Sophia
Finalmente a sexta-feira chegou. Ao chegar na empresa chequei a agenda de Andrew. Haviam apenas duas reuniões marcadas para parte da tarde. Então minha manhã foi tranquila, aproveitei para continuar a selecionar as candidatas mais adequadas para me substituir. Quando finalizei e comecei a imprimir o arquivo meu telefone começou a tocar, era Andrew, na hora certa! prontamente atendi e ele me pediu para ir até sua sala.
Peguei as impressões, coloquei em uma pasta e fui até sua sala. a porta estava entreaberta então dei uma espiada antes de bater.
Andrew estava sentado em sua cadeira. Diferente do habitual, hoje ele estava com os cabelos bagunçados, o blazer estava jogado sobre a mesa, sua gravata com as pontas soltas apenas dando a volta sob seu pescoço, e ele usava apenas a camisa social com alguns botões abertos marcando cada centímetro de seu abdômen perfeito. O que de fato deveria ser expressamente proibido, Oh Deus! devo confessar que ver seu corpo digno de galã de Hollywood exposto tão deliciosamente e despojado atiçou meus pensamentos mais indecentes.
Se esse homem não fosse meu chefe, eu definitivamente teria pulado em cima dele nesse exato momento.
Deus! eu realmente preciso de um homem.
Me afastei da porta e dei alguns tapinhas de leve em meu rosto. Levei um minuto para me recompor, então dei uma leve batida na porta. Andrew olhou em minha direção e acenou com a cabeça para que eu entrasse.
Quando me aproximei percebi seu semblante cansado, seu olhar estava distante. O que fez com que o desejo que senti minutos atrás, se transformasse em preocupação. Começo a me perguntar o que esta o deixando dessa forma.
Talvez, só talvez... poderia ter a ver com minha saída? Impossível, totalmente sem chance!
Balancei minha cabeça em negativa tentando tirar esse pensamento maluco da mente. Então olhei em direção a Andrew, que me olhava curioso. Sorri sem graça e me aproximei um pouco mais.
— Sophia, por favor sente-se. — Ele apontou para a cadeira a sua frente.
— Ok — respondi colocando a pasta em cima da mesa, e me sentei aguardando suas instruções.
— Você já deve saber que é a assistente que ficou mais tempo aqui na empresa comigo. — ele disse me fitando com o olhar.
— Sim, eu sei disso.
— Entretanto, não é nem um pouco vantajoso para mim que se demita, tenho uma proposta para fazer a você. — ele disse firmemente — Estou pensando em contratar uma pessoa para te ajudar nas tarefas do dia a dia. Também estou disposto a aumentar seu salário e posso diminuir sua carga horária. Que tal ao invés dos relatórios diários ao final do expediente, o fizermos apenas 2 vezes por semana? Se você tiver alguma sugestão, podemos estar organizando da forma que for melhor pra você.
Não acredito no que estou ouvindo, ele ficou maluco?
— Mas para que eu possa fazer dessa forma tenho uma condição.
— Qual? — perguntei, apesar de não pretender ficar, estava totalmente curiosa.
— Você não pode se demitir e deve me acompanhar nos próximos anos. — disse com o ar totalmente confiante.
Eu estava boquiaberta, sem entender o motivo por trás de tudo isso. Andrew definitivamente não deveria estar me propondo algo assim.
— Sophia? — ele chamou minha atenção para ele novamente. Pude perceber um sorriso se formando em seu rosto. Ele parece tão confiante de que vou concordar com sua proposta, isso não é bom. — Se você está se sentindo sobrecarregada, apenas tire uns dias de férias. — Ele mediu-me com o olhar.
Não posso negar que a oferta realmente é muito boa. Mas não posso vender minha liberdade tão facilmente. Eu o conheço, se eu ficar, não mudará muita coisa. Ele continuará se atolando no serviço, me ligando após o horário e depois será mais difícil para que eu saía daqui. Eu não poderia arriscar.
— Obrigada pela proposta Andrew, mas creio que não possa aceitar dessa forma. — eu disse forçando um sorriso. Sinto que a confiança de minutos atrás desapareceu. Ele passou a mão em seus cabelos e seus olhos estreitam-se. Então eu resolvi continuar. — Tomei a liberdade de selecionar algumas candidatas em potencial para me substituir. Entrei em contato com elas e encaminhei para o setor de contratação. As entrevistas começam segunda feira, adequei sua agenda para que possa acompanhar de perto o processo seletivo. — Ele cerrou os dentes e permaneceu imóvel. — Bom, estarei fazendo os preparativos para a próxima reunião, se precisar de alguma coisa por favor me chame — eu disse e me retirei sem esperar sua resposta.
O restante do dia passou rapidamente. Acompanhei Andrew na primeira reunião da tarde para discutir todos os projetos em andamento. Como esperado Andrew voltou ao seu comportamento frio e distante, exatamente como ele age quando as coisas não saem do jeito que ele quer.
Aquela atitude me deixou mais confiante sobre ter feito a escolha certa quando recusei sua proposta.
