Um brinde à punição

Capítulo 4

Annika         

Após a nossa primeira consulta ter terminado, uma brisa fresca passou por mim quando saí do prédio em direção ao escritório jurídico de Hunter, fazendo um arrepio percorrer a minha espinha. Respirei fundo antes de me transformar em modo médica e seguir para o consultório. Me sentia horrível deixando a Kenzie sozinha para cuidar dos pacientes em uma segunda-feira, mas o tempo era essencial para alguém na minha situação. Se eu ia me vingar do Jeff e daquela amante loira dele, só fazia sentido que eu precisasse conversar com o Hunter antes para planejar o nosso próximo passo.         

A verdade seja dita, o Hunter estava em cima de tudo e preparou o terreno para o que viria a seguir. Uma sensação de alívio me invadiu enquanto repassávamos os detalhes, mas meu alívio logo se transformou em desespero quanto mais nossa discussão continuava. Mesmo com toda a raiva que eu sentia pelo meu marido sem valor, a dor da traição dele era demais, e eu desmoronei dentro do escritório do Hunter. Passei a segunda metade da nossa consulta chorando, soluçando, questionando onde eu tinha errado no meu casamento para merecer a infidelidade do Jeff. Hunter, é claro, fez o possível para me consolar e me disse que eu não fiz nada de errado, mas não parecia ser assim. Onze anos da minha vida desperdiçados com um bastardo traidor.         

Já era r**m o suficiente descobrir que o Jeff estava me traindo há sei lá quantos anos nesse ponto, mas o fato dele estar tentando se esgueirar e ganhar tudo só para dar para a amante dele me deixou tão enfurecida que eu queria jogá-los pela janela do seu escritório no vigésimo andar. Felizmente para eles, eu estava com muito medo de ser pega e ir para a prisão por assassinato, então não agi impulsivamente.         

Abri a porta do meu consultório na clínica e rapidamente vesti o jaleco branco antes de colocar o estetoscópio no bolso. Conforme aliviava a Kenzie para almoçar, eu sabia que ela iria perguntar como havia sido com o Hunter, mas eu apenas balancei a cabeça, indicando que não queria falar sobre isso agora. A pobre Kenzie ficaria no escuro até que eu lhe contasse alguma coisa, já que Hunter não estava autorizado a dizer nada a ela.         

Tudo seguia como de costume enquanto o dia se arrastava, e vi cerca de dez pacientes, desde garganta inflamada até hérnia de disco recorrente causada por uma queda horrível. Até mesmo apareceu alguém com sepse, o que me fez ligar para uma ambulância para transferi-lo para uma sala de emergência equipada para lidar com uma condição tão grave. Enquanto o paciente era escoltado para fora em uma maca pelos paramédicos, eu me virei para a recepção para ver se havia algum paciente esperando, já que minha enfermeira teve que sair mais cedo hoje.         

— Sr. Galloway? — chamei. Um senhor mais velho de aparência gentil, na casa dos sessenta anos, e uma mulher o acompanhou, mais ou menos da mesma idade, levantaram e sorriram para mim. 

— Boa tarde. Meu nome é Dra. Hollands. Por favor, me acompanhem. — Os cumprimentei e sorri de volta. Os levei para o canto de triagem, onde tirei a altura e o peso dele. Assim que anotei esses números, o levei para uma sala de exame e colhi o restante dos sinais vitais.         

— Você parece muito jovem para ser médica. — A mulher falou primeiro.         

— Vou levar isso como um elogio, Sra. Galloway. — respondi enquanto verificava a pressão arterial do marido dela. — Ok, 156 por 98, não é tão r**m considerando a sua idade e estatura, mas ainda é mais alto do que eu gostaria. O senhor tem histórico de pressão alta, Sr. Galloway?        

— Ah, ela vai e volta, mas ultimamente, a vida tem sido mais difícil por causa da minha filha. Essa garota vai me levar para a cova mais cedo, pode anotar. — ele disse com uma risada.         

— Adolescente? — perguntei com um olhar de dúvida.         

— Você pensaria isso, considerando a imaturidade dela, mas não. Nossa filha está nos seus vinte e poucos. — Respondeu a esposa, revirando os olhos, e eu não pude deixar de sorrir com a brincadeira dela. — Você tem filhos? — ela perguntou inocentemente. Fiquei em silêncio por um minuto, pois era um assunto delicado, mas sorri e balancei a cabeça.         

