CAPÍTULO DEZOITO

2784 Words
— Puxa ! então você ficou de detenção com morcego em seu primeiro dia ! — Anthony exclamou alarmado, fazendo ela perceber que talvez o soberano era mais assustador para todos do que ela imaginava. De fato, quando ela o viu queria pegar a primeira embarcação de volta para casa, talvez todos tivessem esse sentimento. — Ele não pode fazer isso com você ! — Comentou Arthur ao lado do amigo. — Na verdade ele pode Arthur, se lembrar ele é o soberano da ordem dela. — Lembrou Florence. — É verdade ! Lyra está junto com as cobras. — Comentou Anthony recebendo um olhar severo da garota. — e-e sem ofensas, é claro. — Gaguejou o garoto sobre o olhar pesado de menina. — É que deve ser muito difícil. Eu não queria ser você Lyra. — Continuou Anthony tentando inutilmente corrigir suas palavras. — Nossa Anthony ! Obrigada ! me ajudou muito. — Exclamou Lyra em tom de visível sarcasmo. O seu primeiro dia no mundo intermediário não havia sido um dos melhores. Não somente por causa do incidente com professora Olga, mais também por causas das demais aulas que recorreram naquele dia. Sim, ela teve problemas nas outras aulas. Ao contrário do que ela imaginava em uma escola de magia você não aprendia somente magia. Na aula de esgrima, quando o professor Darius estava ensinando todos a manusearam a espada com movimentos simples, para todos, menos para Lyra, que passou a aula toda sacudindo a espada no ar, até quase arrancar a cabeça do professor Darius, que a tirou da sala com um olhar que Lyra teve certeza que ele teria preferido perder a cabeça do que a peruca que foi sequestrada pela espada de Lyra. E como se não fosse pior, quando chegou o tão sonhando momento de usar sua varinha, na aula do professor Marvin, que foi proposto que todos fizessem alguma figura usando água, Lyra não conseguiu nem fazer uma pequena ondinha, fazendo ela ter certeza que sua varinha estava quebrada, porém na sua terceira aula do dia com professora Clio, professora de “literatura irrestrita” ela teve absoluta certeza que não estava ! A aula foi uma breve apresentação da biblioteca, que era e a maior que ela já viu, e dado momento da apresentação o professora Clio começou ensinar um feitiço simples de levitação para pegar os livros nas prateleiras mais altas, que eram enorme para altura de Lyra, que quando pronunciou o feitiço junto com um coral de aluno quase jogou o professor pelas largas janelas de vidro da biblioteca com uma explosão que saiu de sua varinha, onde somente não aconteceu um grave acidente devido a Draven que muito ágil, lançou um feitiço nas janelas que a transformaram em borracha, porém isso não impediu da professora tirar belos vinte pontos de sua Corte. E depois disso, obviamente sua situação com os seus colegas de dormitório não poderia estar melhor. Lyra não os culpava, ainda mais depois da vergonha passou em sua última aula de arte elementar que foi feita com todas as Cortes do terceiro ano sendo uma breve apresentação de todos os instrumentos musicais, que eram objetivo de estudo, feita pelo professor que todos conheciam como fantasma da ópera, era um apelido gentil, que Lyra imaginava que havia sido dado devido alguma característica que o homem tinha, não pelo real fato do mesmo literalmente parecer morto. Com uma pele cinza, quase transparente, e olhos brancos que pareciam janelas sem nada. E sendo criada a onde foi, quando a menina viu o homem que parecia uma névoa azul tocando os instrumentos sem sequer tocá-los com a mão, a menina gelou, paralisada, com os olhos esbugalhados causando preocupação ao professor que se apenas se aproximou para ajuda-la, sendo isso o suficiente para faze-la sair correndo da sala. Ela não tinha culpa ! Afinal como poderia imaginar que metamorfos eram daquele jeito. Literalmente um quadro branco que poderia se tornar qualquer coisa. As suas bochechas ainda esquentavam com cochichos e risadinhas de alguns alunos de outras Cortes, que pareciam pela primeira