Capítulo 1
– Oi mãe, tudo bem?
Eu cumprimentei assim que entrei em casa, jogando as sacolas de compras no sofá.
– Oi filha!
Ela sorriu e eu corri para abraçá-la.
– Tenho que te contar uma coisa.
Saí do abraço devagar e fui para o sofá onde tinha jogado as sacolas, sentei e esperei ela começar a falar.
– Diga ai.
Ela ficou em pé a minha frente, com um sorriso quase maior que a cara dela. Não pude deixar de sorrir também, mesmo sem saber do que se tratava.
– Então... Eu consegui um emprego!
Me levantei no mesmo segundo e dei vários pulinhos de felicidade. Eu sabia o quanto ela estava procurando por isso, desde que os Barbosas tinham demitido ela.
– E não é só isso; – ela continuou, sorrindo ainda mais
- Eu conversei com a mãe da família e ela me garantiu que tem quartos o suficiente para mim e para você dormirmos lá e que fazia questão de que você estudasse na mesma escola que dois dos filhos dela.
Eu quase caí de felicidade. Eu não aguentava mais aquela escola publica onde eu estudei ano passado. E o melhor. Nós iríamos sair daquele ovinho que chamamos de casa. Comecei a pular ainda mais e ela me acompanhou, rindo de alegria.
– Quando você vai começar?
Eu já estava ansiosa.
– Estamos no dia 5 de janeiro ainda, então eu combinei com a Dona Nicole que daqui a uma semana no máximo já estaria lá com você e ai a gente faz a sua matricula no colégio.
Sorri com o coração batendo forte. Uma semana para minha vida mudar.
[...]
O táxi parou em frente à mansão dos Rodriguez . Senti meu corpo tremer de excitação enquanto eu e minha mãe saíamos do carro com nossas malas.
Respirei fundo e olhei para mansão; dois andares enormes, uma quadra de futebol ao lado, um jardim tão longo que eu me senti até um pouco perdida pela dimensão de todo aquele lugar, que dava para ser enxergado quase todo por causa do muro baixo – a mansão estava dentro de um condomínio fechado que continha apenas cinco casas, todas pertenciam à família Rodriguez.
Minha mãe, com os olhos tão arregalados quanto os meus, tocou a campainha.
– Quem é?
Perguntou a voz doce de uma mulher pelo interfone.
– Sou eu, Melissa.
– Um segundo.
A porta eletrônica se abriu e eu vi uma mulher elegante, com a pele muito branca e os cabelos negros e lisos que iam até o ombro, mais ou menos no meio do grande jardim. Ela abriu um sorriso perfeito ao nos ver.
– Olá Melissa!
A mulher disse e agora que tinha se aproximado de nós eu pude notar algumas ruguinhas quase invisíveis no canto de seus olhos verdes-mar.
– Eu sou Nicole, muito prazer.
Ela abraçou minha mãe e depois veio a até mim, parando um pouquinho para olhar no fundo dos meus olhos.
– Você deve ser a Sophia; me lembra da filha mulher que eu sempre quis ter
falou enquanto me abraçava, ainda sorrindo. Tentei não me sentir constrangida com tanto contato.
– MÃE, PARE DE ME ENVERGONHAR!
Levantei os olhos e vi que do outro lado do jardim, na varanda que dava entrada a casa, estava um garoto mais velho que possuía um par de olhos azuis tão intensos que dava para ser visto dessa distância.
– Ah filho, venha cá conhecer elas! – Dona Nicole gritou de volta para o garoto, que simplesmente balançou a cabeça em negativa e se virou de volta a porta da casa.
– Aliás, eu estou com fome – ele disse mais alto do que o necessário e desapareceu de vista.
– Me desculpem pelo comportamento do James .
– Não tem problema; deixe-me só colocar as malas no quarto que eu faço uma comida para ele
minha mãe respondeu com aquele tom de simpatia que fazia qualquer um gostar dela.
Passei pelo longo jardim enquanto minha mãe conversava com a senhora Nicole. Na porta da casa, a dona Nicole parou e eu e minha mãe paramos em seguida, por educação.
– Como já havia dito para você Melissa, existem muitos quartos sobrando nessa casa, mas... – ela desviou o olhar, envergonhada.
– Meus filhos Miguel e James insistiram que vocês ficassem uma no sótão e a outra no porão... Claro que eu posso conversar mais com eles, é claro, se isso for ofensivo ou algo assim... – se apressou em completar.
– Tudo bem –
falei antes de minha mãe responder. Era até melhor que eu não queria ter que passar pelo quarto daquele tal de Jonathan antes de ir dormir.
A mulher sorriu aliviada.
– E não precisam se preocupar, eu faço questão de arrumar os quartos de vocês para que fiquem os melhores possíveis – prometeu rapidamente.
Ela passou pela porta e fez sinal para entrarmos.
Senti meus olhos se arregalando ao perceber o tamanho da sala –
praticamente o mesmo de toda a minha antiga casa e um milhão de vezes mais bonito. Tentei não demonstrar minha surpresa e continuei andando, olhando todos os detalhes.
