Byanka
Domingo// 10:00
Acordei com uma dor de barriga imensa e já levantei da cama indo pro banheiro, mas antes peguei meu celular que estava carregando na cômoda
Tenho que aproveitar quando dá vontade mesmo, porque geralmente a prisão de ventre ataca e é uó pra fazer cocô
Chequei as poucas mensagens no w******p, primeiro abri o grupo da igreja e vi que hoje o culto seria mais cedo porque a pastora está organizando um sopão para os moradores de rua, então todos vamos ajudar
Amo ajudar o próximo, juro que se eu tivesse uma condição melhor eu tiraria do meu para dar aos moradores de rua e as pessoas necessitadas
Respondi uma mensagem de Jane, a enfermeira que me auxilia lá no hospital, ela é uma das poucas pessoas que eu tenho contato, e olha que sou nascida e criada aqui
Meus pais me deixaram quando eu tinha 15 anos de idade, então a partir daí sempre fui muito sozinha, a sorte foi que minha tia veio da Bahia e me criou até os meus 18 anos, quando terminei meus estudos ela foi embora e ficou depositando o dinheiro do cursinho na minha conta
Quando consegui meu emprego eu pedi pra que ela parasse de mandar dinheiro, e me sustento até hoje
Não sou de tá andando com as melhoras marcas nem ostentando, sou pão duro pra essas coisas, meu dinheiro é suado e não tenho coragem de desperdiçar com coisas caras
Graças a Deus ganho bem no hospital e minha única despesa é a da casa, porque o resto tá indo pra moto que comprei há seis meses
Sempre fui criada com pouco, e é assim até hoje. Tenho muita vontade de vencer na vida e acredito que as coisas vão começar a dar certo quando eu me mudar daqui
A Jane trabalha também em um hospital particular lá na Barra e falou que quando eu me mudasse ela arrumaria uma vaga pra mim, seria bem melhor
Não que eu não goste de morar aqui, é que em dia de invasão eu me arrependo de já não ter caído fora, é bala pra todo lado, traficantes e policiais invadindo as casas, isso que eu não quero mais
Terminei minhas necessidades no trono e escovei meus dentes
Fiz uns ovos mexidos pra comer com pão e preparei um cafezinho expresso, amo café
Me sentei pra comer, quando terminei dei uma geral na casa ao som de músicas góspeis, deixei tudo bem limpinho do jeito que eu gosto
Aproveitei que tava com a mão na massa e fiz uma uma hidratação caseira pro meu cabelo, sempre cuido muito dele, em casa mesmo porque salão é muito caro
Massageei bem o cabelo e coloquei uma touca térmica
Fui até a cozinha e preparei um almoço simples com frango, arroz e macarrão. Fiz um suco de maracujá e me deliciei, se tem uma coisa que minha mãe me ensinou antes de partir foi a cozinhar, e eu faço isso com o maior amor do mundo porque lembro dela
***
18:55
Byanka: É adorar quando Deus não responde
É adorar quando a dor te consome
Adorar a Deus acima de tudo
É adorar no dia do luto
Adorar a Deus no vale ou no deserto
É adorar sem amigos por perto
É adorar quando não há recursos
É adorar a Deus, quando lhe falta tudo -
Cantei junto dos fiéis da igreja
Encerramos o culto com esse hino e no fim dermos a paz do senhor uns aos outros
Fernanda: Será que já podemos ir pra praça? - Minha vizinha que está ao meu lado perguntou, viemos juntas
Byanka: Acredito que sim, Nanda - Falei quando vi a pastora saindo
Fernanda: Então vamos, né? - Assenti
Saímos da igreja junto das outras pessoas e caminhamos até a pracinha, vim pra igreja a pé mesmo porque fica bem perto da minha casa e a gasolina tá cara
Fernanda: Nossa! Tem bastante gente - Falou quando avistamos a multidão
Byanka: E muita sopa também, graças a Deus
Obrigada Senhor
Fernanda: Acho que os traficantes daqui patrocinaram, hein. - Falou baixo - Estou vendo as pontas dos fuzil daqui -
Byanka: Provavelmente sim, o filho da Alícia é do movimento também -
Fernanda: Tadinha, criou com tanto amor pra quando o filho crescer se tornar o que é hoje - Negou
