Capítulo Dois

1527 Words
— Solte-me. — Ordeno a ele, mas de nada adianta. — E por que eu faria isso? Estou gostando dessa proximidade. — Ele se aproximava cada vez mais, o cheiro do seu perfume me deixa tonta, eu não consigo entender como posso me sentir atraída por alguém que ia me machucar, se é que ainda não vai me machucar. Tento recuar, mas, estava imprensada entre ele e a mesa. — Non toccarmi! (Não me toque!) — Sei bellissimo la mia piccola. (Você é linda minha pequena). — Ele me acha linda. De alguma forma esse pensamento me alegrou. — Não sou tão pequena. — Não posso ser fraca e deixar esses homens fazerem o que querem comigo. Onde está o meu orgulho? — Afaste-se de mim, senhor. — Você não manda em mim, ponha-se em seu lugar. — Ele parecia irritado com meu comportamento. — Eu não lembrava que as brasileiras eram tão difíceis. — Eu não me surpreendo de ele falar português, nem de saber que sou brasileira, faz tempo que estou falando português, mas, não tinha notado que ele me entendia. — Ainda mais uma facile donna. — Ele completa em italiano. — Eu não sou uma mulher fácil... — Como não? Meu primo é tão bom de cama que você me rejeita? Quanto ele te pagou? — Dessa vez ele foi longe demais. Empurro meu joelho com tudo, o fazendo recuar de dor. Quem ele pensa que é, me ofendendo dessa forma? i****a como sou, ainda pensei em ceder as suas investidas. — Por que fez isso? — Porque não sou suas vagabundas. Não me toque. — Você vai se arrepender por ter feito isso. — Senti meu corpo todo se arrepiar, mas dessa vez de medo. Ele não me parece uma pessoa que faz ameaças à toa. — Eu quero ir embora. — Digo me sentindo cansada de repente. Seu rosto parecia uma máscara sem expressão nenhuma. — Faça como quiser, mas, não pense que vai se livrar de mim, você agora me pertence. — Eu não sou de ninguém, eu sou dona de mim. — Falei assustada. — Tarde de mais. — Ele diz com ironia. — Quem mandou vir até mim? — Não tive muita escolha... — Isso é conversa. — Que homem arrogante, onde fui me meter meu Deus? Onde fui me meter? Que arrependimento por ter saído à noite passada, você é uma estúpida Cecile por fazer as vontades de Lívia. Lívia é a minha melhor amiga, todos os dias conversamos pelo Skype e noite retrasada, ela me convenceu a sair. Mesmo longe, ela pode ser convincente quando quer. — Imagine-se em meu lugar. No momento em que alguém se aproxima, flertando com você, mas, quando você menos espera esse alguém te empurra dentro de um carro e te força a entrar em um hotel, onde outro alguém te força a fazer o que você não quer. — Eu não forcei você a nada. — Se dizer isso o faz sentir-se bem quando deita sua cabeça no travesseiro. Você é igual a Jonas, duas pessoas aproveitadoras. “Meu Deus, o que me levou a dizer isso? Ainda em voz alta.”  Eu nem conheço esse cara. “E nem quero conhecer.”  Tudo bem que eu queria ofendê-lo, mas, o que causou foi totalmente o contrário. — Abbastanza (Já chega). — Ele grita em italiano me fazendo encolher e recuar de medo. — Nunca mais me compare a esse homem. “Acho que fui longe demais.” — Mattias? — Ele chama alguém. Um homem alto e atraente, de cabelos castanho claro em um terno preto feito sob medida aparece na sala. — Mattias, leve essa mulher daqui. — Ele falava como se eu não estivesse aqui e de alguma forma aquilo me magoou. — Para onde Andrew? — Ele falava sem formalidades, deve ser alguém bem intimo. — Para casa dela. — Eu quase suspirei de alívio. — Agora me deixem sozinho. Ele não precisou pedir duas vezes. Saí sem olhar para trás. Uma parte de mim quer vê-lo novamente, mas, a outra metade, quer que eu fique o mais longe possível desse homem. — Mattias, você não parece Italiano. — Digo, já no carro, um utilitário prateado. Passo meu endereço a ele e vamos embora. — Sou brasileiro. — Ele afirma me deixando surpresa. — Eu também sou. — Respondo a ele em português. — O que me denunciou? — Ele pergunta com um sorriso descontraído. — Seu sotaque. — Digo retribuindo o sorriso. — De qual