CAPITULO 04

2936 Words
Sophia Cheguei em casa quase 03:00. Tive que pegar um Uber de volta para o bar, pegar meu carro para só depois voltar para casa. Estava muito grata por ser sábado. E torcendo para que Andrew não invente de me ligar nesse final de semana. Precisava dormir. Tentei ao máximo não fazer barulho para Anna não acordar. Felizmente obtive sucesso. Coloquei meu pijama e me deitei para dormir. Mas foi inevitável não pensar nesta noite. Para mim tinha ficado claro que minha saída estava sim afetando Andrew. E sinceramente eu nem sei o que pensar sobre isso. Apenas me pergunto o porquê. Eu espero que segunda-feira consiga obter respostas. Fiquei ali, perdida em meus pensamentos por um tempo, até que finalmente adormeci. Acordei por volta de 12:00. Felizmente nenhuma ligação inesperada. Anna ainda não tinha levantado. Como eu sabia que ontem ela provavelmente estaria bebendo todas, acabei comprando um kit de ressaca para ela também. O que graças a Deus sustentaria minha pequena mentirinha de ontem sobre estar na farmácia. O deixei em cima do balcão da cozinha e comecei a preparar um café. Após uns 40 minutos Anna resolveu dar as caras, a bichinha estava com uma cara terrível. - A noite foi boa hein – eu disse e sorri enquanto ela caminhava em minha direção. - Antes fosse, estou com uma enxaqueca horrível – ela disse passando a mão na testa. - Aqui. – Entreguei para ela o Kit ressaca com um copo de água – Imaginei que você fosse precisar disso. - Amiga, eu já disse o quanto te amo? – ela disse enquanto me abraçava. - Eu sei, eu sei – eu disse rindo da cara dela. – Agora trate de tomar para ficar melhor. Para minha surpresa Anna não tocou no assunto dessa madrugada, graças a Deus minha desculpa de ir comprar remédios tinha dado certo. O dia de sábado passou tranquilamente, tirando o fato de que eu não via a hora de chegar segunda feira para poder conversar com Andrew, estava indo tudo bem. Precisava fazer alguma coisa para me distrair um pouco então resolvi arriscar uma receita nova para o almoço. Não foi porque eu que fiz, mas estava delicioso. Anna almoçou e já avisou que ficaria o dia inteiro na cama vendo TV. Então aproveitei para lavar minhas roupas e dar uma ajeitada em meu quarto. De tardinha liguei para minha mãe e conversamos bastante. Infelizmente devido ao trabalho corrido, não consigo ir para Manhattan com tanta frequência visita-la, mas tento ir pelo menos uma vez ao ano. Sinto tanta falta dela, queria poder ir mais vezes. Espero que isso também seja uma coisa a se mudar após sair do trabalho. No domingo levantei cedo e fui para casa do meu pai almoçar com ele e sua esposa. Sempre que podia, eu passava meu domingo com eles. Eu estava tão feliz por após tanto tempo meu pai conseguir seguir em frente. Aparentemente a separação foi mais dolorosa para ele. A dois anos atrás ele se casou novamente e ainda me deu uma irmãzinha. Que aliás, era a coisa mais fofa do mundo. Cheguei em casa por volta de 20:00. Como eu já tinha jantando, apenas tomei um banho e deitei em minha cama, não estava afim de ver televisão. E Anna não estava em casa, provavelmente estava com algum contatinho novo. Pois ultimamente ela estava parando pouquíssimo em casa. Então me permiti fazer o que eu tinha evitado o dia todo. Pensar em Andrew. Sua atitude na sexta-feira estava me deixando muito curiosa, e pela primeira vez em muito tempo, eu desejava que a segunda chegasse logo. Pois eu precisava saber por que Andrew falou aquelas coisas comigo. Não queria parecer uma boba apaixonada, claro que eu não era. Mas aquele carinho de repente. Tudo, só de lembrar me fazia sentir borboletas no estomago. Eu precisava me controlar, pois sabia que poderia não ser nada demais. Desde que conheço Andrew, nunca o vi com alguém a sério, apenas li algumas fofocas sobre paqueras, e uma ou outra doida as vezes aparecia na empresa querendo fazer barraco. Aparentemente ele era incapaz de levar alguém a sério. E quer saber? quem se importa? Eu também não tinha vontade nenhuma de ter qualquer tipo de relacionamento com ele. Eu só estava curiosa com a mudança repentina. Me remexi algumas vezes na cama perdida