Capítulo 27

1462 Words
Clara Oliveira 19 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil As semanas que se seguiram foram um verdadeiro teste de paciência e resiliência. Por mais que Leonardo e eu estivéssemos tentando manter uma rotina normal, a pressão do mundo exterior era cada vez mais intensa. A mídia não recuava — a história do divórcio e de nosso relacionamento continuava a ser alimentada diariamente, e meu nome aparecia em mais manchetes do que eu podia contar. Tentei me concentrar nos meus estudos, no trabalho, em qualquer coisa que me distraísse do caos ao nosso redor. Mas, por mais que eu tentasse, sempre havia algo me puxando de volta para a realidade — um novo artigo, uma nova fofoca, ou alguém me encarando na rua. Eu estava na cozinha do apartamento de Leonardo, tentando preparar algo simples para o jantar, quando ouvi o som de notificações consecutivas no meu celular. Peguei o telefone de cima da bancada e, com um aperto no peito, vi que mais uma vez meu nome estava circulando nas redes sociais. Mais especulações, mais comentários, mais julgamentos. Era exaustivo. E por mais que Leonardo tentasse me proteger, parte de mim sabia que estávamos no limite. Era como se tudo o que fazíamos fosse monitorado e interpretado da pior maneira possível. Enquanto eu tentava bloquear os pensamentos negativos, Leonardo entrou na cozinha, parecendo mais sério do que o normal. Ele havia passado o dia em reuniões importantes, tentando lidar com a repercussão do divórcio e as pressões internas da empresa. — Como você está? — ele perguntou, me observando com cuidado, enquanto se aproximava e me abraçava por trás, os braços fortes ao redor da minha cintura. Eu respirei fundo, sentindo o conforto temporário do toque dele. — Estou tentando me manter ocupada — respondi, com um sorriso forçado. — Mas... as coisas continuam difíceis. As pessoas não param de falar sobre nós. Leonardo suspirou, soltando-me lentamente e se apoiando no balcão ao meu lado. Havia um cansaço nos olhos dele, algo que eu estava começando a ver com mais frequência. — Sei que está sendo um inferno para você — ele disse, com a voz baixa. — E sinto que isso só piora porque... eu te arrastei para essa bagunça. Eu balancei a cabeça, tentando afastar a culpa que ele claramente sentia. — Você não me arrastou para nada, Leonardo. Eu escolhi estar com você. Sabíamos que haveria consequências, mas... eu só não esperava que fossem tão difíceis de lidar. Ele me olhou, e por um momento, parecia que ia dizer algo, mas hesitou. O silêncio que seguiu foi carregado de tensão, como se ele estivesse tentando encontrar as palavras certas para algo que estava incomodando. — O que foi? — perguntei, tentando entender o que estava acontecendo. Leonardo passou a mão pelo rosto, visivelmente frustrado. — Eu... recebi uma ligação da minha equipe de relações públicas hoje. — Ele fez uma pausa, respirando fundo antes de continuar. — Estão sugerindo que, para aliviar a pressão da mídia, talvez fosse melhor darmos um tempo. Pelo menos publicamente. As palavras dele me atingiram como um soco. Dar um tempo publicamente? Eu sabia que a situação estava complicada, mas nunca esperei que chegasse a isso. — O que... você quer dizer com isso? — minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia, o choque ainda me dominando. — Eles acham que, se ficarmos fora dos holofotes por um tempo, as pessoas vão se cansar da história. Que o foco vai mudar para outra coisa, e a pressão sobre nós vai diminuir. — Ele me olhou, a culpa clara em seus olhos. — Não estou dizendo que é isso que quero. Mas essa é a recomendação deles. Eu senti o chão sumir sob meus pés. Depois de tudo o que passamos, depois de enfrentar tanto, agora a solução era nos esconder? Fingir que não estávamos juntos para que as pessoas nos deixassem em paz? — Você concorda com isso? — perguntei, tentando controlar as emoções que estavam crescendo dentro de mim. Leonardo hesitou por um momento, e eu soube que a resposta não seria fácil. — Clara, não quero que as coisas fiquem assim para sempre. Mas... estou preocupado com o que tudo isso está fazendo com você. — Ele se aproximou, pegando minhas mãos nas dele. — Sei que está sendo muito para você, e não quero que você sofra mais do que já está