ter um motivo significativo para provocar a Corte das sombras. Era óbvio que nesse momento, todos já sabiam do desastre que foi seu primeiro dia na Academia. E quando ela adentrou no salão principal para jantar, juntamente com seu irmão, Anthony e Florence, Lyra teve completa certeza disso. Os olhares sobre ela eram evidentes, tão evidente que Arthur segurou sua mão, com intuito de passá-la segurança. Porém Lyra não estava se sentindo nada segurar, ainda mais com olhar do professor Devil, na mesa dos docentes, que parecia querer matar ela ali mesmo. Todavia mesmo sem sentir suas pernas, Lyra sabia que precisava ir até sua mesa, então respirou fundo, soltou a mão do irmão, e caminhou para a mesa obscura tentando inutilmente se manter firme perante o olhar de contida fúria do Soberano sobre si. Quando finalmente Lyra sentou em sua mesa, tentou ignorar todas as risadinhas e cochichos de seus colegas e se manteve em silêncio enquanto comia o seu jantar. Precisava se controlar, ela não podia perder o controle sobre si. Não gostava das coisas que fazia quando perdia. Mas aquele dia realmente estava sendo muito difícil. Sentia sua mão tremer freneticamente e o ar lhe faltar. Mas precisava ser controlar. Tinha que se controlar ! Então como um e******o mantra que ela aprendeu no orfanato para controlar sua raiva, ela começar se beliscar. A dor lhe ajudava a focar em outra coisa, que não fosse a combustão de seus sentimentos no momento. Porém os insultos vindo da mesma garota loira que lhe atormentou em seu dormitório, conhecida como Loren Glover, que ela teve o desprazer de conhecer na madame Flu Flu, não estava a ajudando muito. — Espere só quando chegarmos no dormitório traidora imunda, nem mesmo sua mamãezinha decadente ira te ajudar. — Apenas quero ficar quieta — Lyra diz e a sua voz sair extremamente baixa, dando um alerta do que sua raiva poderia tornar. Estava tão cansada e a essa hora nem mesmo os fortes beliscões que davam em si, estavam funcionando. — Olhe só meninas, a princesinha perdida dos Vandergard’s quer apenas ficar quieta. Vamos deixar ela quieta, não vamos ? — comentou a loira para o grupo que Lyra conheceu ontem a noite, e Lyra com o garfo em mãos e resolve ignorar e comer. O macarrão em seu prato parecia gostoso e talvez alivia-se seus pensamentos, porém antes mesmo da menina levar o macarrão a boca o garfo foi tirado de suas mãos e uma garota de cabelos curtos a frente dela vira o seu suco em seu prato enchendo a massa do líquido, que se tornou o palco para gargalhadas dos presentes de sua própria Corte, fazendo os docentes perceberem que alguma coisa estava errada. Principalmente Devil, que imediatamente percebeu que a garota beliscava a sua pele com ferocidade, fazendo surgir uma certa ardência em seu peito, que começou incomoda-lo. Porém antes que qualquer um dos docentes pudessem fazer alguma coisa, Lyra sente seus longos cabelos serem puxado fortemente pela loira que passou entre as mesas e sentou ao seu lado, e antes que sequer Lyra pudesse controlar sua raiva, ela lança uma bandeja de prata em cima da mesa contra rosto da garota, provocando um grande alarido no salão e levando a Glover cair no chão com mão no seu rosto. — VOCÊ POR ACASO ENLOUQUECEU ? — Gritou o garoto de cabelos prateados que Lyra conhecia bem, o irritante Draven, que ajudou Grover se levantar do chão totalmente desnorteada. — Eu vou matá-la ! — Vociferou Loren de forma ameaçadora, indo pegar a sua varinha que estava próxima a Lyra, que sem nem hesitar pegar uma faca sobre a mesa e quando Loren põe a mão sobre a madeira para pegar sua varinha, Lyra imediatamente lança a faca contra a mão da mesma, a fazendo soltar um grito fino após Draven a puxar bem a tempo da faca atingir a madeira da mesa. Nesse momento todo salão já havia se aproximado da confusão. Os presentes olharam para faca que ainda estava presa na mesa atônitos, e os professores olharam aliviados pela faca não esta na mão de Loren Glover. Por