Capítulo 16

1576 Words
Capítulo 16 Clara Oliveira 8 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil A ideia de que o nosso segredo estava nas mãos de outra pessoa me deixava em pânico. Cada vez que pensava em Laura, com aquele sorriso frio e calculista, usando o que sabia para nos manipular, sentia um nó apertar meu estômago. Tudo estava fora do nosso controle, e, pela primeira vez, senti que talvez não fossemos capazes de lidar com as consequências das nossas escolhas. Leonardo havia ficado mais quieto desde a nossa conversa no escritório. Sabia que ele estava processando tudo, pensando em como poderia resolver a situação sem ceder à chantagem, mas a verdade era que não tínhamos muitas opções. A vida de Leonardo, sua reputação, sua empresa, tudo estava em jogo. E o nosso relacionamento também. Eu não conseguia dormir. Passei a noite em claro, deitada na cama, os olhos fixos no teto, enquanto meus pensamentos corriam em círculos. Pedro, Teresa, agora Laura... Cada pessoa afetada por esse relacionamento, cada camada de dor que se sobrepunha à anterior, parecia tornar tudo mais pesado. Eu havia cruzado uma linha, e agora não sabia mais como voltar. No início da manhã, decidi que precisava ver Leonardo. Precisava conversar com ele, entender o que ele estava pensando e como lidaríamos com aquilo juntos. Vesti-me apressadamente, com as mãos ainda trêmulas, e peguei um táxi até o apartamento dele. Quando cheguei, Leonardo estava na cozinha, preparando café. Sua expressão era tensa, o rosto marcado por uma noite sem descanso. Ele me olhou quando entrei, e vi que ele estava tão exausto quanto eu. — Clara — disse ele, a voz baixa, mas acolhedora. — Eu estava pensando em te ligar. — Não consegui dormir — confessei, sentando-me no banco ao lado do balcão. — Fiquei pensando em Laura. No que ela pode fazer. Leonardo suspirou, entregando-me uma xícara de café. O gesto simples parecia um alívio temporário no meio de todo o caos. Eu tomei um gole, sentindo o calor do café me acalmar um pouco, mas a preocupação ainda estava lá. — Também passei a noite pensando — disse ele, sentando-se ao meu lado. — Nós temos que agir rápido. Laura não é alguém com quem podemos negociar. Se cedermos a ela agora, estaremos vulneráveis para sempre. Eu sabia que ele estava certo. Ceder às exigências de Laura significaria abrir a porta para uma manipulação contínua. Mas, ao mesmo tempo, a ideia de que ela poderia expor nosso relacionamento para toda a empresa — e possivelmente para a imprensa — era assustadora. Isso poderia destruir tudo. — O que vamos fazer? — perguntei, sentindo minha voz falhar levemente. Leonardo ficou em silêncio por um momento, pensando. Seus olhos estavam fixos na janela, como se estivesse tentando encontrar uma solução no horizonte cinzento de São Paulo. — Pensei em duas opções — disse ele, finalmente. — A primeira é confrontá-la. Expôr o que ela está fazendo e acabar com essa chantagem antes que ela ganhe mais força. Eu respirei fundo, tentando processar o que ele estava dizendo. Confrontar Laura poderia funcionar, mas também poderia sair pela culatra. E se ela fosse mais rápida? E se ela já tivesse planejado expor tudo antes que pudéssemos reagir? — E a outra opção? — perguntei, temendo a resposta. Leonardo olhou para mim, seu rosto sério. — A outra opção é sermos nós mesmos a expor nosso relacionamento. — Ele pausou, deixando o peso de suas palavras cair. — Se formos nós a contar primeiro, Laura perde o poder que tem sobre nós. Minhas mãos começaram a suar. Expôr nós mesmos? A ideia de contar para o mundo sobre o nosso relacionamento parecia impensável. Eu sabia que isso mudaria tudo. Não apenas dentro da empresa, mas também com Pedro, Teresa, e todas as pessoas que nos cercavam. Seria uma explosão. — Você acha que isso funcionaria? — perguntei, tentando controlar o pânico que começava a tomar conta de mim. Leonardo assentiu, mas eu podia ver que ele não estava totalmente seguro. — Funcionaria no sentido de que Laura não teria mais como nos ameaçar. Seríamos donos da nossa própria narrativa. Mas, Clara, isso viria com um preço. Um preço muito alto. A imprensa vai querer saber tudo. As pessoas da empresa, minha família... — Ele suspirou, claramente sentindo o peso dessa decisão. — Não sei se estamos prontos para isso. Eu me encolhi no banco, sentindo o medo me consumir. Expôr nossa relação significaria abrir mão do pouco de privacidade que ainda tínhamos. Significaria enfrentar julgamentos, críticas, e uma montanha de complicações legais e pessoais. Pedro já estava destroçado. Teresa provavelmente já estava com o divórcio em mente. E agora, mais uma vez, nosso