— Não, mas talvez algum dia. — respondi. — Então, o que o traz aqui hoje? — perguntei, mudando rapidamente de assunto.         

— Estou tossindo bastante há cerca de uma semana, e não parece estar melhorando. — ele respondeu.         

— Ok, vamos ouvir seus pulmões. Sr. Galloway, sente-se reto para mim, e quero que você inspire profundamente pelo nariz e expire pela boca. — instruí enquanto colocava o estetoscópio em suas costas e peito. Após algumas respirações, registrei minhas descobertas na seção de exame físico do prontuário no computador. Continuei minha avaliação examinando sua garganta, o interior do nariz e dos ouvidos, e massageando os gânglios linfáticos ao redor de sua garganta para verificar o inchaço. Assim que ele foi completamente examinado, terminei de inserir as informações e me virei para ele com um sorriso.         

— Bem, Sr. Galloway, parece que você está sofrendo de uma boa e velha alergia sazonal.         

— O quê? Só isso? — ele exclamou com desânimo.         

— Viu só? Eu te disse! — comentou sua esposa. — Eu te disse, querido, você é teimoso demais para morrer, quanto mais por causa de uma tosse.       

— Bem, de qualquer forma, estou feliz que você tenha vindo. Pode ser apenas uma tosse simples agora, mas às vezes, a tosse pode se manifestar em algo mais extremo. É sempre melhor prevenir do que remediar. Eu recomendo fortemente tomar um anti-histamínico de venda livre, como Claritin-D ou Zyrtec-D, uma vez ao dia por duas semanas. Também vou receitar Prednisona, um esteroide para ajudar com o inchaço em sua garganta. Siga as instruções do esteroide à risca, Sr. Galloway.        

— Obrigado, Dra. Hollands. —  Ele me agradeceu e apertou minha mão. Os acompanhei de volta à recepção e disse que ligassem se precisassem de algo ou se os sintomas piorassem. Ao retornar pelo corredor, algo chamou minha atenção, e olhei pela janela antes de inclinar a cabeça e dar mais uma olhada.         

— Doutora, está tudo bem? — perguntou a recepcionista.         

— Sim, está tudo bem. — a tranquilizei com um gesto e voltei para o meu consultório. Inclinei a cabeça novamente depois de fechar a porta. Eu poderia jurar que vi um pequeno flash de luz vindo do estacionamento do outro lado da rua. Deve ter sido reflexo da lente de alguma janela, raciocinei internamente antes de voltar minha atenção para o computador para terminar os prontuários e papéis pendentes, já que não tinha mais pacientes pelo resto do dia.

Sadie       

Estava nas nuvens enquanto estava em casa no meu quarto, olhando para a minha mais recente ultrassonografia com corações nos olhos. m*l podia esperar para contar ao Jeff que estávamos esperando um bebê. Eu estava convencida de que assim que ele ouvisse a notícia, não só ficaria tão feliz quanto eu, mas também aceleraria as coisas quando se tratasse de se divorciar daquela v***a morena que ele chamava de esposa.         

— Ai, já estamos com seis semanas! Não consigo acreditar. — segurei a ultrassonografia contra o peito e gritei de alegria. Nunca quis ter filhos até conhecer o Jeff, e com certeza não queria ter filhos com aquela desculpa de marido que eu tinha, o Leon. A única coisa que ele servia era para dinheiro e sexo ocasional. Eu não tinha ideia de como fazer amor quando estava com o Leon, já que tudo o que ele queria era me f***r. Não o Jeff, no entanto; o Jeff sabia como adorar meu corpo e era um especialista em me fazer gozar tão forte e durar os meus orgasmos.         

— Sadie! Você está em casa!? — a voz da minha mãe me tirou dos meus pensamentos luxuriosos. Escondi rapidamente a ultrassonografia e agi o mais casual possível. Não podia deixá-los descobrir que estava grávida, pelo menos não agora. Eles ficariam furiosos se descobrissem que eu estava saindo com um homem casado, ainda por cima tendo um bebê com ele. Se descobrissem, provaria que tudo o que o Leon disse sobre mim era verdade, e isso eu não podia permitir. Quer dizer, meus pais sabiam do meu caso; eles só não sabiam quem era a outra pessoa. 

