Capítulo 25

1408 Words
Clara Oliveira 16 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil Eu ainda estava processando o fato de Pedro estar parado na porta do apartamento de Leonardo, olhando diretamente para mim. Nunca imaginei que ele apareceria assim, de repente, especialmente depois de tudo o que aconteceu. Não sabia se ele estava ali para confrontar, para encerrar as coisas de uma vez por todas, ou se havia outra razão por trás de sua visita. Leonardo ficou em silêncio ao lado de Pedro, respeitando o espaço e esperando para ver o que aconteceria. Seus olhos estavam fixos em mim, como se me encorajassem a lidar com isso do jeito que eu achasse melhor. — Podemos sair e conversar lá fora? — Pedro perguntou, sua voz séria, mas calma. Eu assenti, tentando manter o controle da minha respiração. Sabia que essa conversa precisava acontecer, mas o medo do que ele diria me dominava. Seria mais uma rodada de mágoas e acusações? Ou havia algo mais que Pedro queria dizer? — Tudo bem — respondi, me afastando da porta. — Vamos. Olhei para Leonardo antes de sair, e ele apenas assentiu, me dando um sorriso leve. Sabíamos que eu precisava enfrentar isso sozinha. Pedro estava ali para falar comigo, não com Leonardo. Caminhamos em silêncio até o parque próximo ao prédio, e, durante o caminho, o desconforto entre nós era palpável. Pedro estava claramente lidando com suas próprias emoções, mas sua expressão era indecifrável. Eu não sabia se ele estava bravo, magoado, ou apenas cansado de tudo. Quando chegamos a um banco vazio, ele se sentou, e eu o acompanhei. O silêncio parecia se estender por uma eternidade antes que Pedro finalmente falasse. — Eu vi as notícias — ele começou, a voz sem raiva, mas cheia de algo que parecia mais triste do que qualquer coisa. — Vi seu nome em todos os lugares. As pessoas falando sobre você... sobre vocês dois. — Ele fez uma pausa, olhando para o chão. — E eu percebi que, por mais que isso me machuque, eu precisava ouvir de você o que está acontecendo. Eu respirei fundo, sentindo meu peito apertar. Sabia que Pedro merecia respostas. Por mais que nossa relação tivesse sido destruída, ele ainda era alguém que tinha um direito de entender o que estava acontecendo. E agora era minha chance de ser honesta com ele. — Pedro... — comecei, com a voz baixa. — Eu não sei se posso explicar tudo de uma forma que faça sentido. O que aconteceu entre mim e o seu pai... foi algo que nunca planejamos. Mas... foi real. — Eu pausei, olhando para ele com cuidado. — E eu sei que isso te machuca, sei que foi uma traição enorme, mas eu me apaixonei por ele. E, por mais que isso tenha custado tanto, não posso mudar o que sinto. Pedro ficou em silêncio, seu olhar fixo no horizonte. Eu sabia que ele estava processando minhas palavras, tentando entender como eu poderia ter feito o que fiz. Mas também sabia que ele merecia a verdade, por mais dura que fosse. — Clara, você tem ideia do que isso fez comigo? — Ele finalmente perguntou, sua voz embargada. — Não é só o fato de que você escolheu o meu pai. É o fato de que... eu confiava em você. Eu te amava. Eu acreditava que a gente tinha algo real. As lágrimas começaram a brotar nos meus olhos. Ouvir Pedro dizer aquilo, com tanto peso e mágoa, era como reviver o momento em que eu o havia destruído. Cada palavra era um lembrete do quanto ele havia se machucado. — Eu sei, Pedro. — Minha voz saiu trêmula. — E sinto muito. Sinto de verdade. Eu nunca quis te machucar, mas eu... não pude evitar o que aconteceu. — Minha garganta apertou enquanto tentava segurar as lágrimas. — Sei que isso não conserta nada. Sei que perdi você para sempre, e isso me corrói. Mas eu precisava ser honesta com você. E... eu sei que você merece mais do que isso. Pedro suspirou, parecendo cansado de toda a dor que carregava. — Eu não sei se algum dia vou conseguir te perdoar — ele admitiu, com uma sinceridade que me partiu o coração. — Mas, ao mesmo tempo, eu não quero mais