Byanka: Cada um escolhe o caminho que quer seguir, ela fez de tudo por ele, a parte dela ela fez - Falei quando já estávamos bem pertinho da praça
Fernanda: Ah, é verdade. Morro de medo dessas coisas e dessa gente também! Inclusive Bya, um deles tá te olhando - Falou com cara de espanto
Byanka: Quem? - Perguntei tentando não olhar pro lado
Fernanda: O Malvadão, dono do morro .-
Me arrepiei inteira
Byanka: Impressão sua, Nanda - Falei tentando passar firmeza
Fernanda: Não é não - Disse entre dentes - Olha pra você ver, disfarçadamente .-
Desviei meu olhar bem rápido e olhei pro outro lado da rua, bati meu olhar no dele que realmente estava me fitando, e continua
Malvadão soprou a fumaça do cigarro que estava fumando e jogou no chão sem tirar os olhos de mim
Virei meu rosto já tensa, aqui tá cheio de gente e as vezes as pessoas entendem uma encarada de outra forma
Fernanda: Tá vendo, eu falei - Resmungou
Byanka: Eu hein
Fernanda: Ele é bem bonito, o pessoal daqui fala muito bem dele, ele sempre ajuda muito as pessoas
Byanka: Uhum. Vamos logo distribuir as sopas
Fernanda: Sim, claro. É que meu espírito de fofoqueira falou mais alto, cê sabe como eu sou .- Eu ri
Isso é verdade, Nanda é daquele tipo que passa o dia inteiro na calçada olhando a vida dos outros
Alícia: Meninas, me ajudem entregando os talheres e os pães, um pra cada pra render, ainda vai vim mais gente
Fernanda: Tá bom
Byanka: Pode deixar - Sorri
Fernanda: Eu fico com os pães
Byanka: Tudo bem - Falei pegando os talheres
As filas já estavam formadas então ficou bem mais fácil de ir entregando
Realmente veio bastante gente e isso deixa meu coração quentinho, se eu podesse viria pro sopão de toda semana, pena que só folgo quarta e domingo, e esse foi o único domingo que teve sopão, então deu pra vim
Dar a quem não tem é muito gratificante, boas ações são sempre bem vindas, principalmente nesse mundo de hoje
***
Vidigal//20:30
Já havíamos terminado e a pastora estava agradecendo a todo mundo que participou do sopão, foi um sucesso.
Fernanda: O que você acha da gente lanchar lá na boca louca?
Byanka: Acho uma boa mesmo, estou com uma fome
Fernanda: Somos duas
Nos despedimos do pessoal da igreja e saímos da praça, andamos um pouco até avistar lanchonete
Fernanda: Os caras estão lá
Byanka: O que você acha da gente ir na lanchonete ali de baixo? A comida é boa também, sem falar que o boca louca tá super lotada
Fernanda: Isso tudo é medo deles? Nem eu tô assim, eles não mexem com ninguém, Bya. E não tá tão lotado assim não, dá pra esperar - Suspirei
Byanka: Tudo bem, Nanda
Mal chegamos e o Malvadão já começou a me olhar de novo, Deus do céu...
Entramos na lanchonete e nos sentando em uma mesa interna, ainda bem! Porque não iria aguentar ficar do lado de fora com ele me encarando o tempo todo
Fernanda: O que cê vai pedir?
Byanka: Vou querer um X tudo
Fernanda: Também vou querer, e um suco de laranja natural
Byanka: Perfeito - Falei me levantando - Vou lá pedir
Fernanda: Tá bom
Fui até o balcão e fiz os nossos pedidos, depois voltei pra mesa e me sentei de volta ao lado dela
Byanka: Que carrão - Falei quando vi um carro de luxo parando em frente a lanchonete
Fernanda: Lindo né?
Byanka: Demais. E essa loira quem é? - Perguntei quando a vi descendo do carro
Fernanda: Mulher do Malvadão
Byanka: Ele é casado?
Fernanda: Sim, há anos. Até mesmo antes de virar dono daqui. Mas essa mulher dele é super barraqueira, ama confusão e tá sempre metida em encreca, todo mundo fala disso
Byanka: Entendi
Fernanda: A cara dela já tá ficando torta de tanta plástica - Falou baixo e eu ri
Byanka: É complicado
Fernanda: Só queria ter o malote que essa mulher tem. Nossa senhora, é muito dinheiro mesmo
Byanka: Acredito, só de olhar pra ela já dá pra perceber
Fernanda: É sim
Ficamos conversando aleatoriamente enquanto nosso pedido não chegava
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Votem na enquete lá do i********:, é sobre maratona.
Publicado dia 12 de Julho de 2021, ás 22:06.