pouco... — Você por acaso é louca mestiça imunda ? poderia ter me matado. — Exclamou a garota com certo exagero se escondendo atrás de Draven. — Ah você não viu nada e nem pague para ver ! — Respondeu a morena com voz sibilante se aproximando da garota com suas pupilas dilatadas, parecendo uma lunática com a faca em mãos. — Eu posso até não saber usar aquele graveto e******o direito, mas eu garanto que sei jeitos muito mais interessantes e eficientes de matar uma pessoa. Então eu acho melhor você pensar duas vezes antes de me insultar, porque gostaria de lembra-la que dormirmos no mesmo dormitório. E acho que não dar ouvir seus gritos da ultima torre. — Devil apertou os punhos, e paralisou pela primeira vez em sua vida em uma reação que ele não previu da menina, que parecia ter uma mão pequena para faca em mãos, mas uma determinação assassina que deveras o intrigou. Odessa encarou Heráclito como esperasse que ele fizesse algo, porém ninguém exatamente sabia oque fazer ! Apesar das Academias viverem se ameaçando, ninguém nunca havia pegado uma faca nessas pequenas brigas, ainda mais para os membros de sua própria Academia. Odessa sabia que havia motivos para as chamas terem colocado Lyra na Academia obscura, apenas não esperava, assim como Devil que fosse por uma propensão assassina. — Faça isso e você explodirá como sua mamãezinha. — Ameaçou Draven, não melhorando muito a situação, fazendo Lyra sentir seu sangue ferver, e antes que pudesse ser dar conta estava se lançando com faca em mãos contra o Villin, até que .... — CHEGA ! — Devil decide acabar com aquilo, levantando sua voz grave que imediatamente silenciou o salão. — Não se mova senhorita Rowan. — ordenou o soberano, sem sequer se mover para impedir oque poderia acontecer, fazendo menina a sua frente paralisar, por igual a sua mão, que parar levantada no ar, provocando em Lyra uma face um tanto cômica de desespero, que não conseguia entender porque sua mão não se movia. E naquele momento com sorriso de canto de Heráclito, Devil se lembrou de seu voto... só podia ser isso. Os alunos também olhavam com estranheza a imobilidade da morena, sabendo que o professor era sádico o suficiente para lançar algum feitiço que tivesse consequências drásticas, e o rosto de Olga não era os melhores, mas o Soberano não pareceu se importar. — Voltem todos para seus lugares. — Ordens pelo homem foram dadas e mostrando mais uma vez para Lyra a autoridade que o mesmo exercia sobre os presentes, de modo que todos os alunos inclusive de outras Cortes voltaram para seus lugares. Menos ela. Ela não conseguia se mexer. Porque ela não conseguia se mexer ? Estava parada ali com uma faca na mão com as pessoas a olhando para ela, como se fosse uma estátua. — E quanto você senhorita Rowan — Devil se aproximou a fuzilando de cima a baixo e ela nem mesmo pode correr. — Me acompanhe. — Lyra teve impressão que estava sendo chamada para morte. Ela não queria ir até o homem de olhos pretos assassinos, queria correr o mais rápido possível para fora dali, mais parecia que seus pés não obedeciam. E Lyra crendo que era algum tipo de estranho feitiço, afinal somente isso justificaria, e arrastada pelos seus próprios pés, que pareciam somente obedecer os comandos de Devil para fora. Lyra estava apavorada, naquele momento de tensão a sala do soberano parecia ainda mais sombria do quê de costume. E o que mais causava medo em Lyra era frieza estonteante com qual o docente a fitava. Era praticamente impossível saber oque esperar. E isso deixava Lyra nervosa. Porém para surpresa da garota o soberano senta atrás de sua secretária, levanta as mangas de seu grosso paletó revelando seus braços que eram marcados por veias e pousa suas mãos que eram grandes e até um pouco gutural na visão de Lyra em cima da mesa. Ele a fita com um olhar tencionado, como se estivesse tentando se controlar. Lyra conhecia esse olhar, porque ela sabia oque era tentar se controlar prestes a fazer algo e não