— Ah, aqui está você. — minha mãe disse, entrando no meu quarto.         

— Oi, mamãe. Como foi a consulta do papai com o médico? — Perguntei docemente.         

— Alergias. Seu pai só está sofrendo de alergias sazonais. — minha mãe retrucou e revirou os olhos.         

— Nossa, papai é tão bobo!      

— Isso mesmo. — ela disse e se sentou na minha cama. — O que você tem feito o dia todo?         

— Só relaxando. Papai me disse para parar de sair muito cedo depois do meu divórcio com o Leon. Disse que seria r**m aparecer na imprensa me divertindo por aí. — respondi, revirando os olhos desta vez.         

— Ele está certo, querida. Não podemos dar à imprensa qualquer dúvida sobre a sua inocência. Mesmo que você seja a que traiu, o público não pode descobrir, e isso arruinaria a sua imagem junto com a do seu pai, já que ele foi quem pagou para que todas as evidências dos seus casos fossem jogadas para fora. — minha mãe insistiu, passando a mão no meu cabelo.         

— Ah, isso é tão e******o! Eu estou na casa dos vinte, mãe! Eu deveria estar lá fora festejando, me divertindo, vivendo a minha vida e conhecendo alguém novo! —, reclamei para ela. Nem um dos meus pais tinha ideia de que eu estava em um relacionamento com o Jeff no momento.         

— Tudo a seu tempo, minha querida. Tudo a seu tempo. Depois que as coisas se acalmarem e soubermos que o Leon não está mais tentando se vingar, você poderá sair por aí e florescer como você deve. Você finalmente poderá trazer para casa um belo e jovem rapaz, e não algum velho azarado. — ela disse, se referindo ao Leon. Minha mãe nunca gostou dele por causa da diferença de idade, mas ele tinha dinheiro, e era por isso que ela lidava com o nosso casamento como uma profissional. Tenho que admitir que a ideia de virar o jogo contra ele, o fazendo parecer o traidor, foi ideia da minha mãe, e isso foi muito inteligente da parte dela.         

— Tudo bem. — Respondi, cruzando os braços.         

— Isso, minha boa menina. — ela disse e beijou minha testa antes de sair. Assim que a porta do meu quarto se fechou, peguei novamente a foto da ultrassonografia e sorri.         

— Não se preocupe, meu pequeno pinguinho. Papai estará conosco muito em breve, e vamos viver felizes para sempre. —  disse suavemente enquanto acariciava minha barriga. Guardei a foto e peguei meu telefone que estava carregando para mandar uma mensagem para o Jeff.         

Eu: Oi, amor~          

Meu<3: Ei, coisa sexy. O que você está fazendo?          

Eu: Nada. Só em casa, morrendo de tédio. Meu pai me fez ficar na reserva.          

Meu<3: Ele é um homem sábio. Não podemos deixar as pessoas descobrirem que estamos juntos. Pelo menos por enquanto. A Annika já está ficando desconfiada e até me expulsou do quarto para o quarto de hóspedes.          

Eu: Deixa ela de vez. Não precisamos do apartamento!          

Meu<3: Por mais que eu adoraria deixá-la na mão, querida, eu não posso. Eu posso ser o promotor, mas ela é médica com uma ótima reputação. Se divorciar dela do nada seria extremamente r**m para nós. Preciso do apartamento, apenas caso as coisas não saiam como planejado.          

Eu: Argh! Isso é tão e******o! Eu quero que a gente se case logo!          

Meu<3: Eu sei, querida. Nada me faria mais feliz do que me casar com você e passar o resto da minha vida ao seu lado, mas temos que ser inteligentes em relação a isso.</3 Eu te amo, baby, você sabe disso. Eu te amo com cada fibra do meu ser. Seja paciente.          

Meu<3: Tenho uma reunião com um cliente, então tenho que ir. Te vejo em breve, minha garota.          

Eu: Eu também te amo.          

