De: Érica Isabel Langa
Assunto : acho que não posso chamá-lo de amado.
Para: Alonso Haru Cassano
— Caro Haru, acho que agora não posso chamá-lo de amado, antes eu escrevia amado pois sabia que você não leria as cartas, como eu bem disse, estava dando um tiro no escuro. Receber o teu e-mail, foi uma surpresa para mim, não que eu tivesse desistido mas, eu não esperava que fosses real, tipo de verdade eu tinha esperança sobre a sua existência, mas o pensamento que sempre me vinha a mente, era o de você achar que sou uma louca e ignorar a minha carta. Ler que você, ama receber as minhas cartas, que elas são como uma brisa de ar fresco para você,foi tão UAU! Eu não esperava tal coisa, ler que não sou a única viciada aqui, foi incrível. Caro Haru, eu não desisti de você, ainda estou aqui, talvez eu deva desistir da ideia dum possível romance entre nós dois mas, eu espero que sejamos amigos. Eu não vi suas redes sociais e nem estou te seguindo no i********: ou f*******:, não que eu não esteja interessada, mas o que torna excitante esse nosso relacionamento, é o mistério existente por detrás de nossas identidades. Então! Eu te peço que não verifique minhas redes sociais, será interessante continuar nesse mistério.
Após enviado o e-mail, tomei um banho frio para tentar acordar do sonho, porque aquilo parecia um sonho, depois que finalmente confirmei que ele era real e Jovem, o pesadelo transformou-se num lindo e impossível sonho. Pena que no processo para viver esse sonho, perdi um grande amigo.
Após o banho, jantei e dormi, pensei que ao acordar tudo fosse voltar ao normal.
Foi num sábado que recebi o e-mail, domingo acordei cedo pois tinha que ir a fundação que costumava trabalhar como voluntária, como na época eu trabalhava como recepcionistas, tinha que chegar mais cedo ainda pois, tínhamos que organizar alguns materiais usados nas palestras.
Tomei um banho frio, preparei-me e saí de casa, correndo para não me atrasar, assim que cheguei na fundação “Uma mão amiga” , encontrei-me com João Carlos meu ex crush, na época em que eu gostei dele, eu o achava o rapaz mais lindo do mundo, eu amava os lábios carnudos dele, eu sentia uma vontade louca de beijar ele sempre que o via. Mas naquele dia ele era só mas um rosto bonito no meio de tantos.
— Érica! Você vai subir? — João questionou assim que cheguei a fundação, ele estava parado no portão da fundação. Entramos os dois juntos no recinto que, a aquela hora estava vazio, nós costumamos chegar muito cedo para organizar tudo.
Ele estava trajado de roupas próprias da fundação. Uma calça azul marinho e uma camisa branca e uma gravata também azul, nas mulheres é a mesma dinâmica só trocando por uma saia xadrez no lugar da calça. A fundação está localizada na cidade da Matola, próximo ao Swoprite. O prédio tem o estilo de uma arquitetura colonial, uma casa grande com o tecto todo revestido de grelhas, paredes sustentadas por dois grandes pilares, suas paredes eram brancas e cremes.
— Sim vou, já há um bom tempo que não subo no palco, sinto falta de cantar — concordei organizando, alguns panfletos para as pessoas que viriam assistir a palestra.
— Então, conseguirá montar o tripé por se só? — questionou vindo em minha direção para me ajudar a montar o maldito tripé endemoninhado.
— Não, você pode montar por mim? — questionei envergonhada, pois, desde que me tornei voluntária da fundação não conseguia montar tripé sem a ajuda de ninguém.
— Está bem — concordou e logo em seguida pegou no tripé e o montou, por acidente, a mão dele tocou a minha e pareceu que um peixe com escamas rugosas estava tocando em mim, automaticamente afastei a minha mão da sua.
— Já está — informou erguendo seu corpo debaixo do palco, ele ajustou melhor o microfone e deu os últimos toques no palco.
— Obrigado — agradeci com um sorriso maior que a ponte Maputo-katembe, acho que nem as luzes que lá estão, brilham mais que o meu sorriso de pura felicidade, naquele dia.
— Por nada, UAU! Você parece feliz, a sua nuvem de tristeza se dissipou? — questionou com as sombras arqueadas. A reacção dele não me surpreendeu, depois que a minha mãe morreu, eu me transformei numa verdadeira menina gótica, só que uma gótica pobre, porque nem as roupas eu tinha.
— Sim! Eu estou feliz, muito feliz!— retruquei com um sorriso, ainda maior que o anterior, pulei ao redor dele que nem um sapo maluco e chapado. Ele só esbugalhou os olhos e abandonou a cabeça de um lado para o outro.
— UAU! Está mesmo, ganhou na loteria? — questionou sorrindo também, ele estava tentando acompanhar a minha animação, mas, estava impossível, naquele dia, depois do e-mail, nada mais conseguia me abalar.
— Muito melhor, muito melhor — cantarolei girando a cabeça que nem uma criancinha maluca e mimada.
— Bom! Vamos receber os convidados, depois você me conta tudo — João me arrastou do palco até a entrada da fundação, lá nós faríamos a inscrição dos convidados e membros da fundação.
