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Caminho pelo campus da universidade escutando carry on my wayward son de Kansas nos meus fones o mais alto possível, nos braços levava um monte de livros de psicologia e uma mochila com meu computador nas costas. Estava fazendo frio mas eu conseguia me aguentar com meu moletom cinza e meu gorro preto na cabeça, as meias pretas e os tênis na mesma cor impediam que meus pés ficassem frios, e pra proteger minhas pernas a calça jeans servia perfeitamente, estava tudo perfeito enquanto não estivesse chovendo e eu conseguisse chegar no meu carro em paz.
Sinto um braço em meu ombro e olho para o lado enquanto a pessoa retira meus fones_ oi_ Xiluva, minha melhor amiga, sorriu para mim_ café?_ levanta o porta copos com dois copos de café muito convidativos.
– bem na hora_ sorri para a garota que gentilmente retira seu braço de meu ombro e me ajuda com alguns dos livros, para que eu possa tirar meu outro fone, desligar a música e segurar o copo de café com uma de minhas mãos.
– ah, elimina o que quer que haja na sua agenda pra hoje à noite, vamos à festa do Daniel_ ela avisa calmamente.
– quê?_ paro de caminhar e observo a mesma caminhar em minha frente_ espera aí, você sabe que eu não gosto de festas_ reclamo voltando a andar na mesma direção que ela.
– vá lá, vai ser divertido ele até fez questão de convidar nós duas pessoalmente_ faz uma carinha de cachorro abandonado tentando me convencer.
– nós duas uma vírgula, ele chamou você, eu sou só a amiga nerd e sem graça da gatona da universidade_ falo óbvia.
– ele também foi seu amigo que eu me lembre_ ela solta um suspiro indignado e abre a porta do meu carro_ você vai comigo e ponto final Rashyma, nem adianta reclamar_ deposita meus cadernos no banco de trás e fecha a porta.
– eu preciso estudar para os exames, você também precisa e todo esse povo que vive falando de festa também precisa_ deposito o restante dos livros no carro e fecho a porta, podendo finalmente beber meu café mais livremente.
– se você fizer isso por mim eu prometo que faço o que você quiser_ fez um biquinho_ por favor_ aquela voz chata que ela sempre fazia quando apelava me fez revirar os olhos.
– ok, nós vamos, mas você tem que me prometer que eu também vou me divertir_ falo dirigindo o copo de café até a boca e bebericando um pouco.
– eu prometo_ se animou e me deu um abraço com cuidado para não derramar café em nenhuma de nós_ eu venho pra sua casa às 18h, seu irmão vai ser nosso chofer_ falou se afastando.
– ei espera aí, ele sabe disso?_ pergunto enquanto ela abria a porta de seu próprio carro.
– dáááh, óbvio que ele sabe nem_ leva a mão a testa e depois a afasta como se dissesse que sou uma tola por perguntar tal coisa_ te adoro, nos vemos mais tarde_ abre a porta do carro.
– também te adoro_ aceno em sua direção e reproduzo sua ação, entrando no carro de seguida e no minuto seguinte eu e ela estamos deixando a faculdade.
Faço a pacata viagem até casa com música preenchendo o ambiente no carro, não demora muito e já estaciono na frente da casa tendo que descer com aquele monte de livros nas mãos, a chave de casa e a mochila, o que inicialmente me causa algumas dificuldades para abrir a porta, mas por sorte o cabeçudo do meu irmão abre a porta para mim.
– ah é você_ a expressão dele muda de curiosa para entediada assim que me vê.
– estava esperando alguém?_ entro e empurro a porta com o pé. Caminho em direção a mesa e pouso os livros sob ela.
– não, mas se eu soubesse que era você, teria trancado a porta ao invés de abri-la_ se joga no sofá e pega no controle remoto da TV_ saí da frente_ manda enquanto a TV estava ligando.
Ignoro seu comando e cruzo os braços_ só eu chego aqui nessas horas, pensou que a Xiluva estivesse comigo?_ arqueio a sobrancelha acusatória.
O garoto me olha com desdém_ óbvio que não, por quê eu me importaria com sua amiga?_ revira os olhos.
– pelo mesmo motivo que aceitou dar carona pra ela até a casa do Daniel_ dou as costas para ele e sigo na direção do meu quarto.
– ela contou isso para você?
Sem me virar em sua direção ou sequer parar de andar eu respondo_ óbvio, ela é minha melhor amiga.
Não escuto o que ele diz em resposta, nem sequer tenho certeza que ele tenha respondido e no fundo também não me interesso, estava muito cansada e por isso decidi ir tomar um banho, comer e descansar, a noite seria longa e eu precisava me preparar para tal.
•••
Um peso enorme recai sobre mim e tento me livrar dele, mas é impossível_ hdsdyjjuybk_ a pessoa sobre mim fala e mesmo sem entender do que se tratava abano a cabeça concordando e solto um uhum para ela, na esperança de obter paz.
Pobre e inocente eu, óbvio que não obtive paz, pelo contrário, fui chacoalhada e tive que abrir os olhos para ver Xiluva me olhar com reprovação. Estico a mão e pego meus óculos de vista o colocando de seguida ao passo que me sento na cama.
– você me prometeu que iria comigo para a festa e está dormindo_ ela fala me olhando com reprovação no olhar.
