O Passado de Mamãe

1091 Words
Tomei meu banho só projetando o momento certo pra mim fugir. "Eu não fico mais nenhum minuto nessa casa" pensei. Agora mesmo vou arrumar todas as minhas coisas e esconder as minhas malas no armário. Quero ir embora pra bem longe com o meu Lorenzo! Depois que saí do banheiro vi minha mãe sentada na cama. - O que faz aqui? Perguntei secando meus cabelos com a toalha. - Veio pro segundo round? - Vim te contar uma história! Ela disse com a voz mais calma. - Não estou com humor pra historinhas!! Disse me olhando no espelho. - Mas essa você vai ouvir!!! Respondeu rude. - Senta aqui! Me sentei ainda massageando meus cabelos com a toalha. - Déborah hoje você tem vinte e quatro anos ainda é inexperiente e não entende nada da vida. Acha que está fazendo a coisa certa desistindo do Pither pra ficar com um pobretão morto de fome. Mas não está!! Você vai cometer o maior erro da sua vida. - Como tem tanta certeza disso? Questionei. - Porque eu já fui você! Essa resposta caiu como uma bomba dentro de mim. - O que? Perguntei ainda confusa. - Eu já fui uma Deborah! Só que eu tinha dois anos a menos que você na época. Eu tinha um noivo, filho do chefe de polícia da cidade. Família rica, rapaz bem sucedido... - E você não gostava dele? Perguntei. - Sim.. gostava! Mas não o amava!Confessou. - E um dia saindo do colégio eu vi quando o circo chegou na cidade. Junto com ele um caminhão de rapazes que chegaram juntos para ajudar na montagem e na organização do circo. - Um circo? Falei segurando o riso. - Sim! E lá estava o amor da minha vida! Mamãe parou seus olhos como se lembrasse do exato momento. - Rapaz forte, robusto... E absurdamente lindo! Mas com um detalhe... Era pobre! Um pé rapado! - E como se conheceram? Me mostrei interessada. - Eu me apaixonei por ele quase no mesmo instante! Mas pra ele me notar eu ia a todas as apresentações, até saber como era o seu nome e onde ele ficava. - E ele? Gostou de você também? Dei de ombros. - Também! Concordou mamãe. - Ele me pediu em casamento, fizemos juras de amor... Até que seu avô nos descobriu! - Aaah já sei o final da história... Disse desanimada.- Daí meu avô acabou com toda a graça lhe fazendo se casar com o tal riquinho, e você nunca mais viu o trapezista! - Está muito enganada filha! Mamãe disse abalada. - O que? Ele não era trapezista?! Falei com desdém. - Não! E eu me casei com ele... Deborah ele é o seu pai! Meu maxilar caiu no mesmo instante. - Que palhaçada é essa? Falei me levantando. - Seu pai, Augusto! Ele não veio de família rica. Não tinha brasão... - Meu pai tinha descendência sim!! Respondi agressiva. - Ele é um D'Ávila! - Nãaao!! Ela disse se levantando.- Eu sou uma D'Ávila! Seu pai pediu que passasse o meu sobrenome pra ele! Fiquei outra vez sem fala. - Seu pai se chama Augusto Gregório da Fonseca. Mamãe estava extremamente nervosa. - Então meu pai não era rico? E nem tinha linhagem? Falei tentando me convencer do que acabara de ouvir. - Meu pai era um capataz de circo! Me sentei no banquinho da penteadeira totalmente sem chão. - Filha! Hoje sei a dor que causei ao meu pai naquela época! Tudo o que está acontecendo com a gente é minha culpa! Mamãe disse chorando. - Eu entreguei a vinícola dos meus pais nas mãos de um medíocre! Que nos levou a falência. - Por que mentiu pra mim mamãe? Perguntei desesperada. - Porquê me fez acreditar que meu pai era um homem de negócios? - Porque ele se tornou um com o tempo! Ela respondeu tentando ser convincente. - Aaai... Falei passando as mãos pelos olhos. - Eu sempre odiando pobres e meu pai sempre foi um, mamãe! A olhei furiosa. - Porquê meu pai olha as pessoas por baixo? Se ele... Se ele... O choro me cercou naquele instante. - Filha não fica assim! Mamãe disse me abraçando. Mas eu só pensava em chorar. - Olha! Ela disse se recompondo. - Seu pai não queria que você soubesse de suas origens. Então trocou seu sobrenome! Estudou e fez faculdade. Tudo para ganhar o respeito dos meus pais. - Mas hoje você está arrependida não é? Perguntei procurando o olhar abatido de minha mãe. - Você sabe que se tivesse se casado com o outro estaríamos numa vida muito, mais muito melhor?! - Eu sei! Ela admitiu. Me fazendo chorar mais. - Como é o nome do outro? Perguntei. Mamãe exitou um pouco para falar. - Responde mamãe!! Como é o nome? Insisti. - Maurício! Ela respondeu sem me olhar. - Mauricio Nero! - O quê?? Dessa vez senti minhas pernas cambalear. - Você quer dizer que Maurício Nero era seu namorado? Meu Deus!! O pai da Luísa! Eu não estava acreditando! Luísa aquela ruiva sem graça e cafona tinha a vida que era pra ser minha? Dei um grito ensurdecedor no quarto. - Não pode ser mamãe!!! Maurício Nero e a mulher hoje são políticos. São milionários mamãe! Era pra gente estar vivendo naquela casa! Gritei. - Era pra eu estar usufruindo daquela vida! Suspirei indo até a janela do meu quarto. Eu não podia acreditar! Sempre senti inveja da vida boa de Luísa sem imaginar que aquela seria a minha vida. Como minha mãe foi i*****l!! Eu não conseguiria olhar mais para o meu pai com os mesmo olhos. Saber que aquele digno e respeitável senhor era um simples peão de circo. Me sinto enojada! Como mamãe foi tão louca em abrir mão de tudo pra ficar com ele?! E daí eu lembrei que estava fazendo a mesma coisa... Trocando um médico recem formado em Havard por um garçom e mecânico. E se alguém disser... Aaah mais ele está fazendo faculdade!! A resposta é... Meu pai também fez mais não deixou de ser quem é! Infelizmente por mais que papai tentasse disfarçar, por baixo daquela prepotência toda existia um sujeito pobretão, sem sobrenome e sem educação. Se ele foi um capataz de circo e minha avó era o que? Uma lavadeira? Meu Deus não quero nem pensar!! Eu não vou dar esse desgosto aos meus filhos! Não vou mesmo! E ninguém nunca saberá que eu sou filha de quem sou! Apenas você e o meu diário.
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