(Mecânica ...)
Como esperado eu fui até a mecânica onde Lorenzo trabalha. Precisava ver com meus próprios olhos se era mesmo verdade.
O lugar era bastante conhecido. O motorista de papai soube exatamente onde era.
Entrei no lugar vasculhando com os olhos. Tentando achar o rosto conhecido entre tantos carros.
Tudo parecia quieto demais! Olhei cada canto e nada de Lorenzo. Até que vi um par de pernas embaixo de uma Blazer.
Me aproximei tentando chamar sua atenção.
- O que faz aqui? A voz ecoou debaixo do carro. Devo confessar que me assustei.
Não respondi ainda em choque.
- Receio que esse não é um lugar adequado para alguém como você... Deborah Dávila.
E ele apareceu entre a fresta, escorregando na esteira.
- Como sabia que era eu? Perguntei abismada.
Ele apontou para os saltos que eu usava.
- Não conheço outra madame que viria até a mim de salto alto!
Lorenzo se levantou e seguiu até o fundo da oficina. Procurando um pano para limpar os dedos de graxa.
- Custei a acreditar que você estava mesmo trabalhando aqui! Falei o observando.
- E porquê? Se posso saber? Ele disse dando um meio sorriso irônico. - Que eu saiba é um trabalho honesto!
- Você está estudando... Ganhou uma bolsa! É muito inteligente... Falei me aproximando dele. - Logo será um engenheiro!
- Sinto muito te informar... Lorenzo disse em um tom um pouco mais alto. E se virando pra mim. - Nem todo mundo nasceu em um berço de ouro Deborah Dávila!
O olhei diretamente nos olhos.
- Meus irmãos e eu não tivemos um papai rico pra bancar nossa universidade em Harvard! Nem pra pagar nossas festinhas aos finais de semana... Não temos um Porsche... Nem moramos no Alfaville... Muito menos alguém pra nos dar de presente um consultório médico.
Lorenzo disse terminando de limpar as mãos. Depois jogou o pano sobre a bancada e saiu.
- Você tem inveja! Desferi as palavras sem pensar.
Lorenzo desacelerou os passos e abaixou sua cabeça.
- Diz a verdade Enzo... Continuei. - Você tem raiva do Pither ter tido tudo?!
Ele se voltou pra mim.
- Se me dá licença... Eu preciso trabalhar!
Corri com passos curtos para alcança-lo.
- Não quero que você me odeie! Lorenzo mexia na caixa de ferramentas sem me olhar. - Eu sei que fui uma pessoa muito r**m com você! Admiti.
- Pessoa r**m? Ele levantou uma sobrancelha. - Você agiu feito uma filha da p**a!
Suas palavras saiu entre os dentes.
- Eu queria poder te contar tantas coisas... Falei querendo tocar seu ombro mas ele me impediu.
- Contar o que? Deu de ombros. - Que se divertiu as minhas custas?! Que só se deitou comigo porque não queria chegar virgem na cama da vossa alteza?
- Eu sei que errei! Abaixei meu olhar. - Mas posso dizer que tive que fazer isso...
- Vai me dizer que foi obrigada? Disse em tom de deboche. - Me poupe de suas mentiras Deborah!
Ele tirou uma chave da caixa de ferramentas e me olhou bravo. Me expulsando daquele lugar.
Me virei ameaçando sair dali. Vi quando ele se voltou para o carro que arrumava quando cheguei.
Antes de ir olhei para ele uma última vez e com o coração fervendo falei:
- Um dia você entenderá porque estou fazendo isso... Um dia conhecerá meus reais motivos...
Lorenzo fingiu não se importar. E eu entendi que era a minha deixa.
(Restaurante...)
Depois da visita ao Lorenzo, senti que uma parte do plano tinha que continuar. E eu colocaria em prática essa noite.
Liguei para os pais da Luísa e descobri que eles estavam chegando de viagem.
Como uma boa amiga que se preze, os convidei para jantar comigo naquela noite.
Falei que Luísa e Matheus se juntariam a nós também. E que seria uma surpresa!
Com um plano diabólico e infalível, eu arquitetei sozinha. Reservei a melhor mesa no Royale, e fiz questão que o Liam também comparecesse.
Tudo sem a nossa dignifica amiga saber.
Coloquei a melhor roupa que eu tinha. O vestido preto com brilhantes. Uma f***a até o joelho, e um decote escandaloso nas costas.
Esse dia seria marcante demais para mim não estar a altura.
Liguei para a i****a da Luísa, e a convidei para se encontrar comigo no restaurante. Falei que Matheus e eu tínhamos uma surpresinha pra ela.
Hehehe...
Pedi para o motorista me levar! Não queria amassar o vestido.
Quando cheguei no restaurante a senadora já estava lá. Caminhei até a mesa graciosamente sorrindo.
- Senadora! A cumprimentei.
O marido dela se levantou para me cumprimentar e logo puxou uma cadeira para mim se sentar.
- Como vai querida? Ela disse animada.
- Vou bem... E a senhora? Perguntei.
