Vale dos Ventos.

1659 Words
Virei três copos em sequência. Foi tão rápido que a ardência sequer me incomodou. Caminhei então para a área da piscina, sentando-me sozinha numa das mesinhas cobertas na parte mais isolada do clube. — Outra vez sozinha, senhorita Anghel? — Ouvi a voz do duque à minha frente. Ele estava impecável, como na noite anterior. Agora seu terno não era n***o, mas branco, e por baixo dele, usava uma camisa social da mesma cor, sem gravata e com alguns botões abertos, num visual um pouco mais despojado, mas ainda, extremamente elegante. Não usava luvas dessa vez. — É o que parece. — Dei de ombros, abrindo um sorriso fraco. — Se importa? — Puxou uma das cadeiras na minha frente e respondi com um sinal negativo, então ele se sentou. — Estou começando a achar que é uma mulher solitária. — Declarou. Você nem imagina. Ele arqueou as sobrancelhas como se escutasse o que eu pensei. — Posso fazer alguma ideia. — Então respondeu, me surpreendendo. — Ideia do que? — cerrei os olhos. — De quão solitária é a sua vida. — Proferiu, ocupando toda a cadeira com seu corpo grande. Os músculos do duque não marcavam suas roupas exageradamente, ele era elegante e sabia se vestir. Era definido, indiscutivelmente, mas não parecia um armário, exceto por sua altura. — Deve ser muito frustrante estar comprometida com um homem que não ama. — disse ardiloso, mesmo que camuflasse a hostilidade da fala com mera casualidade, como se comentasse sobre o clima. — E socializar com mulheres que não suporta, sem nenhum propósito próprio. — Tamborilou os dedos sobre a mesa, repousando a taça de Bourbon que segurava com a canhota. Ri sem humor. — Quem disse que não o amo? — ele revirou os olhos, zombando. Okay, talvez eu fosse transparente, mas não entregaria o jogo tão fácil. Máscaras eram necessárias na sociedade em que eu estava inserida desde criança. Mamãe nunca arrancava a sua, mesmo em casa, enquanto fingia ser uma esposa feliz e realizada, ainda que vivesse imersa em seus romances ficcionais para escapar da realidade de ter um marido infiel, rude e nada amoroso. — E que não tem um propósito? — Completei. — Hm, então tem? — assenti ao seu interesse e ele abriu um sorriso sujo. — E qual seria? — Por que eu lhe diria meus segredos, duque? — Imitei seu sorriso, soando provocante. Ele pareceu gostar daquilo e umedeceu os lábios com a língua, inclinando-se sutilmente para frente. — Bem, talvez eu te diga um em troca. — Sussurrou. Enruguei a testa, depois mordi o lábio, analisando a proposta. — Tudo bem, então. — Apoiei um dos cotovelos sobre a mesa e repousei o queixo sobre a mão, olhando para ele. — É um casamento benéfico para o meu pai. — Por dinheiro? — dei de ombros, ele assentiu com indiferença. — Então não se importa com o que ele faz, suponho? — neguei. — Mesmo que seja com outras mulheres? — Está insinuando que... — Apertei os olhos. — Talvez. — Me interrompeu, cínico. — Esse é o tipo de negócios que vocês têm? Arruma prostitutas para o meu noivo? — fui direta, arrancando uma risada de escárnio do loiro. — Desse jeito você me ofende, Anghel. — Ele levou a taça até a boca, bebericando o whisky sem desviar o olhar do meu. — Não faça tão pouco caso assim de mim. Além do mais, seu noivo não precisa da minha ajuda para dormir com diferentes — hesitou antes de concluir a fala — pessoas. — Mas havia humor ácido em seu tom. O que ele quis dizer com pessoas? — Ao que tudo indica, o problema é apenas com você. — continuou, me olhando de cima baixo com um brilho de maldade tilintando no olhar. — Admito entender o desespero de Seht. Imagine ter tantas, menos a que ele mais quer. — Exibiu um sorrisinho vulgar, totalmente descarado. Quase cuspi com sua sinceridade. — Ele já tem. — Retruquei confusa. Já era sua noiva. O que mais ele queria? — Tem? — Sorriu de lado, provocativo. Seu jeito era de um conquistador barato. Tinha de ser muito tola para cair em sua conversa, mas não condenava as mulheres que cediam. O que realmente me preocupava nesse momento, era o quanto ele sabia sobre a minha i********e. — Como sabe que...