Leon
Um minuto eu estava admirando o design do escritório; no minuto seguinte, senti um choque de um raio percorrer meu corpo, viajando por todos os meus nervos como eletricidade. O caos interno foi entregue por meio de mensagem de texto, e eu fiquei tão desorientado pelo que li que pensei que tinha que ser uma piada.
Jorge: Sr. Von Doren, atualmente estou seguindo a Sra. Galloway, e parece que ela está indo para o consultório médico. Esta é a segunda vez que ela vai este mês.
Eu: Com quem ela está? Para qual consultório ela está indo?
Jorge: Ela está sozinha e estava sozinha da primeira vez também. Ela está indo para o Land and Mall Health, o mesmo consultório que o Dr. Hollands e Malloy possuem.
Fiquei rígido como um cadáver experimentando rigor mortis quando li a resposta de Jorge. Sadie, a desgraça da minha existência, estava prestes a entrar aqui. Eu tinha que evitar esbarrar com ela a todo custo, então imaginei que gastar uns bons trinta minutos do tempo do médico seria suficiente para evitar uma colisão frontal com ela. Sadie era a última pessoa neste planeta maldito que eu queria ver. Mas por que ela estava vindo aqui, de todos os lugares? Ela estava aqui por causa da Annika? Ela sabia sobre a Annika? Uma batida repentina na porta me trouxe de volta à realidade, e a voz mais angelical que já ouvi me cumprimentou.
— Oi, Sr. Von Doren. — Eu já estava atordoado quando a porta se abriu em câmera lenta e a Annika entrou e me deu o sorriso mais inocente e acolhedor, lançando uma maldição mortal sobre mim e me jogando em território desconhecido. Como um sorriso pode fazer com que eu me desmorone dessa maneira? Me forcei a engolir o nó na minha garganta, questionando o que diabos estava acontecendo comigo. Eu não conhecia essa mulher, mas ela já estava começando a consumir toda a minha existência. — Como estamos hoje? — ela perguntou. Eu balancei a cabeça para afastar meus pensamentos.
— Bem, eu acho. — respondi. Bem, eu acho? Que tipo de resposta é essa!?
— Bem, eu discordo de você, Sr. Von Doren, pelo menos do ponto de vista médico. Suas leituras de pressão arterial me preocupam um pouco. Para alguém da sua idade e estatura, não há motivo para você estar pré-hipertensivo. É óbvio que você se exercita. Você se importa de me dizer o que faz da vida? — Annika perguntou, manobrando habilmente entre parecer severa e doce.
— Eu… — Eu pausei para considerar o que deveria contar a ela e se deveria ser honesto ou mentir novamente. — Eu trabalho por conta própria.
— Isso... não responde à minha pergunta. Eu trabalho por conta própria, mas sou médica. Eu perguntei o que você faz da vida, não para quem você trabalha. — ela contra-argumentou e levantou a sobrancelha. Foi fofo como ela fez isso.
— Eu sou um executivo da Paradox and Co. — Eu respondi. Não era mentira, mas ainda não era a verdade completa. Eu não ia dizer a ela que eu era dono da minha própria empresa, pelo menos não ainda. Embora eu estivesse um pouco desanimado que a Annika não soubesse quem eu era. Todo mundo na área tri-estadual sabia quem eu era ou geralmente me reconhecia pelo nome.
— Ah, bem, isso explica muito. Todos vocês executivos grandões estão sempre sob muito estresse, e seus níveis de estresse se correlacionam diretamente com sua pressão arterial elevada, dores de cabeça e insônia. Os níveis de cortisol aumentados resultantes do estresse prolongado podem levar a muitos problemas de saúde diferentes, mas o que você está experimentando são alguns dos mais comuns.
— Há algo que você pode fazer para ajudar?
— Bem, sempre tem a medicação, mas isso é geralmente para momentos desesperados que requerem medidas desesperadas. Tomar esse tipo de medicação pode causar mais problemas no futuro se for usado a longo prazo. Por que colocar um band-aid se você pode remediar a fonte?
— Então, o que você recomenda?