Eram quase 17:00 e eu apenas aguardava Andrew para irmos para nossa última reunião do dia. Não demorou muito para que ele saísse de sua sala, ele caminhou em minha direção parando a minha frente. Eu rapidamente me levantei, pegando minhas anotações para irmos.
— Sophia, por favor cancele a próxima reunião. Eu estarei saindo agora e não pretendo voltar. Então após cuidar disso você pode ir embora também — ele disse chamando minha atenção para ele, porém ele se virou para sair antes mesmo que eu pudesse responde-lo.
— Ei Andrew — eu disse chamando sua atenção. Quando ele se voltou pra mim, continuei. — Está tudo bem? Aconteceu al..
— Sim, está tudo ótimo. — Ele me interrompeu. — Boa noite Sophia.
— Uh... Boa noite — respondi sem graça enquanto ele se virava novamente em direção a porta.
Cancelei a reunião conforme Andrew pediu e comecei a juntar minhas coisas para ir embora.
Estou sem entender a montanha russa de atitudes que meu chefe tem demonstrado nos últimos dois dias.
Cancelar uma reunião? Se permitir ficar despojado? Me fazer uma contraproposta?
Isso é definitivamente o oposto do cara que eu conheço a sete anos! O que está acontecendo com ele afinal? Seu comportamento mudou após eu informa-lo sobre minha demissão, mas só pode ser uma coincidência. O que me faz pensar novamente na possibilidade de tudo ser por causa da minha demissão. Mas não é grande coisa assim, seria impossível essa mudança por algo tão banal.
Eu definitivamente deveria baixar minha bola. Não Sophia, não seja ridícula pelo amor de Deus!
Balanço a cabeça para tentar afastar esses pensamentos e me concentro em ir para casa.
Cheguei em casa por volta de 18:30, subi as escadas e fui direto para o banheiro para um banho. Coloquei uma roupa confortável e desci para cozinha para pegar um lanche quando me deparei com Anna toda produzida.
— Uau, você está de parar o trânsito — a elogiei, fazendo sinal de aprovação, Anna gargalhou.
— Sair mais cedo do trabalho dois dias seguidos? Uau! Isso sim é de arrepiar — Anna rebateu, e essa foi a minha vez de gargalhar. — Eu, Leticia e uns colegas de trabalho estamos indo à inauguração de uma boate hoje, que tal uma noite para se divertir? — ela perguntou com um sorriso esperançoso.
— Amiga, hoje eu passo! Teremos muito tempo para curtir pela frente, mas hoje eu quero apenas descansar. — Anna fez beicinho.
— Tudo bem, mas da próxima vez, você não vai escapar hein — ela disse em tom de brincadeira. — Eu vou indo então, amanhã quero detalhes do seu dia em bonita!
— Ah com certeza — eu disse sorrindo.
Fui em direção a cozinha para fazer um lanche. Em seguida me deitei no sofá e comecei a navegar no catálogo da Netflix, tentando descobrir o que iria assistir.
Depois de muita procura acabei encontrando um filme que me chamou atenção.
Após terminar o segundo filme, fui para o banheiro escovar os dentes e me aprontar para dormir quando meu telefone começou a tocar. Quando olhei para ver quem era não consegui segurar o riso, era Andrew.
— Eu sabia que ele não iria conseguir segurar a pose por muito tempo. Quase meia noite e o bonitão já está me ligando. — Zombei da situação em voz alta enquanto atendia ao telefone.
— Sophia? — Ouço sua voz do outro lado da linha um pouco distante, há tanto barulho que m*l consigo ouvi-lo.
— Andrew, não consigo te ouvir direito.
— Estou no London Pub, você pode me buscar? Acho que não consigo dirigir — ele falou meio arrastado — Sophia, seja minha heroína essa noite.
Heroína? ele nunca falaria isso em sã consciência.
— Você está bêbado? — perguntei incrédula.
— Não — ele respondeu e logo em seguida encerrou a chamada.
Demorei alguns minutos para decidir o que fazer. Peguei meu celular e fiz uma pesquisa rápida no Google para ter uma noção de onde estava indo. Coloquei uma roupa mais adequada para o local. Um vestido azul Royal até o joelho e saltos altos. Mantive meus cabelos soltos e me preparei para sair.
Dessa vez, ele bateu o recorde. Meia noite? É sério isso Andrew? Minha vontade era de simplesmente ignorar, e ir dormir. Mas, a curiosidade estava falando mais alto. Não conseguiria dormir nem mesmo se tentasse... Sua voz estava tão arrastada, ele poderia estar bêbado?
Joguei no Google Maps o nome do local, e felizmente só existe um em São Paulo. Não era muito longe da minha casa, então me dirigi ao local.
Por sorte, ao chegar tinha uma vaga na frente do bar. Estacionei e fui em direção a entrada. Era um local mais reservado, mas ainda assim, estava lotado. O que me fez agradecer silenciosamente por eu decidir trocar minhas roupas antes de vir.