nos meus pensamentos até finalmente conseguir pegar no sono. *** Acordei animada no dia seguinte. Me levantei e fui até a janela apreciar a vista, estava um lindo dia. Como de costume tomei um banho, escolhi uma saia lápis e uma blusa comportada, coloquei saltos e mantive a maquiagem bem leve. Cheguei na empresa ás 06:50. Resolvi passar no café ao lado para comprar um café e levar para Andrew. Não era meu trabalho fazer isso, mas sempre que eu comprava para mim a esse horário, acabava levando pra ele também. A quem eu queria enganar? É obvio que era uma desculpa para falar com ele. Caminhei para o elevador cumprimentando algumas pessoas como de costume. Era muito estressante trabalhar tanto. Mas tenho que admitir que vou sentir falta de algumas pessoas aqui. Creio que a única que eu vá manter contato é a Marcela, que trabalha na recepção. - Ei Marcela – Chamei sua atenção – Tem planos para o almoço hoje? - Oi Sophia, não tenho. Almoço juntas? - Combinado – respondo com um sorriso no rosto e continuo caminhando em direção ao elevador. Chego em meu andar e respiro fundo antes de bater na porta de Andrew. Ele demora alguns minutos até que finalmente reponde. Entrei em sua sala e caminhei em direção a sua mesa. Dessa vez não tinha notebook ou celular o distraindo. Ele apenas me acompanhou com o olhar até que eu parasse em sua frente. Cheguei a sentir até um frio na barriga, eu estava ansiosa por essa conversa. - Bom dia Andrew. Trouxe um café para você – eu falei enquanto deixava o café sobre sua mesa. - Bom dia, obrigado. – Ele agradeceu e mediu-me com o olhar – Sophia, creio que devamos conversar sobre sexta-feira.– Ele apontou para a cadeira a sua frente. Não achei que fosse possível, mas ele parecia um pouco mais sério que o normal. - Sim, eu acho que devamos conversar. – eu disse enquanto me sentava na cadeira que ele havia indicado. - Primeiramente eu gostaria de me desculpar por qualquer transtorno que possa ter te causado, embora não me lembre de muita coisa. Vi pelos registros que te liguei já era praticamente 00:00. Vou me assegurar que isso não acontecerá novamente. Também vou adicionar um extra generoso em seu salário ao final do mês. Tem mais alguma coisa que eu possa fazer por você? – ele encerra perguntando. É isso? Não é nada disso que eu esperava de uma conversa. Sinto uma pontada de decepção surgir. O que eu estava esperando afinal? - Hã... por mim tudo bem Andrew – respondi enquanto pensava na melhor forma de falar. – Naquele dia, você me perguntou por que eu estava fazendo isso com você, e disse que não podia passar por isso de novo. Er... O que você quis dizer com isso? - Eu estava tão bêbado, que nem mesmo lembro disso. Não leve a sério essas palavras. - Mas é que... - Antes de você tive 5 assistentes, nenhuma durou. Você sabe, é burocrático estar sempre contratando e mandando embora. Muita dor de cabeça. Sem contar que você acompanhou essa empresa crescer junto comigo. Não pense demais em bobagens. Gostaria que deixássemos isso de lado pois pelo que pude checar a agenda está cheia – ele disse me interrompendo. - Tudo bem. – Só me restava concordar. Afinal, ele é o chefe. – Assunto encerrado. – Forcei um sorriso. Não vou mentir, fiquei bem decepcionada, mas o que eu estava esperando? Apesar de nos darmos bem, Andrew sempre foi bem fechado. Por mais que ele negue, eu sei que alguma coisa aconteceu. Eu me lembro perfeitamente de sua expressão ao me olhar. Eu pude ver a dor em seus olhos. Mas eu não iria insistir. Se ele não queria falar. Paciência! A manhã foi bem corrida, chequei alguns e-mails, contatei alguns clientes e encaminhei para Andrew os novos contatos. Na parte da tarde haveria apenas uma reunião e duas entrevistas para a vaga de assistente. Já passava de 12:00, Andrew havia saído para almoçar com um cliente, então peguei minha bolsa e fui de encontro a Marcela para almoçarmos. Decidimos ir em um restaurante próximo a empresa. Já tinha alguns dias que não combinávamos de almoçar juntas, a correria era tanta, que muitas vezes eu acabava almoçando no restaurante da empresa mesmo. Mas sempre que podíamos optávamos por esse restaurante. O ambiente