James estava sentado no balcão, com toda paciência do mundo tentando me ensinar a descascar, cortar, cozinhar e fazer as coisas da cozinha, ele nem se estressava, apenas mantinha toda a calma do mundo.
Depois de descascar cenoura e batata, minhas mãos já estavam cheias de band-aids e eu já reclamava a bastante tempo, resmungando de dor.
— Então você corta a cebola, não precisa ir muito rápido, apenas tenta manter os formatos delas iguais.
E eu tentei, mas as cebolas fizeram meus olhos arderem e eu chorar.
Ele suspirou.
Senti ele me chegar por trás, ficando um pouco distante, sem encostar muito, mas perto o bastante para que eu sentisse seu calor.
Ele agarrou a mão que estava com a faca e mesmo sem enxergar, guiou minha mão, indo para cima e para baixo, cortando com uma tamanha habilidade e fazendo tudo ficar do mesmo tamanho.
— Eu me sinto péssima em não saber cozinhar.– Desabafei, limpando as lágrimas quando ele voltou a se sentar no balcão.
— Relaxa, tudo tem sua primeira vez. Acha que eu nasci sabendo? Tive que trabalhar pra minha mãe no restaurante dela e levar muito puxado de orelha pra aprender.– Sorriu ao lembrar daquilo.
— As batatas estão cozidas, o que faço?
— Pega um garfo e espeta uma delas, se ela estiver molhinha significa que está bom, se estiver muito dura deixa mais cinco minutos.
Fiz o que ele pediu e quando espetei a batata ela desmanchou no garfo.
— Tá mole, o que faço?
— Desliga o forno, coloca as batatas, a água que cosiu elas e a cebola no liquidificador, bate na velocidade máxima.
Coloquei as batatas e a água, mas derramei um pouco da água quente no meu pé, me fazendo resmungar quando queimou.
Deixei batendo por uns três minutos e depois conferi que estava bom.
— Tem certeza que tá bom? James eu não tenho certeza! Fui eu que fiz, deve estar h******l!– Falei nervosa.
— Me dá uma colher e eu posso dizer se está bom, se não estiver nós consertamos, fica tranquila, ok? Não precisa se estressar, somos apenas nós dois aqui, amigos... somos amigos, conhecidos ou o que?
— Bom, pra sua ex namorada nós somos um casal... acho que somos dois malucos.
Peguei a colher, tirando um pouco do caldo do liquidificador. Coloquei a mão embaixo pra não pintar e sujar a cozinha toda, indo até o balcão.
— Tem o cheiro bom.– Comentou.
— Abre a boca.
Ele abriu e eu coloquei a colher em sua boca.
Fiquei esperando a resposta, uma expressão ou qualquer coisa e ele sorriu.
Ele sorriu.
Por um prato meu, feito por mim, eu fazendo tudo.
— Ficou uma delícia, mandou bem, Lily.
Ele me pegou de surpresa, por isso acabei abraçando ele, alegre.
Acho que aquele abraço pegou ele de surpresa também, mas ele passou os braços ao meu redor e retribuiu o abraço.
— Tá falando sério? Ficou bom mesmo?
— Você vai ser uma ótima aluna.– Sorriu, acariciando meu cabelo suavemente.— Agora é só colocar de novo na panela, colocar a linguiça e deixar alguns minutos, aí está nossa janta.
Fiz o que ele falou e quando experimentei após colocar o tempero e um pouco de pimenta nem acreditei que eu tinha feito aquilo de tão gostoso que estava.
— Quer comer no sofá ou aqui mesmo?– Perguntei, pegando os pratos.
— Aqui está ótimo por mim.
Coloquei um prato em frente a ele e outro ao lado dele, onde eu me sentaria.
Servi caldo verde em nossos pratos e um pouco de suco de laranja, deixando tambem um pratinho com torradas.
Ele comia meio desengonçado, já que não enxergava, por isso peguei a colher da mão dele e dei na boca dele.
— Olha o aviãozinho!– Brinquei.
— Eu quelo mamãe, eu quelo.– Imitou um bebê, me fazendo rir.
Ensinei ele a comer sem minha ajuda já que ele ficou meio constrangido em depender de tudo, então comemos tranquilamente.
— Vamos passar muito tempo juntos, então me diz... porque você nunca vem nas festas do Sirius? Nos acha tão medíocres assim que nunca beberia uma cerveja e dançaria com a gente?
Parei de comer, pensando no que responder.
— Acho vocês brincalhões e barulhentos, eu gosto de ser sozinha, na verdade não sou tão sozinha.
— Tem namorado? Porque você é muito sozinha, Sirius mesmo já falou que nunca vê ninguém entrando no seu apartamento e que você está quase sempre sozinha.
— E desde quando vocês ficam conversando sobre mim?– Bufei.— Não, eu não tenho namorado! Sai de um noivado há um ano e não é da sua conta!
— Ok, desculpa se ofendi...– Suspirou.— Eu e a Carly estávamos juntos desde o ensino médio, eu já estava olhando alianças pra pedir ela em casamento, quando um dia vazou um vídeo dela transando com um grande amigo meu no vestiário da academia que eu trabalhava.
Fiquei espantada quando ele falou aquilo, mas evitei rir.
— A modelete estava te traindo no vestiário da academia, sério?– Tive que segurar a risada.
— E eu descobri que não era só com ele, era com uma mulher também.– Suspirou.— Alguns homens tem fetiche e perdoariam ela, mas sinceramente, meu fetiche não é ser corno, tanto faz com um homem ou com outra mulher.
Fui ignorante com ele e ele simplesmente abriu o coração pra mim.
Merda eu tinha sido grossa.
— Meu noivo era meu professor de literatura na faculdade, ele tem vinte e nove anos e era um gato, eu amava muito ele.– Engoli em seco.— Comecei a pensar que talvez ele ainda se envolvesse com alunas, fui procurando, procurando e cavando a fundo e descobri que ele era C A S A D O!
James ficou espantado.
Deu pra ver no rosto dele.
Ele não segurou a risada e acabou rindo, o que me fez acompanhar ele nas gargalhadas.
Quando conseguimos nos recuperar tivemos que beber suco pela falta de ar.
— Então quer dizer que você achava que ele tinha outra, quando na verdade VOCÊ ERA A OUTRA?!
E caímos na gargalhada novamente.
Meu ex tinha partido meu coração, mas vendo do ponto de vista dele não parecia tão r**m, se tornava uma situação engraçada.
Talvez não fosse tão r**m ter James por perto.