Capítulo 3 — Entrando numa fria

2212 Words
Danira — Meu Deus, Danira, o que aconteceu com o seu rosto? Seu irmão já viu o estado disso aí? — Calma Tina, isso aqui foi que eu caí na última noite em que eu saí com vocês, não lembra? Sant viu, mas eu inventei uma história lá e mesmo ele não acreditando me deixou em paz mesmo assim. — Lembro sim, mas em momento algum eu me lembro disso aí. Vem cá, depois você foi pra onde com o Samuel? — Ele foi pra casa e eu fui embora sozinha. — Eu sei que ela não vai desistir dessa interrogação fácil e por isso mesmo vou confessar o que aconteceu. — Foi o Max... mas eu juro que foi sem querer. — Danira, até quando eu vou ter que te dizer que você tem que se manter o mais longe possível desse cara? Você o conhece muito bem e sabe bem das barbaridades que ele é capaz de fazer, mesmo assim não toma juízo, qual é o seu problema? Gostar de caras violentos como seu irmão? — Qual é Tina? Eu já disse que foi sem querer. A gente se viu e começamos a discutir, mas... — Mas nada Danira, se o Samuel ficar sabendo desses seus encontros o que acha que ele vai fazer? Como ele vai se sentir? Se coloca na pele dele um pouco e pensa mais antes de agir. Tina é uma mulher com a cabeça feita mesmo com tão pouca idade, admiro muito toda essa força e determinação que ela tem em me ajudar sempre. — Desde quando alguém bate em outra pessoa sem querer? Conta outra Danira. Teu irmão não tomou nenhuma atitude sobre isso? — Você quer que ela faça o que Tina? Eu já sou adulta e sei cuidar da minha própria vida, isso foi apenas um deslize meu. — Não sei, não hein, isso aí com certeza tá com cara de encrenca. Agora vamos pra minha casa, precisamos ter nossa tarde de meninas novamente, você está me abandonando aos poucos Dan. — Não fala isso Tina, você sabe que minha vida é bem corrida, mas sempre estou com você. — Mas é a verdade Dan, não vai se afastar de mim de uma vez não. Qual o lance que tá rolando entre você e o Samuel? Eu não sou i****a, daqui o lance de vocês aquele dia. — Não tem lance nenhum, agora vamos logo antes que eu mude de ideia. Partimos pra casa dela e não ficamos na aula, eu nunca tinha o costume de ir mesmo, sempre tinha outras intenções. Eu estava cursando Engenharia Química, mas desde que Sant resolveu fazer essas loucuras eu não tive mais vontade alguma em continuar em nada, de alguma forma as escolhas dele me afetam e muito. Maquini Que cara louco, Deus me livre! Cheguei e seu Flávio estava parado na porta me esperando. — Ainda está precisando do emprego, minha querida? — Minha querida? Quem ele pensa que é? Ah, esse velho tá muito saidinho. — Estou sim seu Flávio, mas por favor me chame de Maquini, não temos i********e para apelidos. Pode continuar de onde estava? — Então... Maquini, eu consigo um emprego pra você se aceitar me ajudar com uma pequena coisinha. — Ah, combinado, pode falar o que é, tanto que não esteja sob meu alcance. — Está sim. Preciso que leve uma mala até o endereço que eu te passar, não se preocupe você irá receber por isso. — Eu já vi esse filme uma vez na minha vida, será que é mesmo o que eu estou pensando? Eu sabia que isso não era coisa boa. Já vivi a mesma coisa e sem muito bem como funcionam essas entregas, mas não posso negar que estou precisando do dinheiro e como será apenas uma vez eu irei aceitar e dar uma de inocente. — Eu aceito, desde que o p*******o me recompense. — Ele fez uma cara de surpresa, talvez pensou que eu era alguma i****a. — Então eu te passarei o endereço por e-mail, pode me passar o seu e-mail? — Droga, eu não tenho celular e preciso dar um jeito nisso, por isso esse dinheiro será bem vindo. — Eu não tenho celular, tive que vender pra vir pra cá. Eu sair de casa sem nada pra conseguir uma vida melhor, pode jogar por debaixo da porta que eu irei estar aqui dentro esperando. — Ok. Mandarei o local que você irá pegar a bagagem e onde precisa