Ester
Precisar de bastante dinheiro e não saber como conseguir é simplesmente desesperador, eu sei disso de experiência própria, pois meu pai agora está internado em coma induzido, ele esteve entre a vida e a morte, descobrimos recentemente que o mesmo tinha problema no coração e que precisava fazer urgentemente uma cirurgia de emergência, e a mesma custava vinte mil reais, eu não tinha como dar esse dinheiro todo de uma vez, pois sou uma simples professora de poledance, trabalho em uma academia de ginástica e ganho um salário mínimo por mês. Eu não estou reclamando nem nada, adoro o meu trabalho, sempre amei dançar desde criança, minha mãe me colocou no balé quando eu tinha três anos de idade, e desde então a dança faz parte da minha vida.
Eu fiz aulas de balé até meus dezesseis anos, quando minha infelizmente minha mãe adoeceu e morreu, meu pai fez de tudo pra eu continuar frequentando a academia de balé, mas era muita coisa pra ele dar conta sozinho financeiramente, então eu por conta própria abandonei as aulas, e fui atrás de um trabalho para ajudar nas finanças de casa, meu pai ficou muito triste, mas não tinha muito o que fazer, estávamos no vermelho, e eu não podia me dar ao luxo de frequentar uma academia tão cara, quanto a do balé, e nós temos vivido assim até atualmente, com meus dezenoves anos de idade.
Fui trabalhando em lojas, e em mercadinhos, até quando conheci a senhora Mercia, ela é dona de uma academia de dança, eu coloquei o meu currículo, fiz o teste e passei, segundo a mesma, devido à extrema flexibilidade do meu corpo, eu me encaixaria perfeitamente na área do poledance, e bem, ela estava coberta de razão, logo eu alcancei a o nível de melhor instrutora da academia e permaneço no posto até hoje.
Tudo estava bem na minha vida até o momento em que recebi a notícia do infarto do meu pai, logo veio também a informação da cirurgia no qual ele devia fazer caso contrário morreria e também o meu desespero por não ter nenhum dinheiro, era o fim, por causa de uma simples transferência bancária eu perderia o meu pai para sempre e ficaria sozinha no mundo.
Mas foi aí que eu escutei uma conversa entre uma das minhas alunas e um homem que pela aparência deveria ser irmão dela, eles estavam falando sobre contratar alguém, sobre pagar o preço que fosse necessário, e sem pensar duas vezes, eu me aproximei.
— Guto você tá maluco? Quer me matar de vergonha garoto? Eu não irei fazer nenhuma proposta a ninguém, e muito menos permitirei que você o faça. - Tamara dizia irritada, ela é uma das minhas melhores alunas, e sabe o quanto nós somos profissionais.
— Qual é maninha, é pra uma boa causa, garanto pra você. - o ruivo praticamente implorava.
— Aqui não é nenhuma boate com dançarinas particulares não garoto, aqui é uma academia de respeito e as professoras daqui são todas moças de família, eu jamais irei passar uma vergonha dessas, e o Sérgio vai me pagar caro quando eu chegar em casa, onde já se viu te dar uma ideia dessas. - a loira ia dizendo todas as palavras rapidamente, sem nem ao menos dar chance ao irmão para falar.
— Com licença! - me aproximei deles, pois percebi que o homem já estava convencido a se retirar com a irmã. — O senhor falou em contratar serviços particulares? - ele me olhou de cima a baixo e esboçou um breve sorriso no canto dos lábios, já Tamara me olhou incrédula, o que me fez ficar vermelha de vergonha, porém, me mantive firme e continuei com a conversa.
— Sim! Isso mesmo, preciso de uma moça para fazer uma apresentação particular, e você senhorita, com todo o respeito, se encaixa perfeitamente para o serviço que eu estou querendo contratar. - disse e piscou o olho todo safado pra mim.
— Não sou garota de programa, desculpa, acho que me enganei. - eu disse já me afastando de perto dos irmãos, crendo que havia sido uma péssima ideia sequer ouvir a conversa deles.
— Ei! Ei! Não é programa que eu estou precisando não, na verdade eu preciso presentear um amigo, com uma apresentação de dança, mas não uma apresentação de dança qualquer, precisa ser a apresentação de dança, desculpa, eu estou nervoso, mas você consegue entender o que eu estou dizendo? - ele disse tentando me explicar e eu respirei fundo e os convidei até a minha sala, onde eu dava as minhas aulas de poledance.
— Ester me desculpa, o meu irmão e o meu noivo estão me matando de vergonha com essa história. - loira disse sem graça e eu sorri a tranquilizando.
— Tudo bem Tamara, eu estou interessada em ouvir a proposta do seu irmão. - falei e novamente a mesma pareceu estar surpresa, eu sabia que estava correndo o risco de perder o respeito das minhas alunas, mas estava desesperada, era tudo ou nada.
