05

1432 Words
Ester: Acordei no dia seguinte com a luz do sol invadindo o quarto pelas frestas da cortina. Minha cabeça latejava e eu sentia uma estranha opressão no peito. As memórias da noite anterior estavam borradas, entretanto, tinha algo que passava vagamente em minha memória. Uma imagem distante de um par de olhos fluorescentes, mas acredito que seja coisa da minha cabeça. Levantei-me lentamente, tentando não fazer barulho para não acordar Luna e Gael, que decidiram dormir na sala. Fui para a cozinha, onde encontrei Mikael, já acordado, preparando café. — Bom dia, Ester. — disse ele, com um sorriso suave. — Bom dia. — respondi, tentando sorrir de volta. — Se divertiu ontem? - Pergunto indo em direção a geladeira. Mikael suspirou, não me lembro muito dele na boate, apesar de que estávamos juntos.. era como se na verdade ele não estivesse lá, não me lembro de sua presença. — Sim. Ontem foi... diferente. — ele hesitou, procurando as palavras certas. — Você parecia estar se divertindo também.. — Na verdade, não me lembro de muita coisa. É como se tudo fosse um borrão na minha memória. — minha voz saiu mais confusa do que eu pretendia. — Mikael, você usa lente nos olhos? - Me aproximo dele para olha-lo mais de perto. Ele olhou para baixo, passando a mão pelos cabelos. Sua expressão era um pouco desnorteada, ele parecia nervoso. — Sim, é.. lente de contato. - Ele diz virando as costas para mim e se afastando. - Mas, por que a pergunta? Eu me aproximei novamente, cruzando os braços. Ele repentinamente começou a agir de maneira estranha, isso me deixou intrigada. — Acho que vi os seus olhos brilharem ontem, como lâmpadas.. - murmuro - Isso acontece sempre? Mikael abriu a boca para falar, mas foi interrompido por Gael e Luna entrando na cozinha. Eles pararam ao ver a tensão entre nós. — Está tudo bem? — perguntou Luna, ela tinha um sorriso fraco nos lábios. — Sim, tudo bem — respondi rapidamente, dando um passo para trás e tentando descontrair. — Só estávamos falando sobre ontem à noite. Mikael soltou uma risada nervosa, enquanto Gael se aproximava para pegar uma xícara de café. — Não se lembra de muita coisa, né, Ester? — disse Gael, tentando aliviar a tensão. — Você estava bem animada. — Acho que exagerei um pouco — admiti, pegando uma caneca e me servindo de café. — Mas estou tentando lembrar o que aconteceu. Tudo parece tão confuso. — Bom, eu também estaria confusa no seu lugar.. - Luna diz sorrindo. - enfim. Eu me sentei à mesa com a caneca de café nas mãos, tentando afastar a estranha sensação que me perseguia desde que acordei. Luna e Gael começaram a conversar animadamente sobre a noite anterior, o que ajudou a distrair a tensão que pairava no ar. Mas eu ainda não conseguia deixar de lado a sensação de que algo estava sendo omitido. Mikael, por sua vez, ficou em silêncio, mexendo no café como se estivesse imerso em pensamentos. Aquilo era estranho, ele não costumava ser tão quieto. — Acho que foi a tequila — brinquei, tentando descontrair. — Da próxima vez, Mikael, me lembre de ir com calma. Ele deu um sorriso forçado, e eu percebi que algo realmente o incomodava. Ele parecia querer falar algo, mas estava se segurando. Eu sabia que o que vi naquela noite — ou o que achava que tinha visto — não era algo comum. Não eram só os olhos brilhando; havia algo mais profundo, mais misterioso nele. — Vocês têm algum plano para hoje? — Luna perguntou, mudando o assunto. — Eu ainda não pensei em nada — respondi, dando um gole no café. — Talvez dar uma volta pela cidade mais tarde. — Vamos com você — disse Gael. — Faz tempo que não exploramos a cidade juntos. Eu sorri, agradecida pela oferta de companhia, mas algo me dizia que eu precisaria de um momento sozinha para colocar meus pensamentos em ordem. Precisava tentar entender o que estava acontecendo e, principalmente, tentar lembrar com clareza o que havia acontecido naquela boate. Terminei o café e me levantei, pegando as chaves do carro. — Acho que vou sair um pouco agora — disse, tentando soar casual. — Preciso de um tempo para pensar. Mikael me olhou de relance, e eu percebi que ele queria dizer algo, mas novamente, ele se conteve. — Quer que a gente vá com você? — Luna perguntou, preocupada. — Não, estou bem. Prometo que volto logo — assegurei, sorrindo. Me despedi deles e saí pela porta, mas antes de ir, senti que Mikael me observava. Aquela sensação de que ele escondia algo me acompanhava. Enquanto dirigia pela cidade, meus pensamentos giravam em torno de Mikael e da estranha noite na boate. Tudo parecia tão confuso, e a sensação de que algo escapava à minha compreensão era constante. Decidi que precisava de uma conversa mais honesta com ele. Eu sentia que Mikael era a chave para o que estava faltando na minha memória. Dirigi sem rumo por um tempo, mas acabei voltando para casa mais cedo do que esperava. Quando entrei, a sala estava vazia, e o silêncio me indicava que Gael e Luna provavelmente saíram. Subi as escadas devagar e encontrei Mikael sentado no quarto de hóspedes, olhando pela janela. Ele parecia imerso em seus próprios pensamentos, e por um momento, eu hesitei. Mas sabia que não podia mais evitar essa conversa. — Ei... — disse suavemente, batendo na porta entreaberta. Ele se virou para me olhar, seus olhos, embora normais agora, sempre me traziam a lembrança daquela luz intensa que eu achei ter visto. Mikael sorriu, mas era aquele sorriso cauteloso, como se estivesse esperando por algo. — Você voltou cedo — ele disse, tentando parecer casual. — Sim, acabei não indo muito longe. Acho que... precisava falar com você. Ele franziu o cenho, claramente tentando medir o que viria a seguir, mas se levantou e caminhou até mim. Fiquei parada à porta, sem saber como começar, mas então ele fez algo inesperado — deu um passo à frente e tocou de leve o meu braço, um gesto que me pegou de surpresa pela sua naturalidade. — Ester, eu... — Ele hesitou por um segundo, procurando as palavras. — Acho que a noite de ontem te deixou mais confusa do que deveria. Ele ficou em silêncio por um instante, como se estivesse escolhendo cuidadosamente o que dizer. Então, em vez de responder de imediato, ele me guiou até a beira da cama, onde nos sentamos. A tensão que pairava no ar começou a diminuir aos poucos, e pela primeira vez desde que saímos da boate, eu senti que ele estava realmente presente. — Não quero esconder nada de você, Ester. Mas algumas coisas são... complicadas. — Ele olhou para baixo, brincando com os dedos, o que não combinava com o jeito confiante que eu costumava ver nele. — Eu só quero te proteger. — Proteger? Proteger do quê? — perguntei, inclinando-me um pouco para frente, tentando captar o olhar dele. — Do desconhecido e coisas que talvez nem eu entenda. — Ele finalmente levantou os olhos e os nossos se encontraram. Havia algo ali, um peso que ele carregava, e naquele momento, a intensidade entre nós se aprofundou de um jeito que eu não esperava. — Mikael, eu não garanto entender, mas.. — falei, minha voz baixa. — Só preciso que seja sincero comigo. Ele sorriu suavemente, como se estivesse aliviado por eu não ter feito pressão demais, mas também sabia que o momento pedia por um pouco mais de a******a. — Eu sou sincero... na maior parte do tempo — disse ele, e seus olhos ganharam um brilho travesso por um instante. — Mas você realmente quer saber tudo? Eu balancei a cabeça, um pouco desconcertada pelo jeito leve que ele conseguiu dar à conversa, mas era disso que eu gostava nele. Mikael tinha essa habilidade de tirar o peso das situações, de me fazer relaxar mesmo quando eu estava cheia de dúvidas. Ainda assim, havia algo por trás dessa fachada de tranquilidade que eu queria entender melhor. — Sim, eu quero. — Respondi com um sorriso no rosto, mas com firmeza. Ele se inclinou um pouco para frente, e por um segundo eu pensei que ele fosse dizer algo profundo ou confessional, mas então ele estendeu a mão e tocou meu rosto levemente, o polegar acariciando minha bochecha. Meu coração acelerou, e o calor entre nós parecia crescer, embora ainda envolvido naquela leveza descontraída que sempre nos acompanhava.

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