Melissa
Saí do hotel o mais rápido que pude, tentando não ser notada, não queria que ninguém soubesse que estive por ali depois de todo aquele escândalo no meu casamento.
Peguei um taxi, mas ainda não me sentia confortável para ir para casa, decidi que iria à praia, em um lugar especial onde sempre gostei de me refugiar quando me sentia triste.
Havia um deck que levava até uma parte mais funda do mar, e bem ao seu fim havia um pequeno gazebo com um banco, não era um lugar que muitas pessoas iam, por isso passou a ser aonde eu ia com frequência.
O céu estava cinza, sinal de que choveria a qualquer momento, combinava bem com o meu humor, não havia mais cor, fui traída por duas pessoas que eu amava.
Caminhei devagar pelo deck, olhando para o horizonte, deixando que minha mente se livrasse de todo o peso que vinha sentindo.
Pensei no estranho com quem eu dormi na noite passada, ainda não acredito que tive tamanha coragem, mesmo em anos que estava namorando com Rafael, eu jamais o permiti me tocar, e agora em uma noite de bebedeira e raiva, me entreguei a alguém que eu nem mesmo conheço.
Que grande tola eu fui, por que pensei que fazer isso ia me livrar da sensação de amargura que eu tenho?
Os flashs da noite vinham, eu ainda conseguia me lembrar de muito, e hoje pela manhã quando o vi dormindo, era um homem muito bonito, seu corpo invejável.
Fico feliz por não ter que vê-lo novamente, eu provavelmente morreria de vergonha. O que ele deve pensar de mim depois de ontem...
Tentei mudar o rumo dos pensamentos, mas minha mente insistia em atirar contra mim as memórias de tudo o que eu vivi em apenas um único dia.
Parei no fim do deck, olhando para o mar, uma chuva pouco mais forte começava a cair, em breve o lugar não seria muito seguro para ficar.
Virei meu corpo para baixo, a fim de molhar um pouco a ponta dos dedos, ouvi passos rápidos vindo em minha direção, então me virei rapidamente.
Dois homens estavam com as mãos estiradas me dizendo para ter calma, estavam muito bem-vestidos, mas eram grandes e assustadores.
– Senhorita, peço que se acalme e ande para longe daí, o mar está bravo, não faça nada precipitado. – Do que é que estão falando?
– Quem são vocês? – Perguntei cismada. Os dois pareciam saídos de um filme de agentes secretos, ternos pretos, completamente iguais, nenhuma expressão...
– Só queremos que a Senhorita volte em segurança, nós podemos te acompanhar.
– Não vou a lugar nenhum com vocês, não sei quem são, nem o que querem comigo, é melhor que se afastem! – Tentei ao máximo parecer firme em minhas palavras, mas a verdade é que estava morrendo de medo.
Notei pelo canto do olho quando o outro homem, o que não estava falando, estava com o celular no ouvido, falando baixo, então não consegui entender o que estava dizendo.
Eles estavam aos poucos se aproximando de mim, e eu estava ficando cada vez mais assustada, o que queriam aqueles homens comigo? Eu não era ninguém importante, porque alguém iria querer me s********r?
– Se afastem de mim! Eu estou avisando! – Avisando o que Melissa? O que você pode fazer contra duas paredes de músculos?
Dei mais alguns passos para trás esbarrando as costas na madeira do limite do deck, então subi e fiquei pendurada do outro lado. Ao que os dois pararam no lugar que estavam me encarando assustados.
Ao fundo, notei que outro homem corria em nossa direção, com a chuva e o vento, eu não conseguia saber quem era, poderia ou não ser alguém para me ajudar, ou alguém que esteja com eles.
Olhei para baixo, o mar estava mesmo muito agitado e o vento bem forte, eu sei nadar, mas até mesmo para alguém que sabe é perigoso fazer o que eu estava pensando, mas se eles tentassem me pegar eu estava disposta a pular.
– Senhorita, não vamos lhe causar nenhum dano, só queremos que volte em segurança.
– Então saiam daqui! Vão embora! Eu não quero nenhuma ajuda, não pedi. Só quero que me deixem em paz!
O homem que vinha finalmente chegou, e meu queixo quase foi ao chão, era ele, tenho certeza que sim. O homem da noite passada.
Eu devo ser muito azarada! Qual a chance de isso acontecer? Como ele estava aqui? Eu imaginei que nunca mais o encontraria!
Pode ser que eu tenha sorte e ele não se recorde de quem eu sou.
