(Esther)
-Como descobriu que eu estava trabalhando na clínica?
Foi a primeira pergunta que eu fiz depois de entrarmos no carro.
- Eu liguei na sua casa, e a empregada me falou! Ele disse sorrindo.
Naná eu imaginei que seria.
Liam escolheu um lugar pertinho do consultório. Ele puxou a cadeira para mim sentar e eu fiquei admirando uma linda cascata artificial que ali estava.
- Eu imaginei que você ia gostar desse lugar! Disse-se sentando. - Tem muito verde! E apesar de ser um lugarzinho simples, aqui fazem uma comida deliciosa!
- Obrigada por me trazer aqui Liam, eu adorei! Sorri admirando o lugar.
- Esther! Ele disse se hesitando um pouco. - É impressão minha ou o Pither se incomodou um pouco com a minha presença na clínica?
Eu não gosto de mentiras, mas eu não ia dizer para o Liam que o Pither o achava um babaca e o insultava diariamente.
- Pither é cauteloso e se preocupa com meu bem estar! Falei dando um sorriso mais convencional possível.
- Cauteloso? Ele disse intrigado. - Ele tá mais para carcereiro! Você vive na casa do cara! Alem de trabalhar pra ele, e ainda tem que pedir pra sair comigo?
Engoli em seco, não esperando a reação inesperada do Liam.
- Você devia se sentir independente! Pither te prende, além de fazer você girar em volta dele! Ele te sufoca com aquele olhar tenebroso de "Vilão de novela das nove!"
Eu nunca me senti tão m*l na minha vida! Eu não tinha muita experiência de vida e muito menos pessoas a quem eu pudesse me espelhar! Porém eu nunca me senti sufocada e nem presa a Pither! Pelo contrário desde o início fui eu que sempre insisti para que ele ficasse comigo!
- Desculpe Liam, mas eu não concordo com o seu ponto de vista! Pither é muito imparcial! Sempre me deu liberdade de escolhas! E apesar de as vezes nossas opiniões serem diferentes , ele sempre a respeitou!
- Desculpa Esther se eu fiz você se sentir m*l! Só não entendo porque você vive presa a esse cara?!
- Eu volto a descordar, Pither e eu somos amigos! E não me sinto presa e muito menos dependente dele! Pelo contrário através dos seus conselhos e generosidade comigo, eu pude ser uma pessoa diferente! Hoje não sou mais aquela garotinha boba que ele me encontrou! Ele tem me ajudado a superar meus traumas! Sou eternamente grata por todo o esforço, e paciência que ele tem tido comigo.
- Você tem tanta admiração por ele, que parece estar apaixonada! Liam sorriu e eu fiquei totalmente sem graça.
- Você está confundindo com a minha gratidão infinita em relação as suas ações! Dei a resposta mais sensata possível.
- É... Não acredito que você seria tão ingênua de se apaixonar por um cara que está noivo de outra mulher! Claro que não! Você é mais esperta do que isso!
Respirei fundo eu estava acabada por dentro! E pior que Liam tinha mexido onde mais doía em mim.
- Mais vamos mudar de assunto! Ele disse chamando o garçom. - Não viemos aqui falar de Pither! Lamento se te fiz você se sentir mal...
"É claro que ele me chamou pra isso! Ele queria fazer eu me sentir m*l, falou tudo isso intencionalmente para ter a única finalidade, de me chatear!"
(Pither)
Eu liguei duas vezes no celular de Esther mais ela não atendeu, bati ele nas mãos tentando imaginar onde ela estaria com aquele traiçoeiro. Déborah e eu fomos na sua primeira consulta, e ela parecia bastante animada.
O ginecologista fez vários exames nela, acompanhei tudo de perto. E tivemos a bela notícia que ela estava de cinco semanas. Apesar do meu filho ser somente um saco gestacional, ele nos deixou ouvir os batimentos cardíacos pelo ultrassom. O médico nos disse que ele era somente um embrião de 5 mm, mais o coraçãozinho dele batia tão forte que mexeu comigo internamente. Lágrimas escorreram pelos meus olhos quando eu vi que uma vida se crescia dentro dela, um ser tão pequeninho e totalmente indefeso fazia parte de mim.
Déborah também se emocionou, ela estava ansiosa para saber quando podíamos saber o sexo do bebê?! E ele nos prometeu que a partir da décima terceira semana, supostamente conseguiríamos vê-lo pelo ultrassom.
Enquanto Déborah conversava com uma enfermeira o doutor me chamou para conversamos em particular.
