Capítulo VI - Jack

1246 Words
A última coisa que imaginei quando levantei da cama essa manhã, era que aquela beleza de mulher entraria na minha oficina hoje, pior ainda que eu iria estar em um hospital, esperando com ela a consulta com a ginecologista. Mas ali estava eu, sentado na sala de espera gelada, com aquele cheiro horroroso de hospital que me dava calafrios. Sempre odiei hospitais, mas não ia deixá-la ir sozinha em uma consulta tão importante. Julia com certeza não sabia o que a amiga tinha ido fazer sozinha, do contrário teria mandado Levi se f***r e faltado ao trabalho. A atendente foi gentil, mas isso não era novidade em Santa Maria. Aparentemente a ginecologista estava com horário vago hoje e ela conseguiu encaixá-la, era bom que eu estivesse aqui, do contrário Alicia estaria fazendo sua primeira consulta sozinha. Após alguns minutos de espera finalmente nos levaram para a sala, ela conversou com a doutora, falou tudo sobre como descobriu a gestação, respondeu a uma série de perguntas, algumas um tanto intimas, mas não se ela se incomodou comigo ali não demonstrou. — Ok, já que estamos aqui, vamos fazer um ultrassom pra ver como está esse bebê sim? — Agora? — Sim, agora mesmo! — a médica apontou para a porta ao lado. — Pode colocar o avental que está ali enquanto eu preparo tudo aqui. Eu observei tudo calado, nunca tinha visto um ultrassom ser feito e minha curiosidade gritou mais alto. — Pode se deitar aqui. — ouvi a voz da ginecologista que chamou minha atenção de volta a Alicia, que saia do banheiro, vestindo um avental azul, aberto na frente. Me adiantei e a ajudei a subir na maca, assim que se deitou a doutora abriu o avental sem cerimonia. Ok, ela podia estar nua ali na minha frente, mas não era o momento para pensar no quanto eu queria ver seu corpinho sem nada, o momento aqui era muito sagrado para enfiar meus pensamentos pervertidos no meio, por isso fiz cara de paisagem e encarei a tela do outro lado. — Ok, pronta pra ver esse bebê? — a doutora passou o gel na barriga dela, que ainda não dava nenhum sinal de gravidez. — Ok, o que temos aqui. — murmurou quando começou a passar o scanner na barriga dela. — Humm, isso é interessante. — O que? O que você viu? Tem alguma coisa errada? — Alicia questionou com pressa. — Não, nada de errado, pelo que posso ver aqui temos uma gravidez saudável, aparentemente três semanas como você disse... — Então o que foi que viu? — foi minha vez de questionar, minha ansiedade estava a mil. Ao invés de responder a doutora apertou um botão e o som de batimentos invadiu a sala, o coração batia acelerado ecoando, foi algo que eu não esperava ouvir, muito menos pensei que pudesse mexer tanto comigo. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu senti a mão delicada contra a minha, não sei ao certo quem procurou quem, mas nossas mãos se apertaram quando o barulho se tornava uma música, duvidava que algum dia eu não fosse me sentir assim quando ouvisse aquele barulhinho. Encarei o rosto de Alicia, que já se debulhava em lágrimas, a trilha molhando suas bochechas e a ponta do nariz vermelho. Deus como ela era linda! — O que eu quis dizer com interessante é que não temos apenas um bebê aqui. — a voz da doutora me tirou do meu transe, me fazendo olhá-la. — Parabéns mamãe e papai, vocês vão ter gêmeos! Eu sorri largo, não me importava se ela tinha me chamado de papai, eu estava feliz por Alicia, ela estava esperando um bebê e ganhou em dobro. Dei um beijo estalado em sua testa, mas ela ainda parecia em choque. — Dois? Gêmeos? Não pode ser! Tem certeza disso? — Claro querida! — ela puxou a tela mais para perto de nós. — Aqui está um e o outro. — apontou um por um. Eu estava encarando, tentando entender qualquer coisa que estivesse ali, mas sem sucesso, para mim era um monte de borrão. Mas ainda estava feliz imaginando os dois pequenos, ou pequenas, com a cara da mãe, aqueles lindos olhos, o nariz fino, o rosto com algumas sardas. — Ok, acho que ela precisa de um tempo pra digerir tudo isso, não é? — falei, tinha ficado calado esse tempo todo, mas estava na hora de falar por ela, já que parecia ter perdido a fala. — Foi um dia cheio, pra mamãe aqui. — Você está certo, pode se trocar e vou montar uma receita, coisas padrão para uma mulher grávida tomar. E novamente, não tem nada que se preocupar, sua gravidez está indo perfeitamente bem. Ela agradeceu e a ajudei a descer novamente, depois de tudo pronto e ela já vestida com suas roupas, pegamos a receita e saímos. Fizemos todo o caminho de volta calados, não ouvi ela nem sequer se mexer atrás de mim. A levei direto para casa e assim que desceu eu vi a preocupação em seus olhos. Eu entendia sua preocupação, eram dois bebês, duas vidas que agora estavam sobre sua responsabilidade. Era um grande trabalho que ela teria pela frente. — Muito obrigada por isso... por tudo. — ela murmurou com a voz bem diferente do que eu estava acostumado, parecia realmente triste, mas eu torcia para que não fosse isso. — Não sei como te agradecer de verdade então... porque não fica com isso. — ela estendeu a foto impressa que a médica tinha lhe entregado. — Eu não... — Sim, você vai ficar com essa. — sorriu tentando aliviar o clima e eu lancei um sorriso sacana, que ela conhecia bem, querendo realmente tirar toda a preocupação de seu olhar. — Alicia, eu sei que não te conheço nem nada, mas... se quiser conversar, sobre os bebês, sobre hoje ou qualquer outra coisa... por favor não hesite em me procurar. — encarei sua barriga de forma incerta e seu rosto parecia ter perdido qualquer suavidade, alegria ou brilho, estava séria e obscura. — Obrigada, mas estou bem. — Ok, cuida desses bebezões ai. — falei e me afastei rápido de mais, minha vontade era de abraça-la e dizer que tudo iria ficar bem, mas corri de lá indo para meu quintal — Eu estou aqui do lado se mudar de ideia! Ela acenou para mim e eu assisti ela entrar em casa. Seu semblante não tinha mudado e isso me preocupava, não queria vê-la nessa situação. Mas se Alicia não se abriria comigo, eu só conhecia uma pessoa que a faria falar. — Julia? Sua amiga precisa de você em casa. — tagarelei assim que ela atendeu o telefone. — Não me interessa as frescuras de Levi hoje, Alicia está realmente precisando de uma amiga. Desliguei sabendo que ela não esperaria mais nada e viria direto para casa. Depois dessa manhã maluca eu tinha perdido a cabeça, ficar no hospital, ouvir o coração dos bebês. Tudo isso mexeu muito com minha cabeça, me levando a um passado que eu não queria lembrar, me arrastando para lembranças doloridas de mais. Eu precisava distrair minha cabeça, mas nem o trabalho me parecia algo bom nesse momento, por isso me tranquei em casa, esperando Julia chegar e me avisar que tudo tinha sido resolvido. Ao menos pensar nos problemas de Alicia me distrairiam dos meus, ao menos foi o que eu disse a mim mesmo.
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