A Carona

2368 Words
Depois do episódio na universidade eu nunca mais vi o Lorenzo. Também parei de atender as ligações do Pither, e me afastei da Luísa. Foquei nos estudos e nas provas finais. Queria um tempo dessa família Monteiro! Mas aí o Pither mandou flores lá pra casa, com direito a cartão e tudo! Só imaginam o entusiasmo dos meus pais! Patético!! "Nossa filha ta namorando''! Começaram a cantarolar pela casa. Falam assim porque é um homem rico! Traz um pé rapado aqui pra ver se a felicidade não muda! Pither me ligou e me chamou pra jantar com ele no sábado. Eu aceitei! Não tinha outro jeito... Meu plano estava começando a dar certo! Essa ausência fez Pither correr atrás de mim. E eu não podia por tudo a perder por causa de um rapaz que eu nem conhecia. Fui convidada para um teste numa agência de modelos. E eu estava radiante com todas essas notícias boas que estavam acontecendo. Passei pela cidade para comprar o melhor vestido para o encontro de sábado. Voltei dirigindo pra casa sorrindo de satisfação. Pither estava na minha! Meus pais iam conseguir se reerguer! Eu ia me formar em moda; E tudo estava entrando nos trilhos. Gotículas caíram no parabrisa do meu carro. O tempo mudando, uma grande tempestade estava a vista. Pessoas corriam em meia a multidão abrindo seus guarda chuva. Outras colocavam pastas sobre a cabeça se protegendo da garoa que se iniciava. Parei no sinal vermelho e observei as pessoas que passavam pela faixa de pedestres apressadas. Liguei o som do meu carro, e voltei minha atenção para frente. Quando em meio as pessoas quê andavam de um lado para o outro, estava ele... - Eiii! Falei abaixando o vidro do meu carro. - Lorenzo! Gritei. Mas ele fingiu não ouvir. E seguiu sem me dar importância pela calçada até sumir pela travessa. O sinal verde se abriu e eu saí com meu carro, imaginando que aquele teimoso estaria no próximo quarteirão acima. Dei seta para direita e subi a rua procurando ele em meio aquele temporal. Olhando de um lado para o outro, e nem sinal de Lorenzo. Eu sou uma estúpida mesmo!!! Pensei. A chuva engrossando. Trovões se manifestavam no céu, e eu assustada o bastante para ficar procurando aquele mané em todo qualquer buraco. Quando ia me dando por vencida vi um ponto de ônibus. E alí estava ele! Abraçado aos livros tentando se esconder da chuva. Sorri-me sozinha. Parei em frente ao ponto e abri o vidro do lado do passageiro. - Vamos! Te dou uma carona! Falei com uma mão no volante e olhando atentamente pra ele. Ele negou com a cabeça e respondeu; - Estou bem, obrigado! - Anda logo marrento que eu não tenho o dia todo! Falei mostrando aborrecimento. Vi quando o pessoal do ponto davam sinal para o ônibus que se avistava. Eu estava parada no lugar errado, esperando aquele insuportável entrar. Como ele viu que não teve jeito, acabou sedendo e entrando no carro. Antes que eu levasse uma multa de trânsito por ser negligente. - Porque não me respondeu quando te gritei no semáforo? Perguntei puxando assunto. - Porque vi que era você! Ele respondeu sem tirar os olhos do vidro ao seu lado. Apertei os olhos desejando ter uma marreta no meu carro, e dar lhe uma marretada. Mas fingi não ter dado importância. - Você está todo molhado! Falei mostrando suas roupas quê colavam no corpo. - Pode pegar um resfriado! - Se não o peguei depois do balde de água fria que você me deu Deborah D'Ávila... Acho que sobrevivo a essa chuva! Ele disse com desdém. Aham! É isso!! Ele está me tratando m*l por despeito! Sorri mentalmente. E ele por fim se virou para mim. - Me deixa na rodoviária... Ou na estação de metrô! - Não!!! Respondi sem tirar os olhos da rua.- Vou te deixar em casa! - Por que está sendo gentil comigo? Indagou. - Você não me suporta!! - Lorenzo... Você foi um filho da p**a comigo me fazendo ir ao cemitério e bancar a ridícula! Falei demonstrando aborrecimento. - Sim... Ele concordou. - Mas te livrei do constrangimento de Pither te achar com aquelas flores horrorosas. Ele se defendeu. - Você foi na universidade implorando pra gente sair aos berros na rua! Levantei minha sobrancelha de zangada. - Parecia um caipira!! - Eu sou um caipira Deborah! Ele respondeu sem se ofender.