Capítulo 9

2411 Words
Leon       Em minha natureza estava o ser indiferente, já que tinha a tendência a compartimentar minha vida. Isso simplificava as coisas e me permitia ter sucesso em minhas empreitadas desde o começo. Mas então, uma pessoa de estatura pequena veio balançar minha vida e mudar tudo. Eu estava como um homem possuído até mesmo uma semana após meu encontro com Annika e passar por isso parecia uma experiência fora do corpo. O cheiro intoxicante de seu perfume ainda estava presente, e a parte do meu antebraço que ela tocou parecia que tinha sido marcado a ferro quente.  A coragem e a serenidade dela ao lidar com o desconhecido também deixaram uma grande impressão. Tudo nela gritava autoridade, ambição, potencial e, melhor de tudo, beleza. Mesmo com sua estatura pequena, eu sabia, considerando sua origem, que Annika Hollands, ou devo dizer, Annika Silverton, não era uma mulher comum. Mas isso não era necessariamente uma coisa r**m.           Eu não conseguia entender por que aquele i****a do promotor público abandonaria uma mulher como essa por lixo como a Sadie, embora eu deva admitir que escolhi essa mulher como minha esposa no passado. Mas era óbvio que se uma mulher como a Annika estivesse no meu horizonte naquela época, eu teria escolhido persegui-la em vez disso.  Uma parte de mim se perguntava se eu deveria contar a ela que a Sadie me traiu com o marido atual dela e pensei, talvez, eu pudesse ajudá-la a se vingar dele enquanto me vingava da Sadie ao mesmo tempo. Mas decidi não fazer isso porque não queria assustá-la. Eu não queria que ela pensasse que a culpa era minha por não controlar a Sadie e impedi-la de roubar o marido de outra mulher. Mas, por outro lado, nem mesmo os próprios pais daquela mulher malévola conseguiram detê-la, considerando que a mãe dela também era amante. Parece que a maçã não cai longe da árvore.           Beep          — O que é? — Eu respondi ao meu assistente de escritório, que estava me chamando.           — Senhor Von Doren, há uma visitante para o senhor.           — Eu não tenho nenhum compromisso. Quem é?           — Ela diz ser sua médica.          […]           Por que a Annika está aqui? Que assunto ela tem comigo de repente?           — Senhor Von Doren?         — A deixe subir. — Eu dei a ordem antes de inconscientemente começar a me arrumar e a alisar minha camisa. Eu calculei que ela levaria pelo menos três minutos para chegar ao meu escritório, quando percebi que sua vinda apresentava um leve problema. Espera. Merda, a Annika estava a caminho para cá, o que significava que ela descobriria que eu não sou apenas um executivo, mas sim o CEO da Paradox, e por causa da meia-verdade que contei a ela, ela pode achar que eu sou um mentiroso. Enquanto eu me questionava por que fiquei tão preocupado com isso, a porta do meu escritório se abriu sem aviso.          — Senhor Von Doren, a doutora Annika Hollands está aqui para vê-lo. — A deixe entrar. — O assistente se afastou e eu jurei que prendi a respiração quando vi Annika parecendo mais deslumbrante do que nunca. A palavra "bonita" não era mais suficiente para descrevê-la. A pessoa que conheci antes e a mulher que estava em minha frente eram incomparáveis. Enquanto vestia um jaleco branco com um estetoscópio em volta do pescoço, Annika interpretava bem o papel de médica e se misturava com a multidão. Mas hoje era diferente, porque Annika parecia ter saído de uma capa de revista.     Annika era bastante pequena, mas isso não a tornava menos mulher; na verdade, seu corpo era uma ampulheta perfeita e tinha uma simetria perfeita. Um penteado bob enrolado enquadrava seu rosto, que era realçado pela maquiagem natural que ela escolheu, e o vestido azul-marinho escuro que ela usava era feito sob medida. Seus sapatos pretos davam a aparência de simplicidade, mas eu sabia que custavam cinco dígitos. Aconteceu de eu ter comprado o mesmo par para a Sadie quando éramos casados, exceto que esses pareciam ser feitos para a Annika, e de alguma forma eles realçavam suas pernas, apesar de sua baixa estatura.           — Senhor Von Doren, obrigada por me receber. — ela me cumprimentou. Dispensei meu assistente, e ele saiu sem nem pestanejar. Annika esperou pacientemente a porta se fechar, e assim que isso aconteceu, ela se virou e me lançou uma expressão séria.           — Você está zangada comigo? — perguntei imediatamente.           — Você mentiu para mim.        — Desculpe?          — Senhor Von ... Não, espere, eu devo me dirigir a você como Presidente Von Doren. —  ela me alfinetou enquanto cruzava os braços.           —Eu ... eu … — Que diabos? Por que eu de repente estou sem palavras na frente dessa mulher?           — Presidente Von Doren, porque você mentiu para mim? — Ela reformulou a pergunta e inclinou a cabeça para o lado de forma muito convencida. Normalmente eu odiaria quando uma mulher agisse de forma arrogante como ela acabou de fazer, mas achei isso bastante atraente e adorável quando ela assumiu esse papel. Que p***a é essa? Adorável? Desde quando meu vocabulário inclui adorável para descrever uma mulher?           — Eu não quis mentir, doutora. Eu apenas disse meia-verdade. — Eu respondi.           — Tudo o que não é 100% verdade ainda é uma mentira porque você está ocultando informações. — ela imediatamente retrucou. Olhei para ela, perplexo por ela ter me superado a ponto de eu não ter nada a dizer. Ela estalou a língua contra a bochecha antes de falar novamente: — Eu não vim aqui para te provocar, Presidente Von Doren. Eu vim porque...          — Leon. — a interrompi.           — Desculpe? — Você não precisa ser formal comigo. Pode me chamar de Leon, doutora.           — Umm… — Ela hesitou um pouco, e percebi que minha ousadia a deixou confusa. Sinceramente, fiquei me perguntando por que eu estava permitindo que ela me chamasse pelo primeiro nome tão rápido, quando nem mesmo permitia que o Toby me chamasse pelo primeiro nome, e ele está comigo há quase quinze anos.           — Sobre o que você quer falar comigo? — me levantei da minha mesa para ir até o bar dentro do meu escritório. — Água?"           — Hã? — Me virei em sua confusão e notei que seu olhar instantaneamente foi para meus olhos. Arqueei minha sobrancelha para ela. Ela estava olhando para minha b***a agora?         — Eu perguntei se você quer água? — Repeti, tentando conter o sorriso que havia se formado em meus lábios. O rosto de Annika corou por um segundo antes que ela se recomponha em questão de segundos. Uma pessoa comum não teria percebido isso, mas eu percebi. Eu sabia que ela estava envergonhada porque foi pega olhando para meu corpo. Você pode olhar o quanto quiser, doutora. Instantaneamente, quis me dar um tapa por ter pensamentos tão obscenos, pois nunca sou assim. Claro, eu gosto de sexo e da companhia de uma mulher bonita como qualquer outro homem, mas querer que minha médica me examine era algo fora do meu padrão.           — Sim, eu aceito água. — respondeu Annika. Peguei duas garrafas da minibar e entreguei uma para ela enquanto me sentava. Enquanto eu a olhava novamente para entender o motivo de sua visita, suas bochechas repentinamente ficaram rosadas e achei esse lado tímido de Annika encantador.           — Doutora, por que você veio me ver? Você está aqui para ver se realmente tirei um tempo de folga do trabalho?           — Bem, não, mas agora que você mencionou, acho que podemos voltar à nossa conversa anterior sobre chefes não poderem tirar férias quando quiserem.           — Você está certa. Temos algo em comum porque, assim como você, eu não posso simplesmente sair. Caso contrário, minha empresa, assim como sua clínica, iria desmoronar. Eu posso ter muitos subordinados, mas só pode haver um dono, um presidente… — Me recostei, falando com ela da mesma maneira convencida que ela usou antes.           — Você está certo. Feliz?           — Muito.  — De volta ao motivo da minha visita. — ela reiterou e suspirou fundo. Seu conflito interno era visível por meio de seus olhos, e sua linguagem corporal passou para o nervosismo, embora ela estivesse se esforçando muito para não demonstrar.          — Doutora, está tudo bem? — Perguntei, já que o silêncio estava demorando.           — Erm, como posso dizer isso de forma que você não fique assustado e não pense que eu sou louca… — ela se interrompeu e mordeu o lábio inferior, me olhando por entre seus longos cílios naturais. Fiquei completamente desarmado por sua inocência e pela forma como ela me olhou enquanto mordia o lábio, e instantaneamente todo o sangue no meu cérebro estava se dirigindo para o sul. Que p***a? Por que eu estou ficando e******o apenas com esse gesto?           — Doutora, eu trabalho no ramo corporativo de imóveis. Já conheci muitas pessoas loucas em meus dias. Acredite em mim, você não é uma delas. Minha ex-esposa, agora, ela é uma delas.         — Na verdade, o motivo pelo qual estou aqui envolve a sua ex-esposa. --  ela admitiu rapidamente.          — Oh? — Isso é interessante. Será que...           — Senhor Von Doren, por favor, não leve isso como intromissão ou curiosidade, mas por que você se divorciou de sua esposa?           — Ex-esposa. E me divorciei dela por causa de infidelidade. — respondi sem hesitar. Eu sabia. Não havia dúvida em minha mente de que ela sabia que a amante de seu marido era a Sadie. Isso ficou muito claro para mim, por causa dos olhares que eles trocaram no consultório, cheios de desprezo e hostilidade. Eu estava certo em minhas suspeitas de que o Conselheiro Malloy tinha deixado o Jorge investigar a Sadie porque ele estava reunindo evidências para a Annika.           — Você... por acaso... sabe... há quanto... tempo... ela estava... hum... te traindo? — A tensão dela era visível enquanto ela tentava falar.           — Doutora, você não precisa ficar nervosa. Não tenho nada a esconder. Pelo que já posso deduzir, seu marido está te traindo e a amante dele é a Sadie, estou certo? — Mergulhei de cabeça e fui direto ao ponto.           — Como você...?           — Porque eu já sei quem você é, doutora, e sei tudo sobre você. Eu sei que seu sobrenome de solteira é Silverton e que você é filha dos Silverton de Rhode Island, e sei também que você é esposa atual do promotor público.           — Como... Por quê?          — De novo, eu não tenho nada a esconder, então vou falar a verdade. Sadie me traiu durante quase todo o nosso casamento. E sim, durante todo esse tempo, foi com o seu marido. Eu me divorciei dela três meses atrás e perdi ativos no valor de dezenas de milhões no tribunal porque ela jogou a culpa em mim enquanto adulterava as evidências de sua infidelidade. Tenho quase certeza de que isso foi obra do pai dela, e David Galloway não é uma pessoa simples. Me casei com a Sadie porque achei que ela seria uma esposa submissa, mas estava errado. Ela se casou comigo por dinheiro e poder, e quando não obteve isso, ela me traiu com seu marido. Eu já havia percebido sinais disso logo no início do casamento, mas estava esperando o momento certo para reunir as evidências de que precisava. Infelizmente, devido à interferência da família dela e ao fato de nosso contrato pré-nupcial ser inadequado, perdi muito dinheiro. Claro, recuperei as perdas em questão de dias. Nunca fico sem dinheiro, tenho confiança para dizer isso; no entanto, isso não significa que eu ache aceitável ser traído e enganado.         — Você disse que ... ela estava traindo ... por quase um ano? — Annika engasgou, e seus olhos imediatamente ficaram vidrados. A tristeza em seus olhos, a raiva em seu olhar e a maneira como seu corpo tremia pela traição mexeram com meus sentimentos. Huh? Sentimentos? Que história é essa de inversão de papéis?           — Sinto muito, mas é a verdade. Seu marido tem te traído há mais de um ano. — Eu disse sem rodeios. Pelo modo como ela estava encarando o topo da minha mesa, e pelo que Jorge já havia relatado, ela já estava ciente disso, mas parecia estar em negação. Acho que ouvir isso diretamente da outra parte envolvida não era exatamente o que ela queria. No entanto, não iria enrolar e mentir para essa pobre jovem. Ela já havia sido submetida a mentiras o suficiente. Ela piscou e a gravidade cuidou do resto enquanto lágrimas fluíam como cascatas de seus olhos. Ver a quantidade de dor que Annika estava sentindo mexeu com algo dentro de mim, e me deu vontade de dar um tiro naquele canalha do seu marido. O fato de ele ter roubado minha esposa não importava, mas como ele pôde fazer isso com sua própria esposa? Como sua família criou esse bastardo? — Doutora, tenho que perguntar, quais são as suas intenções para vir aqui?           — E ... eu … — Annika engoliu sua tristeza e fungou uma vez. — Se o que você diz é verdade, e meu marido tem me traído com a sua ex-esposa durante todo o nosso casamento, sem mencionar que ela levou o seu dinheiro enganando o sistema legal… —  ela fez uma pausa antes de continuar. — então que tal unirmos forças?"      — Desculpe, o que você disse? — A Annika acabou de propor que nós dois unamos forças? Olhei para suas mãos delicadas e não pude deixar de imaginar como elas seriam.          — Quero que trabalhemos juntos para derrubar Jeffrey Hollands e Sadie Galloway. Quero tirar tudo que amam e valorizam. Eles se amam e querem crescer juntos, então que tal fazermos com que eles caiam juntos também? — Annika declarou sua guerra com tanta ferocidade que era difícil acreditar que saiu da mesma boca que tinha dificuldade em formular uma pergunta coerente momentos atrás. Estudei seu rosto enquanto ela deslizava um pendrive em minha direção.           — O que é isso, doutora?          — Abra o arquivo e você verá. Isso nos beneficia a ambos, embora tenha certeza que você vai querer arrancar os olhos depois de assistir. — Suas palavras imediatamente despertaram meu interesse, então eu o conectei ao meu computador. Havia um único arquivo nele, e quando vi a data, olhei para ela chocado.           — Doutora, isso é ...           — Como eu disse, será vantajoso para nós dois. — Não precisava assisti-lo para saber que ela estava certa. A mera existência desse arquivo era definitivamente vantajosa para ambos.
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