Capítulo 6

2569 Words
Leon           Eu estava dentro do meu escritório, completamente imerso na papelada de algumas propriedades comerciais e empreendimentos recém-adquiridos, e era difícil ignorar a tensão no ar, mesmo estando sozinho. Eu não conseguia entender, mas parecia similar à calma antes da tempestade. Além do zumbido do purificador de ar e do ocasional amassar de papéis, havia silêncio enquanto eu voltava ao trabalho, mas ele foi interrompido repentinamente pelo meu celular tocando. Sem nem mesmo checar para ver quem estava ligando, eu atendi.           — Alô?          — Sr. Von Doren?           — Sou eu.         — Senhor, é o Jorge.           — Eu sei. O que você quer? Estou muito ocupado no momento, então seja rápido, ou eu vou desligar.           — Senhor, eu descobri a identidade da jovem mulher que o senhor me pediu para investigar. — Ele respondeu com o que parecia ser um toque de hesitação em sua voz. Eu coloquei isso de lado por enquanto, já que ouvir que ele já tinha informações despertou meu interesse.           — O que você descobriu?          — Bastante coisa. O nome dela é Dra. Annika Hollands, e ela—           — Você disse Hollands?! — Eu exclamei enquanto levantava a cabeça do papel no qual eu estava olhando.           — Um, sim, senhor. Eu disse, e achei que isso por si só iria chamar sua total atenção. — Alguma relação com o promotor Hollands?          — Ela é a esposa dele, senhor.           — ESPOSA DELE?! — Eu rosnei em descrença.           — Sim. Parece que o promotor Hollands não teve só um caso com a Sra. Galloway enquanto ela estava casada com o senhor, mas ele também estava traindo o próprio casamento. — Eu não consegui segurar o bufar de nojo que escapou dos meus lábios. Agora fazia sentido por que Annika estava tão chateada quando fui ver a Conselheira Malloy outro dia, e também fazia sentido por que a Conselheira também contratou Jorge para espionar Sadie. Tudo estava se encaixando, e eu estava ansioso para saber mais sobre Annika por causa disso.            — Há quanto tempo eles estão casados? — Eu perguntei.            — Sete anos, mas eles estão juntos desde o primeiro ano do Ensino Médio. Eles são verdadeiros namorados da escola, mas parece que só a Dra. Hollands está mantendo suas promessas. De acordo com minhas pesquisas e uns boatos que ouvi, o promotor Hollands não tem ficado com a esposa há mais de um ano, mas ela só descobriu recentemente suas traições conjugais.           — Recentemente, você quer dizer…?          — Menos de um mês.           — Ela é tão ingênua assim?”          — Não, senhor. Ela é muito confiante, e ele é um mentiroso e manipulador mestre. Ele é o promotor por um motivo. Embora eu tenha certeza que qualquer confiança foi jogada pela janela nesse ponto, considerando o que eu ouvi ela dizendo para uma colega.           — Alguma outra coisa? E quanto ao histórico dela? Você mencionou que ela é uma médica? Ela parece jovem.          — Jovem mesmo. Ela tem a mesma idade que o promotor Hollands, 26 anos. Ela trabalha na medicina familiar e é dona da clínica que ela divide com sua colega. Pelo que eu sei, elas são ex-colegas de quarto da faculdade e permaneceram boas amigas, e estavam juntas quando eu estava fazendo a vigilância. Curiosamente, essa colega, ela também é esposa da Conselheira Malloy, então todas parecem se conhecer intimamente. A boa doutora se formou Summa c*m Laude no Ensino Médio e na faculdade e obteve seu Ph.D. e licença médica em três anos. O nome de solteira dela é Silverton. — Houve uma pausa longa enquanto suas palavras afundavam.            — Espera, você disse Silverton?         — Sim, senhor.           — Como na família Silverton de Rhode Island, a poderosa família que possui todos os negócios de construção na parte Nordeste desse país?            — Isso mesmo, Sr. Von Doren. Eu também fiquei muito surpreso quando descobri isso. A Dra. Hollands vem de uma família muito rica, enquanto o promotor Hollands não vem. A família dela não aprovava o casamento deles porque sentiu que ele não era bom o suficiente para ela e que ele estava se aproveitando de suas origens ricas.            — Isso era verdade?            — Não. Registros mostram que a Dra. Hollands foi para um internato quando estava no ensino fundamental e médio no exterior, mas escolheu frequentar uma escola pública de volta aos Estados Unidos para o ensino médio. Foi lá que ela conheceu Jeffrey Hollands. Minha compreensão é de que ele não faz ideia de quem ela realmente é. Ela escondeu sua origem familiar, ou melhor, sua avó fez isso quando descobriu que a Dra. Hollands estava namorando. Eu acredito que essa era uma tática para provar se o Sr. Hollands realmente se apaixonou por ela quando eles eram adolescentes. Os registros também indicam que sua avó e tia a criaram enquanto seus pais assistiam a tudo de longe. Ela foi contra a vontade deles para se casar com o promotor. Eles tiveram um casamento pequeno porque ambos tinham apenas 19 anos na época, e a Dra. Hollands assegurou à sua família que ela seria feliz pelo resto de sua vida.            — Então, o promotor não tem ideia de que ele tem sido casado com uma herdeira bilionária?            — Não tem a menor ideia. —  Jorge respondeu, e eu detectei uma mistura de entusiasmo e zombaria em sua voz. — Além disso, enquanto ouvia uma conversa entre as duas doutoras, parece que a Sra. Malloy também vem de uma família rica, embora não tão rica quanto os Silvertons. Por último, o apartamento onde eu flagrei a Sra. Galloway saindo durante minha investigação sobre seus casos no ano passado? Sim, esse é na verdade da Dra. Hollands e não do promotor Hollands.            — O nome dela está na escritura? — Bom, tecnicamente está no nome dos Silvertons. O pai dela comprou como presente de formatura da faculdade de medicina dela . O promotor Hollands assume que ela comprou com o dinheiro que ganhou no primeiro ano de trabalho na clínica.           — Que i*****l. Ele não percebe que um apartamento daqueles vale mais de vinte milhões de dólares? Um médico familiar recém-formado não pode ganhar esse tipo de dinheiro em um ano — Alguém poderia pensar que ele teria mais bom senso como promotor público. Posso acrescentar, senhor? A Sra. Galloway nem chega aos pés do Dr. Hollands em aparência, educação e riqueza. — Por alguma razão estranha, ouvir Jorge comentar sobre a aparência de Annika me irritou um pouco, mas não dei atenção.    — Você está completamente certo sobre isso, Jorge. Obrigado pelo seu trabalho árduo. Enviarei seu p*******o assim que desligarmos.          — Sem pressa, Sr. Von Doren. Enviarei minhas descobertas e onde você poderá encontrar a Dra. Hollands.           Assim que a ligação foi encerrada, eu imediatamente recebi um e-mail do Jorge contendo suas descobertas sobre Annika, junto com algumas fotos sem cerimônia que ele tirou dela. A maioria delas era dela em uma cafeteria local, acompanhada de outra jovem mulher com cabelos loiros-morangos longos. Essa deve ser sua colega médica e amiga. O que me pegou de surpresa foi como ambas eram tão sem graça. Para alguém como Annika, que vem de uma família rica como a dela, se poderia esperar que ela se vestisse de forma mais elegante. Eu acho que se ela ainda quisesse manter as aparências, fazia mais sentido que ela se vestisse de forma comum.           Mas mesmo em roupas cotidianas, ela ainda me parecia alguém bonita e exótica. Sem perceber, me peguei traçando o contorno do rosto dela com a ponta do meu dedo.  — Realmente linda. — Murmurei para mim mesmo. Continuei lendo o relatório do Jorge enquanto me sentia insultado por Sadie e Hollands terem transado pelas minhas costas e pelas costas de Annika, e uma ideia maluca que continuava passando pela minha cabeça — ela e eu poderíamos trabalhar juntos para nos vingar deles. Depois de olhar para as imagens do vídeo de vigilância quando a vi pela primeira vez, era claro como água que não só ela estava machucada, mas também estava com raiva. Raiva e vingança podiam ser uma combinação muito mortal, mas bem-sucedida.           — Minha cara Dra. Hollands, ou eu deveria dizer Dra. Silverton agora, talvez você e eu possamos ser úteis um para o outro. — eu disse em voz alta. Olhei para a pilha de arquivos que precisavam da minha atenção, mas achei que poderia esperar mais alguns dias, já que nenhum deles eram prioridades importantes. Chamei minha assistente. — Diamond, por favor, venha aqui. — Sim, senhor? — Ela perguntou, chegando quase instantaneamente.           — Cancele minha agenda pelo resto de hoje e amanhã. Tenho assuntos urgentes para cuidar e não quero ser perturbado. Se algo precisar da minha assinatura, coloque na minha pilha e espere meu retorno.          — Sim, Sr. Von Doren.          — Diga para o Toby preparar o carro.           — Sim, senhor. Tenha um ótimo dia. Vejo o senhor em alguns dias. — Ela abaixou a cabeça com um movimento fluido e saiu.           Eu saí do meu computador, tranquei a porta do meu escritório e desci no meu elevador privativo onde meu motorista, Toby, estava esperando, e percebi que ainda não conseguia tirar o rosto de Annika da minha cabeça. Apesar das fotos de Jorge serem a distância e em momentos íntimos, eu não podia negar que ela era atraente e muito fotogênica. E esse tempo todo, eu achei que Sadie era linda. Azar dela, porque sua personalidade de merda e seus caminhos promíscuos agora a tornavam repugnante aos meus olhos. Jorge estava certo; Sadie não chega nem perto de Annika.           O elevador chegou ao nível subterrâneo e, como sempre, Toby já estava pronto com a porta aberta para mim. Eu dei um aceno e me sentei no banco de trás. Assim que ele fechou a porta, ele correu para o banco do motorista.           — Senhor, para onde vamos? — Land and Mall Health — eu respondi. O nome do consultório médico era composto pelos sobrenomes de Annika e seu parceiro. Era original e único. Durante todo o trajeto, examinei minuciosamente tudo o que Jorge me enviou, tentando ao máximo não olhar para as fotos de Annika. Eu nem conhecia essa mulher, mas, com a situação em que ela se encontrava e sua beleza, não pude deixar de ficar cativado por ela. Ela e eu estávamos no mesmo barco; só não percebíamos isso. Quando eu estava lutando com Sadie no tribunal no ano passado, Annika estava cega à traição daquele marido advogado desprezível dela. — Senhor, chegamos. — Olhei pela janela e a placa do consultório médico estava bem na minha frente. Toby deu a volta e abriu a porta, e eu saí, ajeitei o paletó e entrei. Assim que abri a porta, fui recebido pela recepcionista. — Boa tarde. Bem-vindo ao Land and Mall Health. Você tem um horário marcado hoje? — Ela perguntou de maneira organizada. — Hum, não. Eu não tenho. — Ah, bem, tudo bem. Aceitamos atendimentos sem agendamento. Qual o motivo da sua visita? — Ela perguntou. Eu tive que pensar rápido e soltei os seguintes problemas. — Não tenho me sentido bem nos últimos dias. Tenho tido fortes dores de cabeça e falta de sono. Está afetando meu trabalho. — Menti descaradamente. — Sinto muito por ouvir isso. Você já esteve aqui antes? — Balancei a cabeça. — Sem problema, senhor. Por favor, preencha estes novos formulários de pacientes, e eu vou encaixá-lo para ver o Dr. Malloy.           — Na verdade, eu estava esperando para ver a Dra. Hollands porque um amigo me recomendou. — respondi rapidamente.           — Ah, me deixe ver se ela tem um horário hoje. Ela está bastante ocupada. — Eu balancei a cabeça. Ela fez alguns cliques no mouse e digitações no teclado.  — Bem, o senhor está com sorte. A Dra. Hollands teve um cancelamento de última hora e tem um horário daqui a uns quarenta minutos. Está tudo bem?          — Sim, está bem. Posso ficar aqui na sala de espera? — Perguntei e pisquei para ela. Ela corou imediatamente e balançou a cabeça sem responder. — Obrigado, querida. — Peguei a prancheta com os documentos e franzi a testa ao ver o quanto eu precisava preencher. Nunca entendi por que os consultórios médicos exigem tantas informações das pessoas. Como eu tinha meu próprio médico de plantão, nunca precisei preencher um desses.           — Senhor, precisa de ajuda? — Toby me perguntou do lado. Balancei a cabeça, e ele se aproximou para pegar os documentos de mim. Toby está comigo há mais de dez anos e me conhece melhor do que eu mesmo, então algo assim seria moleza para ele. Quinze minutos depois, Toby terminou, e eu só precisava fazer as iniciais e assinar algumas páginas. Parecia que eu estava no escritório novamente. Assim que assinei tudo, levei a prancheta de volta para a recepcionista.           — Obrigada, Sr. ... Von Doren. Precisarei da sua identidade e qualquer seguro que possa ter. — Eu dei a ela o que ela precisava e observei enquanto ela os escaneava no computador. — Aqui estão, são seus. Se puder, por favor, tome assento, você será chamado em breve. — Virei de costas e sentei novamente. Vinte minutos se passaram de forma agonizantemente lenta, mas a porta se abriu, e meu nome foi chamado.           — Leon? — Eu me levantei e pedi para Toby ficar na sala de espera por mim. — Me siga, Leon. Vamos descer o corredor à direita, e vou medir sua altura e peso. — Obedientemente, segui a enfermeira. — Por favor, tire seu paletó e seus sapatos antes de subir na balança. — Fiz como ela pediu. — Ok, 246,9. Agora, fique aqui com as costas contra a parede com os calcanhares a cerca de um centímetro dela. Fique em linha reta e olhe em frente para mim, por favor. —  Assisti enquanto ela subia em um banquinho e sorri com isso, já que a cena era bastante cômica. — Por que os homens têm que ser tão altos o tempo todo? — ela reclamou ao medir minha altura. — Droga, 2,04 metros. Você é gigante!           — Obrigado. — Eu respondi e sorri.           — Ok, agora, por favor, arregace a manga do seu braço até o antebraço. Vamos medir sua pressão arterial e sua temperatura agora. — Fiz como ela disse, e ela colocou um manguito no meu pulso e um termômetro na minha boca. Esperei pelo bip para indicar que meus resultados estavam prontos. — Meu Deus. Para alguém tão em forma, sua pressão arterial está muito alta. É 156 por 99           — Isso não é normal? — perguntei.           — Não, senhor. Não é, então o médico vai querer discutir isso com você. Por favor, venha comigo. — Coloquei meus sapatos e peguei meu paletó enquanto a seguia até uma sala. — A Dra. Hollands ainda está com outro paciente. Ela deve entrar em breve.           — Obrigado. — Ela sorriu antes de fechar a porta atrás dela. Me sentei em uma das duas cadeiras na sala e olhei ao redor. Não pude deixar de admirar como o consultório estava bem construído para uma clínica familiar. Os quartos eram espaçosos e o design de interiores era impecável. Parece que os bons médicos não pouparam despesas quando se tratava deste lugar.           Enquanto eu estava sentado e esperando por Annika, meu telefone recebeu uma notificação de mensagem. O tirei e li a mensagem, e era a última coisa que eu esperava.
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