– Bem, eu já arrumei um pouco os quartos que vocês irão usar e...
– Então essa é a nova empregada e a filha dela?
Olhei ao redor e vi um menino se levantando do sofá e vindo a nossa direção; seu cabelo era tão preto quanto a noite, contrastando com olhos verde-mar, exatamente iguais ao da Dona Nicole. Ele deveria ter minha idade, no máximo.
– Prazer, meu nome é Melissa– minha mãe estendeu a mão para ele e ofereceu um sorriso. Ele ignorou ambas as coisas e eu comecei a fuzilá-lo com o olhar por ter feito isso.
– Eu sou Miguel
Ele disse olhando fixamente para mim. Como eu não respondi, ele simplesmente voltou para o sofá em frente à televisão gigante.
Troquei olhares com a minha mãe e ela me lançou um “deixe isso pra lá” sem palavras. Suspirei, ainda incomodada.
– Vamos, creio que você – a dona da casa olhou para mim, ignorando completamente a cena anterior – vá preferir ficar no sótão, lá tem uma vista incrível para as estrelas.
– Se minha mãe concordar...
Ela balançou a cabeça em aprovação e Dona Nicole deu um sorriso.
– Ótimo! Venha comigo Sophia, eu vou te mostrar onde é. Enquanto isso, Melissa , gostaria que você esperasse aqui, quando eu voltar te mostro a casa e o seu quarto – mamãe concordou com a cabeça e a Dona Nicole me puxou pela mão, animada em um nível que eu conseguiria entender, mas que gostava de sentir.
Ela passou por uma cozinha tão grande quanto a sala e apertou o botão do elevador ao lado de um corredor.
– O sótão fica no terceiro andar e o elevador dá direto para a porta do seu quarto –
ela informou enquanto entrava e apertava no botão.
– Certo.
– Você não de falar muito, é?
– É que eu não costumo falar tanto quando ainda não conheço alguém...
Olhei para o chão, meio envergonhada.
– Ah, mas não precisa ser assim comigo, pode me considerar uma segunda mãe, ok?
Ela me estendeu a mão.
– Ok.
Segurei a mão dela e sorri.
– Oi!
Me virei assustada e vi que a porta do elevador tinha se aberto e um menino alto com os olhos muito azuis sorria para mim, como se tivesse aguardando para me ver em frente à porta do sótão todo esse tempo
– Oi... –
disse tímida enquanto ele me abraçava e sorria, mostrando duas covinhas fofas.
– Muito prazer em te conhecer! Meu nome é Nicolas, eu sou o irmão do meio –
apresentou- se ele, se afastando de mim e olhando para a mãe, que ria baixinho.
– Meu nome é Sophia
respondi e ele balançou a cabeça, depois se virou e abriu a porta do sótão.
Minha boca se abriu quando eu vi o que tinha dentro. Era duas vezes maior que o quarto que eu dividia com a minha mãe; de um lado tinha uma estante de livros e um guarda roupa, do outro lado a cama – que ficava em frente à TV –, mas minha parte preferida era sem dúvida a janela enorme e a pequena varanda que dava para ver as estrelas.
– Eu sei que ainda não está muito organizado, mas... –
ouvi a Dona Nicole dizer enquanto entravamos.
Eu ri. Aquilo era mais organizado que a minha vida toda.
– É lindo, obrigada Dona Nicole.
Ela e o Nicolas sorriram e me deixaram a sós com... O meu quarto. Meu Deus, aquilo só podia ser um sonho.
Abri meu guarda-roupa e comecei a tirar as coisas da minha mala, arrumando lá dentro.
CRIC
Girei meu corpo rapidamente e vi o garoto chamado James trancando a porta e olhando para mim, com aqueles olhos azuis repletos de malicia. Agora que estava perto eu conseguia ver melhor os cabelos loiros dele.
– Oi, acho que não formos devidamente apresentados; meu nome é James
ele sorriu e uma covinha apareceu no lado esquerdo da sua bochecha, bem de leve.
– Meu nome é Sophia... Hã, por que você trancou a porta?
Eu olhei para ele, que apenas andou na minha direção, ainda sorrindo.
– Eu te achei muito bonita Sophia
sussurrou quando estava a dois passos de mim.
– Obrigada...
Eu não sabia o que dizer.
– É, você vai ser obrigada a fazer muitas coisas.
E então as coisas aconteceram.
O James me empurrou contra o guarda-roupa com força e levantou meu queixo com os dedos, para que eu olhasse para ele.
– Agora eu não vou fazer nada com você, tenho compromissos, mas... –
ele sorriu de um jeito ainda mais p********o e me soltou, saindo de perto de mim. Só quando já estava na porta, se virou novamente.
– Está avisada, agora vá arrumar essas suas tralhas, eu volto depois.
Ele destrancou a porta e saiu, batendo ela com força depois.
O que foi isso?