Maribel narrando.
Aquele homem atravessou a sala em menos de 2 segundos, ele não olhou para mim e nem para a minha irmã, parecia que ele realmente era tudo aquilo que a gente ouvia das pessoas lá do asfalto, um homem frio, calculista, arrogante e sem sentimentos, um verdadeiro rochedo, eu duvido que esse homem tenha qualquer sentimento que fosse, mas eu não podia falar muito, estava tão m*l com todos os últimos acontecimentos que esqueci o que é sentir algo... a não ser desejo de vingança.
— Eu perguntei que p***a tá acontecendo aqui? — Ele falou mais uma vez com os vermelhos de raiva.
Eu e a minha irmã nos olhamos, a coitada estava mais branca que um papel, eu alisei o braço dela para que ela relaxasse, mas só fez ela ficar ainda mais tensa. É... vai sobrar para mim, com certeza...
— Essas duas burguesinhas estão atrás do meu macho... — A garota falou fazendo cara de nojo.
— Como é? — Eu perguntei sem acreditar no que ela estava insinuando. — Nós não estamos atrás de bandido de ninguém, não... Tô aqui atrás de uma casa para poder alugar...
O homem o tempo todo ficou me encarando com aquela cara de quem queria matar todos que estavam na frente dele, eu estava com vontade de arrancar o aplique daquela garota que estava falando que eu fui atrás de homem dos outros sendo que nem de bandido eu gosto, mas se eu partisse para cima dela, era aí que a gente não conseguia se enconder mesmo...
— A troco do quê tu quer vir morar aqui? — A garota perguntou.
— Achei que quem fizesse as perguntas era eu. — O homem falou, fazendo todos ficarem quietos. — Dá o papo, o que querem aqui?
— Já falei, nós queremos alugar uma casa aqui do morro. — Respondi de braços cruzados. — Nós viemos de Belford Roxo, perdemos o nosso pai e queremos nos livrar das lembranças daquele lugar.
— História m*l contada. — A garota falou e o MK cutucou ela.
— Não se mete, Letícia, já fez barraco demais. — Ele puxou ela pelo braço indo em direção a porta. — Tu deve desculpa para as meninas...
— Mais nem morta... eu ainda vou ter o prazer de bater em uma delas, escuta o que eu estou te dizendo. — Ela falou me encarando e jogou o cabelo na cara dele, ela abriu a porta e saiu.
O MK voltou e se posicionou ao lado do Dante, ele explicou por cima o que eu tinha começado a falar para ele, ele analisava tudo, parecia estar distante em pensamentos, não sei se ele estava prestando atenção, mas aquele olhar vazio me lembrava uma pessoa que eu já tinha visto, eu era muito pequena, mas me lembro...
— Liga nos parceiros lá de Belford Roxo, confirma se o que essa mina tá falando é verdade. — Ele falou sério e pegou um baseado. — Se for mentira, elas vão ser cobradas como X9.
A minha irmã apertou o meu braço, eu percebi que ela estava suando frio, acho que deveria ter se arrependido no mesmo instante de ter vindo para cá, mas, dos males, esse é o menor, ele vai saber que nós não somos de lá e vai querer saber a verdade e vamos ter que assumir, podemos sair daqui vivas, mas vamos levar uma surra por ter mentido.
— Demoro, vou confirmar a história. — MK falou, saindo da sala e nos deixando lá.
O olhar da minha irmã para o tal MK era de piedade, eu tinha certeza que ele tinha percebido que era tudo mentira só pela atitude da minha irmã, mas algo surpreendente aconteceu, eu nunca tinha pensado que ele iria fazer isso, mas ele voltou co m um sorriso no rosto, ele passou um papel para o Dante que não expressou nenhuma reação, como já imaginava...
— Então quer dizer que é verdade?! — Dante perguntou e o MK concordou.
— Elas estão limpas. — MK confirmou e sorriu de lado para mim.
— Demoro. — Ele falou acendendo o baseado. — Eu mesmo vou investigar pra saber se é isso mesmo, só aviso uma coisa, eu não quero barraco de p*****a no meu morro.
— p*****a? — Minha irmã questionou. — Com todo respeito, nós não somos isso e se eu e a minha irmã viemos até aqui é porque realmente não temos para onde ir.
— Tu não é o dono do mundo, não... — Eu debochei.
— Não do mundo, mas da onde vocês estão pisando eu sou. — Ele soltou fumaça na nossa cara. — E se eu tô passando uma visão, é só uma vez, se pisar na bola eu piso em vocês.
— Relaxa Dante, elas parecem ser inofensivas. — MK Falou tentando fazer o cara relaxar.
— Se preocupa em segurar a onda da tua mulher. — Ele respondeu grosseiro. — Leva essas duas para aquela casa que têm na minha rua, quero acompanhar de perto, se for X9 tá mais perto de matar.
— Demoro. — MK falou abrindo a porta e fazendo sinal para nós duas sair dali.
A minha vontade era de fazer esse cara ficar com a marca dos meus dedos na cara, folgado demais e ainda se acha o dono de tudo. Mas se ele estiver pensando que vai mandar na gente igual ele faz com esses pobres coitados, ele está muito enganado e eu ainda vou fazer ele engolir a palavra piranha...
Eu não tenho escolha, então vou me manter quieta, mas não vai ser por muito tempo.
Só queria entender por que esse MK passou pano para nós.
Nós saímos do escritório deles e fomos até a tal casa, era boa, espaçosa e mobiliada, não chegava nem perto de onde a gente morava, mas pelo menos era um lugar decente e não um barraco como as demais casas desse lugar.
Quando o MK ia sair da casa, a minha irmã parou ele na porta para perguntar porque ele tinha livrado a nossa barra.
— Ei... — Ela falou chamando a sua atenção.
— Fala... — Ele respondeu erguendo uma sobrancelha.
— Porque livrou a nossa barra? — Ela perguntou curiosa. — Se tu ligou em Belford Roxo, sabia que não era verdade.
— Soube que estavam mentindo logo de cara. — Ele sorriu. — Mas também sei reconhecer quando alguém mente por medo e no caso das duas, não têm cara de quem está aqui para investigar, muito menos fazer m*l para alguém.
— Obrigada. — A minha irmã sorriu.
— Ficarei de olho nas duas. — Ele piscou e saiu da casa.
Eu não sabia se isso era bom ou r**m, mas senti uma certa maldade nessa atitude dele ou pode ser que eu esteja imaginando coisas... Mas, se ele vai ficar de olho na gente, eu ficarei mais ainda nele, porque ninguém tem uma atitude assim com quem não conhece, muito menos sendo um sub de morro, onde não se deve confiar nem mesmo na própria sombra.