deixar, o restante também estará tudo escrito. — Está bem. Muito obrigada por estar me ajudando, o senhor não sabe o quanto esse dinheiro será bem vindo. — Sempre que estiver querendo uma grana extra pode me procurar. Mais tarde nos vemos novamente. Entrei e fiquei assistindo TV. Eu preciso comprar algumas peças de roupas pois só tenho três fora essa do corpo, além de tudo aqui ainda não está frio como é pra ser, isso não é nada. Preciso comprar algumas coisas pra mim também, não posso ficar morando aqui para sempre. Preciso encontrar a Any e pegar o que é meu por direito, que ela quis roubar. Tenho que providenciar um celular pra mim o mais rápido possível. Kate Sinto saudades da Maquini, olha que não faz nem uma semana que ela saiu daqui e minha vida tem se tornado um inferno. Lilian faz questão de me provocar agora, a mulher boazinha que ela parecia ser só parecia mesmo, há algumas horas estou trancada dentro de um que não tem uma janela, totalmente na escuridão. O pensamento de insuficiência me tomou por inteira e eu já não sei mais como vou suportar os dias que terei que passar aqui dentro, por mais que eu diga tudo isso a minha mãe ela irá me dizer que tudo não passa de alucinações já que eu tenho desde criança. Tá cada vez mais difícil. Me encolhi no canto da parede abraçando minhas pernas e ali eu chorei feito criança, mas não estava desesperada, eu estou perdida mesmo e agora mais que nunca, sem ninguém pra conversar não sei como vou suportar. Quando eu já estava quase dormindo ali mesmo Lilian abriu a porta. — Está na hora de tomar um banho, não ouse me fazer vergonha. Se continuar insistindo em dizer à sua mãe sobre as coisas que acontecem aqui dentro, lamento dizer que terei que tomar providências mais rudes com a senhorita. — Levantei e fui fazer o que ela mandou, mesmo contra minha vontade. Minha mãe estava lá me esperando com uma aparência nada boa. Apesar de tudo eu não queria que ela viesse, seria mais fácil pra mim, a dor aqui dentro se torna mais intensa a cada vez que ela vai embora, é como se eu nunca mais fosse vê-la e só de pensar nisso eu fico destruída. — Que bom te ver minha filha, como você está? — Ela pergunta tocando minha mão. — Estou bem mãe, e a senhora? Aconteceu alguma coisa? — Perguntei ao ver seu semblante triste. — Nada demais meu anjo, tive um sonho horrível com você e fiquei muito preocupada. Não quero que perca a confiança em mim, quero que me diga tudo que sente, acha que está se recuperando aqui dentro? — Para ela está tão preocupada assim só pode ter acontecido algo, minha mãe nunca falava sobre seus sonhos ou algo do tipo. — Na verdade eu já estou "curada" a muito tempo, mãe. Isso aqui é um verdadeiro inferno, não sei quanto tempo terei que aguentar mais até que eu saia daqui. A Maquini saiu ontem e eu não sei como vai ser mais dias aqui dentro, todo mundo aqui me ódio inclusive a Lilian, por ela eu já estaria morta. A senhora não faz ideia do quanto é r**m estar aqui dentro. — Eu imagino querida, mas no momento em que eu e seu pai tomamos essa decisão sabíamos que seria o melhor pra você querida. Falta apenas um ano para você sair daqui, quando esse dia chegar será o dia mais feliz da minha vida. — Um ano? Um ano mãe? A senhora não sabe o que está dizendo, todos os dias aqui eu sinto como se parte de mim estivesse ficando para trás, todos os dias isso aqui é um inferno e quando a senhora e meu pai decidiram me por aqui dentro nenhum momento pensaram em mim, em como eu me sentiria. Poderia ter me colocado pra fazer terapia com outros viciados, seria melhor pra mim, mas não, a senhor conseguiu destruir minha vida de uma forma inexplicável. — Ela estava cheia de todo esse bom humor dela, era sempre a mesma coisa, as mesmas conversas e isso estava me deixando de saco cheio. — Eu entendo a sua ira Kate, mas você estava sem controle e essa foi a única forma que eu encontrei de te