O Cemitério

1995 Words
Naquela noite éramos nós quatro naquela jacuzzi. Quatro amigos, dois possíveis casais, e talvez uma futura família. Porém eu não conseguia parar de pensar no garoto do quarto escuro. Lorenzo... Nome forte! Arrebatador! Será que causei este impacto que aquele infeliz está causando em mim agora? Me peguei pensando nisso as quatro da madrugada, depois de acender e apagar o abajur umas milhões de vezes. Respirei fundo e me sentei na cama. Baby Doll molhado pela transpiração excessiva daquela noite. Me levantei e fui tomar um banho. Sabia que não tinha conseguido avançar nada com o Pither naquela noite... E talvez ele esteja enjoando desse joguinho obsessivo meu. Eu estou um pouco pressionada em relação aos meus pais. Talvez eu devesse fazer um diário!! Pensei ao entrar na água morna do chuveiro. Os diários nos ajudam a desabafar, e a calcular melhor nossos planos. Pois lemos quantas vezes quisermos nossas palavras, nos tornando melhores a cada dia. No meu caso era pior... A cada dia eu me afundava ainda mais em um plano i****a, em que somente eu estava acreditando que ia dar certo. Me sequei numa toalha de banho branca e macia. Enquanto outra menor estava enrolada em meus cabelos. Daqui a pouco eu teria que ir pra faculdade sem ter conseguido dormir nada, Talvez eu devesse ligar para o Pither... Não!! Péssima idéia! Neguei com a cabeça. Ele me atenderia de mau humor e sem entender nada a essa hora da madrugada. Caras como Pither não acordam antes das dez! Tenso... Desci as escadas e fui na cozinha preparar um chá. Juntamente com uma agenda capa dura preta, e uma caneta azul, me sentei na banqueta. Me apoiei no balcão e ali naquelas linhas totalmente vazias comecei a desferir minhas primeiras palavras. O Diário de Déborah! Você ficou surpresa né? Jamais saberia desse meu segredo, se eu não tivesse lhes contando agora... Sou mais interessante do que vocês imaginam! (...) Antes de ir para a faculdade mandei uma mensagem de bom dia para o Pither. Talvez isso o despertasse... E ele me ligaria mais tarde desejando me ver novamente. Luísa se sentou ao meu lado no intervalo da primeira aula. - O que houve com você ontem? Ela disse meio atônita. - Comigo?? Indaguei. - Sim... Você mudou completamente depois que veio do meu quarto! Estava com a gente na jacuzzi mas era como se não estivesse... - Jura? Perguntei percebendo a bobeira que eu tinha feito na noite anterior. Luísa concordou. - Devo estar assim pelas provas finais! TCC chegando e toda essa pressão de querer trabalhar numa agência como modelo... Menti. - Sei... Imagino como é! Luísa respondeu. - Eu também me sinto pressionada as vezes. Por isso dou algumas festas pra relaxar. Sorri temendo Luísa não ter acreditado. - E você e o Pither? Ela perguntou curiosa. - Estamos bem! Respondi com um maior sorriso convincente possível. - Ah é? Não parecia... Ontem você nem quis que ele te levasse pra casa. Até chamou um táxi! Essas perguntas estavam me enchendo a paciência. Luísa era irritantemente ruiva e curiosa. E sabia ser chata incansavelmente. - Luísa eu estou bem! Respondi. - Tá bom. Ela deu de ombros. - Se precisar estamos com você! Disse sorrindo exibindo seu piercing na língua. E eu assenti mostrando uma calma que não habitava em mim naquele momento. Estou de saco cheio desse interrogatório de Luísa. Pelo menos a mexeriqueira me passou o número do telefone da casa dos De fragma. Liguei o mais rápido que pude! Queria saber notícias sobre o Pither. E me desculpar caso ele também falasse do lapso que tive ontem. -Alô! O Pither está? Perguntei ansiosa. - Quem gostaria? Uma voz feminina respondeu. - Deborah!! Sou amiga dele... Respondi sorrindo. - Ele não se encontra! Ela respondeu. - E sabes me informar onde posso encontra-lo? Perguntei receosa. - Infelizmente não! Ele saiu sem dizer