Capítulo 29

1463 Words
Clara Oliveira 21 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil O café com Teresa me deixou pensativa, e, enquanto os dias passavam, a conversa que tivemos continuava ecoando na minha mente. Por mais que ela tivesse sido dura em alguns momentos, havia uma honestidade crua em suas palavras que eu não podia ignorar. Estar com Leonardo não seria fácil. E por mais que eu estivesse disposta a lutar por nós, sabia que o futuro traria desafios que não conseguiríamos evitar. Leonardo estava sempre ao meu lado, tentando me dar o máximo de suporte, mas eu podia ver o quanto ele também estava se sentindo pressionado. A mídia continuava em cima, os comentários e as especulações não diminuíam, e agora, mais do que nunca, precisávamos ser fortes juntos. Eu estava no apartamento de Leonardo, sentada no sofá com o laptop no colo, tentando trabalhar em um projeto da faculdade, quando uma nova notificação apareceu na tela. Suspirei, sabendo que provavelmente era mais um artigo ou comentário sobre nós. Mas, ao clicar, vi que era uma mensagem de Pedro. Meu coração disparou. Eu não esperava ouvir mais nada de Pedro depois da nossa última conversa, então ver o nome dele ali me pegou de surpresa. Abri a mensagem com um certo nervosismo. Pedro Martins: "Oi, Clara. Sei que nossa última conversa foi difícil, mas eu venho pensando em algumas coisas desde então. Podemos nos encontrar? Gostaria de falar com você." Fiquei olhando para a tela, sem saber como responder de imediato. Pedro queria me ver novamente? Nossa última conversa parecia ter sido uma espécie de encerramento, mas agora ele estava voltando, querendo falar mais. O que isso significava? Eu respirei fundo e respondi rapidamente. Clara Oliveira: "Claro, Pedro. Quando e onde?" Ele respondeu quase imediatamente. Pedro Martins: "Amanhã, no mesmo lugar da última vez. Às 16h." Desliguei o celular e me joguei contra o encosto do sofá, sentindo uma mistura de ansiedade e curiosidade. Por que Pedro queria me ver novamente? Ele já havia dito o que sentia, e eu não sabia o que mais ele poderia querer de mim. Leonardo entrou na sala naquele momento, interrompendo meus pensamentos. Ele me olhou com curiosidade enquanto colocava alguns papéis na mesa de centro. — O que foi? — perguntou ele, percebendo a expressão no meu rosto. Eu respirei fundo, hesitando por um momento antes de responder. — Pedro quer me ver de novo — disse, tentando parecer mais tranquila do que realmente estava. — Ele me mandou uma mensagem agora, dizendo que quer conversar amanhã. Leonardo franziu a testa, claramente surpreso. — E o que você acha que ele quer? — perguntou, com a voz neutra, mas carregada de preocupação. Eu dei de ombros, sentindo o peso da incerteza. — Não sei. Talvez ele ainda tenha algo a dizer. Ou... talvez ele esteja tentando encontrar uma maneira de seguir em frente, como ele disse antes. — Olhei para Leonardo, buscando conforto. — Você acha que devo ir? Leonardo ficou em silêncio por um momento, parecendo ponderar a situação. — Acho que, se Pedro quer falar com você, é importante que você ouça o que ele tem a dizer. — Ele se aproximou, sentando-se ao meu lado e segurando minha mão. — Mas também quero que você tome cuidado. Sei que ele está tentando lidar com tudo isso, mas também sei o quanto ele está magoado. Só... esteja preparada para o que quer que ele tenha a dizer. Eu assenti, sabendo que Leonardo estava certo. Pedro era uma pessoa emocionalmente complexa, e, por mais que eu quisesse acreditar que ele estava pronto para seguir em frente, havia sempre a possibilidade de que ele ainda estivesse tentando processar tudo. — Eu vou — respondi, finalmente. — Vou ouvir o que ele tem a dizer. Mas vou ser cuidadosa. Leonardo me puxou para mais perto, envolvendo-me em seus braços. — Vai ficar tudo bem — ele disse, sua voz suave. — Seja o que for, você é forte o suficiente para lidar com isso. Eu me aconcheguei contra ele, sentindo o conforto que sempre encontrava em sua presença. Mas, mesmo com suas palavras reconfortantes, o nervosismo sobre a conversa com Pedro no dia seguinte ainda estava presente, crescendo lentamente dentro de mim. No dia seguinte, cheguei ao café onde