Pulei de susto com a voz misteriosa. Ao olhar para o lado vi um rapaz de baixa estatura.
Ele não me era estranho! Apesar de nunca o ter visto.
- Olá Deborah! Ele me ofereceu a sua mão.
- Quem é você? Perguntei cismada.
- André, senhorita! Ele continuou com a mão estendida.
- Você é a cara do Matheus! Falei ainda sem sorrir, porém aceitei seu cumprimento. - É garçom também?
- Sério?? Ele disse sarcástico. - Você não se cansa mesmo?
Fiquei sem entender por uma fração de segundos. Pois estava desatenta querendo saber o que tanto Pither falava com os convidados.
- Não sou garçom! Ele continuou. - Sou skatista!
- Dá na mesma! Tudo é pobre! E me servi de uma taça de champanhe entregue por um garçom.
- Como caracteriza as pessoas assim? Ricos e pobres?! Ele disse se servindo também e me olhando sem parar.
- Fácil! Você aparece aqui numa festa do seu primo rico, vestindo essas roupas de desabrigados... E tomando champanhe cheirando a taça! Revirei os olhos.
- É divertido como você analisa as pessoas.
Ele olhou pra frente como se não se afetasse com isso.
- Pelo amor de Deus! Me diga que não vai aparecer outro Monteiro do nada dizendo que é seu irmão? Disse irônica.
- Se casar com o Pither vai ter que aprender a conviver com a ralé Senhorita Deborah!
A franqueza daquele garoto. E o modo como se divertia com as palavras chamava a minha atenção.
- Aaah eu não vou mesmo! Falei indo em direção ao Pither, depois que ele acenou pra mim. - Até mais Little Matheus!
Me virei pra ele sorrindo e depois me voltei para o meu lindo parceiro.
- Como vai Déborah? Pither disse me beijando no rosto discretamente.
- Humm... Fiz beicinho. - Achei que não viesse falar comigo hoje!
- Não exagera Deborah! Ele disse observando a festa. - Sabe que eu não estou aqui por vontade própria!
- Hoje é um dia muito importante pra você Pither! É o início de uma nova vida! Respondi vibrando por ele. - Seu pai está te apresentando para a sociedade como o médico que você é...
- Tudo isso seria muito diferente se minha mãe estivesse aqui; Ele respondeu sem me olhar. - Ela realmente sabia o que eu queria.
- Quer falar sobre ela? Perguntei procurando olha-lo nos olhos.
- Não... Eu não falo dela com ninguém! Ele disse me pegando pelo braço. - Vamos beber alguma coisa, minha garganta está seca!
E depois fomos andando até o bar da festa.
Pither me apresentou para algumas pessoas quê estavam ali e vieram falar com ele.
Todos o felicitaram pela carreira que se iniciava. E pelo bom gosto do pai em relação a arquitetura da clínica.
Pither estava pouco se lixando para a pintura do prédio. Pra falar a verdade eu nunca vi alguém como ele. Que desprezava o dinheiro assim como todas as idéias do seu pai!
Apesar de tudo estávamos numa boa. Até Doutor Álvaro ter a belíssima idéia de fazer um anúncio espontâneo.
- Pessoal! Ele disse batendo na taça. - Quero aproveitar esse momento para fazer um brinde ao meu filho Pither, que voltou de Boston recém formado em psicoterapia!
Todos levantaram sua taça inclusive eu.
... - E é com enorme prazer que sedo uma parte da clínica à ele. E sei que me trará bons frutos!
- Você não sabe o quanto papai! Pither resmungou baixinho .
- Saúde! Todos falaram e beberam em seguida.
- Aproveitando a ocasião... Continuou Doutor Álvaro. - Quero lhe apresentar pra quem ainda não a conhece! A futura noiva do meu filho!
Aaah não!!
- Ta de brincadeira?! Pither disse entre os dentes.
- Um brinde a ela e a sua família. Especialmente seu pai que me chamou pra ser seu sócio!
Papai avermelhou-se no mesmo instante. Realmente era um tiro no próprio pé toda essa história de sociedade.
As pessoas aplaudiram. Inclusive eu fazendo a maior encenação, porque ao meu lado um olhar furioso me cercava.
- Então é isso? Pither perguntou sem se importar com os olhares que nos rodeavam.
- Pither eu não sabia da sociedade deles! Falei me defendendo.