— O meu amigo está surtado! Ele virou literalmente um "Tarzan da floresta" depois que encontrou a noiva na cama com outro cara que também é amigo nosso. - o ruivo disse com pesar.
— Como você ainda tem coragem de chamar aquele i*****l de merda de amigo, a mim ele nunca enganou. - Tamara disse irritada.
— O foco aqui é o Noan, então, Ester, eu quero uma moça bem bonita, e que saiba dançar, para fazer uma bela apresentação para o meu amigo, e que o faça recordar da maravilha que é viver na cidade. - foi só o ruivo parar o que estava falando e eu me desatei a sorrir.
— Como você acha que uma mera apresentação fará um cara voltar a civilização? - perguntei enxugando as lágrimas nos cantos dos olhos.
— É que desde adolescente o Noan sempre foi fissurado por dançarinas e strippers, a gente vivia em casas noturnas, e ele adora dançarinas de poledance, ele perdeu esse hábito quando começou a namorar a Samanta, o que eu estou te pedindo senhorita Ester, é que você traga de volta na mente do meu amigo, a lembrança de época boa da vida dele, de quando a Samanta não existia. - ele disse triste e eu fiquei com pena.
— Eu preciso de vinte mil reais. - já falei logo de cara e o homem nem pestanejou.
— Tudo bem! Eu sei que não estou falando com uma dançarina qualquer, não se preocupe senhorita Ester, nosso negócio será estritamente profissional, sei que você saíra da cidade e irá realizar o trabalho a domicílio, quer dizer na mata mesmo, mas é isso, eu entendo e estou disposto a pagar. - ele disse e eu respirei aliviada.
— Tudo bem eu aceito! Mas preciso do p*******o adiantado.
E foi tudo minuciosamente acertado, ele e o senhor Nogueira, que é advogado e noivo da Tamara me deram um contrato no qual eu assinei e logo recebi a transferência, que imediatamente repassei para o hospital e logo soube que meu pai já estava sendo encaminhando para a sala de cirurgia, cheguei até a chorar de alívio, pois por obra divina eu tinha conseguido o dinheiro para salvá-lo.
E então o grande dia chegou, fiz o treinamento de uma apresentação de pole em um tronco de bambu, me preparei e coloquei o laço de fita, pois eu deveria me apresentar como um presente dado pelo senhor Nogueira e pelo senhor Soares, o combinado era apenas uma breve apresentação e dentro de uma, ou no máximo duas horas eu já estaria de volta pelo menos na rodoviária, para voltar para casa.
Mas algumas coisas aconteceram, coisas que me fizeram perder o interesse em retornar para a civilização.
Meu pai morreu na mesa de cirurgia, os médicos disseram que fizeram de tudo para salvá-lo e que não resistir a operação era um risco que ele estava correndo desde o início, no fim, nada adiantou, eu tinha perdido meu pai, e tinha que cumprir o contrato caso contrário teria que devolver os vinte mil reais que eu não tinha para os meus contratantes, pois não tive devolução do hospital. Chorei pela morte do meu pai, e no outro dia fui cumprir o meu acordo.
Porém, no caminho para o xalé, recebi uma ligação da senhora Mercia, dizendo que soube por meio de terceiros que eu estava fazendo serviços particulares para clientes masculinos fora da academia, e que não queria ter o seu renomado nome envolvido em escândalos, resumindo, eu estava desempregada.
E foi assim que eu cheguei naquele xalé, sem pai, sem emprego, sem dinheiro, e totalmente perdida.
E no momento em que eu vi aqueles olhos azuis e animalescos me encarando, aquele m****o gigante rodeado por pêlos loiros pubianos, aqueles braços fortes, e aquele jeito selvagem e abrasador que emanava daquele homem sensual, decidi ligar o f**a-se, e viver aquela vida alternativa junto com ele, afinal, eu não tinha nada a perder.
E essa é a minha história, essas foram as razões que me trouxeram até esse exato momento, até esse instante onde estou ouvindo essas quentes declarações de um homem apaixonado, um homem no qual eu descobrir também estar perdidamente apaixonada, mas não sei como será a sua reação, ao saber da minha história, ao saber que em vez de tirá-lo daqui como o prometido, eu fiz exatamente o contrário, mergulhando de cabeça na onda dele e surtando junto com ele, fugindo da realidade, e ao mesmo tempo vivendo os dias mais libertadores da minha vida.
— Ester, por favor, me aceita. - ele pede suplicante e eu me derreto toda, o medo de perder ele, de perder esse paraíso no qual construímos juntos é real.
Eu não suportaria mais outra perda, não sobreviveria a outro baque, mas respirei fundo, enxuguei as lágrimas, e resolvi encarar mais essa situação, da mesma maneira que eu sempre encaro as adversidades da vida, de frente, e com o peito aberto.
Olhei bem no fundo das safiras animalescas e pronunciei:
— Noan! Antes eu preciso te contar tudo.