conseguir. E isso se mostrou ainda mais visível no bruxo, quando o mesmo se levantou de trás de sua secretária e começou andar pela sala, pisando tão firme que parecia está castigando o chão. E ainda sem entender oque estava acontecendo consigo, ela começa a seguir o soberano pela sala. Suas pernas não a obedeciam, simplesmente insistiam em seguir o mesmo, que parecia nem se importar com confusão mental dela. Mas Lyra tentava não atrapalhar. O bruxo que andava a sua frente parecia realmente zangado. Murmurava palavras entre os dentes cerrados que Lyra não conseguia compreender enquanto andava pela sala sem se importar com sua presença, e apesar de ela achar que era um estranho castigo, Lyra preferia assim. O olhar intimidador do bruxo sobre ela a deixava nervosa por isso melhor que ele estivesse de costas, pelo menos as costas largas dele escondida sobre a capa verde que o mesmo sempre usava, era menos assustador que os olhos, porém para seu azar, Lyra em um pequeno deslize escorrega na capa do bruxo, que para sorte dela, ele rapidamente se virar puxando o tecido e a faz perder o equilíbrio sobre seus pés, porém antes que pudesse cair com tudo no chão, sente as mãos frias do professor envolverem sua cintura em um rápido movimento, a impedindo de cair. — Me dê o seu braço Rowan. — A voz grave do soberano ecoa no ouvido de Lyra, e ela sente ameaçada perante o olhar vazio de Devil. — Para...p-para quê profe-ssor Devil ? — Lyra gaguejar nervosa, ainda com as mãos do bruxo postas em sua cintura. Odiava o efeito que o mesmo tinha nela. — Me dê o seu braço. — A ordem de Devil era firme, fazendo ela gelar. Não sabia oque o soberano poderia fazer com ela, estava esperando um castigo e isso a fazia temer em obedecer a ordens do mesmo. Será que como as freiras ele iria bater nela com a régua ? — Me dê o seu braço agora ! — A irritação na voz de Devil se fez presente e com aquela ordem Lyra sente mais uma vez seu corpo ter comando próprio, por mais que ela tentasse lutar contra aquilo sua mão não a obedecia, e antes que pudesse perceber sua mão estava erguida no ar, disposta para o bruxo. Lyra já esperava o pior, quando as mãos frias e ásperas do soberano erguem a manga do seu uniforme com um estranho cuidado. — Me diga oque tem na cabeça Rowan ? — Pergunta Devil em tom invasivo, puxando o braço da morena com certa brutalidade fazendo Lyra forçar seu corpo no lugar enquanto ele mantinha os seus olhos sobre o roxão na pele pálida da menina que não parecia ter controle sobre os seus beliscões. — Cérebro. — Lyra responde impulsivamente recebendo um olhar de repreensão do soberano com aquela resposta. — Desculpe-me. — Lyra sussurrou, porém já era tarde demais. Estava um dia na Academia dos Poderes e já sabia que o homem a sua frente não era do tipo que gostava de ser confrontado. Bem, pelo menos uma coisa ela aprendeu em seu primeiro dia de aula. — Do jeito que você agiu essa noite diria que muitas coisas lhe faltam, principalmente um cérebro. Seu desempenho hoje nas aulas foi péssimo. É evidente que seu lugar não é na Academia e muito menos em minha Corte. — Lyra não queria se afetada com aquelas palavras. O homem na sua frente era c***l e ela sabia disso ! Não tinha que se importar. Pessoas cruéis sempre existiram em sua vida e ela sabia ignora-las. Mas ela não conseguiu ! Ela sempre ligava e fingia que não sentia. Mas doía. — Tem razão ! Eu não deveria está na Academia professor, mas infelizmente eu estou. — Lyra retorquiu com uma voz fina e chorosa, deixando uma pequena lágrima cair pelo seu rosto deixando Devil mais uma vez sem reação. O bruxo não tinha ciência que suas palavras era tão duras, e muitas menos tinha ciência de suas próprias reações, porque ele realmente não gostou de ver aquela lágrima nos olhos da garota. Porem antes que ele pudesse fazer alguma coisa, como apaga-la para ela não chorar, a menina puxa seu fino braço e se retirar de sua sala.
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