Prólogo
Flashback (capítulo 38 | Henrico: Recomeço)
— Me deixa ir! — Eu gritei para ele, em pânico. — Sai daqui!
Os passos ficavam cada vez mais rápidos, batendo contra o chão com pressa, correndo em direção ao precipício que ficava mais a frente.
— Pare, Nina! — Henrico berro atrás de mim — Precisamos conversar!!!!!!
— Não! — Gritei. — Não precisamos.
Cheguei a ponta, segurando o meu vestido e me virei para Henrico. O meu peito queimava, eu não tinha nada, afinal. Olhei para trás uma última vez e engoli em seco.
— Ela sabia de vocês, ontem a noite, ela os viu e fugiu... ela me deixou para trás, a mim e a Beatrice... — As lágrimas grossas começaram a escorrer pelo meu rosto. Mordi minha bochecha, contendo um soluço. — Ela levou minha filha embora, arrancou de mim a única coisa que me fazia feliz e agora... agora, eu estou sozinha e cansada de tudo, Henrico!
— Me conte o que sabe, eu a encontro, cuido dela e deixo você ir. — Henrico diz, com as duas mãos estendidas para mim. Seus olhos transpareciam desespero.
O mesmo desespero que eu sinto. O mesmo desespero que tem cortado a minha alma fora. Que tem me feito questionar se eu sou mesmo digna.
O homem que eu amava, amava a minha irmã mais nova. A minha mãe tomou a minha filha de mim. O meu pai, o homem ao qual eu amei e me inspirei… ele tem sido o pior de tudo. O odeio, o odeio com todas as minhas forças.
— Eu não sei de nada, apenas me deixe ir. — Imploro, puxando os meus próprios cabelos. — Me deixe ser livre, pelo menos uma vez.
— Nina! — Gritou.
— Adeus, Henrico! — Digo, enquanto me impulsionou para trás.
O encaro uma última vez e sorrio para ele, abrindo meus braços enquanto sinto o meu corpo cair. O vento batendo contra o meu rosto me trás uma paz que desconheço. Suspiro, enquanto permito que a sensação de paz me alcance.
Eu engulo em seco, com dificuldade quando sinto meu corpo batendo contra a superfície macia. Encaro Henrico daqui debaixo e ele grita alguma coisa que não posso entender de onde estou.
Fico estática, apenas o encarando, pensando em como isso aqui é o ponto final de uma história e o recomeço de uma outra.
— Cheguei, minha ruiva. — A voz de Alec me tira dos meus devaneios. — Doeu?
Dias antes… | Flashback
— Onde você vai? — Yelenna pergunta, enquanto seguro a minha bolsa e desço a escadaria.
— Eu vou sair. Preciso beber alguma coisa, estou tensa. — Eu murmuro, enquanto observo-a fazendo uma trança nos cabelos de Pietra. — Tudo bem, meu amor?
— Sim, mamãe. — Ela sorri com seus olhos e labios.
— Volto logo. Só preciso de um pouco de ar. — Aponto, enquanto saio antes que minha mãe argumentasse.
Eu estava cheia dessa situação toda. Sentia que a minha mãe estava tramando alguma coisa. Ela não estava me contando alguma parte dessa história e eu precisava me resguardar, mesmo que isso significasse dar tudo de mim.
Entro no carro e, enquanto dirijo, me mantenho atenta a cada breve sinal. Quero garantir que ninguém esteja me seguindo. Sei que estou com uma corda no pescoço agora e preciso tomar cuidado para que ela não se aperte e eu acabe como uma v***a morta.
Paro o carro na frente do restaurante vazio e estaciono no subsolo. Desço e subo de elevador até o último andar. Alguns seguranças me esperam na entrada e, com uma aceno breve de cabeça, me pede para segui-lo.
Percorremos um corredor chique e bem iluminado. Tudo fedia a caro aqui. Duas batidas na porta e a porta é aberta para mim. Eu sorrio falsamente enquanto adentro a sala de Kenji Yamamoto, chefe da máfia de Yakuza.
— Você é ainda mais bonita de perto. — Ele murmura, dando-me um sorriso galanteador.
Kenji era um homem bonito. Na verdade, bonito era eufemismo olhando para ele agora.
Kenji era o epítome da perfeição. Seus cabelos negros, sedosos e brilhantes caíam perfeitamente penteados sobre sua testa, realçando seus olhos em formato de amêndoa, que brilhavam com um intenso brilho. Seu rosto angular e simétrico era adornado por uma pele impecavelmente clara, sem nenhuma imperfeição visível. Seus lábios rosados formavam um sorriso encantador, capaz de fazer qualquer pessoa se derreter.
Com sua altura impressionante e sua postura elegante, Kenji parecia ter saído de um conto de fadas. Seu corpo esbelto e atlético era digno de um modelo de passarela, fazendo com que qualquer roupa que ele vestisse parecesse feita sob medida para ele. Com sua presença magnética e seu charme natural, era impossível não notar a beleza estonteante dele.
Ninguém acreditaria se eu dissesse que o homem à minha frente era o chefe de Yakuza e, menos ainda, que ele tinha mais de trinta e cinco anos.
— Você tem mesmo trinta e cinco? — Zombo, dando-lhe um sorriso divertido.
— Levamos nossos… — ele faz uma pequena pausa, passando os dedos pelas mças do seu rosto. — rostos muito a sério de onde eu venho, Darin.
Reviro os olhos. Keji se levanta e dá a volta na mesa, andando elegante até mim. Seus dedos longos e finos seguram a minha palma. Ele ergue e a leva aos lábios, depositando um beijo longo.
— No que posso ser util, Akari! — Sua voz soa rouca. Estremeço.
Encaro a cadeira e depois, passo os olhos por todos os seus homens, voltando para ele.
