Capítulo Um

2166 Words
« O que é a morte » Morte: Parece só uma palavra simples de duas sílabas e cinco letras, mas o que é a morte? Será que a morte é o fechar os olhos definitivo? O último fôlego que saí de nós? O abandono da alma ao corpo? O último bater do coração? Bom, ela é tudo isso. Mas essa história não é sobre a morte, apesar de a morte ter um significado mais complexo na minha vida. Eu vou te contar o porquê de essa história não ser sobre a morte, mesmo que a palavra morte surja mais do que a palavra água. Faz dois anos que a morte bateu a minha porta, de início, ela pareceu-me uma visita indesejada, mas que logo vai embora, mas ela não foi. Ela ficou por um ano inteiro sem causar nenhum problema para nós, só estava ali, quieta no seu canto, nos observando procurando por uma saída para ela. No segundo ano, ela não parecia só uma visita indesejada, ela já estava se tornando o proprietário da casa, até se tornar o dono legítimo dela e registrar a casa com o seu nome completo “cancro de mama”, esse foi o nome da morte na minha família, ela chegou de forma sorrateira e tomou a minha mãe de mim. Não só a minha mãe. O Cancro de mama, é responsável por causar mais de três mil mortes por ano em Moçambique e já causou mais de seiscentas e vinte e sete mil mortes, então! Eu não sou a única que perdeu uma guerra contra a desgraçada da (CANDAM), foi o nome que dei. Faz dois anos que a minha mãe foi levada por ela, a morte. As pessoas sempre falam que perder alguém é o mais doloroso, mas ninguém nunca fala do pós morte da pessoa amada, “o luto” ou como prefiro chamar, “os lutos”, o doloroso da morte, não é enterrar o corpo do ente querido, ou ficar sabendo que a pessoa partiu, o doloroso da morte, é aceitar que a pessoa morreu, é aceitar que aquele espaço vazio na mesa nunca será ocupado, é aceitar que aquele abraço aconchegante da manhã, não passará só de boas lembranças. O doloroso da morte, é passar pelos cinco estágios do luto e continuar em sã consciência. Os cinco estágios do luto, o que são? Na minha vida, os cinco estágios da morte, foram uma verdadeira prova de sanidade mental, porque para além de lidar com a morte da minha mãe, eu tive que lidar com a morte do meu pai também, parece uma história trágica né? Calma, ele não está morto, ele está vivo. Vamos aos estágios do luto.. Negação: O primeiro estágio do luto, nesse estágio, você se recusa a aceitar que a pessoa morreu. No meu caso, eu me recusava a aceitar que, a minha mãe morreu. Neste estágios, eu costumava a arrumar a mesa para ela, costumava esperar que ela invadisse o meu quarto para me dar um beijo de madrugada, costumava deixar o meu quarto sujo para que ela me mandasse organizar ele. Esta fase basicamente é, o choro sem lugar nem hora, qualquer momento é bom para o choro. As pessoas geralmente pensam que ela é a fase mais dolorosa, porque você sempre está chorando, idiotas, eles não sabem de nada, essa é só a ponta do iceberg. Raiva: Este é o segundo estágio do luto, neste estágio, é basicamente o que o nome diz, você sente raiva, mas do que você sente raiva? No meu caso, eu sentia raiva de mim mesma, eu sentia raiva da própria morte, eu sentia raiva do mundo, eu sentia da medicina por até agora, não existir uma cura para o câncer. Mas nenhuma dessas raiva se comparava, a raiva que eu sentia de mim mesma, eu senti raiva de mim mesma, por não ter notado que ela estava m*l, senti raiva de mim por não ter me agarrado a ela com todas as minhas forças quando tive chance, por todas as vezes que briguei com ela por motivos fúteis, por todas as vezes que recusei um abraço dela por achar que é uma coisa cafona, por todas as vezes que escolhi ficar no meu quarto lendo um livro ao invés de assistir “caminho das índias com ela”, eu posso citar muitas outras coisas aqui, mas o objectivo não é