Apaixonada Pelo Daddy

Capítulo 17

Clara Oliveira

10 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil

O café parecia diferente agora. O mesmo lugar onde tantas vezes me encontrei com Pedro, onde passamos tardes inteiras rindo, compartilhando planos e sonhos, agora parecia um palco de confronto. O ambiente aconchegante não conseguia esconder o frio que tomava conta de mim. Eu estava ansiosa, e a espera me deixava ainda mais inquieta.

Cheguei cedo, como de costume. Queria me preparar mentalmente, encontrar alguma forma de me acalmar antes de Pedro chegar. Mas, enquanto o tempo passava, as palavras que eu precisaria dizer continuavam presas na minha garganta.

O que Pedro queria? Depois de tudo o que eu havia feito, depois da forma como o traí, ele ainda queria me ver? Eu não sabia se isso era bom ou r**m. Parte de mim queria resolver tudo, mas outra parte estava apavorada com o que ele poderia dizer.

Minhas mãos suavam enquanto eu mexia na xícara de café que nem tinha começado a beber. A tensão era insuportável. E então, de repente, ele apareceu.

Pedro entrou no café, a expressão séria, e meus olhos foram imediatamente atraídos para ele. Seu olhar encontrou o meu, e por um momento, senti que o ar ao nosso redor tinha ficado mais pesado. Ele parecia mais cansado, como se os últimos dias tivessem levado embora qualquer leveza que ele costumava ter. Não havia mais o sorriso fácil que eu conhecia tão bem.

Ele se aproximou lentamente, sem pressa, e sentou-se na cadeira em frente à minha. Não havia um sorriso, não havia nenhuma tentativa de cordialidade. Era um silêncio pesado, cheio de tudo o que precisávamos dizer, mas ainda não conseguíamos.

— Clara — disse ele, finalmente, sua voz baixa, mas carregada de emoções. — Obrigado por vir.

Eu engoli em seco, tentando encontrar alguma firmeza dentro de mim. Queria dizer algo, qualquer coisa que amenizasse a tensão, mas sabia que as palavras não viriam facilmente.

— Pedro, eu... — comecei, mas ele levantou a mão, me interrompendo.

— Não. Me deixa falar primeiro. — Ele respirou fundo, seus olhos fixos nos meus. — Eu pensei muito sobre o que você me contou. Sobre você e meu pai. — A voz dele falhou ligeiramente, mas ele rapidamente retomou o controle. — No início, eu te odiei. Juro que nunca senti tanta raiva de alguém na minha vida. Eu não conseguia entender como isso aconteceu. Como você... como vocês dois... me traíram dessa forma.

As palavras dele eram como facadas. Eu sabia que tudo o que ele estava dizendo era verdade, e senti o peso da culpa aumentar ainda mais.

— Mas depois... — Ele continuou, olhando para baixo por um momento, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas. — Depois, comecei a pensar em como nada disso faz sentido. Eu amo você, Clara. Sempre amei. E não consigo aceitar que, de alguma forma, tudo o que a gente tinha acabou assim, tão de repente.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu sabia que Pedro me amava, e isso só tornava tudo mais doloroso. Ele era o homem que sempre me apoiou, sempre acreditou em mim. E eu o trai da pior forma possível.

— Pedro... — comecei, minha voz quebrada, mas ele não me deixou continuar.

— Não, me deixa terminar. — Ele respirou fundo novamente, como se estivesse se preparando para dizer algo ainda mais difícil. — Eu tentei encontrar uma maneira de te perdoar. Juro que tentei. Mas... — Ele hesitou, e seus olhos se encheram de dor. — Não consigo, Clara. Não consigo olhar para você sem lembrar do que aconteceu, sem pensar no meu pai, em vocês dois juntos. Não consigo te ver da mesma forma.

Meu coração afundou. Aquelas palavras eram exatamente o que eu temia ouvir. Sabia que o perdão de Pedro seria impossível, mas ouvir isso em voz alta, da boca dele, era devastador.

— Eu entendo, Pedro... — disse, as lágrimas começando a escorrer pelo meu rosto. — Eu sei que o que eu fiz foi imperdoável. E nunca vou me perdoar por ter te machucado dessa forma.

Ele me olhou, a expressão cheia de tristeza, mas também de algo que parecia ser aceitação.

— Eu não quero te odiar, Clara — ele disse, sua voz baixa, mas firme. — Não quero carregar esse sentimento para sempre. Eu só... preciso de tempo para processar tudo isso. Para entender o que aconteceu e como seguir em frente.

Houve um longo silêncio entre nós. Eu sabia que Pedro estava sendo sincero, mas também sabia que ele estava sofrendo, tentando lidar com algo que nenhum de nós poderia mudar.

— Eu espero que um dia você encontre alguém que te faça feliz de novo — ele continuou, a voz embargada. — Mas não sou eu. Não mais.

Essas palavras partiram meu coração de uma maneira que eu nunca havia sentido antes. Era o fim, o verdadeiro fim do que tínhamos construído juntos. E, por mais que eu soubesse que isso era o certo, que ele precisava seguir em frente sem mim, a dor era quase insuportável.

— Pedro, eu... — tentei falar, mas minha voz falhou completamente. Eu queria pedir desculpas de novo, queria dizer algo que aliviasse a dor que eu sabia que ele estava sentindo, mas não havia mais palavras. Eu já havia causado estragos demais.

Ele se levantou, o rosto ainda marcado pela tristeza. Por um momento, ele hesitou, como se quisesse dizer algo mais, mas então apenas assentiu levemente, como uma despedida silenciosa.

— Adeus, Clara — ele disse, antes de se virar e sair do café.

E então, ele se foi.

Eu fiquei ali, sozinha, olhando para a xícara de café intocada, enquanto as lágrimas continuavam a escorrer pelo meu rosto. Era o fim de tudo. Pedro estava seguindo em frente, e eu precisava aceitar que havia destruído algo que nunca poderia ser consertado.

O vazio que se seguiu era esmagador. Pedro tinha sido uma parte enorme da minha vida, e agora, ele havia ido embora, e eu estava sozinha com as consequências das minhas escolhas. Tudo o que eu podia fazer era encarar o que estava por vir. Laura, Leonardo, Teresa... tudo parecia se acumular, e eu não sabia se teria forças para lidar com o que estava por vir.

Levantei-me, ainda trêmula, e saí do café. O mundo ao meu redor parecia continuar normalmente, mas para mim, tudo havia mudado. Eu não era mais a mesma. E, de certa forma, sabia que nunca mais seria.