- Estou ótima! Confesso que me surpreendi com o convite inesperado.
Pensei em responder mas fomos interrompidos pela presença do Liam que acabava de chegar.
- Desculpe o atraso! Ele disse se sentando frente a mim.
- Não se preocupe, ainda falta a Luísa e o namorado dela! Falei segurando o riso.
Analisei o restaurante e avistei o que eu precisava ver. Logo em seguida olhei para a porta do saguão e vi Luísa entrando, desengonçada e feia como sempre.
Liam fez sinal para que ela nos vissem alí. Luísa perdeu a cor no mesmo instante.
Com passos curtos se aproximou de nós amedrontada.
- O que estão fazendo aqui? Ela perguntou sem cumprimentar ninguém.
- Senta filha! O pai dela pediu.
- Estamos esperando a surpresa querida... A mãe linda e educada de Luísa citou.
- Espere... Ainda falta alguém! Falei e logo dei sinal com a cabeça para o maitre do restaurante.
Luísa engoliu em seco. E Matheus foi indicado a mesa três para nos atender, assim como combinei com o maitre.
Matheus não percebeu que Luísa estava alí, porque ela quase se abaixou debaixo da mesa quando o viu.
- Boa noite... Sejam bem vindos! Querem pedir?...
Matheus todo educado até seus olhos alcançarem Luísa.
O coitado ficou pasmo! Luísa parecia um papel de tão branca.
- Esperai... Liam levantou o indicador.
- Você é um garçom?
Todos se olharam na mesa exceto Luísa.
- O quê está acontecendo aqui? A senadora perguntou aborrecida.
Suspirei para explicar a ela mas fui interrompida.
- Deborah... Luísa suplicou.
Coitadinha... Quase fiquei com pena!
- Esse é o Matheus, mamãe! Liam respondeu a tão sonhada pergunta. - O namorado da Luísa!
Senti o tapa na cara da sociedade. E pude sorrir aliviada.
- Isso é verdade filha? O paizinho dela perguntou a olhando nos olhos. E ela não pode negar.
Ouvi a gargalhada estrondosa de Liam. E todos os olhares se voltaram pra nós.
- Irmã você namora um garçom?! Ele disse se divertindo.
Por fim tudo estava saindo melhor que a encomenda. Eu não sabia que o irmão dela era tão debochado.
Matheus pediu licença e saiu da mesa desesperado.
Luísa saiu em seguida chorando. E os pais me pediram licença e foram logo atrás.
Ficamos apenas Liam e eu.
- Não vai ir com eles? Perguntei estranhando o comportamento do irmão.
- E perder o carpaccio delicioso desse restaurante? Negativo!
Liam respondeu e fez sinal para um outro garçom que passava. Eu jantei com ele naquela noite, sem saber que estava comendo ao lado do pior ser que já conheci...
Pior que eu? Sem dúvidas!
Mas vamos deixar isso para os próximos episódios.
(No portão...)
Buscar um vestidinho novo na costureira nunca foi tão emocionante. Principalmente agora que tenho dinheiro pra pagar por ele.
O investimento do Senhor Álvaro não foi milionário mas nos ajudou a respirar melhor.
Papai sabia que esse vestido novo seria um investimento para a inauguração do consultório, do meu amorzinho rico.
Mas eu não contava com a infeliz surpresa de encontrar com Lorenzo no portão da minha casa.
Era só o que me faltava!! Desci bufando do carro.
- O que faz aqui? Perguntei com as mãos na cintura.
Ele franziu o cenho nem um pouco intimidado.
- Olha Deborah eu aguento qualquer coisa sua... Mas o que você fez com o Matheus passou de qualquer limite!
Revirei os olhos.
- Diz para o Matheus que não foi nada pessoal... Respondi com desdém.
- Quer mesmo que eu fale? Lorenzo deixou claro a idiotice que eu acabara de falar.
- Olha tudo isso foi para os pais da Luísa saber quem era o namorado dela. Respondi.
- Você humilhou ele Deborah!! Ele respondeu altamente irritado.
- Eu lhe fiz um favor ! Dei de ombros.- A Luísa não é mulher pra ele.
- Aaah... Ele bateu palmas. - Então ele tem que te agradecer?....
- Agora saí do portão da minha casa Lorenzo! Respondi aflita.- Meus pais estão em casa!
- Deborah Dávila se eu jogar um copo de água em você, congela... Lorenzo balançou a cabeça decepcionado.
Virei às costas para voltar para o carro.
- Espere aí! Lorenzo pegou no meu braço e puxou. - A Luísa era a sua amiga!! Ela facilitou seu caminho até o Pither! Deborah como pôde ter feito isso com ela?
Puxei meu braço furiosa.
- Tudo isso é culpa sua Enzo! Desferi as palavras. - Você fica me cercando na universidade... No estacionamento, e agora aqui! E eu estou me livrando da Luísa. Antes que ela comece a falar demais!
- Você usou a Luísa! E agora está descartando-a já que não precisa mais dela!