carregar esse ódio. Não quero que isso me defina, nem que me impeça de seguir em frente. Ele me olhou nos olhos pela primeira vez desde que começamos a conversar, e vi algo diferente em seu olhar. Não era mais só dor e raiva. Havia uma aceitação, uma resignação que eu nunca tinha visto antes. — Você e o meu pai... — Pedro continuou, com a voz mais suave. — Eu nunca vou entender completamente. Mas se você diz que o que vocês têm é real, então... talvez eu só tenha que aceitar isso. Talvez eu tenha que deixar vocês dois viverem com as consequências das escolhas que fizeram. As palavras dele eram surpreendentemente maduras, e eu senti uma onda de emoções atravessar meu corpo. Pedro estava tentando seguir em frente, tentando encontrar uma maneira de deixar isso para trás, e, por mais difícil que fosse, eu sabia que ele estava certo. Precisávamos lidar com as consequências de nossas escolhas. — Pedro... eu só quero que você saiba que eu nunca quis que terminasse assim. — Minha voz saiu embargada pelas lágrimas que eu tentava segurar. — Eu sinto muito por ter te machucado. Sinto muito por tudo. Pedro assentiu, como se compreendesse o que eu estava dizendo. O silêncio entre nós não era mais tão pesado. Era como se, pela primeira vez desde que tudo começou, estivéssemos finalmente começando a aceitar o que havia acontecido. — Eu vou seguir em frente, Clara — ele disse, olhando novamente para o horizonte. — Vou tentar deixar tudo isso no passado. E espero que você consiga fazer o mesmo. Eu sabia que, por mais que essa conversa estivesse cheia de mágoa e arrependimento, Pedro estava tentando me dar algo que eu nunca esperei: uma chance de reconstruir minha vida. — Eu espero que você encontre alguém que te faça feliz, Pedro. — Eu disse, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. — Você merece isso. Ele me olhou por um longo momento, e então deu um leve sorriso, melancólico, mas sincero. — Eu vou ficar bem, Clara. E você também. Houve mais um momento de silêncio, e então Pedro se levantou, me dando um último olhar antes de começar a se afastar. Eu fiquei sentada no banco, observando-o se distanciar, sentindo um misto de tristeza e alívio. Sabia que essa conversa era o fim de uma parte da minha vida. E, por mais doloroso que fosse, também era o início de algo novo. Pedro estava seguindo em frente, e eu precisava fazer o mesmo. Voltei ao apartamento de Leonardo com o coração ainda pesado, mas de alguma forma, mais leve do que antes. A conversa com Pedro tinha me dado um senso de fechamento que eu não esperava. Por mais que eu tivesse causado dor, havia algo libertador em saber que ele estava disposto a seguir em frente, mesmo que ainda estivesse magoado. Leonardo estava na sala quando voltei, e sua expressão ficou séria ao ver meu rosto. — Como foi? — Ele perguntou, com a voz suave, mas cheia de preocupação. Eu me sentei ao lado dele, suspirando profundamente. — Foi... difícil, mas necessário. — Respondi, com sinceridade. — Pedro não me perdoou, mas ele quer seguir em frente. E acho que, finalmente, isso nos dá uma chance de fazer o mesmo. Leonardo assentiu, segurando minha mão. — Estou orgulhoso de você, Clara. Sei que não foi fácil, mas era algo que precisava acontecer. Eu me aconcheguei nos braços de Leonardo, sentindo o peso de tudo o que tínhamos passado. Sabia que ainda havia muito a enfrentar — a imprensa, os julgamentos, o futuro incerto. Mas, pela primeira vez em muito tempo, sentia que estávamos prontos para lidar com isso. — Vamos seguir em frente — disse ele, acariciando meu cabelo. — E, não importa o que aconteça, vamos enfrentar isso juntos. Eu fechei os olhos, deixando que o conforto das palavras dele me envolvesse. Sabia que o caminho à frente seria difícil, mas, com Leonardo ao meu lado, eu estava disposta a enfrentar o que viesse. E, no fundo, eu sabia que, apesar de todos os desafios, estávamos prontos para começar de novo.
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