era no estilo de quintal, com mesas de madeira e flores que criavam uma atmosfera muito acolhedora. - Amo esse lugar – eu disse enquanto admirava sua beleza. - É perfeito né? – Marcela disse enquanto se sentava em uma cadeira, então a acompanhei. Fizemos o pedido e jogamos bastante conversa fora, até que o assunto se voltou para a empresa. Então decidi contar de uma vez que estava me demitindo. Afinal, como ela é minha amiga, prefiro que saiba por mim. - Eu pedi demissão. Devo sair no próximo mês. - Não brinca – ela colocou a mão sobre a boca – Quero dizer, você comentou que queria sair. Mas não achei que estivesse falando sério. – Ela completou. - Seríssimo – respondi com um sorriso no rosto. - Poxa, vou perder uma companheira de almoço. – Ela fez beicinho, mas de repente sorriu. – Mas vou ganhar uma parceira de balada. – Dei uma gargalhada. - Isso, agora não vou ter desculpas. Nem pra você, nem pra Anna. - Já vejo lados positivos... por falar nisso, já até sei aonde vamos. Sexta-feira gata, se prepara. Uma balada que inaugurou semana passada. Avisa a Anna também. - Combinado, já sei que não vou ter como fugir. Anna também está no meu pé! - Ainda bem que você sabe – ela tira sarro de mim. - Senhoritas. - O garçom chamou nossa atenção, ele estava com nosso pedido em mãos. Então aproveitamos para almoçar enquanto jogávamos mais um pouco de conversa fora. Quando terminei meu horário de almoço resolvi analisar alguns arquivos para próxima reunião já que se tratava de um cliente especial precisava ser tudo impecável, afinal, esse era um cliente importante. A aprovação dele para esse projeto resultaria em um lucro de milhões para empresa. Se tudo corresse bem hoje, na próxima semana teríamos que viajar para Curitiba-PR para analisar o local. Nossa empresa era tão conceituada, que pessoas do mundo todo nos contatavam com interesse em orçamentos. E a maioria das vezes, fechávamos o projeto com o cliente. O último que trabalhamos, foi um prédio luxuoso com 40 apartamentos. As coisas estavam indo muito bem por aqui. Mas sempre podia melhorar, então me concentrei para dar meu melhor nesta reunião. *** Já se aproximava das 18:00 e eu estava finalizando algumas anotações, tudo tinha corrido muito bem na reunião, aparentemente o cliente estava muito interessado e provavelmente estaríamos viajando na próxima semana. Apesar de não ser formada na área, aprendi muito com Andrew, e hoje até nisso eu o ajudo. Estou sempre dando opiniões sobre tudo, e quando ele concorda que pode dar certo, acaba acatando minhas ideias. Então eu sempre o acompanho nas avaliações. Provavelmente essa seria minha última viagem a trabalho. Se Andrew continuar agindo da mesma forma que hoje, essa viagem vai ser osso duro de roer. Juro que eu queria entender o que se passa na cabeça desse homem! Geralmente quando o humor dele muda, ele costuma ficar frio e distante. Mas hoje... além disso senti ele meio ríspido em alguns momentos. Parecia estar com raiva de mim por algum motivo, o que não dá pra entender. Acho que ao invés disso, ele deveria estar muito grato a mim, pois eu podia ter deixado ele se virar morto de bêbado naquele lugar. Mas não, eu tinha mesmo que ir lá ajudar ele, pra depois ele me tratar como se eu tivesse feito algo de errado. Isso Sophia, seja boa, se preocupe! Andrew definitivamente estava impossível hoje, acompanhou a entrevista de duas candidatas a vaga de assistente, mas logo de cara já dispensou qualquer possibilidade de contrata-las. O currículo delas eram impecáveis, mas ele via defeito onde não tinha. Deus! Ele estava definitivamente dificultando a minha vida. Por sorte durante a semana ainda terão mais três candidatas. Ainda há esperanças. - Sophia. – Dei um pulo quando a voz de Andrew invadiu o ambiente. – Você não acha que está muito avoada esses dias? É a segunda vez que pego você perdida em pensamentos, sei que você pretende sair. Mas espero que possa dar o máximo de si até o final. - E quando foi que eu não dei tudo de mim Andrew? Na reunião hoje mais cedo? Nos relatórios impecáveis? Na seleção de entrevistas? Ou quando sai de minha casa mais de 00:00 para busca-lo bêbado em um