- Se não sabe fui nascido e criado no interior. Sorri de seu orgulho e******o! - Mas não tenho coragem de deixar você ir embora na chuva! Respondi serena. - Oops! Ele deu um meio sorriso. - Cuidado Deborah D'Ávila, assim vou achar que você se importa! Confesso que sorri de sua maluquice. (...) Chegamos no prédio onde o Lorenzo se escondia. - O que está fazendo? Ele perguntou quando me viu entrando no condomínio. - Vou te deixar o mais próximo possível! Respondi. - Eu vou andando... Meu bloco é bem alí! Ele apontou. E eu estacionei em frente. - Pronto tá entregue! Respondi. - Obrigado! Ele respondeu como se respirasse aliviado. E eu assenti. Lorenzo ameaçou sair do carro mas depois se voltou para mim. - Você quer entrar?? Seus olhos azuis se iluminaram. - Não! Respondi rapidamente. - Seus irmãos podem me reconhecer e... - E contar para o Pither! Ele completou a frase com deboche. - Matheus está na faculdade... Miguel já deve ter saído para o bar! Ele dorme de dia e saí vadiar esse horário! - E o mais novo?? Perguntei. - André? Ele perguntou como se fosse uma piada. - Esse está num campeonato de skate. Chega amanhã! - Oh então você está sozinho? Fiz a pergunta sem perceber que estava fazendo-a em voz alta.. - Sim... A menos que esteja com medo! Ele respondeu presunçoso. - Más é claro que não! Respondi destemida e tirando o cinto. Peguei minha bolsa e abri a porta do carro. Lorenzo também saiu e me esperou na frente do prédio. Saí apressada pois ainda estava chovendo. Meus saltos scarpin preto, salto 11 valiam uma fortuna. E eu corria um grande risco de cair com eles. Por isso andei com cuidado. Antes dei uma boa olhada para o edifício. Eu não acredito que estou me prestando a isso!! Me lamentei. Entramos juntos e ele me mostrou a escada que se iniciava a nossa esquerda. - Não acredito que não tem elevador?! Perguntei já me faltando ar. - Tem sim! Ele gargalhou. - Era só uma piada. Revirei meus olhos e o segui até o elevador central. Entrei analisando cada canto como se a qualquer momento fosse aparecer uma câmera escondida me flagrando. - Não precisa colocar os óculos de sol aqui dentro Deborah!! Lorenzo disse quando me viu usando. - Aposto que os lugares que você frequenta nunca foram os moradores daqui! O elevador deu um pequeno estalo e a porta se abriu. Ele morava no quarto andar. Eu fui andando apressada atrás dele, e checando tudo em minha volta. Ainda desconfiada do que via. Então ele parou em frente a uma porta de madeira, e começou a procurar a chave no bolso do casaco. Que fuleiro é esse lugar! Pensei com repulsa. - Seja bem vinda Deborah D'Ávila! Ele respondeu abrindo a porta, e me apontando gentilmente o lugar. Dei lhe um sorriso convincente, e entrei um pouco receosa. Imaginando que eu poderia estar cometendo um grande erro ter entrado alí. Entrei analisando o lugar como um corretor de imóveis. Não posso negar que apesar de a casa ser muito simples, eles eram muito limpos. O sofá era velho e surrado, a televisão era antiga. Acredito que quando foi lançada nem tinhamos nascido. Mas estavam impecavelmente arrumados. - Desculpa não ser o seu palacete princesa! Ele se aproximou de mim rindo. - Vocês são muito limpos! Respondi sem tirar os olhos da mobília. - Somos homens, mas temos a escala de limpeza aqui em casa! Me voltei olhando pra ele. - Meu pai nos ensinou desde muito cedo a organização! Ele respondeu tirando o casaco e o pendurando num varão que estava atrás da porta. - Você quer tomar alguma coisa? Ele perguntou educado. - Não! Estou bem! Respondi sem tirar os olhos dos porta-retratos que ficavam alí na sala. - Seus irmão... Falei apontando para uma das fotos. - São muito parecidos com você! - Exceto o Miguel! Ele parece com a minha mãe. Mas dizem que eu tenho os olhos dela. Ele respondeu guardando os livros. - Mas é claro que você ja o conheceu! - Sim! Sorri voltando a olhar para a mesinha.- Eles são muito bonitos! Seus irmãos... - Talvez... Lorenzo disse indo em direção a cozinha. - Um dia você entenderá que a beleza não é tudo! E o dinheiro também não... Balancei minha cabeça sorrindo em desaprovação. - Se o dinheiro não é tudo então como vivem?? Lorenzo voltou da cozinha com uma garrafa de vinho e duas taças. - Com bastante união! Deu de ombros. - Matheus e eu somos os mais velhos! Tomamos conta do resto! - Quanta responsabilidade! Respondi sorrindo e o encarando. - Ou talvez seja otimista demais! - Ou só tenho fé! Ele respondeu sacando a rolha do vinho. - Sabia que o Miguel tinha uma dessas guardada. - Você não costuma beber? Perguntei me aproximando. - Não... Apenas em comemorações! Lorenzo me entregou a taça. - E estamos comemorando o quê? Perguntei irônica. - A vitoriosa superação da sua