Após alguns minutos procurando consegui avista-lo sozinho em uma área privada. Ele está sentado em um sofá, com uma garrafa de cerveja em sua mão. Meus olhos arregalaram-se ao ver várias garrafas vazias na mesa a sua frente. Caminhei em sua direção.
Não é possível que ele bebeu isso tudo sozinho.
— Já chega por hoje. — eu disse enquanto tirava a garrafa de cerveja de sua mão. ele piscou algumas vezes antes de olhar para mim.
— Sophia — ele franziu a testa.
— Sim, eu! Agora vou te levar pra casa. Vou apenas pagar a conta e vamos. — Ele apenas assentiu com a cabeça.
Com a ajuda de um segurança do bar levei Andrew para o carro. Como ele estava com seu carro, optei por deixar o meu no estacionamento privado do bar. No caminho para casa de Andrew resolvi passar em uma farmácia para comprar um kit de ressaca.
Andrew permaneceu calado todo o trajeto. Estacionei em sua garagem, sai do carro e fui até o lado do carona.
— Chegamos — eu disse ao abrir sua porta.
— Certo — ele disse seriamente.
— Vem, você pode se apoiar em mim.
— Eu consigo sozinho, obrigado. — ele disse me afastando com as mãos.
Por que ele tem que ser tão teimoso?
Tenho que admitir que não deu muito certo. Ele saiu e se apoiou no carro, mas estava incapaz de dar um passo sozinho. Então peguei suas mãos e as apoiei em meus ombros.
Achei que ele fosse insistir em ir sozinho, mas ele não disse nada. Apenas veio com seu corpo enorme sobre mim e começou a andar em direção a porta. O ajudei a entrar em casa.
Quando entramos me lembrei que todos os quartos ficavam no andar de cima.
Droga! era só o que faltava.
Com dificuldade o ajudei a subir as escadas e o sentei em sua cama. Coloquei uma das mãos na cintura na cintura e o encarei. Ele definitivamente passou dos limites me ligando a essa hora para busca-lo, ainda por cima nesse estado.
— Droga Andrew, o que aconteceu com você? — perguntei um pouco ofegante. — Você deveria ter ligado para um amigo, eu não sou paga pra isso. — Fui direta e grossa, mas ao invés de responder, ele segurou meu braço e me puxou para o espaço vazio ao seu lado.
Aqueles lindos olhos azuis fixaram-se em mim de um jeito que me fez congelar.
— Sophia por que você está fazendo isso comigo? — Meus olhos arregalaram-se. — Eu não sei se consigo passar por isso de novo — ele disse sem quebrar o contato visual.
Andrew sempre se mostrou uma pessoa inabalável. Mas ele parece tão vulnerável nesse momento. Há algo diferente em seu olhar.
Magoa talvez?
— Não consegue passar pelo que de novo? do que você está falando? — perguntei, então ele levou sua mão no meu rosto e colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Senti meu coração disparar com esse simples toque.
Oh Meu Deus, eu poderia ter um treco aqui e agora.
Ele abriu a boca para falar, mas foi interrompido pelo som do meu telefone tocando, então ele me lançou um sorriso fraco. Dei uma olhada no visor para checar quem poderia ser a essa hora. era Anna.
Oh s**t.
— Preciso atender essa ligação — eu disse forçando o sorriso, ele apenas assentiu com a cabeça. Me afastei para conseguir um pouco de privacidade então atendi.
— Sophia aonde você está? Cheguei a pouco e percebi que seu carro não está na garagem.
— Eu... Hã, sai pra comprar remédio, minha cabeça estava doendo muito. — menti, a última coisa que eu queria era Anna falando na minha cabeça por eu ter saído de casa a essa hora para socorrer Andrew.
— Ah bem, levei um susto quando não vi você. Até cheguei a pensar que talvez o mala do seu chefe teria te ligado. Mas quase 2 horas da madrugada? acho que isso é demais até pra ele. — Forcei uma risada torcendo para que ela não perceba minha frustração.
— Eu já chego em casa, não espere por mim vá dormir — eu disse e em seguida encerrei a chamada.
Quando me virei para encarar Andrew ele estava deitado, totalmente apagado.
Droga Anna, você tinha que ligar logo agora?
Ele nem mesmo se deu o trabalho de tirar os sapatos. Então eu o ajeitei na cama, tirei seus sapatos e a gravata para que ele ficasse mais confortável. Quando me dei conta, estava sentada ao lado da cama o observando dormir.
O que afinal ele não quer passar de novo? Será que ele se referiu a alguma outra assistente?
Passei minhas mãos sobre o rosto e me levantei. Pensar demais não vai me levar a nada. Fui até o carro e peguei um dos kits para ressaca que eu tinha comprado na farmácia e coloquei em cima do móvel ao lado da cama juntamente com um bilhete. Então decidi chamar um Uber para me levar de volta ao London Pub. Afinal, ainda tinha que voltar lá para pegar meu carro e ir para casa.