— limpei a garganta, hesitante. — Seth disso algo sobre...? — Indaguei constrangida, me enrolando em minhas próprias palavras, sendo incapaz de completar a frase. Ele riu com o meu desconforto e arqueou as sobrancelhas como se tivesse descoberto ouro. Droga! — Não seria nada cavalheiro da parte do seu noivo compartilhar determinados assuntos comigo. — disse sarcástico. — Honestamente, não sei mais o quão cavalheiro meu noivo é. — retruquei entredentes e fiz uma pequena pausa, o encarando com desconfiança. — Não se o que você diz for verdade. Sua boca se encurvou num sorriso, me analisando cuidadosamente. — Acredito que conheça bem o homem com quem irá se casar. Pelo menos, deveria. — Aconselhou tirânico, mas algo me dizia que ele estava se divertindo com essa situação. — Não mudará em nada. Não tenho opção. — Bufei. Não tentei esconder a raiva dessa vez, jogando as mãos na mesa em derrota. A ideia de que todos soubessem o quão corna eu era, me entristecia. Senti os olhos do duque intercalando entre minhas mãos e meu rosto e, logo em seguida, ele repousou a destra sobre a minha, acariciando suavemente minha pele; escorregou o polegar para a minha palma, deslizando-o gentilmente sobre ela. O gesto era suave, mas parecia muito íntimo. Ele não devia me tocar assim. E eu, supostamente, não devia permitir. Ainda mais em público. — Por que não faz algo a respeito, Anghel? — Incentivou. Apertei os olhos, estranhando sua pergunta. O que eu poderia fazer? — Você pode me chamar de Astryd, se quiser. — Falei sem pensar. Droga. Eu não quis dizer isso. Não em voz alta. Ele abriu um sorriso de tirar o fôlego, aparentemente gostando da minha brecha descarada. — Quer dizer... — Eu entendi. — Interrompeu perverso, dando uma piscadela para mim como se compartilhássemos um segredo. Senti o rosto esquentar. — Gosto do seu sobrenome, e de como ele soa. É sexy, combina perfeitamente com a dona. — Seu toque subiu para o meu pulso, ainda mais suave e íntimo, deslizando, lentamente, para o antebraço. — Diria o mesmo ao meu pai? O sobrenome pertence a ele. — Tentei quebrar o clima e não chamar sua atenção para os pelos do meu braço que se arrepiavam com seu toque. Eu m*l conseguia disfarçar os efeitos que ele causava em mim, era tão embaraçoso. — Depende. Ele é tão atraente quanto você? Sorri envergonhada, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha e abaixei o olhar. Me senti nua pelo modo como o duque me encarou, mas gostei de ter sua atenção. Ele conseguiu me deixar ruborizada numa facilidade absurda. Não era capaz de explicar o magnetismo que aquele homem possuía. Apesar de seu rosto de anjo, havia algo animalesco em sua personalidade. Desde o modo de falar, ao de agir, andar, gesticular e tocar. Era tentador. Eu não deveria pensar sobre isso, mas o que eu estava fazendo de errado, afinal? Aparentemente, meu adorado noivo não se importa muito com fidelidade e os votos de um casamento. Por que eu deveria me importar? A conversa com o duque durou boa parte da tarde. Acabei almoçando e tomando algumas outras taças de champanhe em sua companhia. Ele era abusado e descarado, mas divertido. Conseguiu fazer com que eu me abrisse numa facilidade que ninguém nunca foi capaz antes. E não era somente pela bebida. Eu suponho. Não me lembrava da última vez que realmente ri durante uma conversa agradável. Aliás, sequer me lembrava de quando tive uma conversa agradável, exceto com Asteryn, é claro. Ela era muito inteligente e tinha um humor um tanto quanto ácido para uma garotinha de apenas nove anos. Ela com certeza adoraria o duque, principalmente se soubesse que ele tem um enorme castelo. A voz rouca de Leonard carregava um tom travesso natural. Sua tranquilidade era de causar inveja, e suspiros. Ele fazia com que fosse impossível acreditar que dinheiro não traz felicidade. Não o conhecia o suficiente para garantir que não houvesse dramas em sua história, mas certamente, nada que fosse o suficiente para arrancar sua paz de espírito e a confiança inabalável. Me peguei mordendo o lábio inferior quando deixei que o meu olhar caísse para os botões abertos da camisa social dele, só então pude reparar nos seus músculos com mais atenção. Ele também tinha belas mãos, grandes... Como seria senti-las ao redor do meu pescoço? Ele riu, despertando minha atenção. Céus, o que ele estava falando mesmo? — Preciso ir ao banheiro. — Anunciei e me levantei depressa, desajeitada. Percebi que estava alterada quando me coloquei de pé. Senti as pernas bambearem, estava quase sem coordenação quando Leonard foi ágil em me segurar. Ágil e abusado. Sua mão adentrou meu vestido e me segurou pela coxa com os dedos firmes apertando minha pele. Um arrepio contornou minha espinha no mesmo instante. Aquilo não ajudou em nada no equilíbrio, então apoiei em seu ombro e ele apertou minha coxa com mais força. Deixei uma risada nervosa escapar e afastei sua mão dali. — Talvez tenha se esquecido que sou noiva do seu sócio. — Sussurrei na altura do seu ouvido e me afastei sutilmente, ajeitando o decote do vestido sem tirar meus olhos dos dele. — Há muitos conhecidos aqui. Ele se levantou na minha frente, me deixando em alerta, mas disfarçou logo em seguida, fingindo arrumar o terno enquanto se aproximava discretamente do meu ouvido. — Conheço um lugar mais privado. Gostaria de conhecê-lo? Sorri sacana para ele e me esquivei, deixando a mesa que estávamos.
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