— Na minha opinião especializada… — Annika disse e se inclinou em minha direção, ficando tão perto que o cheiro de seu perfume me envolveu. Era tão doce e sedutor que minha boca ficou cheia de água, e um incêndio alarmante ardeu dentro do meu peito. O que ela estava usando? — … Você precisa de férias. — Ela me trouxe de volta à realidade com sua resposta sem entusiasmo.
— Me desculpe? Só isso, férias? Você está brincando comigo, certo?
— Sr. Von Doren, por favor, evite usar palavrões em meu consultório. Caso contrário, vou ter que te bater. — Eu olhei para ela e franzi a testa.
— Mas você acabou de…
— Eu sou a médica, então posso falar palavrões. Você é o paciente, e tem que fazer o que eu digo. — ela respondeu com um tom levemente esnobe, mas brincalhão. Annika piscou para mim, e esse gesto sozinho fez meu coração disparar. Com tudo que essa mulher estava passando por dentro, ela ainda fazia questão de deixar seus pacientes confortáveis. Você nunca saberia do tormento que ela está passando no momento.
— Então, férias? — perguntei novamente.
— Sim. — ela respondeu enquanto arrancava um pedaço de papel do bloco de anotações e me entregava. Eu olhei para baixo, e era uma receita com as palavras “RELAXE” escritas nela. Olhei para ela chocado. — O que?
— Isso é um pouco inapropriado, não acha, Dra. Hollands? — perguntei, levantando uma sobrancelha.
— Onde está sua cabeça!? — ela exclamou. Annika pegou o papel de volta e me mostrou o que estava escrito nele. Na parte inferior, estava escrito, “Vitamina D.” Eu franzi a testa. — É a única coisa que os homens pensam? — ela brincou de novo. — Leon, eu entendo que o trabalho é importante, mas tire um tempo para si mesmo. Saia, se divirta e se encontre com amigos. Você é jovem e ativo. Então, vá ser ativo. O trabalho pode esperar alguns dias. Duvido que a Paradox vá desmoronar sem você. — Se ela soubesse.
— E quanto a você, Dra. Hollands?
— E quanto a mim?
— Você tira férias? Tenho certeza de que, como médica, você também está muito ocupada. — eu disse. Ela ficou um pouco tensa e limpou a garganta, aparentemente surpresa com minha pergunta.
— Eu, bom ... Eu não precisei de uma.
— Não seja hipócrita, Dra. Você acabou de dizer que o trabalho pode esperar alguns dias. Duvido que esse consultório desmoronaria sem você. — eu zombei, a provocando de volta.
— Bem, infelizmente para você, você está errado. O Land and Mall é o meu consultório, então ele certamente desmoronaria sem mim. — ela respondeu e sorriu orgulhosamente.
— Ah, então você está me dizendo que é ok para os chefes ficarem estressados e trabalharem o dia todo sem diversão?
— Não foi isso que eu quis dizer, Sr. Von Doren. Por favor, não coloque palavras na minha boca. — Ela retrucou apontando o dedo para mim. Nesse momento, eu já estava de pé e ela estava cutucando meu peito. A diferença de altura entre nós era impressionante. — Meu Deus, como você é alto? — ela perguntou olhando para baixo para a prancheta em suas mãos.
— Tenho mais de 1,80m. — respondi.
— Ah, não me diga. — ela xingou novamente. Ergui as sobrancelhas para ela, e ela olhou de volta com desafio. Por alguma razão inexplicável, o olhar desafiador dela fez minhas palmas suarem, meu coração bater, e minha bengala se aproximar da minha calça social. O que essa mulher jovem estava fazendo comigo? O topo da cabeça dela m*l chegava ao meio do meu peito, e ela estava até usando salto, mas aquele desafio quase me fez render.
— Dra. Hollands, qual é sua altura? — perguntei sem nem perceber.
— Baixa. — foi a resposta seca dela.
— Ah, não me diga. — retruquei. Annika olhou para mim e eu sorri. — Você nunca respondeu minha pergunta, doutora.
— Qual pergunta?
— A pergunta sobre chefes e tirar férias. É ok para os chefes trabalharem o dia todo sem diversão?