- O senhor me disse que é o pai do bebê?! Ele confirmou o que eu tinha falado no início da consulta, balancei minha cabeça e ele continuou. - Eu percebi que a paciente estava um pouco nervosa e disse a enfermeira que teve alguns sangramentos hoje! Isso pode estar acontecendo devido ao descolamento do saco gestacional, por isso sugiro que a paciente tenha um total repouso evitando um possível aborto.
- Doutor seja honesto comigo?! O meu filho corre algum risco nesse exato momento? Perguntei preocupado.
- Eu não vou negar que nos primeiros meses o caso de abortos sejam mais frequentes... A paciente precisa descansar! Evitar emoções fortes ou qualquer tipo de esforço físico. Caso contrário a paciente corre um grande risco de perder-lo.
Engoli uma saliva que nem existia e senti meu coração afundar se no peito.
(Esther)
Enfim o mês de Agosto chegou! Eu estou aqui sentada na minha sacada desenhando enquanto o ar gelado bate no meu rosto, levantando meus cabelos pra cima.
As coisas aqui mudaram muito! A Déborah quase não saí do quarto. Ela nunca mais sentou-se na mesa com a gente para comer! Pither está mais prestativo em relação a ela. Alimentando ainda mais minhas inseguranças!
Eu continuo trabalhando na clínica, conversamos sobre Déborah várias vezes e ele sempre se mostra centrado na nossa fuga. Mas eu tenho várias dúvidas! Sei que Pither me ama, mas o bebê mexe muito com ele.
Depois daquele dia nunca mais fizemos amor! A gente se pega no consultório as escondidas! Mas eu sinto Pither dividido, preocupado... Déborah sabe como manipular ele! E essa gravidez de risco lhe caiu como uma luva.
Liam e eu nunca mais saímos juntos. Eu saí do nosso último almoço muito chateada aquele dia. E ignorei todas as suas ligações.
Ouvi alguém bater na porta de leve.
- Entra! Gritei da sacada.
Valdete entrou sorrindo com seu esfregão e produtos de limpeza.
- Patroinha, eu posso dá uma limpada no seu quartinho?
- Claro Val! Fica a vontade, eu prometo que não vou atrapalhar!
Ela se aproximou de mim com seu jeito extravagante, Valdete usava roupas coloridas e turbantes sobre o cabelo.
- A Menina Esther viu o baita vaso de flores que chegou lá na sala para a senhorita? Me virei para olha-la de frente surpresa com sua pergunta.
- Flores? Perguntei me certificando de que foi isso que eu ouvi. - Pra mim?
- Sim Patroinha, são pra você ! Ela disse toda animada. - Eu vi quando o rapaz trouxe e Diana as recebeu! As flores são Paidégua!
Pulei da sacada e fui em direção a porta do quarto feito um foguete. Eu nunca tinha recebido flores na minha vida e precisava saber de quem era esse mimo.
Desci as escadas quase pulando e me deparei com o vaso sobre a mesa lateral da sala. Minha boca se abriu em admiração, quando vi rosas vermelhas que davam vidas ao ambiente.
Valdete desceu atrás de mim com seu imenso sorrindo.
- Quem será que mandou pra você, galega?
Sorri torcendo para que fosse Pither. Quando percebi que alguém descia as escadas com suavidade, só podia ser uma mulher. E essa era Déborah com sua incoveniente presença.
Valdete e eu nos olhamos desanimadas, e ela se aproximou de nós com sua hipocrisia nítida.
- Essas flores são pra você? Perguntou com o maior sinísmo possível. - Devem ter vindo de alguém que possui muito bom gosto!
Eu tinha de dez a quinze respostas para jogar na cara daquela falsa, mas somente revirei os olhos. Ela só estava querendo me provocar, queria começar uma briga onde se fizesse de vítima. E Pither não me perdoaria se algo acontecesse com o seu filho.
Ela se sentou no sofá cruzando as pernas, seus olhos castanhos me cercavam a todo instante. Pela minha infelicidade Pither voltava da cozinha com uma xícara nas mãos. Seus olhos apaixonados me alcançaram e ele sorriu discretamente.
- Bom dia Pither! Déborah chamou sua atenção para ela.
- Bom dia Déborah! E bom dia meninas! Ele disse se voltando para Valdete e eu. - Está se sentindo melhor? Ele perguntou a deixando cheia de vida.
- Sim querido! Hoje vou na agência, eles exigem uma resposta do meu sumiço repentino!
- Déborah você ouviu o médico.... Pither começou a falar mas parou quando sua atenção se voltou para o vaso de flores em cima da mesinha. - Você recebeu flores?
- Eu? Ela pergunta indignada. - Não claro que não! Essas são para Esther!