esse. A fase da raiva para mim, não foi me culpar por tudo ou culpar o mundo por tudo, ela veio acompanhada da punição, eu me puni por dias, a punição não foi só física, foi mental também. A automutilação, me pareceu a coisa mais atrativa naquele momento, ela começou com um simples furar de um dedo, só para aliviar a sensação de sufocar, em seguida, ela passou para um pequeno corte no pulso, não muito forte ou profundo, um corte que doesse mais do que o pequeno furo no dedo, um corte que deixasse uma cicatriz, mas também que não me matasse. No final, eu já tinha todo o ante-braço esquerdo com cicatrizes, mas esse não é o final da história. Negociação: Terceira fase, ela geralmente vem depois do primeiro ano de luto, ela é igual a algodão doce, ela é uma doce ilusão de paz e calmaria na sua vida, parece que você já está aceitando que a pessoa realmente partiu e não vai voltar mais. Nessa fase, parecia que eu realmente tinha entendido que a minha mãe foi embora, eu parei de organizar a mesa para ela, comecei a arrumar o meu quarto e a frequência com a qual o meu peito fechava, reduziu de três vezes a semana, para três vezes ao mês, parecia que tudo estava bem, eu voltei a estudar, voltei aos meus trabalhos voluntários, procurei meus amigos e fiz as pazes com eles, tudo parecia perfeito, mas essa fase é realmente um verdadeiro golpe, ela te faz provar o paraíso, para que logo em seguida te faça provar do verdadeiro inferno, ela mostra que o seu paraíso, não passava de uma cabana frágil e sem forças, uma cabana que com um simples vento, vai ao espaço, um vento que pode ser qualquer coisa, uma frase, um nome, uma cor ou um sonho, no meu caso foi o último. Depressão: Penúltima fase que para alguns se não muitos, ela tornasse a última, por pouco não foi o meu caso. Esta fase, vem como uma rajada de vento, destruindo tudo, toda a muralha que você construiu em meses, é a fase derradeira é a prova de fogo. Ela chegou até mim com um sonho, em que a minha mãe fala que voltará, como assim? Nem eu mesma sei, eu só sei que isso foi o suficiente para que, todas as outras três fases que passei com muito esforço, voltassem de uma só vez, as crises de choro, raiva e alguns momentos de lucidez. Mas isso não foi suficiente para o meu pai perceber que estava perdendo a filha também, ele só notou que estava me perdendo quando me encontrou ensanguentada no banheiro de casa. Nesta fase, a autoflagelação parece não resolver nada, a sensação de estar sufocando, não passa só com um simples corte, você precisa de mais, parece que nada resulta, você só quer fechar os olhos e esquecer que existe. Esta fase, faz você esquecer que é um ser vivo que precisa de cuidados, você se esquece de comer, se esquece de tomar banho, você esquece de si mesmo, você só quer que a dor passe, mas ela não passa, não até que você dê um verdadeiro fim nela. Bom, pelo menos é o que a depressão vai fazer você pensar, mas ela não passa de uma p**a de uma mentirosa. Eu pensava constantemente em acabar com a minha vida, várias vezes ao dia, tantas que eu finalmente fiz o que o meu coração tanto queria. Num dia em que a dor estava insuportável demais para ser superada, eu decidi acabar com ela, não foi muito difícil. Eu enchi a banheira de água, vesti a minha melhor roupa, entrei na banheira e cortei os meus pulsos. Talvez, você vá pensar que sou fraca, realmente eu fui muito fraca, tão fraca que nem morri. Meu pai me encontrou desfalecida e ensanguentada. Eles salvaram a minha vida, depois disso, eu fui forçada a participar de secções de terapia todas as semanas por um ano inteiro, até “melhorar”. Mas a dor voltou, eu não contei nada para o meu pai, até que comecei a ser atormentada por um espírito demoníaco, isso mesmo ou começava a ficar louca, será que a loucura é um dos sintomas da depressão? Eu sou Érica