Eu podia argumentar mas ainda estava meio desorientada por conta do sono e sem moral alguma por isso me foquei em olhar para as horas e talvez me arrumar para essa bendita festa, mas novamente fui muito inocente e Lu (Xiluva) me expulsou em direção ao banheiro antes mesmo que eu pudesse ver as horas. Tomei um banho e coloquei qualquer coisa que achei no meu guarda-roupa.
– não, nem pensar_ ela reclama assim que me vê.
– qual o m*l?_ cruzo os braços confusa.
– essa camisa não combina nada com essa calça_ aponta para a blusa e depois a calça_ tenta colocar aquela sua blusa branca ombro a ombro_ fala me analisando como se pertencesse a algum esquadrão da moda ou algo do tipo.
– ok_ dou meia volta e vou atrás da blusa que ela falava, a colocando de seguida_ melhor assim?_ paro na frente dela que assente várias vezes.
– está perfeita, agora vamos_ ela se levanta da minha cama e sai pela porta em direção a sei lá onde.
Vou atrás dela e a encontro do lado de fora com meu irmão já entrando no carro e foi só eu entrar que ele já deu start e saiu.
– cabeçudo_ chamo a atenção do meu irmão que responde com um básico "huhum", me dando a deixa para continuar_ você vai sair com seus amigos?
– não_ responde focado na trajetória.
– vai dar uma festa?
– não.
– vai..._ eu ia perguntar mais coisas mas ele me interrompe.
– eu só vou deixar vocês e volto para casa, porquê tanta pergunta?
– você só aceita ser o motorista quando quer que eu desocupe a casa_ dou de ombros.
– eu estou levando vocês para uma festa, tenho que me certificar de que chegam lá em segurança e voltam em segurança, não posso permitir que levem um carro, bebam e façam algum acidente_ explica.
– nós não faríamos isso, mas obrigada pela preocupação_ Lu responde enquanto digitava algo em seu telemóvel.
– já agora, não se esqueçam de não aceitar bebidas de estranhos, não confiem em estranhos e verifiquem bem tudo o que forem a consumir, sem contar que..._ ele ia começar mais um dos seus incansáveis sermões que eu já conhecia de cor e salteado, por isso o interrompo.
– já sabemos, qualquer coisa ligar pra você, ficar sempre com o celular e não nos separarmos_ acrescento.
– e se sentirmos que algo está errado, não devemos exitar de ligar para si_ Lu conclui_ nós vamos ficar bem Marquinhos, não precisa se preocupar_ o tranquiliza.
– assim eu espero mesmo_ declara não muito convencido.
Quando ele estaciona na frente da casa de Daniel dá mais um breve sermão sobre responsabilidade (como se fosse o melhor exemplo disso) e se vai, nós nos dirigimos até a casa e entramos lado a lado no meio daquela imensidão de jovens suados, alguns bêbados e sobretudo música alta. Até chegar ao bar improvisado do outro lado da sala tivemos que parar milhares de vezes porque eu estava com a "miss conhece todo mundo" e ela ia sendo cumprimentada de dois em dois segundos, ao finalmente chegar ao nosso objetivo peguei duas latinhas de cerveja e dei uma para ela, me sentando em uma cadeira que tinha ali perto.
– o que as pessoas fazem nas festas?_ pergunto olhando com tédio para algumas pessoas.
– elas socializam Rashy, conversam com outras pessoas e dançam, elas se divertem_ fala óbvia_ vem, vamos socializar_ me puxa e mesmo sem nenhum entusiasmo me deixo levar por ela até o outro lado da sala onde um grupo estava sentado nos sofás_ oi gente_ ela cumprimenta todos e eles a cumprimentam em resposta.
Xiluva apresentou todos nós e se iniciou um papo aleatório sobre filmes que até eu me senti a vontade para comentar e rir sobre o mesmo, a música não incomodava em nada e muito menos as outras pessoas, era um ambiente tranquilo e bem legal.
•••
Um tempo depois Lu foi levada por uma das outras amigas dela e saiu, eu continuei conversando com os presentes mas principalmente com uma garota chamada Melissa que fazia curso de informática, ela e eu tínhamos muito em comum e ela era legal.
– quer ir pegar uma bebida?_ Mel propôs ao notar que minha latinha já havia acabado.
– claro, vamos lá_ aceito e nos levantamos seguindo até o bar improvisado do outro lado da sala.
Eu passo pelo balcão para pegar a garrafa de gin que era o que Melissa tomava enquanto ela pegava limão para cortar, depois de pegar a garrafa peguei mais duas latinhas de cerveja porque sabia que Lu ia querer e então coloquei tudo no balcão, quando o vi entrar pela porta principal.
Lá estava ele, Alexander Henryk, o maior e único problema amoroso que já tive, o círculo vicioso mais perigoso e ainda assim o melhor de todos. Estava tão lindo, tão perfeito, o tempo o estava fazendo bem e isso de longe era notável, ele entrou com alguns amigos e uma garota agarrada ao seu braço, se isso doeu? Claro que doeu mas não deveria não é? Eu não deveria sentir nada por ele certo? É o que todo mundo diz.
– o que foi?_ Mel pergunta quando repentinamente me escondo atrás do balcão após Alex olhar em nossa direção.
– tem alguém que não pode me ver_ falo ainda abaixada.
– se é o cara de camisola vermelha eu acho que ele já te viu porque ele está vindo aqui_ ela fala me deixando mais apavorada ainda.
– não, não, não_ pego meu celular e disco o número de Lu que atende rapidamente_ s.o.s, bar improvisado agora_ sussurro para o celular.
– estou chegando_ ela fala e desligo a chamada orando para que ela chegasse logo.