Os olhos de Pither voltaram-se das flores para mim em segundos, e senti o verde de seus olhos criarem um brilho diferente.
- Eu não sabia que você recebia flores? Ele falou de uma forma tão triste que foi o meu coração que ficou despedaçado.
- Aaaih Pither que ingenuidade a sua! Esther com certeza tem vários admiradores! Déborah me provocou.
Esse foi o golpe certeiro para terminar de nos arrebentar.
- Eu não sei quem me mandou isso!! Falei sem sorrir. Eu tinha plena convicção que fosse ele.
- Aaah mais pra que esse suspense? Olhe o cartão Esther! Estamos todos curiosos para saber! Déborah destilava um pouco mais de seu veneno.
Até Valdete com toda a sua simplicidade notou a jogada de Deborah em me deixar m*l diante de Pither.
- Com licença, eu tenho muita coisa pra fazer! Ela disse se retirando.
Assenti, e Pither ainda me olhava como se esperasse uma resposta. Me aproximei do vaso e peguei o cartão, o remetente era o LIAM', eu não li somente falei em alto e bom som para que eles ouvissem de uma vez.
- Foi o Liam que mandou as flores! Pither já sabia somente precisava ter certeza. Déborah se levantou do sofá pegando sua bolsa.
- Liam? O irmão mais novo da Luísa? Eu não sabia que você saía com ele! Respirei fundo com as intrigas daquela mulher. - Eu vou para a agência, depois a gente conversa querido! Déborah ficou de frente a Pither, e beijou seu rosto deixando uma marca de batom para que eu visse, e depois saiu .
Déborah fechou a porta atrás de mim sorrindo, enfim seu plano estava começando a funcionar.
-Pither eu achei que fosse você o autor das flores! Ele balançou a cabeça se virando de costas, limpando o rosto.
- Esther está bem claro que esse cara está afim de você! Ele disse como se esse assunto o sufocasse.
- Talvez esteja... Falei dando de ombros.
- E por que você não corta essa situação?
- E o que você quer que eu faça? Eu não posso dizer para as pessoas que estamos juntos! Tento responder o mínimo de perguntas possíveis com medo de te prejudicar! E você tem uma mulher dentro da sua casa esperando um filho seu! E um maldito vaso de flores te deixa assim?
- Não é a mesma coisa! Ele disse se virando pra mim.
- Claro que é Neto! Gritei. - Há dias eu vejo toda a atenção que você dá a ela! Você acha que eu não percebo?
- Esther eu não amo a Deborah, você sabe muito bem disso! Ele disse com suas mãos sobre o rosto como prece.
- E nem eu amo o Liam! Falei alterada. -Você é egoísta sabia? Falei balançando a minha cabeça indignada.
- Eu sou egoísta? Ele perguntou desacreditado. - Você que é uma m*l agradecida!
- Eu não sou uma m*l agradecida! Falei enfurecida o encarando cada vez mais perto. - Você só está olhando pro seu lado!
- Esther você está se ouvindo? Ele disse a centímetros do meu rosto. -Desde a sua fuga daquele orfanato eu só venho pensando em você! Bati de frente com o meu pai! Vendi o meu carro, terminei meu noivado, e agora estou deixando tudo incluindo o meu filho para ir embora com você...
Nesse momento eu tive vontade de nunca ter existido, senti um nó afundar a garganta e um aperto corroer o meu peito. Meus olhos arderam e marejaram instantaneamente.
- Pode ficar tranquilo... Você não precisa sacrificar mais nada por mim! Engoli o choro, e me virei saindo da visão de Pither, subindo as escadas.
- Pra onde você pensa que vai? Ele perguntou indo atrás de mim.
Eu corri subindo as escadas o mais rápido possível, e me enfiei dentro do quarto sem nem olhar para atrás.
Tranquei a porta e me joguei em cima da cama transtornada. Pither bateu várias vezes mas eu não abri.
- Esther abre a gente precisa conversar!
- Vai embora! Gritei.
Abracei o meu ursinho que afetuosamente coloquei o nome de Netinho, e chorei amargamente. Eu não sabia que Valdete estava no banheiro até ela sair e ficar me olhando de longe.
- Você está aí?! Falei limpando as lágrimas.
- Desculpa Patroinha! Eu não queria atrapalhar... Ela se aproximou de mim e me disse carinhosamente. - A Menina Esther sabe que todo esse sofrimento é obra daquela cumprida?!
Olhei pra ela fungando pelo nariz.
- Não tem jeito Val, aquela mulher venceu!
- Égua!! Não chore Patroinha! Mais cedo ou mais tarde todo o m*l será descoberto.