Pedro havia marcado nosso encontro. O clima estava nublado, como se refletisse o turbilhão de emoções que eu estava sentindo. Pedro já estava lá, sentado em uma mesa perto da janela, e me cumprimentou com um aceno leve quando me viu entrar. Sentei-me de frente para ele, e, por um momento, nenhum de nós disse nada. O silêncio entre nós era pesado, mas não carregado de raiva. Era mais uma expectativa tensa, como se ambos soubéssemos que havia algo importante por vir. — Obrigado por ter vindo, Clara — Pedro disse, finalmente, com um tom calmo, mas sério. — Eu estive pensando muito desde a nossa última conversa, e... há algumas coisas que eu preciso te dizer. Eu assenti, mantendo minha postura o mais tranquila possível, mesmo que por dentro estivesse cheia de ansiedade. — Claro. Estou ouvindo. Pedro respirou fundo, como se estivesse se preparando para o que estava por vir. — Eu pensei que estava pronto para seguir em frente — ele começou. — E, de certa forma, acho que ainda estou. Mas, ao mesmo tempo, não posso ignorar o que aconteceu. Não posso simplesmente apagar tudo o que a gente teve. — Ele fez uma pausa, olhando para o chão por um momento antes de continuar. — E, por mais que eu esteja tentando, ainda estou com raiva. Raiva de você. Raiva do meu pai. As palavras dele me atingiram com força, mas eu sabia que eram verdadeiras. Pedro ainda estava lidando com a mágoa, com a sensação de traição, e isso era algo que não desapareceria tão facilmente. — Eu entendo — disse, com sinceridade. — Sei que o que fizemos foi errado, e sei o quanto isso te machucou. Nunca vou tentar justificar isso. Só... quero que você saiba que eu sinto muito. E que nunca foi minha intenção te destruir. Pedro assentiu, mas sua expressão permanecia tensa. — Eu sei que você sente muito, Clara. E, talvez, parte de mim saiba que você não fez isso para me machucar. Mas isso não muda o que eu sinto. — Ele me olhou nos olhos, e, pela primeira vez, vi lágrimas ameaçando se formar. — Eu nunca vou esquecer o que aconteceu. Nunca vou esquecer o que perdi por causa disso. Eu senti meu coração apertar. As palavras de Pedro eram duras, mas também carregadas de dor, e, por mais que fosse difícil ouvi-las, sabia que ele estava tentando ser honesto comigo. — Eu sei — respondi, com a voz trêmula. — Eu também nunca vou esquecer. Houve um longo silêncio entre nós. Eu queria encontrar as palavras certas, algo que pudesse aliviar a dor de Pedro, mas sabia que não havia nada que pudesse consertar o que foi destruído. — O que você quer que eu faça, Pedro? — perguntei, finalmente, minha voz quase um sussurro. — O que eu posso fazer para que você... consiga seguir em frente? Pedro suspirou, parecendo lutar com suas próprias emoções. — Eu não sei. Talvez não haja nada que você possa fazer. Talvez isso seja algo que eu precise lidar sozinho. — Ele passou a mão pelo rosto, claramente exausto. — Eu só queria que você soubesse que, por mais que eu tente te perdoar, ainda vai levar tempo. Talvez muito tempo. Eu assenti, sentindo as lágrimas se acumularem em meus olhos, mas lutando para contê-las. — Eu entendo. E eu aceito isso, Pedro. Eu aceito que você ainda esteja com raiva, e aceito que isso vai levar tempo. Só quero que você saiba que, apesar de tudo, eu me importo com você. E, por mais que nosso relacionamento tenha acabado, eu sempre vou me importar. Pedro ficou em silêncio, e, por um momento, parecia que ele estava processando minhas palavras. Finalmente, ele se levantou, colocando as mãos nos bolsos. — Eu sei, Clara. Só... preciso de tempo. Ele me deu um último olhar antes de se virar e sair do café. Eu fiquei ali, sentada sozinha, sentindo o peso de tudo o que acabara de acontecer. Pedro ainda estava machucado. E, por mais que tentasse, eu sabia que não havia como acelerar o processo de cura dele. Saí do café alguns minutos depois, com o coração apertado, mas de alguma forma mais leve. Sabia que Pedro ainda precisava de tempo, mas também sabia que, com essa conversa, havíamos dado mais um passo para seguir em frente. Agora, tudo o que eu podia fazer era esperar e torcer para que, um dia, a mágoa dele diminuísse.
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