Fiz beicinho e joguei meu telefone no final da cama, com raiva. Paciência é uma coisa que eu não tinha, mas se eu quisesse ficar com Jeff e garantir que aquela v***a de esposa perdesse tudo, eu não tinha escolha senão aprender a ter paciência.

Jeff          

— Desculpe. — eu disse ao cliente sentado em minha frente. — Foi minha esposa.          

— Sem problemas, D.A. Hollands.          

— Agora, onde estávamos? — Eu disse com um sorriso.                    

Cuidamos dos negócios depois de resolver a pequena interrupção. Não havia tempo a perder, já que um caso de assassinato envolvendo um incendiário serial estava prestes a surgir, e eu estava ansioso para pegá-lo, pois tínhamos evidências suficientes para condená-lo. Esse caso certamente renderia um bom p*******o da cidade, e eu poderia me concentrar mais em encontrar uma maneira de sair do meu casamento com Annika.     Eu odiava que Annika estivesse desconfiada, porque agora eu teria que agir como se ela fosse a única para mim, quando eu não suportava mais ela. Nosso casamento estava desmoronando por causa dela. Ela não era o tipo de "esposa" que eu precisava, e cometi um erro ao me casar com ela logo após o ensino médio. Eu deveria ter ouvido meus pais quando eles disseram que eu poderia fazer melhor. Eu precisava de alguém que ficasse em casa e fosse uma esposa em tempo integral. Como Annika era médica de família e dona de seu próprio consultório, não havia espaço para romance.          

Mas, novamente, o romance morreu muito antes de eu conhecer Sadie. Annika assinou sua vida ao entrar na faculdade de medicina, o que tornou impossível passarmos tempo juntos como casal. Quer dizer, claro, eu também estava na faculdade de direito na época, mas Annika sabia desde o início que eu não queria que ela abrisse seu próprio consultório. Eu queria que ela trabalhasse em medicina de família porque os horários eram mais flexíveis, e ela poderia ter um emprego típico das 9 às 5. Mas não, aquela v***a egoísta teve que abrir seu próprio consultório com a amiga intrometida sem vergonha dela, Kenzie.          

De repente, depois que o consultório decolou, eu não via Annika por dias seguidos. Mesmo nos fins de semana, ela estaria de plantão. Eu odiava isso. Ela sempre estava no consultório ou no hospital visitando pacientes que iam para a emergência. Eu passei a ser o segundo em sua vida. Então, há um ano e meio, eu conheci Sadie em uma boate. Ela estava acompanhada de um grupo de amigas, e usava o vestido mais provocante. Suas "qualidades" estavam totalmente expostas. Um olhar dela acelerou meu coração e mexeu com meu p*u.          

Me aproximei dela, me apresentei, e não perdi tempo a levando para o beco dos fundos da boate e me entregando a ela. Eu sabia que não conseguiria o suficiente dela. Uma vez nunca seria o suficiente com Sadie. Eu pensei que Sadie não iria querer mais nada comigo quando visse que eu era casado, mas então eu vi o brilho proveniente da aliança dela. Nós nos conectamos pelo fato de que nossos cônjuges amavam o trabalho deles mais do que nos amavam. Foi assim que nos apaixonamos.          

O caso de Sadie comigo veio à tona, mas felizmente, qualquer evidência de nós dois juntos foi descartada, e o ex dela levou a culpa. Eu não fazia ideia de que ela era casada com o magnata do setor imobiliário de Nova York, Leonardo Von Doren, mas ela me garantiu que ele não poderia me atingir sem as provas adequadas. Sadie recebeu milhões, e a reputação de Von Doren foi afetada para pior. Agora, tudo o que eu precisava era de uma maneira de fazer Annika transferir o nosso apartamento para mim, e então eu poderia lhe entregar os papéis do divórcio.         

Annika não saberia o que a atingiu quando chegasse a hora. Por enquanto, eu ia agir o mais inocente possível. Annika não tem evidências contra mim. Eu também usarei uma estratégia de Sadie e vou colocar a infidelidade em Annika. Meu bode expiatório será o marido de Kenzie, Hunter. Annika está sempre na casa deles, então será fácil dizer que ela vai lá quando Kenzie está fora. Com as fotos falsas que tenho, será muito fácil conseguir o que quero deste falso casamento e finalmente poder viver minha vida com minha alma gêmea, Sadie.