sofrendo. Eu soltei um suspiro, sentindo a frustração e a dor se misturarem dentro de mim. — Então, a solução é... fingirmos que não estamos juntos? — As palavras saíram com uma amargura que eu não conseguia controlar. — É assim que vamos lidar com isso? Leonardo balançou a cabeça, claramente agitado. — Não é isso. Só... estou tentando encontrar uma maneira de aliviar a pressão. Mas eu sei que não é justo. Sei que isso também vai te machucar. Eu me afastei um pouco, tentando processar o que ele estava dizendo. A ideia de esconder nosso relacionamento, de ceder à pressão externa, me fazia sentir ainda mais vulnerável. Mas, ao mesmo tempo, parte de mim entendia o ponto de vista dele. A pressão estava nos destruindo. — Eu... eu não sei o que pensar, Leonardo — admiti, a voz quebrando. — Eu entendo o que você está dizendo, mas a ideia de nos escondermos... isso só faz parecer que estamos errados. Como se o que sentimos fosse algo sujo que precisamos ocultar. Leonardo olhou para mim com os olhos cheios de arrependimento, e eu sabia que ele também estava sofrendo. Estávamos no meio de uma batalha que parecia impossível de vencer, e qualquer decisão que tomássemos traria consequências. — Eu não quero que você sinta que estamos errados — ele disse, com a voz suave. — Sei que o que temos é real, e não deveria ser assim. Mas a pressão está crescendo, e preciso encontrar uma maneira de proteger você... e nós. Eu queria acreditar que havia uma solução, que poderíamos continuar juntos sem precisar nos esconder. Mas a verdade era que, quanto mais as pessoas sabiam sobre nós, mais o mundo ao nosso redor parecia desmoronar. — Talvez... — comecei, hesitante. — Talvez possamos encontrar um equilíbrio. Não precisamos nos esconder, mas... também não precisamos estar no centro de tudo. Podemos tentar ser mais discretos, pelo menos até as coisas acalmarem. Leonardo assentiu lentamente, considerando o que eu disse. — Pode ser — ele respondeu. — Podemos tentar ser mais cuidadosos, deixar que a tempestade passe. Mas, de qualquer maneira, quero que saiba que estou com você, Clara. Sempre. Eu me aproximei, me aninhando em seus braços, sentindo o calor e o conforto que só ele conseguia me dar. — Eu também estou com você, Leonardo. Vamos enfrentar isso juntos, não importa o que aconteça. O silêncio que se seguiu foi reconfortante. Estávamos cansados, exaustos de tanta pressão, mas ainda estávamos ali, dispostos a lutar um pelo outro. Sabíamos que o caminho à frente seria difícil, mas também sabíamos que não estávamos dispostos a desistir. Nos dias seguintes, tentamos colocar nosso plano em prática. Fomos mais discretos, evitando aparições públicas juntos e tomando cuidado com a forma como lidávamos com a mídia. Mas, por mais que tentássemos sair dos holofotes, o mundo parecia sempre encontrar uma maneira de nos arrastar de volta. Eu continuava a evitar redes sociais e qualquer tipo de exposição, mas as fofocas e as especulações não diminuíam. Era como se, quanto mais tentássemos desaparecer, mais as pessoas quisessem saber sobre nós. Certa tarde, recebi uma mensagem de Teresa. Meu coração parou por um momento ao ver o nome dela na tela. Nós não havíamos nos falado desde a última vez em que nos encontramos, e eu não sabia o que ela queria agora. Teresa Martins: "Precisamos conversar. Só nós duas." Fiquei olhando para a mensagem por um longo tempo, sem saber como responder. O que mais Teresa tinha a dizer? Eu pensei que já havíamos passado por isso, que já tínhamos dito tudo o que precisava ser dito. Mas, pelo tom da mensagem, parecia que havia algo mais. Respirei fundo e respondi. Clara Oliveira: "Tudo bem. Onde e quando?" Teresa Martins: "Amanhã, às 15h. No café que nos encontramos da última vez." Assim que enviei a resposta, senti um frio na espinha. Sabia que essa conversa seria difícil, mas, de alguma forma, eu também sabia que era inevitável. Teresa ainda fazia parte de nossas vidas, de alguma forma, e enfrentar o que ela tinha a dizer era o próximo passo no caminho que eu e Leonardo estávamos trilhando. No dia seguinte, eu me preparei mentalmente para a conversa com Teresa. Não sabia o que esperar, mas uma coisa era certa: essa era uma conversa que mudaria tudo.
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