relacionamento ameaçava destruir tudo. — Eu não sei, Leonardo — sussurrei, sentindo as lágrimas começarem a se formar. — Eu não sei se posso fazer isso. Ele me olhou, a expressão suavizando. Aproximou-se e segurou minha mão. — Eu sei que é difícil, Clara. Mas estamos juntos nisso. — Ele acariciou meu rosto, seus olhos cheios de preocupação. — Eu prometo que vamos encontrar uma maneira de sair dessa. Mas precisamos ser estratégicos. Não podemos deixar Laura vencer. O toque dele, como sempre, me acalmou um pouco. Mas o medo ainda estava lá. Eu sabia que Leonardo estava tentando manter o controle da situação, mas parte de mim sentia que estávamos à beira de um abismo. E qualquer decisão que tomássemos agora poderia nos empurrar para ele. — Talvez possamos tentar confrontá-la primeiro — sugeri, a voz baixa. — Ver o que ela realmente quer. Talvez haja uma maneira de resolver isso sem... sem que tudo saia do controle. Leonardo assentiu, parecendo considerar a ideia. — Pode ser. Podemos tentar descobrir o quão longe ela está disposta a ir. E, se necessário, tomamos a segunda opção. — Ele me olhou com seriedade. — Mas precisamos estar preparados para o pior, Clara. Se ela decidir expor tudo, não teremos como voltar atrás. Eu respirei fundo, tentando me acalmar. Não era uma decisão fácil. Sabíamos que qualquer passo em falso poderia nos destruir, mas, ao mesmo tempo, não podíamos ficar parados, esperando que Laura puxasse o gatilho. — Vamos falar com ela — disse Leonardo, se levantando e pegando o telefone. — Se ela quer jogar, vamos jogar também. Mais tarde naquele dia, Leonardo marcou um encontro com Laura em seu escritório. Eu não sabia o que esperar, e meu estômago estava revirando só de pensar em encará-la. Ela tinha em mãos o poder de nos destruir, e a sensação de vulnerabilidade me deixava ansiosa. Quando Laura entrou na sala, sua presença era fria e calculada. Ela tinha um sorriso de canto nos lábios, como se já tivesse vencido antes mesmo de começarmos a conversa. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. — Senhor Martins, Clara — disse ela, acenando levemente com a cabeça enquanto se sentava à nossa frente. — Que prazer vê-los. Havia algo na voz dela que me dava arrepios. Era como se ela estivesse saboreando cada segundo da nossa tensão. Leonardo foi direto ao ponto. — Laura, sabemos o que você quer. E sabemos o que você tem. — Ele olhou diretamente para ela, sua voz firme. — Mas não vamos ceder à chantagem. Se você acha que pode manipular essa situação, está subestimando nossa capacidade de resposta. Laura arqueou uma sobrancelha, claramente surpresa com a abordagem direta. Mas ela não parecia intimidada. — Eu não estou tentando manipular nada, senhor Martins. Estou apenas... aproveitando uma oportunidade. — Ela sorriu, um sorriso frio. — E você sabe tão bem quanto eu que oportunidades como essa são raras. O silêncio que se seguiu era pesado, cheio de tensão. Eu podia sentir meu coração batendo no peito, rápido e descompassado. Leonardo continuou. — Você acha que tem controle da situação, mas está errada. Se você tentar expor o que sabe, tenha certeza de que também teremos meios de responder. E acredite, você não vai querer esse tipo de batalha. Laura riu levemente, como se estivesse se divertindo com a situação. — Senhor Martins, você é um homem poderoso. Eu sei disso. Mas até os poderosos caem. Tudo o que estou pedindo é... o reconhecimento do meu valor. E, é claro, que você me ajude a garantir uma posição melhor na empresa. Leonardo a encarou, e eu pude ver a raiva controlada em seu rosto. — Não vamos negociar com você, Laura. Você está jogando sujo, e isso pode voltar contra você. Se você decidir seguir com essa chantagem, saiba que há consequências. — Ele fez uma pausa, inclinando-se ligeiramente para frente. — E eu prometo que você não vai gostar delas. O sorriso de Laura vacilou por um segundo, e eu pude ver a dúvida surgir em seus olhos. Ela não esperava essa resistência. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que ela era uma mulher calculista, e que não desistiria tão facilmente. — Muito bem, senhor Martins — disse ela, levantando-se lentamente. — Vou considerar sua... resposta. Mas lembre-se, a verdade tem um jeito engraçado de aparecer. — Ela me lançou um olhar rápido, antes de sair da sala sem dizer mais nada. O silêncio que ficou para trás era sufocante. Leonardo se virou para mim, sua expressão preocupada. — Ela ainda não desistiu — disse ele, sua voz baixa. Eu sabia que ele estava certo. Laura ainda tinha o poder nas mãos, e agora o jogo estava mais perigoso do que nunca.
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