alergia a pobre! Lorenzo disse sendo sarcástico. - i****a! Respondi aborrecida. E ele gargalhou. - Brincadeira Deborah D'Ávila! Vamos brindar a você! Disse colocando vinho na minha taça. - E a vida próspera que nos espera! Analisei a taça com cautela, pra ver se não estava empoeirada ou algo assim. - Por que me chama de Déborah D'Ávila? Questionei. - Porque Deborah há muitas... Ele respondeu colocando um pouco pra ele. - Mas Deborah D'Ávila somente você! - Saúde! Ele deu uma leve batidinha na minha taça. E depois deu a volta para o outro lado da sala. Lorenzo era muito atraente. Era alto mas nem tanto, seus cabelos castanhos e olhos azuis eram perfeitamente bem desenhados. Vi que ele observava a chuva pela janela. - Gosto de olhar a chuva! Me tranquiliza! Ele disse com satisfação. - O que me tranquiliza é um cartão de crédito com um limite bem alto, e uma boutique a minha espera! Respondi dando uma golada no vinho. Ele deu uma risada inesperada. - Confesso que seu jeito fútil me faz rir! - Não sou fútil! Falei indo ao seu encontro. - Só sou prática! Não vivemos sem dinheiro... - Se é tão prática... Sabe que eu não tenho nada a te oferecer! Lorenzo disse me olhando nos olhos. - Mesmo assim insistiu em me chamar pra sair! Dei de ombros. - Talvez eu seja otimista demais, como você mencionou! Ele sorriu triste. - O que você vê quando olha pra mim Lorenzo? Perguntei intrigada. Imaginei que ele falasse futilidade em pessoa. - Vejo esperança! Ele tocou seus lábios na taça e provou um pouco mais do vinho. - Como se você ainda merecesse salvação! Tentei sorrir mas ele falava sério. Lorenzo andou em volta da sala, como se estudasse o que dizer. - Não é novidade que estou apaixonado por você! Ele disse e me fitou nos olhos. -Sei que não te mereço... Mas o Pither também não! - Lorenzo eu.... Comecei a falar. - Não se venda Deborah! Lorenzo continuou. - Ele não ama ninguém! Você não é a pessoa dele... Você é a minha pessoa! Senti minha garganta dando um nó. Uma mistura de choro e angústia tomava o meu ser. Coloquei minha taça na mesa e saí correndo dalí. Deixei a porta aberta e corri indo em direção ao elevador tentando chama-lo com insistência. Entre a porta Lorenzo apareceu arrasado com a minha bolsa nas mãos. - Você está esquecendo isso!! Ele sinalizou. Bufei indo ao encontro dele busca-la. E por alguns segundos ficamos nos encarando. O elevador abriu fazendo o barulho de sempre. E eu não tirei os olhos de Lorenzo sem piscar. - É melhor você ir ou.... Ele disse com dificuldade. - Ou o que? Perguntei me aproximando mais de seu corpo podendo sentir sua respiração. - A chuva... Ele desviou o assunto. - Me beija! Pedi. - Eu sei que você quer assim como eu! Falei sem deixar de olha-lo, sua boca desejava a minha. Lorenzo hesitou um pouco, mas eu o agarrei em um abraço caloroso. E então ele se rendeu. Me puxando para dentro do apartamento, jogou minha bolsa no chão e se jogou nos meus braços. Nos beijamos alí em frente a porta. Lorenzo me beijou com desespero, agonia. Como se suplicasse naquele momento a minha redenção. Meu coração só faltou sair pela boca! Esse traidor sempre bateu forte para ele. Meu coração o correspondia! Mas como se ele nem conhecia o Lorenzo direito. A gente se beijou mais e mais. Era paixão, entrega, e muito desejo envolvido. Lorenzo tocou meu rosto com seus polegares fazendo me um carinho. Depois abriu seus olhos se afastando. - Diz que quer ficar comigo! Deixa isso tudo e me aceita Deborah D'Ávila. Eu prometo que vou me esforçar muito, e ser o homem que sua família espera! Só me dê tempo!! Meu coração se desmanchou com àquelas palavras. Seus olhos brilhando ao tocar os meus, sua boca trêmula. Seu corpo quente ao roçar o meu. - Lorenzo eu tenho que te confessar uma coisa! Falei um pouco ofegante. - Diz meu amor! Ele respondeu querendo sorrir. - Eu tenho até vergonha... Falei constrangida. - Deborah... Não há nada em que não possamos superar juntos! Ele respondeu esperançoso. - Eu.... Eu nunca fiz! Apertei os olhos. - Nunca fiz com ninguém! Ele franziu o cenho tentando entender. E eu corei naquele instante, tenho certeza. Lorenzo ficou mudo, seu silêncio me apavorou um pouco. - Isso te incomoda??? Perguntei. - Não... Ele respondeu nervoso. - Mas você... Lorenzo não conseguia dizer as palavras certas. - Porque não ficou com ninguém? - Eu não achei ninguém que merecesse esse momento... Até agora!
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