Lorenzo me olhava como se eu fosse um monstro.
- Estou me protegendo Lorenzo!! Eu sempre me protejo antes de qualquer coisa.
- Sim... Vi ele engolindo algo que embargava a sua voz. - Mesmo que pra isso você tenha que derrubar algumas pessoas.
- Não quero Luísa falando demais o que não sabe! Apertei os olhos. - E também não quero você atrás de mim feito um cachorrinho...
- E o que você foi fazer atrás de mim na mecânica outro dia? Seus olhos azuis brilharam.
Eu precisava ser má! Só assim ele me deixaria em paz.
- Fui ter certeza do que tinha ouvido falar de ti! Ele assentiu.
- É só um emprego Deborah!
- Sim... E você não poderia descer mais...
Juro que doeu muito falar isso! Mas eu tinha que esquecer esse cara. E fazê-lo me odiar seria o melhor.
- Diz para o Matheus que ele estará melhor sem ela... Seus olhos brilharam. - Assim como você estará melhor sem mim!
Abri meu carro e entrei nele o mais rápido possível. Sem olhar para atrás.
(...)
A cobertura do prédio da clínica estava incrível. Cheia de luminárias que pareciam balões.
No lado esquerdo um deck que parecia de navio. Com músicos tocando uma harmoniosa música clássica.
Garçons de um lado para o outro com bandejas nas mãos, serviam champanhes a todo vapor.
Do lado oposto dos músicos algumas senhoras sentadas balançavam seu leque. Intimidadas com o calor insuportável daquela noite.
Chegamos todos juntos. Papai, mamãe e eu.
Na portaria avisto o cabelo amarelo de Miguel. Ele estava rindo, conversando com alguém.
Quando me aproximei da portaria vi de quem se tratava. Matheus estava com ele, meio escondido entre as sombras.
- Boa noite! Papai falou sorridente.
Tenho certeza que não falaria assim se soubesse de quem se tratava.
- Garçom! Cumprimentei Matheus. Me voltei para Miguel. - Irmão do garçom...
Papai parecia constrangido.
- Deborah por favor!!! Ele disse repreendendo-me. - Perdoem a indelicadeza da minha filha, cavalheiros!
- Não se preocupe! Matheus respondeu ríspido. - Nós já conhecemos a Deborah!
- Com licença! Papai pegou o meu braço e o de mamãe e saiu rapidamente.
- O que foi àquilo? Ele perguntou a caminho do elevador.
- O que papai? Fiz de desentendida.
- Porque esnobou assim os garçons da festa? Parecia inconformado.
- Não são garçons da festa. São primos do Pither!
Papai fez a pior cara de surpreso que eu já vi na vida.
- Que seja querida... Mamãe por fim interviu. - Seja cordial com qualquer pessoa!
- Sua mãe tem razão Deborah! Papai disse se recompondo. - Não é bom que às pessoas percebam que temos algum preconceito ou discriminação.
- Unhun... Respondi concordando.
Como são hipócritas!!
Subimos até a cobertura. Papai admirado com o espelhado do prédio, e todo o luxo que a clínica podia a oferecer.
- Com certeza seu sogro atende pessoas muito distintas, filha! Mamãe comentou.
- E qual será a sala do seu namorado? Papai perguntou curioso.
- Uma bem próxima da recepção! Respondi.
Apesar de nunca ter ido a clínica Senhor Álvaro sempre deixou notório que seu filho ficaria com a sala de baixo. Pois os andares de cima ficariam destinados as cirurgias, ou exames mais específicos.
Quando enfim chegamos na cobertura.
- Mamma Mia! Papai disse surpreso.
- Esse lugar tá mesmo lindo! Mamãe brilhou seus olhos pecaminosos.
Eles deram um jeitinho de logo serem notados por Doutor Álvaro.
- Augusto!! Que bom que veio!
E isso era tudo o que meu pai queria... Ser o centro das atenções.
Dona Dayse. Minha mãe fútil e gananciosa se serviu de uma taça de champanhe. E se juntou a umas senhoras ridículas que estavam por alí.
Eu estava em contradição comigo mesma! Irritada por não estar satisfeita com tudo isso!
Eu tinha que estar! Era o que eu mais esperava... Estar envolvida na família De Fragma, e ser vista pela sociedade ao lado do Pither.
Então porque essa angústia? Porque essa preocupação incessante com o Lorenzo?
Ele não era responsabilidade minha! Eu não sou de ninguém. Nem mesmo do Pither! Isso tudo são apenas negócios...
Foco Deborah! Foco!
Vi o anfitrião da festa chegar! Todos logo o aplaudiram quando ele entrou. E eu ajeitei minha echarpe sobre os ombros para que ele me notasse.
Pither me viu! Ele notou quê eu estava ali.
Perto das comadres fofoqueiras da festa.
Mas nem se quer abriu um sorriso satisfatório.
Percebi quando alguém se aproximou de mim. Quase sussurrando disse ao meu ouvido.
- Ele não parece estar tão afim de você....