— Infelizmente eu não posso te contar, um bom jogador nunca revela os seus truques — falei sorrindo, deixei ele com cara de bobo e fui receber o palestrante do dia.
A fundação Uma mão amiga, é uma organização não governamental sul-coreana, preocupada com o desenvolvimento emocional dos jovens e adolescentes. A fundação, convidava semanalmente palestrantes diferentes de todos os cantos do mundo. Nas palestras, tretavamos assuntos como, saúde mental, física financeira. Também tratavamos assuntos como, as relações interpessoais, então, a fundação ajudou muitos jovens em vários aspectos.
A palestra daquele dia, parecia que tinha sido escolhida para mim. O tema do dia foi, “Como as relações interpessoais, afectam a nossa saúde emocional”, assim que escutei o tema, foi impossível não pensar em Antônio e no que eu tinha feito com ele, eu parti seu coração, eu não sabia como ele estava. Depois de terminado o meu trabalho, tirei o uniforme e arrumei, logo em seguida João veio ao meu encontro.
— Então já vai?— gritei, pois não esperava que ele estivesse tão próximo de mim, eu já tinha um namorado e não precisava de alguém me rondando.
— Sim, tenho um trabalho da faculdade por fazer — retruquei sem muito ânimo, a mão ainda no peito para tentar acalmar os meu coração que estava feito um doido, por causa do susto que levei.
— Então, não vai me contar o motivo da felicidade? — questionou arqueando as sombracelhas, ele estava insistindo tanto em saber o motivo da minha felicidade, que parecia um disco rachado.
— Eu não posso por enquanto — retruquei abanando a cabeça, não contei nem naquele nem em outro dia.
— Está bem, eu espero — respondeu indo embora, ele ficou esperando sentado porque não contei nada.
Saí da fundação ainda sorrindo que nem uma doente mental, de tanto sorrir, as minhas bochechas doeram naquele dia.
Assim que cheguei a casa, tomei o meu matabicho AKA café da manhã, estava tão ansiosa que nem, prestei atenção no que estava a comer, depois de comer, lavei os pratos que sujei, fiz o meu trabalho da faculdade. Não verifiquei o meu e-mail naquele momento, primeiro tinha que fazer o meu trabalho, só depois de feito é que daria atenção a Haru. Assim que terminei a primeira metade do trabalho, decidi verificar o meu e-mail.
De: Alonso Haru Cassano
Assunto: Novembro 9?
Para: Érica Isabel Langa
— Cara senhorita Langa, fico muito lisonjeado por saber que a senhorita esperou por mim, por três longos meses e fico mais lisonjeado ainda, por saber que a senhorita continuou a minha espera, mesmo depois que a sua psicóloga lhe deu um ultimato, eu não sei se as minhas cartas já chegaram, então não lhe darei um spoiler do que está escrito nas mesmas. Talvez a senhorita vá se perguntar sobre o título do e-mail, como assim? Novembro9? Eu não sei se a senhorita é uma amante de livros, mas já adianto eu sou, por enquanto não lhe direi o porquê de mencionar o título do livro ao e-mail, mas já lhe adianto uma coisa, tem muito haver com o facto de teres insistido em manter as nossas identidades no anonimato. Caso a senhorita conheça a obra Novembro 9 da Colleen Hoover, me informe assim poderemos discutir um pouco sobre a mesma, e talvez a senhorita já saiba o porquê da minha escolha, caso a senhorita não conheça a obra, sugiro que leia e assim entenderá as razões da minha escolha. Cara senhorita Érica, eu não me importo que me chames de amado, para falar a verdade eu até gosto, para te tranquilizar, eu também não vi suas fotos, não por falta de interesse, mas fiquei tão focado em responder a suas cartas, que nem lembrei-me de ti seguir nas redes sociais. Bom! Eu não quero falar muito, muitos beijos e abraços de seu amante já não desconhecido. alonsoharucassano@gmail.com
Terminei de ler o e-mail feliz, pois, ele concordou em continuar com o nosso jogo de txo txo txo¹⁹, mas uma coisa me deixou chateada, ele não tocou no assunto dum possível romance entre nós, mas também o que eu esperava? Que ele lê-se as minhas cartas e se apaixona-se por mim? Não né? Eu era a única louca na história. Eu é que sonhava com ele, eu é que ficava fantasiando sozinha, eu é que já tinha escolhido os nomes dos nossos três filhos. Exagerada? Sim, eu fui muito exagerada, precipitada e louca, muito louca, porque eu nem sequer tinha convivido com ele e já estava escolhendo os nomes dos nossos filhos, mas o que se pode esperar de uma pessoa que se apaixonou por um sonho?
Parei com os devaneios e fui a busca do bendito livro da Colleen Hoover, estava tão ansiosa para saber o que tinha nesse bendito livro, qual era a relação do livro com nossa história? Mas espera aí? Qual história? Ele podia muito bem ser um Boy lixo. Depois de consegui o livro, comprei ele no sss, gastei alguns meticais, mas nada que fosse me causar nenhum problema depois.
____________________________________
18. Transporte semicolectivo de passageiros;
20. Esconder, esconde.