Maribel narrando.
A parte negativa dessas dessas pessoas que acham que têm um pouquinho de dinheiro é que elas se acham muito, pensam que são as últimas bolachas do pacote, sendo que não são porcaria nenhuma e este é o caso desse tal de MK, moreno, alto, bonito, forte, mas é bandido... Toda a riqueza que têm é fazendo o m*l para as pessoas.
Eu passei a minha vida inteira ouvindo dos amigos políticos do meu pai que as pessoas daqui são más, incompetentes e era até um castigo estarem fazendo parte das estatísticas brasileiras como nascidos vivos. O meu pai sempre foi contra essas pessoas que falavam m*l, como se ele já tivesse sentido na pele o que é esse desprezo por pessoas co mais condições financeiras.
O tal MK chegou fazendo arruaça, parou a moto ao nosso lado e desceu com a maior cara de mala, o mais engraçado são as pessoas, a forma que elas se comportam perto dele, era totalmente diferente que a 2 minutos atrás.
— Qual foi Ineco, quem quer falar com o Dante? — Ele falou se aproximando de nós.
— Essas duas burguesas aí, folgada essa tatuada que só a p***a. — Ele falou me encarando.
— Tu queria saber de assunto que não te cabe e eu que sou folgada? — Eu dei risada. — Fala sério, né?!
— Maribel, shhh... — Minha irmã me deu uma cotovelada. — Aqui não é igual no asfalto, não... fica quieta e controla essa língua.
— Baixinha m*l educada essa, hein? — MK falou me olhando dos pés à cabela. — Tu quer o que com o Dante?
— Dante? — Minha irmã fez cara de interrogação e eu revirei os olhos. — Ah... o chefe... então, era algo muito pessoal e eu gostaria de falar a sós.
— Demoro. — Ele sorriu. — Ineco arruma um mototaxi aê, uma vem na minha garupa.
— Tá na suave, chefe, eu levo. — O tal Ineco falou pegando a chave do bolso. — A gibi não vem comigo, não, capaz de eu querer sumir com ela no meio do caminho pra ver se aprende a respeitar os cria da quebrada.
— Não estou pedindo, eu tenho pernas e posso ir andando. — Respondi irritada. — Dá pra ir logo, eu juro que estou muito cansada...
Eu pedi e ele concordou, eu subi na garupa do MK e a minha irmã na do vapor, ela estava cagando de medo e eu só queria que fosse logo, eu precisava de uma cama para descansar o mais rápido possível, porque só agora, após toda a adrenalina eu comecei a sentir o impacto da bomba no meu corpo.
O primeiro contato com um traficante foi menos impactante do que eu imaginava, eu tinha uma visão diferente, mas até que ele estava sendo uma pessoa 'normal'. Ele estava pilotando a moto totalmente diferente da forma que ele chegou, talvez ele estivesse pensando que me assustaria, mas que pena... ilusão, eu não me assusto com pouca coisa..., na verdade ele podia dar grau que eu não ia me importar, já a minha irmã, estava dura igual um p*u e pedindo pelo amor de Deus para o cara ir devagar. Fresca é ela...
Nós chegamos na parte mais alta do morro, lá era bem sinistro, estrada de terra, muito movimento de menores armados, garotas se exibindo, praticamente nuas, outras pessoas se drogando, música alta e motos subindo e descendo. Nunca tinha visto nada como aquilo, mas eu estava adorando... Eu estava vivendo uma fase de revolta e quanto mais agitação na minha vida, melhor.
Nós descemos da moto, o Ineco voltou para onde ele estava e nós duas seguimos o tal MK por uma casa, ou melhor um barraco, andamos pelo corredor e entramos numa sala, tinha uma mesa de escritório, poltronas, sofá de dois lugares pequeno, muita bebida e armas espalhadas por todo canto.
Ele apontou para as poltronas na sua frente e nós duas sentamos, ele fez o mesmo na cadeira dele do outro lado da mesa e acendeu um cigarro, soltando toda a fumaça na nossa cara.
— Então, qual é o papo? — Ele perguntou encarando a minha irmã.
— É... Eu e a minha irmã queremos falar com o dono daqui para ver se tem a possibilidade da gente alugar uma casa aqui... — A minha irmã começou a caguejar.
— Sei... — Ele olhou desconfiado. — Sei se é possível arrumar essa parada não... Dante não é muito de abrir a favela pra gente desconhecida.
— Dante... Dante... — Eu revirei os olhos. — Fala como se ele fosse o rei do mundo.
— Do mundo eu não sei, paty... — Ele sorriu. — Pelo menos aqui ele é o dono da p***a toda. Mas, fala aê, de onde vocês são e porque estão querendo se mudar pra cá? O bagulho é doido e eu nunca vi paty morar aqui, não, essa é a primeira vez.
— Fala sério... — Eu passei a mão no rosto. — A gente é de Belford Roxo, nosso pai sofreu um acidente e faleceu, agora estamos procurando um lugar para morar e não ter que conviver com as lembranças, satisfeito? — Respondi sem paciência.
Antes que ele pudesse responder, a porta foi aberta com tudo, fazendo a gente se assustar e entrou uma garota muito bonita, mas bem folgada, na verdade essa parte deve ser o normal de todos aqui, ela nos olhou como se fosse nos matar e em seguida cruzou os braços olhando para a cara do MK.
— Chegou buxixo no meu ouvido que o meu namorado atava tirando de giro pelo morro com uma branquela na garupa. — Ela falou encarando eu e a minha irmã. — Vim conferir que p***a tá acontecendo... Não sabia que meu namorado tinha virado mototaxi...
— Não surta, Letícia. — MK cortou a menina. — Tô fazendo o meu trampo e tu não devia estar aqui, já te dei o papo que a boca não é ligar de mina minha.
— Ah, e é lugar de duas piranhas atrás de macho casado?! — Ela Falou andando até ele.
— Piranhas não... — Eu respondi. — Não te ofendi, estamos aqui na maior humildade e respeito, exijo o mesmo de qualquer pessoa que venha falar comigo e com a minha irmã.
— Exigir? — Ela começou a gargalhar. — Tu não tá na disneylandia não, branca de neve.
— Mari, por favor, não cai na pilha... a gente precisa de um lugar para morar e não vamos conseguir se tu discutir com o morro todo. — A minha irmã falou me fazendo suspirar.
Quando eu ia responder à altura, entrou um homem na sala, completamente tatuado e com a cara parecendo um bicho, ele deu um olhar matador para mim e bateu a porta da sala com uma certa força.
— Que p***a tá acontecendo aqui? — Ele perguntou para o MK.