nada! - Entendi... Obrigada! Respondi já desligando em seguida. Não queria dar assunto a criadagem! Onde será que Pither foi parar?? Me perguntei sozinha saindo da faculdade e indo em direção ao meu carro. E então a voz daquele rapaz misterioso soou na minha cabeça. " A única coisa boa que Pither faz é levar flores ao cemitério pra mãe todas as quartas feiras..." Bingo!!! "Hoje é quarta!" Lembrei-me sorrindo... Entrei no meu carro e saí em direção ao cemitério da cidade. Infelizmente não é um lugar que eu costumo e gosto de ir. Agradeço por ter um parente enterrado lá, assim posso dar uma desculpa esfarrapada caso ele me pergunte o que faço alí. Passei na floricultura e comprei um arranjo de flores i****a, só pra complementar a minha mentira. Perguntei na administração do cemitério onde estava enterrada a senhora De fragma. E com um pouco de simpatia e um sorriso convincente o coveiro foi logo abrindo o bico. Passei pelo corredor principal procurando a quadra certa. Supostamente o jazigo dos De Fragma seria uns dos que mais impressionantes... Pensei. Passei tranquilamente pela quadra F, juntamente com meu arranjo horroroso observando os túmulos em minha volta. Quando de repente sinto alguém puxar meu braço com velocidade. Minha boca se abre num berro que eu ia dar com toda a força de uma garota assustada. Quando uma mão tapa minha boca e pressiona seu corpo junto ao seu. - Shiiiii.... Pelo amor de Deus não grita!!! A voz masculina suplicou. Olhei para cima procurando saber quem era o dono da voz. Coração palpitando, quase saindo pela boca. Era o tal rapaz da noite anterior. - Sabia que ia te encontrar aqui!! Ele respondeu cheio de vaidade. O empurrei longe de mim, sentindo meu fôlego se recuperando de volta aos pulmões. - O que faz aqui garoto? Perguntei indignada. - Tá me seguindo é? - Como você é patética Deborah D'Ávila! Lorenzo disse sorrindo. - Eu joguei meu peixe ontem e olha onde você está hoje? Ora ora ora... - Eu vim trazer flores a um parente meu! Falei cheia de arrogância, mesmo sabendo que seria um fracasso. Ele sorriu malicioso. - Não seja ridícula Deborah! Gargalhou. - Estou começando a achar que você está desesperada! - Olha seu... Apontei meu dedo pra ele e dessa vez já estava me preparando para destilar todos os insultos possíveis. - Fica quieta! Lorenzo disse me impedindo outra vez de falar. Tentei resistir mas ele apontou a sombra que passava entre os túmulos. - É o Pither!!! Dessa vez era verdade! Pither passeava entre as sepulturas com sua camisa social azul marinho e abotoaduras dobradas. - Rosas vermelhas? Sussurrei surpresa com às flores que consigo ele levava. - Eram as preferidas da Tia Raquel! Lorenzo comentou. E eu engoli em seco depois disso. Parecíamos dois ladrões escondidos atrás daquele mausoléu preto e antigo. Vimos quando Pither desceu as suas rosas no vaso do jazigo, e limpou o letreiro empoeirado com as costas da mão. - Vamos embora!! Lorenzo disse me impedindo de manifestar qualquer sentimento. Pois qualquer movimento meu Pither nos surpreenderia juntos. (...) Saímos do cemitério de mãos dadas andando o mais depressa possível. Antes de passar pelo portão Lorenzo pegou minhas flores e colocou num túmulo velho que estava a esquerda; o nome era de uma tal de Matilde. -Eiiii! Reclamei. - Isso é caro sabia? Articulei minha mão. - Não seja ridícula! Ele desferiu as palavras quase sussurrando. Quando estávamos na calçada me soltei de sua mão e pude respirar com tranquilidade. - Tá! Já chega! Agora pode sumir daqui antes que o Pither nos veja! - Eu não vou a lugar algum! Disse presunçoso. - Exceto se você também for comigo! Abriu-lhe um largo sorriso. - No seu sonho garoto! Respondi ríspida. - Com você não vou a lugar algum!! Principalmente agora que quase fomos flagrados pelo Pither. - Em primeiro lugar não sou garoto!! Sou mais velho