Capítulo 05

1025 Words
Luna não era adepta dos costumes familiares e das reuniões de amigos. Quando ainda era uma garotinha, passou sua vida isolada com seus livros, ou trabalhando em algum projeto de ciências, como se tivesse pouco interesse em namorados ou conversas triviais como a maioria dos adolescentes de sua idade. Mas aquilo mudou quando ela conheceu Kaleb e seu mundo descomunal e cheio de prazeres genuínos e de boas companhias para qualquer ocasião. Luna foi apresentada à sua família e amigos, e ainda que à princípio tenha se sentido uma estranha, em pouco tempo, fora acolhida por eles e inclusa naquela bolha calorosa de pessoas que lutavam para salvar o mundo e não pareciam preocupadas em derrubar deuses que voavam ou que corriam rápido como raios. Em pouco tempo, ela se viu como um m****o da família. Porém, sempre que deixava aquela bolha calorosa e retornava para sua realidade dura e crua, a garota se deparava com uma vida moldada pelas consequências de suas escolhas e o peso das responsabilidades. Ser uma mulher que vivia nos holofotes, distante da condição de uma vida mais pacífica e normal, a privava de ser apenas Luna. A irlandesa que devorava livros, usava óculos de hastes pretas e grossas e amava andar de meias pelo anexo da cobertura, apenas para ser puxada por braços firmes e se derreter dentro de um abraço quente. Abraço esse que ela nunca mais sentiria, afinal, o dono dele havia partido no último Outono. Quando as folhas começaram a cair das árvores e o vento passou a soprar quase congelante, anunciando a chegada do inverno cheio de bonecos de neve e luzes natalinas. Luzes que Luna não se importou em acender aquele ano, deixando apenas que um solitário par de meias vermelha e verde decorasse o topo de sua lareira elétrica. Meias que continham um adorável K e L bordado e combinando, que a fazia sorrir com saudades enquanto as chamas acesas dançavam ao fundo de sua sala e os flocos de neve caíam lá fora. Deitada no sofá enquanto seus dedos finos brincavam com o pequeno pendrive que lhe fora entregue, a garota finalmente se rendeu à curiosidade de descobrir o que havia lá. Descobrir o que Kaleb havia deixado para ela. Foi então que Luna levantou-se, pegou o notebook, apagou as luzes da sala e sentou no carpete caro, deixando o computador sobre a mesinha de centro antes de conectar o pendrive nele. Logo a imagem de Kaleb surgiu, e sua postura estóica era de tirar o fôlego, mas seus olhos pareciam tristes. Contudo, logo o Kaleb daquela mensagem começou: ━ Oi, amor. Se estiver vendo essa mensagem, significa que as coisas não funcionaram como eu tive esperança de que funcionariam. O semblante do homem era o do mais puro pesar. ━ Provavelmente eu já estarei longe, mas não se preocupe. Eu estarei bem. Estarei viajando em meio a um oceano de estrelas, e desta vez espero estar acordado para testemunhar todas as luzes e cores. Enquanto o homem falava, Luna sentia que se afogaria em lágrimas, lágrimas que ela não sabia que ainda seria capaz de produzir, não depois de tanto chorar. Mas seus olhos não perderam - nem por um segundo -, a imagem nítida e limpa à sua frente. ━ Eu sinto muito por não ter voltado para casa, voltado para você. Mas você sabe, eu sempre fui um pouco teimoso e prepotente. Daquela vez foi a vez dela rir, ainda que um riso sem graça e aquém. ━ Ah, jura? - a ia garota indagou. ━ Sim, eu sempre fui - ironicamente o homem afirmou ━ Mas, saiba que eu tentei manter todos vocês a salvo. Eu cumpri o meu destino. Eu vivi os prazeres de uma vida humana e me apaixonei pela mais linda mulher que eu já conheci em toda minha vida. Luna sorria, ainda que em lágrimas. ━ Sei que parece egoísta da minha parte deixá-los assim, deixá-los depois de tocar suas vidas e transformá-las. Mas, querida, eu não seria capaz de viver num mundo onde você não existisse. E sendo um pouco mais egoísta, agora que estou longe e você não pode atirar uma de suas pantufas fofinhas de urso panda em mim, espero que ainda não tenha tirado o anel que eu te dei. Kaleb sorriu suavemente, ainda que seus olhos azuis estivessem melancólicos e as lágrimas dele começassem a rolar também. ━ Ele ficou realmente lindo no seu dedo, eu só lamento muito não poder levá-la ao altar... Provavelmente será Natal quando ativar esta mensagem, e a cidade estará acesa com todas aquelas luzes coloridas. Não há nada que eu não faria para decorar nossa árvore de Natal e te erguer nos braços para que você colocasse a estrela no topo dela. Mas como isso não será possível, eu vou rezar para que você nunca esqueça que é a pessoa mais forte, corajosa e inspiradora que eu já conheci. Um orgulho súbito tomou a garota, que já acariciava o ventre, como se a sementinha ali crescendo estivesse reagindo ao que acontecia e ao que a Kaleb daquela mensagem dizia. ━ Apenas não pense em mim com saudades, linda. Eu odiaria que você ficasse deprimida. Lembre-se de todas as coisas maravilhosas pela qual você lutou e no seu potencial como humana, capaz de inspirá-los em busca de sua melhoria moral. Uma breve pausa na transmissão foi feita, como se ele estivesse ouvindo alguma coisa em seu micro ponto invisível. ━ Sinto muito, mas agora eu preciso ir. Eu amo você, amor. Feliz Natal. Após aquela frase, a transmissão foi encerrada e a imagem de Kaleb desapareceu. naquele momento Luna já se encontrava com a pontinha do nariz pequeno avermelhada pelo choro. A cobertura voltou a cair num silêncio e penumbra absolutos e a herdeira percebeu que agora estava na hora de ser forte por ela e seu bebê. Kaleb havia lutado por aquilo e ainda que não soubesse da vida que havia ajudado a gerar, parte de si se sentia mais tranquila por ele não ter partido com o coração ainda mais destroçado pelo filho que não conheceria. ㅤ ──────⊱◈◈◈⊰──────
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