— Não, mas isso não significa que um chefe pode tirar férias quando quiser. Chefes são chefes por um motivo. Eles têm que manter a ordem e a funcionalidade. Ao contrário de alguns cabeças de Wall Street que brincam o dia todo e não trabalham um dia em suas vidas porque acham que podem, é exatamente por isso que este país está em ruínas. Políticos que sentam atrás de uma mesa sem saber como o mundo funciona são a razão pela qual nosso país está falhando. Trilhões de dólares em dívida sem nada para mostrar por isso. Guerra, fome, doença e desastre por todo lado porque colocamos nossa fé em um bando de imbecis vestidos de terno que esquecem o que é ser um ser humano real no momento em que tomam posse. — Seu desabafo foi muito calculado, e você conseguia ouvir o desprezo óbvio em seu tom. Embora eu fiquei chocado que ela diria tudo isso abertamente para alguém que estava realmente usando um terno.
— Vou fingir que não acabei de ouvir você dizer tudo isso.
— Por quê? Eu disse isso especificamente por sua causa. — ela retrucou sem se importar.
— Me desculpe? — Fiquei sem palavras com sua franqueza. Essa mulher não tem um filtro na boca dela?
— Sr. Von Doren, eu fui criada para dizer o que está na minha mente, independentemente dos sentimentos de outras pessoas. Posso ser médica, mas ser médica também significa ser uma pessoa honesta. Não posso mentir para meus pacientes para poupar seus sentimentos, posso? Mentir causaria tragédia no meu trabalho. Não sou insensível, se é isso que você está pensando. Eu apenas não posso me dar ao luxo de ser gentil e passar a mão na cabeça de todos, diferente de outros no mundo. — ela respondeu me olhando de cima a baixo. Se eu não soubesse que ela estava me avaliando por ser um empresário, poderia pensar que suas ações eram de paquera. — É triste, mas é verdade. Então, como eu disse, não tenho o luxo de tirar folga para uma viagem no momento. Tenho muitas coisas para lidar, e não é apenas como esse consultório é administrado. Eu tenho outros pacientes para cuidar, então, se você puder, por favor? — Ela continuou, abrindo a porta e fazendo um gesto para que eu saísse. Peguei meu paletó na cadeira da sala de exame e voltei para a recepção. — Como eu disse, recomendo tirar um tempo e tentar controlar seu nível de estresse de forma natural. Se você conseguir fazer isso, a intervenção medicamentosa não será necessária para níveis normais de pressão arterial e sono adequado. Administre seu estresse para melhorar sua pressão arterial, e você ficará saudável como uma cebola. Gostaria de vê-lo de volta daqui a um mês para verificar seu progresso. — ela concluiu e saiu sem olhar para trás. Fiquei observando enquanto Annika caminhava apressadamente pelo corredor em direção a outra sala, com uma nova prancheta em suas mãos antes da porta se fechar.
— Sr. Von Doren? — olhei para baixo para a recepcionista. — A Dra. Hollands gostaria que você marcasse um acompanhamento em cerca de um mês. Quais dias são melhores para você? — Eu dei minha resposta e imediatamente recebi um horário e um cartão de lembrete. Vasculhei o saguão em busca de Toby para que pudéssemos voltar para o escritório, ainda otimista de que eu não teria que sofrer o desprazer de esbarrar na Sadie. Infelizmente, a sorte não estava ao meu lado.
— Leon? — Ouvi aquela voz irritante e parei meus passos.Eu cerrei os dentes e amaldiçoei todas as divindades do universo por permitirem que nossos caminhos se cruzassem. — Leon, o que você está fazendo aqui? — ela perguntou, com voz cheia de desdém.
— O Sr. Von Doren tinha consulta médica. — Toby respondeu em meu nome, sabendo muito bem que eu não queria conversar com essa v***a traiçoeira.
— Eu não estava falando com você, Timmy!
— É Toby, Srta. Galloway. Embora você nunca tenha acertado. — Toby murmurou com total desdém. Ele raramente se manifestava, mas mesmo um homem estoico como Toby tinha zero paciência para Sadie.
— O que você acabou de dizer!? — Ela gritou, chamando a atenção de todos no saguão. Deus, vejo que suas façanhas ainda são de causar cenas.
—Você é jovem, Srta. Galloway. Tenho certeza de que ouviu o que eu disse. — Toby respondeu sem hesitação.