parte do Brasil você é? — Do Nordeste da Bahia, um interior chamado Retirolândia. — Eu sou de Salvador, moro em Brotas. Fico feliz por conhecer alguém do meu estado. — Eu também. — Ele afirma. — Como você veio morar na Itália, Mattias? — Um homem foi até Ritirolândia e atraiu vários jovens, alegando ser de uma agência de moda, eu nem estava presente no dia. Mas, esse homem me viu na rua e disse que eu tinha o perfil e convenceu minha família. Eu nem queria vim, só tinha 16 anos na época, eu pensava em namorar, terminar os estudos e ir para a faculdade. Mas era tudo mentira da parte dele, no momento em que chegamos aqui, ele nos forçou a se prostituir. — Fiquei abismada com o que ele disse. — Sinto muito Mattias... — Tudo bem, já é passado. — Ele diz com uma facilidade. — Fiquei nessa vida por seis meses, consegui fugir e comecei a passar fome, foi quando conheci Andrew, eu tentei roubá-lo. — Ele diz com um sorriso nos lábios. — Eu contei tudo a ele, ele me ajudou e ajudou a todos os outros jovens também, viramos amigos. — Meu Deus, você passou por tanta coisa. Por que não voltou ao Brasil depois que ele te ajudou? — Ele me fez uma proposta. — Qual? — Ele me ajudaria a terminar meus estudos e fazer minha faculdade de administração, em troca trabalharia para ele. — Como motorista? — Pergunto incrédula. — Não, sou seu braço direito, assistente executivo, a única pessoa que ele confia. — Ele completa com orgulho. — Você falando assim parece até que esse homem é uma boa pessoa. “Aquele i****a mandão, delicioso.” Que pensamento foi esse? Pare de pensar nesse cara Cecile, esse homem a humilhou, te tratou m*l. — Ele não é r**m depois que você o conhece. — Sei. — Digo não acreditando no que ele diz. — Ele só está com raiva. — E o que eu tenho a ver com isso? — Você estava com Jonas, eles dois são inimigos. — Ele faz uma expressão estranha, acho que ele falou demais. — Eu não estava com Jonas, não no sentido que ele imagina, Jonas me sequestrou. Mas nem sequer aquele homem escutou o que eu disse, aquele troglodita. — Ele apenas sorrir para mim. — Por que o senhor Castillo é inimigo de Jonas? — Por um instante ele me pareceu desconfortável mais uma vez. — Isso você terá que perguntar a ele. — E a sua família Mattias? — Decido voltar ao nosso assunto de antes. — Eu nunca contei a eles o que se passou comigo, eles iriam sentir-se culpado. Todo mês mando dinheiro para eles. — Moram em Retirolândia ainda? — Sim, não querem sair de lá por nada. — Ele diz sorrindo e eu retribuo o sorriso. — E você? — O que tem eu? — Eu falei muito sobre mim, mas não sei nada sobre você. — Verdade, agora nem dá mais. — Por quê? — Ele pergunta não entendo nada. — Já chegamos. — Verdade. — Tome meu w******p, vai ser bom ter um amigo aqui. — Tiro um pedaço de papel e uma caneta dentro de minha bolsa e escrevo meu número, em seguida entrego a ele. — Agradeço a carona, Mattias. Ele sai, faz à volta no carro e abre a porta para mim. Dou dois beijos, um de cada lado de sua face e saio. Mattias até que é bonito e atraente, mas, aquele homem não sai da minha mente, me sinto uma i****a. — Quem ele pensa que é? — Digo em voz alta, entrando e batendo a porta com força. — Espero nunca mais vê-lo. Vou até meu quarto, coloco minha bolsa no guarda roupas, meus saltos no sapateiro e vou até o banheiro, me despindo. Tiro a roupa e jogo no cesto de roupas sujas. Tomo um banho frio, me sinto cansada, já passa das oito da manhã e ainda não dormi, daqui a pouco tenho que ir para a faculdade. Vou estudar um pouco. Assim que termino o banho vou até a sala, ligo meu notebook, caminho até a cozinha para pegar uma maçã na fruteira e volto para a sala e começo a estudar. Foi o pior estudo que tive em minha vida, minha mente não conseguiu reter nada. Paro de estudar e decido dormir um pouco, aqui no sofá mesmo. Ponho o alarme do celular para despertar às 13h00min da tarde, já que a prova é às 15h00min e pego no sono rapidamente.
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