bar? – Falei tentando ao máximo conter minha voz – Você está equivocado, não é por que tirei 5 minutos do meu tempo para pensar em algumas coisas que me tornei “avoada” ou ineficiente. Continuo dando conta de tudo como sempre. Então peço que pense bem antes de qualquer insinuação sem cabimento por favor. – Andrew tinha passado o dia todo com grosserias, sei muito bem que não deveria falar com ele dessa forma. Mas eu estava no limite. Eu não sei o que estava acontecendo. Mas eu não iria mais ouvir calada. Andrew com certeza não esperava esse tipo de resposta vindo de mim. Mas sinceramente, nem eu. Quando me dei conta, eu já tinha falado. A única coisa que eu poderia fazer era aguardar para saber como ele reagiria a minha resposta. Andrew arqueou as duas sobrancelhas, e por um momento ele não disse nada. - Peço que me desculpe se te ofendi Sophia, é só que... acabei falando sem pensar – ele finalmente falou enquanto colocava as mãos nos bolsos da calça. – Não queria ofender você. – Ele realmente parecia arrependido. Agora foi minha vez de ficar sem reação. Ele me pediu desculpas? É primeira vez em sete anos que ouço essa palavrinha magica sair da boca dele. Independente de quem estava certo, era sempre eu quem pedia desculpas quando algo não o agradava, ou quando o clima não estava muito bom por algum motivo. - Hã... tudo bem – eu disse sem jeito. – Me desculpe também, exagerei um pouco. - Acho que nós dois precisamos de um descanso. Vamos encerrar por hoje. Apenas assenti com a cabeça enquanto ele se virava de volta para sua sala. Então comecei a separar minhas coisas para ir para casa. Definitivamente alguma coisa estava acontecendo com Andrew, ele não era assim. Nunca o vi perder o controle ou insinuar coisas assim. Mas decidi apenas observar. Afinal, sei que também passei um pouco dos limites no meu modo de falar. E não tinha porque estender isso. Pois em menos de um mês eu estaria longe daqui. Eu não sei dizer porque, mas pela primeira vez ao pensar sobre isso não me sentia tão feliz. Cheguei em casa exatamente as 18:46. E eu ainda tinha o resto da noite para fazer o que quisesse. Esses dias chegando mais cedo, tem sido muito bom. Eu poderia me acostumar com isso. Teria evitado tanta coisa se fosse sempre assim. Anna chegou pouco tempo depois, eu já estava de banho tomado e fazendo um lanche na cozinha. - Garota, se continuar assim, aposto que você vai acabar voltando atrás na decisão de sair da empresa hein. – Anna disse enquanto se sentava ao meu lado em uma cadeira. - Você diz isso porque não te contei ainda a proposta maluca que Andrew me fez. - Que proposta amiga? - Aumento no salário, diminuição da carga horaria e uma assistente para me auxiliar. – Anna ficou boquiaberta. - Mentira! Que tudo. E você aceitou? - Eu recusei. Não acho que ele seja capaz de cumprir tudo. A questão de carga horaria reduzida. - Amiga você deveria pensar no assunto, afinal, ele tem mostrado que pode ser possível né? Quando você vai receber outra proposta assim? - Não vou negar que isso passou pela minha cabeça, mas por enquanto vou deixar como está. Vamos ver daqui pra frente. - Pensa bem amiga. Se precisar conversar, sabe que estou sempre aqui né? – ela disse e me deu um sorriso amigável. - Claro, obrigada. Mas e você? Está saindo bastante ultimamente, algum paquera novo? - Dois – ela disse em meio a uma gargalhada, não aguentei e me juntei a ela. - Anna! Você deveria parar com isso, uma hora isso pode dar merda. - Aí amiga, eu já expliquei, como você não tem tempo para arrumar um, tenho que aproveitar por nós duas – ela disse em meio a risos – Brincadeiras a parte, mas eu não tenho compromisso com ninguém então, não vejo problemas. Quero aproveitar tudo de melhor que o Brasil tem a oferecer. A proposito você também deveria. - Você definitivamente não tem jeito! – começo a rir dela e enquanto balanço a cabeça em negação. – Quem são os caras? Anna passou boa parte da noite me atualizando sobre as fofocas, rimos bastante como sempre. E após um tempo decidi ir pro quarto dormir. Afinal, no dia seguinte eu teria muito trabalho a fazer.
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