— Chega, Toby. Vá preparar o carro. — eu disse, o interrompendo antes que a cena ficasse ainda mais ridícula. Toby tinha quase a paciência de um santo, mas nunca com Sadie, e eu sinceramente não o culpava. Não tinha certeza de como consegui suportá-la por tanto tempo. O que diabos eu estava pensando naquela época? Como perdi um ano de casamento com ela?
— Eu te fiz uma pergunta, Leon! O que você está fazendo aqui!? Está me seguindo?! — ela gritou, causando ainda mais tumulto.
— Você poderia abaixar a voz? Tenho coisas mais importantes para fazer do que te seguir, Sadie. Eu tinha uma consulta médica. — respondi.
— Você odeia médicos! Não minta para mim. Ah, parece que você ainda não superou o fato de eu ter te deixado. Mas, novamente, você é um traidor, então por que diabos eu ficaria com você? — Sadie continuou, espalhando suas mentiras para todos ouvirem enquanto continuava sua exibição insuportável de hipocrisia.
— Sadie, estou te avisando… — Eu rangi os dentes.
— Você está me ameaçando!? Isso é tudo o que você faz! Ameaças atrás de ameaças! E você se pergunta por que eu não queria continuar casada com você! — ela insistiu e continuou gritando. As pessoas me olhavam de cima a baixo e me lançavam olhares de reprovação. É claro que acreditariam em uma jovem que estava se fazendo de donzela em perigo. — Estou te avisando, Leon! Pare de me seguir! Não hesitarei em chamar a polícia!
— Talvez seja você quem deveria ter a polícia acionada. — uma voz melodiosa ecoou, em contraste marcante com o incômodo mosquito em minha frente. Olhei além de Sadie em direção à porta que levava às salas de exame; Annika e outro médico estavam parados na entrada.
— Com licença, mas isso não tem nada a ver com você! — Sadie cuspiu com desprezo para Annika. — Cuide da sua vida!
— Isto é da minha conta. — Annika disse com absoluta autoridade. — Este é um centro de atendimento médico para pessoas doentes, e não permitirei que suas explosões infantis causem desconforto e angústia aos meus pacientes. Se sua consulta já terminou, por favor, saia das instalações antes que eu chame segurança.
— Você... Ah, Dra. Malloy, eu sou sua paciente! — Sadie gritou para a mulher ao lado de Annika.
— Você pode ser minha paciente, Srta. Galloway, mas isso não lhe dá o direito de desrespeitar outros pacientes desta clínica. Sua consulta acabou. Por favor, saia imediatamente. — alertou a Dra. Malloy sem perder o ritmo. Sadie lançou olhares de fúria para ambos, mas o olhar que dirigiu a Annika foi ainda mais presumido. Parecia até que ela conhecia Annika. Além disso, o olhar impassível de Annika de volta para Sadie também sugeriu que ela sabia quem ela era. c*****o.
— Srta. Galloway, este é o seu único aviso. Não permitirei que seu comportamento perturbador prejudique o atendimento de outros pacientes. Se isso acontecer novamente, vou dispensá-la como paciente, e você terá que procurar cuidados médicos em outro lugar. — declarou Annika, impondo sua autoridade. Essa faceta de Annika era bastante atraente. Eu me pergunto se essa faceta dela era de sua origem como Silverton?
— Você não pode fazer isso! — Sadie exclamou, sua postura arrogante finalmente mostrando rachaduras.
— Na verdade, posso. Legalmente, tenho o direito de interromper o atendimento a quem eu considerar adequado. Esta é minha clínica, o que torna isso meu negócio. E, como qualquer estabelecimento comercial, tenho o direito de recusar o serviço a quem eu considerar necessário. Você recebeu seu aviso oficial, Srta. Galloway. Saia agora. — Sadie resmungou algumas coisas entre dentes, mas acabou saindo. Todos respiraram aliviados, mas alguns ainda me lançavam olhares de desprezo.
— Sr. Von Doren, você está bem? — Annika me perguntou, colocando gentilmente a mão em meu antebraço.
— Estou bem. — respondi.
— Alguma coisa me diz que vocês dois se conhecem de forma mais íntima do que o que aparenta superficialmente.
— Você está certa sobre isso, doutora. — eu respondi e pausei por um segundo. Suponho que não havia motivo para negar isso na frente dela, já que ela testemunhou tudo. — Sadie Galloway é minha ex-mulher.