que você sabia? Revirei os olhos jogando minha bolsa no ombro e indo em direção ao estacionamento. Percebi que o intruso me acompanhava. - O que você quer agora? Perguntei se voltando pra ele. - Almoça comigo? Lorenzo disse educado. - Não! Respondi seca. - Porquê não?? Indagou. - Você bebeu garoto? Balancei minha cabeça em desaprovação. - Eu estou com o Pither! - A gente só vai comer... Lorenzo assentiu esperançoso. - Por favor... Bufei virando meu rosto para o lado. - O que você pode me oferecer rapaz?? No máximo um PF!! Respondi o sacaneando. - Olha que eu posso te surpreender hein! Ele disse dando me uma piscadela. E já segurando a maçaneta da porta do meu carro. Eu mereço!!! (...) Não posso negar que Lorenzo era muito simpático e gentil. Ele não me levou no melhor restaurante da cidade, mas aquele também não era de todo o r**m. Puxou a cadeira pra mim e esperou que eu me sentasse. Coloquei minha bolsa na cadeira ao lado e sorri pra ele. - Tem certeza que não é garçom? Perguntei. Lorenzo nem se irritava com isso. Negou abrindo o menu que estava sobre a mesa e analisou os pratos que alí tinham. - E então vai pedir o que? Perguntou calmo. - Por que disse pra mim que o Pither levava flores no túmulo da mãe? Perguntei mostrando ressentimento. - Porque eu sabia que você seria tonta o bastante pra vim procura-lo! Ele respondeu sem tirar os olhos do menu. - Não sou tonta! Respondi me mostrando ofendida. - Se quiser fisgar o Pither vai ter que fazer melhor que isso!! Ele enfim me olhou nos olhos. - Ele está louquinho por mim! Respondi me gabando. - Sim... Ele respondeu direto.- Durma com ele e juro que a primeira coisa que faz e bloquear o seu número de telefone! - Tá blefando. O desafiei. - Experimente aceitar o convite de ir pra casa dele então! Lorenzo sorriu diabólico. - Você não o conhece como eu o conheço! Me calei observando às mesas em nossa volta. - Aposto que ele vive te chamando pra te levar pra casa dele? - E porque isso te interessa tanto? Perguntei demonstrando indignação. - Você cismou comigo é? Lorenzo disfarçou o constrangimento. - Não... Só acho que não precisa ser assim Deborah D'Ávila! Dei de ombros como se não me importasse e fiz meu pedido ao garçom. Lorenzo esqueceu um pouco a conversa sobre o Pither. E juntos comemos em paz. Falamos sobre a faculdade e planos para o futuro. Ele pagou a conta, e eu o deixei em casa. Cá entre nós ele morava num prédio ridículo. Num bairro pior ainda! Como ele pode ser mesmo o primo irmão de um cara tão rico?! No outro dia saindo da faculdade me deparo com ele me esperando do outro lado da universidade. Saí o mais rápido que pude olhando para os lados temendo que alguém me visse. Imagina se a Luísa está me olhando de longe!! - O que faz aqui?? Perguntei furiosa. - Ué você acha que só você que estuda aí que conheço? Ele fez piadinha. - Não seja engraçadinho Lorenzo! Falei enquanto ele gargalhava. Saí pisando duro, e ele pegou no meu braço. - Eiii espera!! Desculpa... Eu vim te ver! Ele me olhou nos olhos e eles se iluminaram. - Você não devia ter vindo... E continuei andando. - Para Deborah D'Ávila! Me dá só uma chance vai... Ele disse praticamente correndo atrás de mim. - Vai embora garoto!! Respondi seca sem olhar para atrás. - Por favor vamos almoçar outra vez? Perguntou esperançoso. - Mas é claro que não! Apertei meus livros contra o meu peito. - Eu vou continuar insistindo. Lorenzo respondeu destemido. Parei em meio ao caminho que levava ao Campus. E olhei para trás com o meu olhar fulminante. - Você não pode ficar atrás de mim feito um cachorrinho!!! Já disse... Em breve serei a namorada do Pither! - Eu sei! Ele disse cabisbaixo. - E então? Levantei minhas sobrancelhas. - Mas nada impede que você fique comigo primeiro! Lorenzo respondeu atrevido.
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