parar minha filha. Seu namorado está preso por tráfico, achei que deveria saber disso. — Meu namorado mãe? A senhora mais que ninguém deveria sabe que nós dois não estamos juntos desde o maldito dia que a senhora me mandou para cá. Eu sou sozinha no mundo, pode ter certeza que quando eu sair daqui eu serei outra pessoa, a filha que te dará orgulho. Eu me arrependo de tudo que fiz e não foi por influência de ninguém, nem curiosidade, eu apenas sentia vontade e ia lá fazer a merda. — Eu estava mesmo decidida que iria tomar uma providência com relação a isso mas não direi nada a ela. — Desculpa Kate... Eu não sei como te dizer isso mas... — As pausas que ela está na conversa me dá raiva às vezes. — A senhora o quê? — Perguntei revirando os olhos e sentindo o tédio me tomar mais uma vez. — Eu estou doente, filha. Descobrimos há algum tempo, mas eu não sabia como te contar isso. — O que a senhora tem? — Perguntei segurando a mão dela enquanto ela secava as lágrimas, procurando forças. — Eu estou com câncer filha, mas não se preocupe pois já estou me tratando. Hoje provavelmente será a última vez que eu estarei aqui, a partir de hoje quem vem é seu pai. Não quero que ponha isso na cabeça, eu estou bem e irei ficar bem, até lá eu peço que não brigue com ninguém aqui dentro porque será prejudicial a você. Meu mundo desabou ali mesmo, o que eu irei fazer agora? Sem amigos, sem minha mãe, sem ninguém! Ela me deu um abraço e foi embora sem falar nada, as lágrimas foram inevitáveis e além de mim havia duas pessoas com visitas. O horário ainda não havia terminado, mas mesmo assim ela foi embora me deixando para trás outras vez. O que ela pensa que está me maltratando desse jeito? Eu devo me culpar por tudo que ela está passando? E se tudo isso realmente for minha culpa? Os pensamentos fúteis só avançam cada vez mais. Entrei no quarto e chorei, chorei até que não suportasse mais, hoje não vou jantar porque não tenho a menor fome e a pessoa que sempre esteve comigo durante esses três anos não está mais aqui para me consolar, quem dera Maquini pudesse vir me ver. Maquini “Boa tarde querida, tudo que tem que fazer está escrito no verso desta folha, peço que leia e siga tudo com atenção. Seu p*******o será em espécie assim que a bagagem esteja entregue, estará debaixo da sua porta". Flávio Fui até o local indicado e lá estavam dois homens me esperando, eu senti algo dentro de mim dizendo pra que eu voltasse e desistisse dessa loucura mas já era tarde demais, além disso ele prometeu que me arranjaria um emprego e eu confiei nele. O cara alto que estava parado na minha frente chamou um táxi pois eu disse que não tenho celular e eu ordenei que o motorista me deixasse no lugar indicado. As ruas sempre foram desertas mas com o passar desses cinco anos parece que se tornou pior, a neblina cobre a maioria dos prédios e fica impossível ver alguma. Cheguei ao local e vi uma mulher loira me esperando com três homens ao seu lado, ela pegou a mala sem falar uma palavra, ela fez uma ligação e depois me mandou ir embora e agradeceu. Como eu já havia dispensado o motorista longe pra que ele não me visse mas, eu não tenho como pegar outro até porque se eu for esperar irá demorar muito. Resolvi ir andando mesmo já que eu vi os lugares por onde ele passou. Cheguei no quarto e lá estava um envelope com a grana que ele havia dito, dentro do envelope também tinha umas vinte gramas de pasta base e isso fez com que eu saísse frio. "Isso é um presente por ter se saído bem na sua primeira vez, espero poder contar com você sempre que precisar". Eu não sei onde estava com a cabeça quando aceitei fazer isso, meu Deus! Peguei o envelope e dentro havia o combinado, dinheiro mais que o suficiente para eu sair amanhã mesmo em busca de um novo lugar pra eu morar, não vai dar pra continuar aqui por muito tempo não.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD