Capítulo 1: De Volta Para Casa**
**O retorno de Eliza à sua cidade natal é um misto de emoções.** Após anos fora, ela estaciona seu carro na rua principal, observando as lojas antigas misturadas às novas. O cheiro de terra molhada, característico de sua infância, invade suas narinas enquanto ela respira fundo. Era o cheiro de casa, mas também o cheiro de um passado que ela não tinha certeza se queria enfrentar.
Enquanto desce do carro, Eliza nota o velho relógio da praça central. Ainda funcionando, com seus ponteiros desgastados, ele marcava 15h45. Uma ironia, ela pensa. Esse relógio parecia simbolizar como o tempo havia passado lentamente aqui, enquanto sua vida fora da cidade havia sido uma correria desenfreada.
### **O reencontro com o lar**
Sua primeira parada é a casa de sua infância. As tábuas do assoalho rangem sob seus pés, como se protestassem contra o tempo que ela passou longe. Cada canto do lugar parece carregar uma memória: o cheiro do café da manhã que sua mãe costumava fazer; as noites em que lia escondida sob as cobertas.
No entanto, a casa agora está empoeirada e cheia de caixas. Eliza havia deixado algumas coisas para trás quando foi embora para a faculdade, mas nunca imaginou que precisaria lidar com elas agora.
> **"Bem-vinda de volta,"** ela murmura para si mesma, observando a sala de estar vazia.
### **Lugares familiares, sentimentos confusos**
Decidida a não se prender à nostalgia, Eliza decide sair e caminhar pela cidade. Suas botas encontram o calçamento irregular que ela conhecia tão bem. Passa pela antiga livraria onde costumava comprar romances baratos, pela sorveteria onde teve seu primeiro encontro e pela pracinha onde ela, Katy e Clary passavam tardes intermináveis.
Mas a cidade não é exatamente como ela deixou. Há novos prédios, cafés modernos, e uma sensação de que o mundo continuou enquanto ela estava longe. O que não mudou, no entanto, é a maneira como algumas pessoas olham para ela – olhares que misturam curiosidade e julgamento.
No mercado local, encontra dona Helena, uma mulher idosa que a conhece desde pequena.
> **"Eliza? Minha nossa, quanto tempo! O que te trouxe de volta?"**, pergunta a senhora com um sorriso caloroso, mas perspicaz.
> **"Preciso de um recomeço, acho,"** responde Eliza, tentando soar casual.
> **"Bem, espero que encontre o que procura, querida,"** responde Helena, antes de seguir seu caminho.
Essa interação simples deixa Eliza inquieta. Ela não tem certeza se está aqui para encontrar algo ou apenas para fugir do que deixou para trás.
### **Conflito interno**
De volta à casa, Eliza se senta no chão da sala com uma xícara de chá. Olha ao redor, sentindo o peso do silêncio. Em sua mente, flashes de sua partida surgem: a discussão com sua mãe, a briga com Estevão e a última conversa com Lucas. Tudo isso contribuiu para sua decisão de ir embora, mas será que ela estava pronta para enfrentar essas feridas agora?
> **"Você não pode fugir para sempre,"** ela murmura para si mesma, relembrando as palavras de Katy ao telefone antes de decidir voltar.
Enquanto pondera, o sol se põe lentamente, pintando o céu de tons alaranjados. A visão da janela da sala a acalma, mas também a faz perceber que, mesmo estando em casa, ela não se sente completamente confortável. Há muito para resolver, e ela sabe disso.
O sol já se havia posto quando Eliza decidiu começar a desempacotar as caixas que estavam acumuladas na sala de estar. A casa ainda parecia um estranho reflexo de quem ela era. As paredes desbotadas e as tábuas do assoalho, que rangiam com cada passo, traziam lembranças quase esquecidas. Mas agora, ela precisava encarar essas memórias de frente.
Eliza puxou a primeira caixa, marcada com uma letra infantil que dizia: **"Minhas Coisas – Não Mexer"**. Um sorriso melancólico surgiu em seu rosto. Era a escrita dela aos 12 anos, quando achava que seus segredos eram tesouros valiosos. O que Eliza puxou a primeira caixa com cuidado, sentindo o peso físico e emocional daquele momento. A etiqueta, com a caligrafia torta de sua infância, trouxe de volta uma enxurrada de memórias. Sentou-se no chão frio da sala e abriu a tampa, liberando um aroma de papel envelhecido e poeira acumulada.
### **Lembranças da infância**
Dentro da caixa, encontrou cadernos de desenho rabiscados com figuras que ela desenhava quando sonhava em ser artista. Ali estavam seus lápis de cor favoritos, agora quebrados e sem utilidade, mas cheios de histórias de tardes passadas no quintal.
> **"Como eu era ingênua,"** ela sussurrou, segurando um desenho de uma casa com um grande jardim. Abaixo da ilustração, estava escrito: *"Meu futuro lar".*
Ao lado, havia um diário. Eliza hesitou antes de abri-lo. Ela sabia que ali estavam seus pensamentos mais sinceros de quando era adolescente. O primeiro beijo, a ansiedade de não se sentir boa o suficiente, os sonhos de fugir da cidade... Todas aquelas palavras pareciam tão distantes, mas ainda tinham um estranho poder sobre ela.
> **"Queria poder avisar àquela garota que tudo ficaria mais complicado antes de melhorar,"** disse, folheando as páginas rapidamente.
### **A descoberta de uma carta inesperada**
Depois de guardar o diário, Eliza tirou outro objeto da caixa: uma pequena caixa de madeira que ela não via há anos. Ao abrir, encontrou cartões de aniversário, bilhetes passados em sala de aula e, no fundo, uma carta dobrada.
Ela reconheceu a caligrafia imediatamente: era de Lucas.
Seu coração deu um salto. Lucas havia sido muito mais que um amigo; ele fora sua âncora em momentos difíceis, mas também parte das razões que a fizeram partir. As mãos dela tremiam enquanto desdobrava o papel amarelecido.
> **"Eliza,"** começava a carta, **"Sei que talvez você nunca leia isso, mas preciso escrever. Quero que saiba que sempre estarei aqui, mesmo quando você decidir ir embora. Espero que você encontre o que procura, mas saiba que esta cidade não será a mesma sem você."**
As lágrimas vieram antes que ela pudesse controlar. Era como se Lucas estivesse falando diretamente com ela naquele momento, mesmo depois de tantos anos. Ela se lembrou do dia em que partiu, das despedidas apressadas e das palavras que nunca teve coragem de dizer.
### **Reflexões sobre o passado**
Sentindo-se sufocada pela carta, Eliza fechou a pequena caixa de madeira e se encostou na parede. Sua mente começou a revisitar os últimos dias antes de sua partida. Lucas havia tentado convencê-la a ficar, mas ela estava