▪︎4° CAPÍTULO▪︎

929 Words
1 mês depois Depois de um mês tentando resolver sua vida, Suzana já começava a entrar em desespero. Não tinha conseguido arrumar um emprego, e em todas as entrevistas que ia, o salário era tão irrisório, que não dava para bancar um aluguel e as compras do mês. Durante esse tempo, ela colocou a vergonha no bolso e procurou todos os amigos do tempo em que era casada, mas nenhum deles se disponibilizou a ajudá-la. Todos inventaram desculpas esfarrapadas e disseram que no momento não podiam fazer nada por ela. Suzana vendeu a maioria dos seus vestidos de festas, e com esse dinheiro conseguiu se manter durante o mês que passou. Ela guardou o resto para o próximo, mas sabia que precisava encontrar imediatamente um emprego descente para poder cuidar da sua vida sem atrapalhar os amigos. E ainda tinha a dívida do sepultamento da família: apesar de os seus amigos terem ajudado a pagar, ela se sentia na obrigação moral de devolver esse dinheiro e esperava saná-la com o seguro que receberia do acidente dos seus pais. Só não sabia quando isso iria acontecer. — Me corta o coração te ver o tempo todo fora de órbita Suzana. – Priscila se sentia impotente mediante a situação da melhor amiga. Por mais que tentasse ajudar, não conseguia tirar essa preocupação exagerada de Suzana sobre o futuro. – Eu já falei para você parar de se martirizar, posso sustentar nós três até você encontrar um emprego. Sei que a minha casa é pequena, mas se for necessário, podemos alugar uma maior, eu já disse que não me importo em morar com você. A solidariedade da amiga era algo que sempre emocionava Suzana. Saber que ao menos a vida lhe poupou essa amizade já era motivo de comemoração. Os anos poderiam passar, mas ela nunca esqueceria o que sua amiga estava fazendo por ela. Um dia, poderia retribuir todo esse carinho. — Pri, eu sei que você quer me ajudar, mas não é justo você sair todas as noites para trabalhar enquanto eu fico em casa sem fazer nada. Preciso organizar a minha vida, não posso ficar parada com uma criança para cuidar. Sei que a Fátima está sendo um anjo na minha vida e da minha sobrinha, mas não posso passar a vida dando trabalho para vocês. Não é justo! — É só uma fase, mulher, você vai se ajeitar. E não é trabalho, eu não mudei a minha vida por sua causa. A única diferença é que agora eu posso fazer compras descentes no supermercado e, quando acordo, tenho comida de qualidade na minha cozinha. E quanto à dona Fátima, ela ama a Sofia, sua sobrinha trouxe nova vida para ela. De fato, a alegria da senhora com sua sobrinha era admirável. Mesmo quando Suzana estava em casa, Fátima fazia questão de pegar a pequena, e às vezes as três passavam a tarde juntas na casa da senhora, jogando conversa fora enquanto Sofia brincava no chão. — Eu sei, Priscila, mas quero me assentar, tenho contas para pagar e se eu não fizer ao menos o pagamento mínimo do meu cartão, estarei com meu nome sujo. Dei um prazo para a operadora do cartão, e se não cumprir, vou virar devedora. A frustração no rosto da amiga foi tão visível, que Suzana se sentiu m*l por ter compartilhado o seu drama. A pressão dos últimos dias acabou deixando-a com a boca solta, e isso sempre fazia sua amiga se preocupar. — Eu já disse que posso pagar sua dívida, mas você não coopera. Custa dizer quanto é? Posso resolver isso em poucos dias. — Não vou deixar que use suas economias comigo. Sei que trabalha muito à noite, e não acho justo gastar seu dinheiro com os meus problemas. — Se eu posso pagar, não vejo problema nisso, você deveria parar de ser tão orgulhosa. Suzana se sentiu ofendida, ela não estava sendo orgulhosa, apenas não achava justo envolver ainda mais a amiga nos seus problemas. Precisava encontrar uma solução rápida para encontrar um emprego descente e ganhar um salário maior que o mínimo. Não podia mais ficar parada sem encontrar uma saída real para o seu problema. E foi com esse pensamento que uma ideia surgiu. — Pri, nesse seu emprego não tem vaga? Pelo o que percebi, você ganha bem, se eu conseguisse uma vaga, poderia dar outro rumo para minha vida. O prato que a amiga estava secando caiu no chão e se espatifou todo. Suzana ouviu Priscila praguejar e correr para limpar a confusão que fez. A reação agitada da amiga a surpreendeu, e a curiosidade se instalou dentro dela, fazendo-a querer saber o que estava acontecendo. — Algum problema? Por que ficou tão nervosa? Priscila não respondeu, na verdade não tinha o que falar. Se sua amiga desconfiasse o que fazia para viver, teria um ataque cardíaco. Suzana nunca entenderia a sua profissão, e Priscila não queria perder a amizade dela por ter escolhido o caminho errado. Todos os anos de amizade que possuíam eram importantes para ela, não jogaria todos eles fora porque tomou uma decisão errada. Nunca revelaria o que fazia pelas noites do Rio, sua amiga não merecia saber da sua vida de promiscuidade. — Nenhum, eu só me distraí, acho que escutei a Sofia chorar. Por que não vai até meu quarto ver se ela acordou? Normalmente ela não dorme tanto depois do almoço. – Com essa desculpa ela conseguiu despistar a amiga e voltou a respirar com tranquilidade. Só não sabia até quando conseguiria esconder toda a verdade. Continua...
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