- E eu sou i****a Deborah? Ele trincava o maxilar.- Pra isso que você se aproximou de mim? Por dinheiro?
- Pither! Falei com receio. - As pessoas estão olhando!
- Eu vou embora... Pither saiu da festa deixando todos boquiabertos.
Papai fez sinal para que eu fosse atrás dele.
- Pither espera por favor!! Falei com dificuldades para segui-lo. Graças aos maldito saltos.
- Me deixa Deborah! Ele disse chamando o elevador.
- Pither você não pode me tratar assim! São negócios que pertencem aos nossos pais. Isso não muda nada entre a gente!
Segurei em seu braço tentando convence-lo.
- Isso muda tudo entre a gente!! Eu conheço pessoas como você e seu pai, Déborah! Se aproximou de mim para trazer o seu pai junto. Ele praticamente rosnava. - Pareço ingênuo, mas sei que daqui a pouco estaremos atolados até o pescoço com idéias da sua família!
- Eu não... Comecei.
- NÃO OUSE MENTIR PRA MIM! Ele deu um berro. Entrou dentro do elevador e saiu.
(...)
Chamei o elevador altamente irritada com o papelão ridículo que Pither me fez passar.
Eu sabia que ele já não estava mais la embaixo. Mas quis descer para me certificar, e também ficar longe daqueles olhares maldosos.
- Ora Ora Ora... Quem esta aqui!! Matheus disse saindo das sombras, quando cheguei na calçada.
- Matheus eu não estou com humor para conversinhas....
Ele segurou no meu braço me fazendo virar.
- Olha Deborah eu não estou nem aí se você está irritada com o comportamento do Pither... Sei que você tem alergia a pobre, e nos olha por baixo! Mas isso não me afeta em nada. Matheus falava sem parar como se fosse explodir. - Mas de uma coisa quero que saiba! Você pode enganar o Tio Álvaro, e fazer meu irmão Lorenzo correr atrás de você feito um cachorrinho... Mas se mexer com a Luísa de novo...
Ouve uma breve pausa.
...- Eu acabo com você! Ele disse bem convincente.
- Isso é uma ameaça garçom? Falei o intimidando.
- Entenda como quiser... Mas te quero bem longe da Luísa! Você me ouviu?
Soltei o ar que prendia., e o i****a soltou meu braço. Matheus virou as costas e saiu, enquanto tentava me recompor depois de tantas emoções.
(...).
No outro dia estava estampado em todos os jornais. A minha vergonha alheia!!
Os jornalistas m*l cobriram a festa do Pither nos jornais. Ninguém comentou sobre a sociedade de papai com os De Fragma. Muito menos sobre o seu ataque de raiva durante a festa.
A manchete se resultou o que aconteceu depois da festa. Que foi muito, mas muito pior.
Pither foi surpreendido acordando em uma boate. Totalmente embriagado! E cheio de mulheres com ele.
Tiraram até fotos! Ele sorrindo como se nada tivesse acontecendo. Seu rosto com manchas de batom, abraçado a várias delas.
Meu queixo caiu.
"Filho de médico milionário, abandona sua própria festa e participa de orgias"
Meu Deus!!! Isso não está acontecendo!
Andei pela casa de um lado para o outro, quando papai apareceu de repente .
- Presumo que já leu os jornais? Ele disse cruzando os braços.
- Isso é uma catástrofe mundial papai! Falei gritando. - A vergonha da nossa família está em todos os jornais.
- Não querida! Papai disse com a maior calma. - A vergonha dos De'Fragma estão em todos os jornais, não a nossa!
- Como pode ficar tão calmo? Falei ruborizada. - É a nossa família que também está em jogo!
- Sente- se querida! Papai me pegou pela mão. - Não deixe se afetar por isso! Pither está fazendo o que realmente deve ser feito!
- Papai as pessoas falam... Respondi chocada.
- Sim... Ele sorriu. - Pither está envergonhando o pai dele perante a sociedade. E o que você acha que vai acontecer?
- Não sei! Respondi.
- Doutor Álvaro vai fazer o filho se casar com você! Papai disse tocando com a ponta do dedo meu nariz.
- Comigo? Indaguei.
- Sim querida! Pither terá que se casar com você por intermédio do pai! Como você mesma disse... As pessoas falam!
- E se Pither não quiser? Perguntei aflita.
- Ele não terá escolha.
- Enquanto isso, como eu fico? Perguntei atormentada. - Todo mundo rindo de mim! Pither causou um escândalo!
