Um ano atrás...

1482 Words
Sei que concordei com tudo isso, já faz um ano e meio que levo essa vida. Murat já se acostumou com minha disponibilidade para ele, mas ele está cada vez mais ausente e eu o amo, isso tem acabado comigo. Preciso começar a pensar no meu futuro. Não sei se conseguirei continuar como sua amante. —Murat, eu quero fazer esse teste. Ele se aproxima e segura o meu rosto. —Eu te dou tudo que uma mulher possa desejar. Você não precisa disso. Não precisa trabalhar. Você é minha Ester e precisa de mim mais do que quer admitir. —Ele então me olha calado por um tempo. —Eu preciso de você. E muito! Você não tem ideia o quanto. Eu estremeço de prazer com a confissão dele. Mas isso é quebrado quando o vejo passar o lenço em seus lábios retirando meu batom que manchou sua boca, me lembrando que ninguém sabe de nós. Então, ele se vira e pega sua pasta no sofá. Deixa o apartamento. Solto o ar e trêmula caminho até o sofá. Praticamente desabo nele. Ele está certo quando disse que eu preciso dele. Ele é uma d***a e eu sou a drogada. Mas ele? Que sentimento ele realmente nutre por mim? Apenas o velho e bom s**o! Não se iluda! Foi exatamente isso que ele se referiu, ele precisa de você na sua cama. Suspiro. Quando ele fala que me estendeu a mão em um momento difícil é verdade, mas não por bondade, longe disso. Murat sempre demonstrou ser um homem frio, levado pela razão e que sabe exatamente o que quer e faz tudo para obter... Passei os olhos por cada centímetro do meu apartamento que "dividimos" quando ele tem tempo para mim. Murat no início foi um balsamo, eu tinha acabado de perder meu irmão para as drogas e estava em Londres há pouco tempo, saí às pressas da minha cidade em York quando fui ameaçada por traficantes para pagar o que Arthur devia. O valor era muito alto, mesmo com meu emprego de recepcionista em um hotel de luxo na minha cidade, eu não conseguiria pagar nem metade do que ele devia aos traficantes. Tive que deixar toda a minha vida para trás. Amigos, emprego. Sei que foi uma decisão sensata. Com certeza, se eu continuasse lá, eu acabaria como ele, pagando a dívida com a minha vida, ou acabando sendo estuprada por algum deles. Quando vim para cá tinha poucas economias e por isso tive que morar num albergue feminino cheio de pulgas e percevejo. Durante o dia eu procurava emprego e ficava na rua, só voltava a noitinha para dormir. Acordava sempre com coceira, o corpo cheio de picadas dos insetos. Fiquei nessa vida dura uma semana até que finalmente uma oportunidade de trabalho surgiu e eu fui trabalhar na mansão dos Alakurt Kemal Çelik.... Foi um acaso ter ido trabalhar na casa dos pais de Murat, mas foi escolha minha aceitar tudo que ele me ofereceu depois... pensei que ele acabaria se apaixonando por mim...eu nunca imaginei que as coisas chegariam ao ponto que chegaram hoje. Não entendo os sentimentos de Murat. Ele não me passa confiança. Às vezes vejo nele um homem apaixonado, outras vezes acho que estou sendo usada e quando ele se cansar de mim vai me cuspir fora como um bagaço de laranja depois de tirar o meu melhor, minha juventude. E quando eu ficar velha? Murat ainda vai me querer? Talvez ele esteja me enrolando e nunca enfrente o pai dele. Solto um suspiro pensando quem é Murat Alakurt Kemal Çelik: Um homem dotado de uma inteligência formidável para os negócios. Usando seu brilhantismo, ele está sempre um passo à frente de seus adversários. Tendo seu pai como mentor, Murat tem crescido os negócios da família. Solteirão convicto, é considerado pelas revistas da alta sociedade como um bom partido. Cobiçado pelas mulheres que querem acabar com esse título de solteiro que ele carrega e fazem de tudo para obter sua atenção elevando ainda mais seu ego, já tão elevado. Murat juntamente com seu pai sempre ajudou com seus donativos e causas humanitárias. Não sei até que ponto ele tem essa preocupação com seu semelhante. Se ele realmente tem um coração de carne ou se é apenas uma fachada para melhorar sua imagem de homem duro nos negócios, cuja ambição é sem limites. Fecho os olhos e aperto bem as pálpebras quando me lembro dos dias que trabalhei na mansão