– Melissa, saia já daí! É perigoso. – O homem sabia meu nome! Ele sabia meu nome, mas como? Eu nunca o vi antes.
– Quem são vocês e o que querem de mim?
– Você deve saber quem eu sou... saiu de fininho do meu quarto esta manhã, acredito que não tenha tido nenhum lapso de memória.
Tenho certeza de que se eu não estivesse com tanto medo, eu estaria corando ferozmente agora.
– E o que quer de mim? – Questionei, mas antes que pudesse ouvir a resposta, me desequilibrei e acabei caindo no mar.
A água salgada queimou meu nariz e o peito porque com o susto acabei engolindo. Me debati por algum tempo, tentando me orientar para conseguir nadar, mas senti um puxão forte, e o homem que a pouco estava falando comigo, o mesmo com quem acordei esta manhã, estava me arrastando de volta a segurança da praia.
Saímos da água os dois cansados, puxando o ar com força para os pulmões.
– Acha que vale a pena tirar sua vida por pessoas como eles?
– O que? Do que você está falando? Eu não ia tirar a minha vida, vocês que quase me mataram de susto.
– O que você ouviu, não se faça de desentendida! – Disse em uma voz fria e altiva de comando. – Não vale a pena fazer algo tão e******o!
– E quem pensa que é para me dizer o que devo fazer? Eu nem te conheço!
– Eu tenho uma proposta para você... Case-se comigo!
Eu só posso estar com água no ouvido, ou ficando louca, o que foi mesmo que ele disse? Para me casar com ele? Só pode ser louco.
– Está brincando comigo? Olha, eu não estou em um bom dia, e você ajudou a ser um pouco pior me fazendo cair na água, eu vou embora. Se me der licença.
– Não estou brincando Melissa, falo sério. Quero que se case comigo, eu posso te ajudar... e além do mais é minha responsabilidade assumir o que fiz, você ainda era virgem, e me sinto responsável pelo que aconteceu.
– Me ajudar? Ajudar em que? – Ele é maluco, um lindo e estranho maluco. – Não tem do que se responsabilizar, eu também quis, somos adultos, e podemos seguir em frente.
– Posso te ajudar você a se vingar deles, sua irmã e seu ex noivo, posso te ajudar a fazê-los pagar pelo que fizeram com você.
– Não! Não! Eu não vou me casar com você, e quer saber, eu não vou me vingar de ninguém, os dois são iguais, se merecem! Eu não vou descer ao nível deles.
– Eles não merecem estar felizes depois do que te fizeram, se você se casar comigo podemos dar o troco.
– E por que você se preocupa com isso? – O que faz ele pensar que eu aceitaria uma loucura dessas e quem é ele afinal de contas?
– Eu tenho meus próprios motivos.
– Tudo bem, mas a minha resposta continua sendo não. Eu vou embora, estou congelando.
– Eu te levo até sua casa.
– Não! Obrigada! – Saí o mais rápido que pude, ele deve ter algum distúrbio, como pede alguém em casamento assim? Sem nem conhecer.
Peguei um taxi e fui para casa, as coisas não podiam ser mais estranhas hoje.
Ao entrar em minha casa, percebi que podiam ser sim, meus pais estavam com Sarah e Rafael, os dois estavam abraçados e sorrindo, Sarah voltou para fazer suas malas e passar alguns dias fora para sua lua de mel, estavam todos sorridentes, como se não tivessem acabado de destruir a minha vida.
– Ah, olha quem temos aqui, onde estava irmãzinha? O que andou fazendo na noite que não estava em casa quando chegamos?
– E o que isso te importa Sarah?
– Estou apenas preocupada com a minha irmã, vai deixá-la falar comigo dessa maneira Rafael? Eu estou grávida não posso ficar nervosa, pode afetar nosso bebê. – Fez tanta manha que me deu nojo.
– Entendo que esteja brava Melissa, mas por favor respeite esse momento de sua irmã.
– Vocês são repulsivos! Nunca vão ser felizes depois do que fizeram!
Meu pai me acertou um t**a forte no rosto, ele nunca está do meu lado, nunca me deu atenção ou amor como dá a ela. – Não diga estas coisas a sua irmã! – Gritou para mim.
Saí da casa correndo, não queria mais ver eles, nenhum deles, não os aguentava mais.
Do lado de fora esbarrei em alguém, meus olhos nem se focavam direito com as lágrimas, mas reconheci a voz quando ele perguntou o que tinha acontecido.
– Eu aceito, eu aceito sua proposta. Eu quero me vingar deles, de todos eles!