- Você fica exatamente onde está! Não interessa os escândalos Deborah! Papai se levantou do sofá e foi se servir de uísque.
- Papai, ele amanheceu com prostitutas!
- Simm... Ele sorriu provando do seu drink. - E você lembrará de tudo isso quando estiver pondo suas lindas mãos no dinheiro dele.
Abaixei minha cabeça sufocada com tudo aquilo.
- Filha! Papai me tocou no ombro. - Pither é só uma peça chave do nosso jogo de xadrez. O que realmente importa é a herança! E que ele nos dará!
Papai sorriu virando o líquido do copo. E eu somente me calei, assimilando tudo.
(...)
Na faculdade tive vergonha de encarar meus colegas nos olhos. As pessoas me olhavam, depois disfarçavam dando risinhos e cochichando.
- O quê estão olhando hein? Falei intimando um grupo que sussurrava pelas minhas costas no refeitório.
Eles deram de ombros e continuaram rindo.
Peguei as minhas coisas e fui para atrás da universidade. Um lugar onde só aparecia por alí quem não estava fazendo boa coisa.
Sentei me na grama e fiquei observando o sol. Ele não estava tão forte, e o dia estava fresco.
Alguns jovens sentados em mesas de cimento. Nem ligaram com a minha presença.
- Esse é o último lugar em que pensei te encontrar... Uma voz soou atrás de mim. - O que faz aqui com os viciados?
Olhei para atrás e Lorenzo estava em pé ao meu lado, observando o horizonte.
- Como me encontrou? Falei aborrecida.
Ele se agachou ficando diante de mim.
- Você está muito mais perdida do que imagina....
E eu bufei virando o meu rosto para o outro lado. Sabia qual era suas intenções.
- Sabe Deborah.... Ele disse se sentando ao meu lado. - Reuni todas as situações possíveis, instigado a descobrir o porque de sua obsessão pelo Pither!
Revirei os olhos.
- Depois de tantas hipóteses somente uma fazia sentido... Lorenzo fez questão de me olhar no fundo dos olhos. - Você está pobre...
- O quê? Indaguei surpresa.
- Ou melhor falida! Ele continuou. - Só assim explicaria ficar correndo atrás de quem não gosta de você!
- Por que insiste em se meter na minha vida? Perguntei irritada.
- Deborah, Déborah... Lorenzo se divertia.
- Você acha mesmo que vale a pena se prestar a essa humilhação? O cara te traiu com meretrizes... E olha que estou sendo generoso com as palavras.
Balancei minha cabeça olhando para a grama desapontada.
- Você sabe que ele não te ama! Quer mesmo isso pra sua vida? Lorenzo Perguntou.
- Eu não tenho escolha.Como você mesmo disse... Estou falida! Balancei meus ombros sem me importar com a confissão.
- Por que não vai embora? Lorenzo franziu a testa.
- Tá querendo que eu fuja? Falei surpresa.
- Por que não? Ele fez um bico engraçado com os lábios. - Eu fugiria com você!
- Ah é? E o que faríamos longe daqui, Enzo? Não temos nada! E muito menos dinheiro pra isso!
- Poderíamos procurar empregos na nova cidade! Começar do zero! Ele sugeriu.
- Sim... Respondi desanimada.- Talvez surja uma vaga de garçonete pra mim, em um daqueles bares de estrada!
- Eu não quis dizer isso! Lorenzo falou entristecido.
- Mas essa é a nossa realidade Lorenzo! Respondi irritada. - Você não tem nada pra me oferecer... Ou pelo menos impressionar o meu pai!
- Ainda não! Ele levantou seu indicador em desaprovação. - Estou estudando pra isso!
- É... Mas infelizmente isso leva tempo! E tempo é uma coisa que a minha família não tem!
Abaixei meu olhar e fiquei observando minhas mãos.
- Você sabe que não é certo o que seu pai está fazendo, né? Te obrigando a tirar a família da lama.
- Enzo chega! Supliquei.
- Não Deborah! Se ele amasse você te pouparia dessa situação. Não te incentivar a mergulhar de cabeça!
- Olha Enzo, chega de teorias da conspiração! Levantei da grama, pegando às minhas coisas. - Desculpa mas preciso ir...
- Sem mais delongas.... Ele respondeu forçando um sorriso.
- Foi bom ver você também! Virei as costas e saí.