— Saiam! — Pede, balançando a mão.
Depois que estamos sozinhos, ele aponta os dedos para a cadeira e eu me sento, pouco confortáve.
— E então, darin, no que posso ser útil? — Keji pergunta, dando a volta em sua mesa. Ele se serve de uma boa dose de whisky no bar, me oferece, mas n**o. Depois, volta e se senta na sua cadeira, dando um longo suspiro.
— Estou metida em problemas, Keji! — Murmuro, mordendo os meus labios.
Passo a próxima meia hora explicando a ele todos os acontecidos.
— Posso tirar você dessa, Nina! — Ele murmura. Meu nome saindo dos seus lábios ainda me trazem o mesmo efeito de quando eu ainda era jovem. — Sempre lhe disse que daria a você uma vida de rainha, como você merece… — ele beberica o seu whisky. — E você preferiu aquele italiano. Ouvi dizer que eles não tomam banho.
— Eu… — Esfrego o meu rosto. Como ele consegue agir como se tudo fosse uma piada? — Henrico era bem limpo. — Defendo. — De qualquer maneira, eu só queria que meu pai se orgulhasse. Mas, veja bem, olhe no que eu me meti, Keji. Perdi tudo e estou prestes a perder a minha filha.
— Vou ajudar você, querida. — Ele aperta os meus dedos. — Eu disse que sempre estaria aqui para você e não estava mentindo. — Só não posso garantir o mesmo para a menina.
O encaro com a testa franzida.
— A menina? Minha filha? Keji, eu não posso…
— Ela é filha dele! — Ele me atropela. — Se quiser paz, devolva a garota para o pai. Ela viverá bem. Pelo que me disse durante os anos, Henrico ama a garota com todo o seu coração. Ele vai cuidar dela.
— Eu não posso abrir mão dela. Você não entende. Pietra é tudo que tenho. Não sou a melhor mãe do mundo, engravidei em um momento delicado… mas a amo. Deixa-la seria como deixar uma parte de mim. — Gemo.
— Deixa-la será sua salvação. Podemos fingir uma morte para você. Sou dono de algumas terras onde vocês estão. Embaixo do precipício que fica no terreno da casa, alguns animais selvagens vivem… claro, nós temos todo um controle. Mas, nós podemos sumir com você. — Ele explica, passando os dedos pelo queixo..
— Não podemos fazer o mesmo por ela? — Eu pergunto, sentindo o desespero me tomar.
— Sim, mas… a menina vai querer deixar o pai? Ela terá que atuar bem quando você estiver se jogando de um precipício. — Ele murmura.
— O que? — Eu franzi a testa. — Sua intenção é me matar de verdade? — Grito.
— Confie em mim, darin. — Ele revira os olhos. — Sempre tão desconfiada… — Bufa.
— Vou tentar trazer ela comigo. — Ergo meu nariz.
— Tente o que quiser, Nina, só tenha em mente que não será nada fácil. — Ele suspira, apertando o vinco na testa. — Vou fazer de tudo para que você recomece, como deveria ter sido a muitos anos…
Horas antes…
— Nina, só me deixe ir. — Beatrice suplica.
Quero gritar e bater em alguma coisa. Meus olhos estão cheios de lágrimas.
— Cale a boca, merda. — Grito com ela, que se encolhe na cama.
Preciso pensar em algo. Seguro meu celular enquanto disco o número de Keji entre os meus dedos. Por favor. Atenda.
Saio do cômodo, deixando Beatrice sozinha.
— Ela a levou. — Digo, assim que o telefone toca. As lágrimas já molham meu rosto.
— Quem? Quem levou quem, Darin? — Ele pergunta, sua voz suave.
— Minha mãe levou Pietra. — Digo, enquanto engasgo na minha dor.
Ela não tinha esse direito. Ela não podia ter tirado a minha filha de mim. Ela é um monstro. Eu a odeio. A odeio com todas as minhas forças.
— Koi, prossiga com o plano. Não permita que nada pare você. — Sua voz ecoa em meus ouvidos, mas não chegam ao meu cérebro.
— Eu… — Digo.
— Nina, se não fizer… não vou mais ajudar você. Não posso! — Keji suspira do outro lado. — Quero te ajudar, mas se tiver que ser do seu jeito, que faça sozinha. — Depois de uma longa pausa, ele bufa. — Estaremos esperando!
Eu deixo meus braços cairem para o lado do meu corpo, frustrada. Volto para onde Beatrice está. Ela implora por alguma coisa, mas não a respondo, não a ouço.
“Estarei lá.”, enviado.
Quebro o celular na quina e jogo embaixo da cama, antes de pegar a minha irmã e apontar uma arma para ela.
Espero que me perdoe, Beatrice.
Depois da queda | Flashback
A parte de trás do meu corpo está vermelha. Bufo, enquanto sinto o couro do banco colar nas minhas costas.
— Você é tão chata e reclamona. — Alec diz, rolando os olhos.
— Alec, vá se f***r. — Digo, apertando o meu pulso.
— Doeu? — Ele pergunta.
— Pule de um precipício e descubra, i****a. — Respondo, fazendo bico.
— Keji deve estar rindo de você neste exato momento. — Eu murmuro.
— Vocês são dois idiotas. — Resmungo. — Chega de brincadeiras, que saco. — Quase grito.
Será que ele não percebe que estou triste? Que perdi minha filha? Uma lágrima escorre pelo meu rosto e eu a pesco, fungando. Não posso chorar mais. Não posso… preciso me manter firme.
— Desculpe, Nina… eu só… — Alec tenta se aproximar.
— Me deixa! — Peço, mais uma vez. — Só… me deixa!
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Dicionário
Darin: Querida
Koi: Paixão
Akari: Luz