dos Alakurt Kemal Çelik.... e como tudo evoluiu. Como a determinação de Murat que me envolveu com amarras invisíveis da paixão, eu aceitei sua proposta nada conservadora... Um ano atrás... Mansão dos Çeliks Chego à mansão por volta das 07h00min, me apresento aos seguranças que me deixam entrar, a governanta que me espera, deu a permissão. Caminho puxando minha mala de rodinhas reparando na beleza arquitetônica da casa, o jardim maravilhoso com uma cascata bem no centro. Um grande bolsão formado por paralelepípedos rodeia esse jardim. A casa é forrada de pedras brancas. Jardineiras com flores vermelhas enfeitam as janelas. Do seu lado direito, as portas balcões imensas dão acesso à uma varanda lateral ornamentada com lindos vasos. A governanta está na porta da entrada me esperando. Ela tem uns cinquenta e cinco anos. —Bom dia Ester, eu sou a Rose. —Prazer em conhecê-la. Ela me avalia, passando os olhos pela minha figura magra. —Trabalho com os Çelik há mais de vinte anos e confesso que é a primeira vez que me recebo uma garota tão bonita e tão magrinha como empregada. Você dará conta do recado? Meu coração se enche como medo de ela me rejeitar: —Sou magra, mas muito forte, não veja minha aparência como empecilho, vou trabalhar direitinho. Eu preciso muito desse emprego. Ela torce os lábios: —Você não é uma dessas garotas iludidas que vem atrás do seu ídolo? Não está aqui para conquistar Murat, está? Meu coração se agita, aquele homem tinha esse nome. Qual é a probabilidade de ser a mesma pessoa? Deus! Esse nome não é comum. —Murat? —Questiono sem entender o que ela quis dizer e ao mesmo tempo que estremeço me lembrando novamente daquele homem que conheci no hotel. —Desculpe-me senhora minha ignorância, mas quem é esse homem? Ela ainda me olha desconfiada. —Bem, entre, vamos até a cozinha, enquanto você toma café, conversamos. Quero ouvir toda a sua história, o que te levou a essa vaga como empregada. Ah isso eu faço bem! Falar de mim. Foi isso que fiz na agência para a mulher que desconfiou também da minha capacidade de ser uma boa empregada. Eu abri o meu coração para ela e minha história a conquistou. Farei o mesmo com Rose, acredito que ela também entenderá a minha necessidade de ter esse emprego. Ela irá reconhecer minha força de vontade mesmo ante a minha luta. A cozinha é lindíssima, toda em aço inox, enorme. Uma linda bancada em mármore dividindo o ambiente da copa onde fica uma mesa enorme retangular. As janelas de vidro a cerca, revestidas com cortinas brancas com vista para os fundos da casa onde há um lindo jardim. E foi isso que aconteceu, enquanto eu tomava o maravilhoso café da manhã na cozinha, Rose ouviu o que eu tinha a dizer. Ela viu tanta veracidade nos meus olhos conforme eu relatei a minha vida que comovida, ela resolveu me dar a chance de trabalhar para os Çelik. Ah Conheci Norma também, a cozinheira. Ela é bem simpática e afetuosa do tipo mãezona. Hum, já vi que vou amar esse emprego. Ao menos o ambiente parece ser bom, diferente daquelas lambisgoias que trabalhavam comigo na recepção do hotel. Agora estou aqui no quarto que será meu, que fica na ala dos empregados, vestida com um uniforme azul-marinho fechado e com mangas curtas, sobre ele um avental branco com bordados nas pontas. Prendi meu cabelo no alto da cabeça para facilitar o trabalho. Pouco tempo depois Rose surge no quarto: —Serviu o uniforme? —Ficou um pouco folgado, mas eu prefiro assim. Acho que para me movimentar é melhor. Ela coça a cabeça. —Não sei se o senhor Çelik aprovará. Ele gosta dos empregados bem asseados. —Quantas pessoas moram nessa casa? —Seus pais que estão viajando e Murat. Assinto para ela e pergunto: —Qual será minha função. —Então…—Ela coça a cabeça. —Você é tão magrinha para o serviço pesado que estou pensando em colocar você como auxiliar de cozinha. —Eu adoro cozinhar. —Digo com um sorriso. Ela ri. —Verdade? Que bom! Então combinado, você ajudará Norma com as refeições e será responsável por colocar a mesa de jantar. Eu me sinto feliz. É mais a minha praia do que limpar e arrumar a casa. —Ótimo. E obrigado Rose.
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