Não havia amor nem emoções nos olhos do homem diante de mim... apenas as chamas do ódio queimando brilhantemente, consumindo-os.
"Diga-me… o que somos?", perguntei suavemente. A dor em meu corpo estava sufocante e, por mais forte que eu tentasse ser, não conseguia evitar que a dor transparecesse em minha voz.
"Nada mais do que Céu e Inferno", sua voz era igualmente fria, destruindo o último pingo de minha determinação.
"Então me mate", sussurrei roucamente, tentando ignorar a dor da traição que me consumia por dentro.
Um sorriso impiedoso enfeitou seu belo rosto, seus dedos se fechando sob meu queixo e fazendo com que as faíscas de seu toque percorressem meu corpo; prazer e dor de igual forma.
Ele estava tão perto... mas tão distante...
"Seria fácil demais... mas eu te asseguro, quando eu terminar com você, você vai desejar nunca ter nascido."
"Você não quer dizer isso..."
"Espere e verá", ele virou-se, me empurrando violentamente para o chão, "Queimem-na."
Meu coração afundou, minha cabeça abaixou enquanto a dor de sua rejeição me dilacerava. Mesmo quando fui encharcada com gasolina, não me movi, tentando não engasgar com o forte cheiro pungente que agora me envolvia completamente, mantendo meus olhos fechados com força.
Será que ele não percebia que eu já estava queimando em agonia pela dor que ele havia causado em mim?
Meus olhos arderam quando eu os forcei a se abrir, observando-o se afastar, esperando... rezando... para que ele voltasse atrás e mudasse de ideia. Que talvez, bem lá no fundo, aquele homem que eu amava, ainda existisse.
Ele já disse uma vez que eu era sua kriptonita...
Seria tudo mentira?
Ele hesitou, meu coração saltou com uma centelha de esperança, mas então eu vi, o fósforo aceso em sua mão enquanto seus olhos encontravam os meus...
(...)
Dias Atuais
YILEYNA
Charlene ria empolgadamente enquanto saíamos sorrateiramente antes que um dos guardas nos notasse. Se Theon nos pegasse, ele não ficaria impressionado e eu consigo imaginar a repreensão que eu receberia por não ter lhe dito que estávamos saindo.
"Rápido!", Charlene ria enquanto verificávamos se havia guardas no corredor.
Vendo que a costa estava livre, rapidamente saímos pelas portas, escapando para fora, e Charlene dançou alegremente, como se tivéssemos acabado de fazer uma fuga da prisão, arrancando um sorriso dos meus lábios.
Minha diversão com minha futura Rainha diminui um pouco quando percebo a atenção que estou atraindo. Engolindo a emoção que ameaça me sufocar, ignoro os olhares de desgosto e a sigo. Charlene enlaça seu braço no meu, me puxando enquanto fala animadamente sobre algo, mas meus pensamentos estão em outro lugar.
Ela, distraída por uma barraca, correu para lá, espiando as artesãs dos comerciantes, e meus olhos a seguiram quando avistei Rhys.
Meus olhos se encontraram com os do filho do Gamma de sete anos. Eu tinha salvado sua vida naquela noite, mas não pude salvar meus próprios pais.
O pequeno Rhys também me viu e parou onde está. Aquela noite estava tão vividamente dolorosa em minha cabeça, apesar de já terem se passado dois meses desde o m******e. Dois meses desde que perdi meus pais. Meu pai era o Beta da matilha, um título que seria meu, embora eu soubesse que o Alfa também me culpava por sua perda.
Agora eu sou a filha desonrada do Beta, meu futuro agora é desconhecido por causa de sua perda. Uma mágoa que causei ao nosso Alfa e à matilha. Como se eles não percebessem que eu também sofro com essa perda. E agora, onde quer que eu olhe, sou constantemente lembrada de como os decepcionei, decepcionei a matilha. Mas o pequeno Rhys, seu olhar assombrado encontrando o meu, me forçou de volta a aquela noite terrível. Essa memória irá me assombrar para sempre porque eles ainda estariam aqui se não fosse por mim.
Meus pés falharam, meu coração acelerando enquanto eu encontrava seu olhar e as lembranças daquela noite assaltaram minha mente, me mergulhando nas profundezas de um pesadelo que vinham se repetindo em minha cabeça desde então...
