meu irmão, ele era tímido como ela, meu coração se apertou novamente.
—É meu dever proteja-la, lembre-se que prometi proteger-te.-Eu falei suave.-Tenho que ir.-Eu me inclinei e Eva me censurou com o olhar, sorri para ela e fui para a sala de refeições.
Assim que entrei na sala, todos olharam para mim, andei com elegância até meu lugar. Meu pai ainda não tinha voltado, e minha mãe olhou-me com curiosidade e censura, sentei-me á mesa, percebi que todos comiam, e dessa vez o lorde e o príncipe estavam á mesa, eles já tomavam um chá e desfrutavam das sobremesas, uma das servas se aproximou e se curvou á mim, era uma senhora, acho que seu nome é Marla.
—My lady, posso servir o almoço se assim desejar.-Ela falou com humildade, percebi alguns olhares sobre mim.
—Obrigada, mais não estou com apetite e por favor, leve-me chá gelado antes de dormir novamente.-Eu falei sorrindo para ela
Eu havia pegado o costume de dormir depois de tomar chá sem açúcar, precisava colocar todos a par de minhas atividades, ela se inclinou e voltou para a cozinha, peguei uma xícara, coloquei o chá e tomei calmamente. Meu pai entrou na sala, parecia tenso, eu o olhei como se buscasse uma resposta e ele fez um sim levemente com a cabeça eu suspirei aliviada.