Isabel Langa, o nome parece comum mas tem uma história por detrás dele, o Érica foi a minha mãe quem mo deu, ela era fã do cantor Enrique Iglesias e ela achou que seria fantástico nomear a filha com um nome similar ao do ídolo dela. Isabel, é o nome da minha falecida avó paterna, o Langa traduzido para o português quer dizer, “escolha” e é o meu apelido ou sobrenome. No final das contas, não tem nada de interessante nele. Bom, eu coloquei o último estágio do luto na minha lista, Lois, eu vou te contar, como é que cheguei até ele, com a ajuda de um desconhecido irreal. {...} — Não devia estar sozinha aqui, esse lugar pode ser perigoso — uma voz estranha surgiu do breu, ela era masculina, não foi preciso de muito para identificar que era um homem. Eu estava sentada num sofá, no terraço do prédio de alguém do curso de preparação aos exames de admissão, eu sinceramente não me recordava do nome dele, eu nem sequer quis participar daquela festa i****a, mas minha melhor amiga Isabel, insistiu para que eu fosse a aquela festa, naquela época eu preferia ficar na minha casa lendo minhas sagas ou maratonando animes e doramas, mas eu fui a festa, para ficar com ela. — Talvez eu goste do perigo, a escuridão tende a se tornar fascinante á luz, você não acha? — questionei com um sorriso sugestivo nos lábios, talvez ele não pudesse ver o meu sorriso naquele momento, mas ele era bem diabólico. Com um olhar calmo e tentador, observei os carros andando do lado de embaixo, até que um pensamento louco, surgiu. “ E se eu me jogar agora daqui de cima, será que o desconhecido vai se importar comigo? Será que o meu pai vai sentir a minha falta?” — Você não devia estar aqui, é perigoso, venha até próximo de mim — Sussurrou com calma, como se estivesse com medo de mim. Ele achou que eu me jogaria, ele estava preocupado comigo, ele nem sequer sabia o meu nome, mas estava preocupado com o meu bem estar. Eu pensei que a única pessoa preocupada com o meu bem estar fosse só a minha amiga, mas parece que naquele dia consegui chamar a atenção de mais alguém. — E se eu não quiser, o que vai fazer? — provoquei m*l criada, me afastando ainda mais dele. Eu não me jogaria, mas era divertido ver o desespero dele em tentar salvar a minha vida. Num rompante, o estranho correu até mim e me puxou com toda sua força até próximo dele, devido a velocidade e a força que ele colocou, embati contra o peito dele com muita força e nós dois fomos ao chão, o estranho por baixo de mim e eu por cima dele. — Ash! Você está bem? — indago preocupada tentando me levantar do peito dele, se eu que caí por cima dele estava toda dolorida, imaginem como ficou o pobre coitado por baixo de mim. Sim, o pobre coitado machucou a coluna, o cotovelo e ao invés de ajudar ele, sabe o que eu fiz quando ele não respondeu? Eu fugi, fugi como uma covarde, sem olhar para trás. Eu sabia que ele não estava morto, mas com certeza, ele se feriu muito. — Amiga, eu preciso ir embora, acho que matei alguém — desci a escada freneticamente. O meu coração batia freneticamente em meu peito, eu estava suada e a qualquer momento teria um ataque cardíaco. — O queee? Como assim? Quem você matou? Está drogada? — ela passava a mão em meu rosto, procurando qualquer sinal fora do comum. Mas eu não me droguei, eu nem sequer tinha experimentado álcool naquela altura. Eu acho que se você quer se m***r, deve fazer isso logo, não destruir seu corpo com drogas, isso só fará com que seu corpo morra, antes de você. — Eu não me droguei, só vamos embora daqui — gritei com ela a puxando para fora da casa. Eu fugi da festa, fugi do garoto que quase matei e fugi da minha responsabilidade, a única culpa por ele estar daquela forma, foi minha. Eu realmente desejei nunca mais encontrar ele em toda a minha vida.
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