Tudo se desvaneceu e mais uma vez eu revivi aquela noite...
Sangue e carnificina, eu ainda conseguia sentir o cheiro da fumaça das chamas que se erguiam no céu noturno. O aroma metálico do sangue que manchava o chão, ouvir os gritos de nosso povo, mas nada disso me assombrava mais do que a dor de perdê-los.
"O Beta caiu!", alguém gritou, me fazendo congelar, meu mundo inteiro parou por um momento doloroso, aquelas palavras afundando em mim.
Eu me virei, meu coração em minha garganta. O sangue pulsava ruidosamente em meu corpo, e um arrepio gélido me envolveu.
Deusa, não...
Pai!
Alguém bloqueou meu caminho, e eu bati de frente com um peito duro e musculoso. Me afastei bruscamente, tentando ultrapassá-lo, mas um par forte de mãos segurou minha cintura.
"Yileyna!"
"Me solte! Papai está lá fora! Mamãe também!"
"YILEYNA!", seu rosnado profundo me fez congelar, "Escute-me."
Eu olhei para cima nos olhos âmbar do meu crush, Theon. Suas mãos seguraram meu rosto, uma ruga se formando em sua testa. Mas desta vez, não era sua beleza ou o toque que me afetava, e sim, as palavras que saíam daqueles lábios carnudos.
"É tarde demais. Eles estão mortos", eu olhei para cima, não perdendo a preocupação que estava misturada em seu tom enquanto ele tentava me fazer entender as palavras que proferia. As palavras que fizeram meu mundo desmoronar ao meu redor.
Saber que não importava o que acontecesse, minha vida nunca mais seria a mesma…
"Yileyna!", eu balancei a cabeça, trazida de volta ao presente por Charlene, chamando minha atenção para o garoto.
Não mais preso sob o meu olhar, ele abaixou a cabeça e saiu correndo, continuando seu caminho para onde quer que estivesse indo.
Dois meses se passaram desde a noite do m******e, mas os horrores daquele ataque ainda assombravam os sonhos de muitos. Perdemos trinta e quatro pessoas naquela noite, e outras sete, posteriormente, devido a ferimentos fatais.
O que mais me machucava era que eu sabia que papai deixou a segurança das paredes por mim, para me proteger e garantir que eu estivesse segura, e com sua morte, perdi também a mamãe. Verdadeiros companheiros que se marcaram um ao outro morreram juntos. Eu nunca deveria ter estado lá embaixo... mas sendo eu mesma... eu fui e isso custou a vida deles.
Muita coisa mudou desde então. As pessoas agora me olhavam com desprezo e ódio. Eu sabia que me culpavam pela perda do casal Beta, mas eu me culpava também. Foi minha culpa.
"Deusa, se não fosse por ela, eles ainda estariam aqui."
"A audácia de ela mostrar seu rosto aqui..."
As duas mulheres que passaram por nós sussurraram uma para a outra. Sorri, triste, nem me dando ao trabalho de olhar para trás para elas.
A conhecida dor no peito volta, e engulo em seco, tentando me concentrar no destino para onde estamos indo.
Charlene virou, encarando as costas das duas mulheres.
"Ignore elas", ela disse, envolvendo o braço no meu.
"Eu ignoro, minha bela rainha", sorri para ela; entre todos, ela é a única que não mudou em relação a mim.
Claro, o Alfa e a Luna estavam bem comigo, mas eu não os via com muita frequência e eu não era cega para a hostilidade implícita do Alfa... Ainda me lembro quando ele perguntou o que eu estava fazendo lá fora, como minha imprudência tinha custado a todos nós...
"Vamos logo, melhor nos apressarmos antes que Theon perceba que não estamos mais no banho", ela riu.
Theon, ele também era alguém que me tratava indiferentemente, como sempre. A maior emoção que vi nele foi quando ele me contou o destino deles...
"Sabe, ele vai ficar bravo. De novo", eu sorri, afastando os pensamentos que inundavam minha mente.
"Ah, bem, você é uma das pessoas mais fortes que eu conheço. Nos últimos dois meses, isso alcançou um nível totalmente novo. Ele vai saber que estou segura", ela afirmou com confiança.
Ela estava exagerando. Eu era habilidosa, mas de longe uma das mais fortes.
Charlene... o que eu faria sem ela?