Dedico essa história à minha falecida mãe, que era quase tão apaixonada por Agatha Christie quanto eu!
***********************
O detetive Luís Oliveira estacionou o carro uma quadra antes do endereço que lhe foi fornecido pelo informante. Era um homem moreno, alto, de fisionomia séria, porte militar e muito atraente de uma maneira que poderia ser considerada rústica. Ele chamava atenção das mulheres e sabia disso. Era reconhecido pelos colegas de trabalho como um profissional competente e que levava seu trabalho muito a sério. Tinha pouco mais de trinta anos de idade, embora aparentasse estar mais próximo dos quarenta do que realmente estava, devido a personalidade que beirava o antissocial.
Luís saiu do carro e olhou em volta de modo discreto, mas seus olhos estavam atentos como os de uma águia. De maneira decidida, seguiu em direção ao objetivo. O endereço que buscava era de um enorme galpão abandonado em um dos bairros mais violentos da cidade do Rio de Janeiro. Finalmente, pensava ele, ia prender um grupo de traficantes e assim desbaratar uma grande e poderosa rede de t***************s. Esse não era "seu tipo" de crime. Geralmente lidava com assassinatos, mas há muito tempo esses criminosos chamavam a atenção da polícia por sua atuação nas altas rodas da sociedade fluminense, aliás, de todo o país.
Toda força policial foi "convidada" a se mostrar atenta ao caso. Luís Oliveira e o parceiro estavam trabalhando como apoio naquela operação junto ao detetive Ferreira, responsável pelo caso e pela batida que estavam a ponto de efetuar. Ferreira tinha Luís e André em alta conta por suas fichas limpas e recheadas de sucessos. Já o detetive Afonso, que atuava nesse momento ao lado de Luís na frente do galpão, eles conheceram somente no início da operação.
Afonso chegou de moto deixando-a ao lado do carro de Luís, os dois estavam tensos e não falavam muito.
Pararam próximo à entrada, Luís aguardava o sinal de seu parceiro e amigo, André Gonçalves. A tela do celular de Luís acendeu, estava no modo silencioso, mas era o suficiente pois era o sinal esperado. Combinou com André que ligasse para seu celular assim que ele e Ferreira estivessem a postos nos fundos do galpão e os reforços estivessem nas proximidades.
Luís estava nervoso, mesmo com sua experiência, ou talvez justamente por causa dela, sabia dos perigos de uma batida policial. Conhecia os riscos de sua profissão, principalmente em momentos como aquele.
Luís lembrou-se da morte de seu antigo parceiro, Maurício... Sacudiu a cabeça para afastar tais pensamentos. Não tinha em mãos sua pistola da sorte, mas estava armado com uma M16, sabia muito bem que os traficantes estariam fortemente armados, provavelmente melhor que a polícia. Assim que entrassem, começaria um tiroteio, os traficantes tentariam proteger o carregamento que tinham recebido recentemente e não iriam se entregar.
Nunca se entregavam...
Respirou fundo e deu um forte chute no portão enferrujado que cedeu com facilidade. Afonso entrou primeiro, em seguida Luís entrou e pôde ouvir um estrondo nos fundos do galpão, provavelmente o detetive André entrando com reforços. Esperava uma reação violenta, mas não ouviu nada além dos outros policiais do outro lado do galpão.
Caminhava cautelosamente, uma gota de suor escorreu por sua testa, não pelo calor, mas pela tensão do momento.
Ao entrar, seu corpo retesou-se e seu coração disparou. O cenário que encontrou, pensava ele, jamais seria esquecido. Desviou os olhos e viu a expressão de surpresa e horror em seu parceiro do outro lado, e compreendeu que naquele dia não haveria tiroteio, não haveria prisões, não haveria nem mesmo satisfação do dever cumprido, pois o que encontraram foi um cenário de morte.
Corpos e sangue pelo chão.
Não esperavam por aquilo. Alguém chegou antes dos policiais, alguém que sabia o que aconteceria ali e que sabia sobre o carregamento de drogas.
Pelo menos quinze corpos sem vida de jovens espalhados pelo chão. As cápsulas pelo piso mostravam a violência da chacina. A maioria dos corpos não tinha arma nenhuma em mãos, nem mesmo por perto.
Foram exterminados por alguém que acreditavam não oferecer perigo, pois não mostravam ter tido uma reação à altura do ataque que sofreram.
Mesmo sabendo que eram traficantes e que o final deles geralmente era aquele, o cenário que tinham diante dos olhos era de guerra. Havia marcas de pneus no chão tinto de sangue, indicando que um caminhão esteve estacionado ali. Havia uns pequenos pacotes cheios de ** branco jogados no chão, próximos as marcas de pneus. Luís deduziu corretamente que era cocaína, e o grande carregamento que esperavam encontrar com a batida, havia desaparecido.